• Nenhum resultado encontrado

Mercado mundial e divisão internacional do trabalho

II. O CAPITALISMO INTERNACIONAL

3. Mercado mundial e divisão internacional do trabalho

Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela roubou da indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas – indústrias que já não empregam matérias- primas nacionais, mas sim matérias-primas vindas das mais regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do mundo. [...] No lugar do antigo isolamento de regiões e nações auto-suficientes,

23 A teoria dos ciclos Kondratieff visualiza ondas longas com duração aproximada de cinquenta anos, tendo se

chegado ao mencionado número a partir de estudos empíricos. Contra esta leitura, que se afigura um tanto mecanicista, há que se opor o fato de que cada ciclo guarda uma história particular, em que pese a cíclica repetição das etapas de expansão, estagnação, declínio e recuperação. Nunca um ciclo é igual ao outro: a história não se repete, e não se repete porque a dialética entre forças tendenciais e forças contratendenciais sempre se faz em concreto, nunca à priori.

53 desenvolvem-se um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. (MARX; ENGELS, 2007b, p. 43) É cediço que Marx tinha como planos estudar o mercado mundial, e que sua análise caminhava nesta direção, lançando-se das categorias mais abstratas rumo à totalidade concreta. Faltando-lhe a oportunidade de finalizar sua obra máxima em vida (O capital), devemos nos contentar com algumas passagens esparsas e delas extrair conclusões.

Uma primeira ideia para se decifrar o lugar do conceito de mercado mundial em Marx reside no postulado de que as formas econômicas do capitalismo (mercadoria, dinheiro, capital etc.) aspiram à universalidade. Se a riqueza nas formações sociais capitalistas apresenta-se como uma imensa coleção de mercadorias, é em razão de que, nessas sociedades, tudo aquilo que se produz está submetido à forma mercantil, ou então se sujeita à convertibilidade em bem permutável, como no caso dos bens da natureza, que podem ser apropriados como mercadoria, monetizados e, desta maneira, incorporados ao código de funcionamento capitalista.

Também na metamorfose da mercadoria, na qual o valor circula pelas mãos dos agentes de mercado, comparece o elemento da universalidade. Marx toma como exemplo de circulação mercantil uma cadeia de trocas envolvendo linho, bíblia e aguardente, e diríamos que esta escolha não foi aleatória. Por detrás do costumeiro humor refinado do pensador alemão, está colocada a ideia de que a troca mercantil, ao abstrair as qualidades físicas dos produtos, põe em contato coisas que são as mais desconexas entre si. Se são sagradas ou profanas, isto é indiferente para a forma mercadoria24, sendo que tal atributo, no que concerne ao trânsito mercantil pelo mundo, dá ensejo à erosão dos localismos, dos regionalismos e mesmo dos nacionalismos. Numa pertinente formulação, Tony Smith (2006, p. 191) registra que “a forma valor inclui um impulso imanente de romper com todas estas restrições arbitrárias e de transgredir qualquer limite geográfico para a troca de mercadorias25”. Não há muralha da China que resista ao seu assédio.

24 “Por um lado, vê-se como a troca de mercadorias rompe com as limitações individuais e locais da troca

imediata dos produtos e desenvolve a circulação dos produtos do trabalho humano. Por outro, desenvolve-se todo um ciclo de espontâneas conexões sociais, incontroláveis pelos que intervêm nas operações. O tecelão de linho pode vender seu linho, porque o camponês vendeu o trigo; o apologista do copo, sua Bíblia, porque o tecelão vendeu seu linho; o destilador, sua aguardente, porque outro vendeu a água da vida eterna e assim por diante” (C. I, I, p. 139).

25 Em inglês: “The value-form includes an immanent drive to break through all such arbitrary restrictions and

54 Este fator universal contido na forma mercadoria se expressa noutra forma que dela deriva, o dinheiro. E o dinheiro, enquanto representação autônoma do valor e enquanto permutabilidade condensada, figura da maneira mais quintessenciada no comércio mundial, onde a troca atinge a instância mais universal, elevando o valor à condição de universalidade real. “Só no mercado mundial”, percebe Marx, “adquire plenamente o dinheiro o caráter de mercadoria cujo corpo é simultaneamente a encarnação social imediata do trabalho humano abstrato”, motivo pelo qual “sua maneira de existir torna-se adequada a seu conceito” (C. I, I, p. 169).

