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3. ORGANIZAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E O PLANO DE CONTAS DO

3.3 O Mercado de Trabalho

A principal base de financiamento do Regime Geral de Previdência Social é a massa salarial do setor privado. Essa dependência da folha de salários torna a previdência demasiadamente vulnerável ao comportamento do mercado de trabalho, que, entre 2007 e 2006, conforme citado anteriormente, a formalização do mercado de trabalho foi a principal causa de diminuição da necessidade de financiamento para a área urbana. Por outro lado, na década de 90, por exemplo, pôde-se verificar uma tendência que vinha se desenvolvendo em períodos anteriores: a perda de representatividade das relações formais de trabalho e o conseqüente surgimento de

um segmento amplo da população que está excluído da cobertura previdenciária.

Um dos principais argumentos levantados ao longo dos anos 1990, de que o mercado de trabalho apresentou forte deterioração neste período, baseou-se fortemente no aumento de participação do mercado de trabalho informal (ou seja, trabalhadores sem carteiras de trabalho assinada e trabalhadores por conta própria sem contribuição previdenciária) no total dos ocupados das regiões metropolitanas, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego – PME/IBGE (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

A PME, com efeito, mostrou, ao longo de toda a década de 1990, uma queda praticamente ininterrupta da participação dos trabalhadores com carteira assinada (CC) no total da força de trabalho (Gráfico 4) e uma elevação dos trabalhadores sem carteira (SC) e por conta própria (CP), cuja soma, grosso modo, poderia representar os trabalhadores informais (Inf.). A proporção dos empregadores (EM) permanece relativamente estável (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

Gráfico 4 – Participação na ocupação, segundo a posição (Médias 1992-2002) Fonte: Neves Jr e Paiva, 2008

Paiva e Neves Jr. (2008) acrescentam, ainda, que:

O fenômeno do crescimento da informalidade viria, ainda, acompanhado de dois outros: o aumento do desemprego no período (saindo de patamares em torno de 5%, no início da década, para aproximadamente 7%, no fim do período, de acordo com a antiga série da PME/IBGE) e a queda na participação. Em outras palavras, i) a informalidade não apenas crescia fortemente como também parecia não cumprir mais sua função de amortecedor do desemprego; e ii) a reversão desse quadro seria, na melhor 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 CC CP E SC Inf

das hipóteses, bastante lenta, uma vez que à eventual queda da taxa de desemprego e da informalidade precederia a recuperação da participação no mercado de trabalho.

As explicações para a crescente informalidade variaram substantivamente. A mais comum delas foi, muito provavelmente, a que associou o aumento da informalidade e do desemprego ao aumento do custo do trabalho (CARNEIRO, 1997; NERI, 2003 apud NEVES JR. E PAIVA, 2008), em um argumento aparentemente linear: ceteris paribus, o aumento do custo do trabalho (dado, por exemplo, pelo aumento das alíquotas de contribuição previdenciária a cargo do empregador) levaria à redução do emprego e/ou ao aumento da contratação informal.

No caso do estudo de Neri (2003 apud NEVES JR. E PAIVA, 2008), sustentou-se que haveria evidências sólidas de que os direitos trabalhistas (como férias e direito ao salário mínimo) seriam respeitados mesmo no caso das relações de trabalho não-formalizadas. Dessa maneira, o principal motivo pelo qual os empregadores optariam por realizar contratações informais seria a opção pela evasão previdenciária. Estaríamos, assim, em um trecho descendente da curva de Laffer, no qual um sistemático aumento do custo do emprego (por meio da variação das alíquotas de contribuição previdenciária) teria levado a uma queda na formalização.

Registre-se ainda que, nesse mesmo período, diversos trabalhos, conectados ou não com o contexto da “crescente informalidade” do mercado de trabalho brasileiro, avaliavam a associação entre as variações no custo trabalho, por um lado, e a geração de novas ocupações e a formalização, por outro. A conclusão desses estudos (com base em dados de países latino-americanos) foi a de que as variações no custo dos encargos trabalhistas não teriam impacto significativo sobre o nível geral de emprego e teriam, se muito, impacto pequeno sobre a formalização. A regra seria que as variações em tais custos influenciariam os rendimentos dos trabalhadores. Dessa maneira, a redução dos custos previdenciários, por exemplo, poderia não levar a um aumento da formalização do trabalho (ou da ocupação como um todo).

Outros trabalhos adotaram uma linha de explicação diversa, segundo a qual a informalidade era menos função do interesse do empreendedor (e, eventualmente, do próprio trabalhador) e mais função das características do empreendimento (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

Arbache (2003), também indicando o crescimento da informalidade, procurou demonstrar que, tendo em vista a característica precária dos empreendimentos informais (segundo pesquisa da Economia Informal Urbana – Ecinf/IBGE), aos quais estaria vinculada a maioria dos trabalhadores informais, “não se deve[ria] esperar pela legalização dessas atividades e pela formalização de sua mão-de-obra”. A imposição da formalização por meio de ações de fiscalização, em casos como esses, poderia ter como efeito o fechamento dos empreendimentos – e, conseqüentemente, o aumento da pobreza (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