Aplicada internacionalmente, a lei do valor atinge a culminância de sua lógica, sobretudo sob o ângulo do trabalho demandado socialmente, malgrado caiba pontuar que, enquanto o desempenho do trabalho com mais produtividade em dimensão nacional tende a se alçar como referência geral, no âmbito internacional há uma mudança, dado que o labor universal se afirma numa média dos labores nacionais:

Num determinado país, a medida do valor pela mera duração do tempo de trabalho só é modificada por um grau de intensidade acima da média nacional. Mas assim não ocorre no mercado mundial, onde cada país é um elemento integrante. A intensidade média do trabalho varia de país para país; menor neste, maior naquele. Essas médias nacionais formam, portanto, uma gradação, cuja unidade de medida é a intensidade média do trabalho universal (C. I, II, p. 650). Com efeito, a dimensão internacional do valor chega a ser uma consequência lógica do seu alcance de operação. Caudatária do circuito de trocas, esta forma social está fadada a acompanhar as mercadorias no nível em que elas executam as suas regulares metamorfoses. “Se a escala relativa à troca de mercadoria é o mercado mundial, e a escala relativa à divisão social do trabalho é também o mercado mundial, então se segue logo que a medida socialmente objetiva do valor deve operar nessa mesma escala26” (SMITH, 2006, p. 192).

E do mesmo modo que os mercados internos organizam-se por meio de uma divisão social do trabalho, o mercado mundial também tem a sua divisão. Eleva-se a escala de operações, mas o raciocínio é o mesmo: mundialmente, os agentes de mercado carregam consigo valores-de-uso que não lhes interessam, a não ser como meio de dar vazão ao valor neles contido e de obter outros valores-de-uso. Internacionalmente, os trabalhos são

26 No texto original: “If the relevant scale of commodity exchange is the world market, and the relevant scale

of the social division of labour is the world market as well, then it follows at once that the socially objective measure of value must operate on this same scale”.

55 abstraídos como labor genérico e indiferenciado, observando-se uma dependência recíproca entre os países produtores, como bem indicou Nikolai Bukharin (1929, p. 22):

O trabalho social do mundo como um todo está dividido entre os vários países; o trabalho de cada país individual torna-se parte de um trabalho social mundial pelo intercâmbio que ocorre numa escala internacional. Esta interdependência dos países pelo processo de troca é de modo algum um acidente; ela é a condição necessária ao contínuo crescimento social27.

Na época de Bukharin (a obra foi escrita em 1915), a divisão internacional do trabalho era menos complexa do que a de hoje. Era possível, até certo ponto, associar esta divisão à oposição entre campo e cidade, havendo uma clivagem entre os países industrializados, produtores de manufaturas, e os países agrários, produtores de bens primários.

Assim era já no século XIX, quando Marx explicava o mecanismo de colonização. O autor notava que a indústria capitalista, em franca expansão, tornava supérflua uma camada do proletariado, enviando-a para as colônias ou para outros países onde a produção estava dirigida ao fornecimento de matéria-prima ao centro industrial. Estruturava-se, deste modo, uma divisão internacional do trabalho integralmente “adequada aos principais centros da indústria moderna, transformando uma parte do planeta em áreas de produção predominantemente agrícola, destinada à outra parte primordialmente industrial” (C. I, I, p. 514). A troca de produtos diferentes é o método pelo qual a metrópole se abastece dos insumos de que tem necessidade, além de reservar destinações para seus produtos e seus capitais.

Não se trata, pois, de uma divisão técnica ou natural do trabalho, e sim de um arranjo social baseado na dominação, e que opõe as nações em áreas metropolitanas, de um lado, e áreas de tipo colonial, de outro. A produção de determinadas mercadorias responde não a uma falaz propensão econômica inata dos países, e sim à organização do capital pelos distintos territórios. A divisão internacional do trabalho, orientada pelo seu comando capitalista, é uma divisão desigual no tocante aos ganhos econômicos, configurando uma estrutura imperialista de poder.

27 No original: “The social labour of the world as a whole is divided among the various countries; the labour

of every individual country becomes part of that world social labour through the exchange that takes place on an international scale. This interdependence of countries brought about by the process of exchange is by no means an accident; it is a necessary condition for continued social growth”.

56 E apesar das transformações ocorridas no âmbito da produção nos países periféricos, nem por isso se perde o caráter de dominação da divisão internacional do trabalho. Se um país deixa de ser uma “colônia”, no sentido formal, e se torna uma “nação subdesenvolvida” (ou “emergente”, o eufemismo da moda), a atividade econômica que ele sedia, seja ela agrária, industrial, ou mesmo de serviços, subordina-se ao arcabouço geral do capitalismo internacional, voltando-se, em maior ou menor medida, para as disposições daqueles que se localizam no topo da cadeia da acumulação.

Sob esta focalização, a ordenação mundial do capitalismo, ainda que renovada pela industrialização relativa da periferia do sistema a partir da segunda metade do século XX, continua reproduzindo uma hierarquia econômica entre os países, submetendo-os ao escalonamento das etapas e ramos do processo produtivo:

Observa-se assim o surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho, que transfere – desigualmente, vale lembrar – etapas da produção industrial aos países dependentes, enquanto os países avançados se especializam nas etapas superiores; simultaneamente, aperfeiçoam-se os mecanismos de controle financeiro e tecnológico dos países avançados sobre o conjunto do sistema (MARINI, 2012b, p. 40).

De um jeito ou de outro, prevalece aquilo que o marxismo chama de desenvolvimento desigual do capitalismo (ou “desenvolvimento desigual e combinado”, como propunha Leon Trotsky), quer dizer, a articulação entre setores econômicos mais dinâmicos, tidos como “avançados” em termos de acumulação, e os setores menos dinâmicos, tidos como “atrasados” – às vezes a ponto de sediar formas pré-capitalistas de organização do trabalho. A experiência histórica ensina que o capital, de fato, assume a regência das formações sociais em que se faz presente, estando propenso a dissolver as formas de produção arcaicas, embora casualmente as incorpore, se isto for lucrativo e se assim for possível conforme a correlação de forças com as antigas classes possuidoras, perfazendo-se uma movimentação dúbia de dissolução e conservação28: o moderno quer destruir o arcaico, mas se apoia nele até certo ponto.

28

“This dominance of the CMP has complex effects of dissolution/conservation (since it is a matter of a class struggle) on the other modes and the forms of production which it dominates” (POULANTZAS, 2008, p. 223). Traduzindo: “Esta dominância do MPC [modo de produção capitalista, P. B.] tem efeitos complexos de

dissolução/conservação (já que é uma questão de luta de classes) sobre os outros modos e sobre as formas de

57 Tal dubiedade exprime as contradições que estão postas dialeticamente na realidade. No tocante ao mercado mundial e à divisão internacional do trabalho, em especial na perspectiva da caminhada histórica do capitalismo, é correta a conclusão de Trotsky (2010, p. 101) de que “o capitalismo encontra várias partes da humanidade em diferentes estágios de desenvolvimento”, cabendo a ponderação de que “a extrema diversidade de níveis atingidos e a extraordinária desigualdade no ritmo de desenvolvimento das diferentes partes da humanidade durante várias épocas são o ponto de partida do capitalismo”.