Outra hipótese era a de que a abertura econômica iniciada na década de 1990, aprofundada graças à implementação do Plano Real e a sua estratégia de sobrevalorização da moeda brasileira, implicou ajustes profundos em toda a economia, especialmente na indústria de transformação. Entre esses ajustes, teria tido papel de destaque o processo de “terciarização”, que viria a representar uma forte realocação setorial dos empregos. A migração de ocupações para subsetores dos serviços implicaria aumento da informalidade, à medida que esses subsetores tradicionalmente ofereceriam menos proteção social aos seus empregados que aquela normalmente oferecida pela própria indústria (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

Muito do interesse que tais estudos despertaram no Brasil deveu-se ao fato de que, independentemente da solução proposta, havia um razoável consenso em relação ao problema: o crescimento da informalidade causava desproteção social e evasão das receitas previdenciárias e precisaria ser enfrentado, por um meio ou por outro (NEVES JR. E PAIVA, 2008).

Estudos de Paiva (2004) e Ramos & Ferreira (2005), posteriormente, avaliaram dados da PNAD/IBGE para todo o País, e concluíram que o fenômeno da crescente informalidade estava circunscrito às regiões metropolitanas (justamente as cobertas pela PME/IBGE) e não encontrava correspondência no Brasil não-

metropolitano. Ao contrario, embora o Brasil não-metropolitano continuasse com taxas de formalização inferiores às encontradas nas regiões metropolitanas, a tendência era inversa à encontrada nessas regiões – no sentido do crescimento da formalidade, portanto.

Ansiliero et al. (2008) acrescentam que:

O argumento de que estaríamos na trajetória descendente da curva de Laffer, ademais, considerou outra hipótese: a de empregadores/trabalhadores do setor informal estariam dispostos a migrar para o setor formal caso o custo/benefício da formalidade fosse menor/maior. Assim, trabalhadores do setor informal tenderiam a migrar para a formalidade a depender da remuneração paga pelo setor formal (que tenderia a aumentar com a diminuição das alíquotas previdenciárias) ou daquilo que, como contribuição, fosse visto claramente como um benefício para eles (e não um simples custo da formalização).

Mas, aparentemente, há um forte obstáculo a essa migração: a forte segmentação formal/informal do mercado de trabalho brasileiro, que tenderia a dificultar o trânsito entre formalidade e informalidade por parte considerável dos trabalhadores (BARROS et al., 2007; ULYSSEA, 2007).

De acordo com Siqueira (2003), estudos realizados pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico – OCDE, nos anos de 1995 e 1997, a partir de evidências empíricas internacionais, também tem sido observado que a sensibilidade do emprego em relação ao custo do trabalho é maior para os indivíduos de mais baixa qualificação do que para aqueles melhor qualificados, fato que acarreta uma redução do custo de contratação e provoca, como conseqüência, um impacto maior sobre o nível de emprego para os trabalhadores menos qualificados do que para os mais qualificados. Ademais, tem sido observado que os trabalhadores menos qualificados são os mais afetados pelo aumento de desemprego e da informalidade. Além disso, longos períodos de desemprego causam um grande custo social, devido à intensificação da pobreza e das desigualdades de renda e de oportunidade.

Segundo Siqueira (2003), o foco das discussões e das políticas de reforma da tributação do emprego em vários países do mundo não tem sido apenas

o aumento da eficiência econômica – por meio da redução de custos e do desperdício de recursos –, mas também a diminuição das disparidades sociais.

No Brasil, o debate sobre as alterações na forma de financiamento da Previdência não deve olvidar a questão das disparidades sociais. Nesse sentido, a última reforma previdenciária promulgada pelo Congresso Nacional possui dispositivo que prevê a implantação de sistema especial de inclusão previdenciária para trabalhadores de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário mínimo.

Para ilustrar a situação do mercado de trabalho no ano de 2007, destaca- se alguns dados da Pesquisa Mensal de Emprego – PME/IBGE9. Em 2007 (média anual) 42,4% da população ocupada era empregada com carteira de trabalho assinada no setor privado. Em 2003, este percentual era 39,7%. O nível de ocupação foi, em média, de 51,6%, nas principais regiões metropolitanas. A média anual da taxa de desocupação para 2007 foi estimada em 9,3%, muito abaixo da média de anos anteriores.

O contingente de trabalhadores contribuindo para Previdência era de 61,1%, em 2003, e aumentou para 64,1%, em 2007. As estimativas para a população ocupada que contribui para a previdência revelam que, tanto no último ano quanto na comparação com 2003, houve uma expansão superior a da população ocupada. Cabe lembrar que, entre 2003 e 2007, o número de pessoas ocupadas aumentou 11,9% e entre aqueles que contribuem para a previdência a variação foi de 17,3%. Dentre as pessoas ocupadas que contribuíram para a previdência em 2007, 57,3% eram homens e 42,7% mulheres. Com relação à idade verificou-se que 15,3% dos ocupados contribuintes tinham entre 18 e 24 anos, 66,9% tinham entre 25 e 49 anos e 17,1% tinham 50 anos ou mais de idade.

9 A PME/IBGE pesquisa as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,

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