A concatenação entre os polos capitalistas avançados e os atrasados (ou com traços pré-capitalistas eventualmente) é orgânica e funcional, constituindo complexas relações de dependência no processo global de capitalização e gerando um entrelaçamento virtuoso (para o capital) entre o moderno e o arcaico. As desigualdades entre centro e periferia, que podem ou não coincidir com as disparidades nos métodos produtivos, fazem parte da construção do capitalismo mundial, e os níveis de contraste, conforme haveremos de conferir com mais vagar em capítulos ulteriores, dependem do curso da luta de classes. O modo de produção capitalista, desde os seus albores na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, foi exportado para o resto do mundo não de maneira contínua e linear, e sim pela transposição dos obstáculos de classe que ofereceram níveis distintos de resistência nos diferentes países, onde predominavam outros modos de produção. Não se olvide que os confrontos entre as burguesias incipientes (ainda pré-industriais) da Europa continental e as aristocracias feudais no poder foram cruciais, pois os quocientes de cada embate culminaram em rumos opostos para a maturação do capitalismo. Houve aceleração na França revolucionária e retardamento na Europa central, onde a reação da nobreza triunfou temporariamente.

Tornemos ao olhar mais estritamente econômico. Pensando no plano global, temos percebido que o intercâmbio de mercadorias ultrapassa as fronteiras nacionais, unificando o mundo numa trama mercantil. Mas quando se fala em mercado mundial, não é meramente a circulação de mercadorias que conta. Não se trata apenas da consumação dos valores das mercadorias para além da territorialidade nacional. Antes de ser um mercado de mercadorias, o mercado mundial é um mercado de capitais, em que a concorrência orbita em torno da fruição de lucros maiores com base na taxa geral de lucro – cujo capital social total a que corresponde se erige justamente nas interações entre os capitais em nível global.

58 Há que se reparar que a própria organização do capital é mundial, constituindo-se em sucessivas etapas de medrança.

Marx aponta que, “quando o modo de produção capitalista já está desenvolvido e se torna predominante, [...] grande parte das mercadorias que constituem Mp, os meios de produção, é capital-mercadoria estrangeiro em funcionamento” (C. II, III, p. 123). Ou seja: a circulação do capital sob o capitalismo desenvolvido depende de uma magnitude mundial para se perpetuar. Sem envolver os diversos mercados numa teia mundial, a produção capitalista seria incapaz de existir, pois a sua existência suplica os recursos indispensáveis à sua expansão, é dizer, à sua reprodução ampliada. Se o capital não se move para conquistar novos domínios, simplesmente não pode seguir existindo como capital.

Como prova disto, inspecione-se a evolução do capitalismo a partir das formas em que se apresentam o circuito do capital (recapitulando: capital-mercadoria, capital produtivo e capital-dinheiro). A sequência deste circuito, reforcemos também, é integrante da lógica expositiva de Marx, que deixa claro que todas estas formas ocorrem ao mesmo tempo, uma desembocando na outra continuamente. Pois bem: os anais da história nos contam que todas estas fases do ciclo do capital industrial foram internacionalizadas, e não poderia ser diferente. Considerando que estamos falando também de um mercado mundial de capitais, é imprescindível sopesar que as fases do circuito do capital passam a se desenrolar no mesmo nível de abrangência. Em decorrência, vislumbra-se que a formação do mercado mundial oferece ao menos três facetas distintas e ao mesmo tempo conexas: um mercado de mercadorias (bens de produção e consumo, serviços etc.), um mercado de capitais (dinheiro e ativos financeiros) e um mercado de trabalho.

O primeiro passo dessa internacionalização foi dado, historicamente, com a fase do capital-mercadoria, quando a produção capitalista, ainda muito jovem (e centrada na Inglaterra), rivalizava e interagia com formações econômicas pré-capitalistas:

Não importa que a mercadoria seja produto da produção baseada na escravatura, ou de camponeses (chineses, indianos), ou de comunas (Índias Orientais Holandesas), ou do Estado (como antigamente na Rússia, no tempo da servidão), ou de povos caçadores semi-selvagens etc.; [...] É indiferente o caráter do processo de produção donde provêm; funcionam no mercado como mercadorias e como tais entram no ciclo do capital industrial e na circulação da mais-valia por ele trazida. É a universalidade da origem das mercadorias, a existência do mercado como mercado mundial, que distingue o processo de circulação do capital industrial (C. II, III, p. 124).

59 O capital industrial, ainda nos seus primórdios (Inglaterra do século XVIII), assimilava para dentro de seu ciclo determinadas mercadorias cuja produção podia ou não ser nos moldes capitalistas. Graças à forma mercadoria, isto não fazia diferença, pois itens produzidos à maneira pré-capitalista, ao serem comprados por um capital inserido no ciclo industrial, tornam-se capital-mercadoria. Prevalece a dinâmica do ciclo, e foi desta forma que ela forcejou seu caminho pelo mundo no século XIX.

Não que a produção pré-capitalista nas regiões assediadas pelo capital tenha se mantido intacta. Foi inicialmente destruída pela força dos mercados capitalistas, incompatível com o trabalho artesanal das comunidades tradicionais. A indústria inglesa, como se sabe, utilizou de seus baixos preços para arruinar a produção arcaica na Índia, gerando agudos flagelos sociais.

Identifica-se na forma mercadoria um potencial desagregador sobre as relações não mercantis, de sorte que, mesmo em seu momento ainda estritamente comercial, o capital mostra-se capaz de interferir nas formas de propriedade pré-capitalistas. Foi sintomático o impulso que o comércio exterior significou na expropriação do campesinato inglês e no processo de acumulação primitiva:

Na Inglaterra, p. ex., no século XVI e início do século XVII, a importação de mercadorias holandesas tornou basicamente decisivo o excedente de lã que o país tinha de dar em troca. Para produzir mais lã, a terra cultivável foi transformada em pastagem para ovelhas, o sistema de pequenos arrendamentos foi desmantelado etc., teve o clearing of estates etc. Por conseguinte, a agricultura perdeu o caráter de trabalho visando a produção de valor de uso, e a troca de seu excedente perdeu o caráter indiferente em relação à sua estrutura interna. [...] Com isso, não só o modo de produção foi modificado, mas foram dissolvidas todas as antigas relações de população e de produção e as relações econômicas a ele correspondentes (MARX, 2011, p. 198).

Indubitável, pois, a importância da circulação mercantil internacional na própria formação do capitalismo, e que ganha vulto ainda maior na época da industrialização capitalista. Por mais que a produção capitalista esteja focada na valorização do valor, ou seja, na reprodução ampliada do capital, ela só pode procedê-lo pela circulação de mercadorias em amplitude crescente.

Uma vez internacionalizada a etapa industrial do capital-mercadoria, seguiu-se a ela a etapa do capital-dinheiro. O aprimoramento da finança e do crédito foi imprescindível

60 para tornar sustentável o crescimento do sistema e para alimentar a rotação dos capitais, dos quais se exigia muito mais recursos para se atuar num mercado que deveio mundial. A intensa circulação das mercadorias e o alastramento dos empreendimentos capitalistas pelo mundo trouxeram como desdobramento a formação de um mercado mundial de capital- dinheiro, sem o qual a acumulação não teria fôlego suficiente.

Pela internacionalização do capital-dinheiro, o capital adquiriu maiores facilidades para transitar pelos setores da economia. As chamadas exportações de capital consistem em formas de movimentação financeira do capital pelos diversos países, e assumiram um papel eminente no capitalismo do final do século XIX29. Bukharin (1929, p. 40-41) cita como exemplos os empréstimos de capital aos Estados, participação em cotas e financiamento de empresas estrangeiras, créditos entre bancos de diferentes nacionalidades e compra de ações estrangeiras. Em todos esses casos, há transfusão de valor de uma nação para outra, embora de uma maneira indireta. As formas financeiras do capital constituem meios de se coletar indiretamente uma fração do trabalho excedente social, seja como juro, dividendo ou outra figura semelhante que remunere o capital-dinheiro investido.

Não à toa, a etapa do circuito capitalista em comento teve sua internacionalização conjuntamente com a formação do capital financeiro, quer dizer, com a união entre o capital industrial e do capital bancário objetivada em poderosos oligopólios, carteis e trustes. Este entrelaçamento entre a indústria e a finança, em que pese estar fortemente amparado no Estado nacional, traz no seu bojo uma composição internacional de capitais.

Documentos relacionados