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Trata-se o Mercosul de bloco econômico que surgiu no bojo do fenômeno supra citado: regionalismo. Conforma também no processo de integração mais significativo da América Latina.319

Bolívar buscou a criação de uma confederação de povos americanos, livres do domínio colonial espanhol, ou seja, uma espécie de união dos países da América Latina.320

Não obstante seu intento não ter alcançado o sucesso que desejava321, pode ser tomado como uma espécie de “semente” para a criação do processo de integração que é hoje conhecido como Mercosul.322

Neste contexto, de proporcionar uma maior aproximação entre os Estados latino-americanos, outras tentativas de associações foram realizadas, anteriormente ao Mercosul. No entanto, a maior parte delas não obteve o sucesso esperado, e mesmo as que ainda subsistem, como a Associação Latino Americana de Integração (ALADI) não são

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Significativa não em termos de números de Estados Partes – pois outras integrações continham mais que quatro Estados Partes como se verá mais adiante – mas sim, por ter prosseguido ao longo dos anos e ter se tornado importante para seus próprios membros e restante da Sociedade Internacional. Nesta mesma linha, Jaguaribe diz o seguinte: “Dentre os países latino-americanos, a maior potencialidade da concertação, como é do conhecimento geral, é a que existe entre o Brasil e a Argentina. Formam, esses dois países, por suas dimensões e relativamente elevado nível de desenvolvimento, o eixo de qualquer processo integracionista, na América Latina.” JAGUARIBE, Helio. Significação de Mercosul (1992). In: JAGUARIBE, Helio (Org.). Brasil, Mundo e Homem na atualidade. Brasília: Alexandre de Gusmão, 2008. p. 212.

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O Libertador (como Bolívar era chamado) tinha como objetivo a formação de uma Comunidade de Estados Americanos que tivesse por base normas comuns e universais, devidamente codificadas e que garantissem os princípios da liberdade e autodeterminação dos povos, da igualdade e equilíbrio dos Estados. Além disso, esta Comunidade deveria fazer parte da cúpula das decisões da Sociedade Internacional. Entretanto, Bolívar não era partidário de ter como parceiros o Brasil, os Estados Unidos e o Rio da Prata. STERSI DOS SANTOS, 1998, p. 26-27.

321 Com o afastamento de qualquer possibilidade de recolonização dos Estados Americanos,

foram afastados também os ideais bolivarianos confederacionistas de Estados político- culturalmente unidos. Assim, ao invés de dar continuidade a um projeto de união política, passou-se a vislumbrar o fortalecimento de relações intergovernamentais. STERSI DOS SANTOS, 1998, p. 33-34.

322 Sobre o tema ver também: LEE, João Bosco. A arbitragem Comercial Internacional nos

significativamente reconhecidas no âmbito internacional.323

De acordo com Stersi dos Santos, a partir de então, os Estados latino americanos passaram a “pensar a Integração não mais pelo seu todo, mas dentro de uma visão mais pragmática, que restringisse o universo a ser integrado, através dos sistemas sub-regionais”324.

Nesta esteira de acontecimentos, em julho de 1990, os presidentes Fernando Collor de Mello (brasileiro) e Carlos Menem (argentino) assinaram a Ata de Buenos Aires, fixando através desta a data de dezembro de 1994 para o estabelecimento de um mercado comum entre Argentina e Brasil. No mesmo ano, em agosto, Paraguai e Uruguai foram convidados a associarem-se a este processo argentino-brasileiro, passo que resultou finalmente na criação do Mercosul em 1991, por meio do Tratado de Assunção (TA).325

Desta forma os países fundadores do Mercosul, tendo em vista a importância de seus processos de desenvolvimento econômico e a ampliação das atuais dimensões dos mercados nacionais; compreendendo a dimensão da evolução dos acontecimentos internacionais, especialmente no tocante à consolidação de espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus países; convencidos também da imprescindibilidade de desenvolver o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como, modernizar suas economias e aumentar a oferta e a qualidade dos bens de serviços disponíveis, com a finalidade de

323 Desde a época de Simon Bolívar até a contemporaneidade, não foram poucas organizações

internacionais que buscaram realizar o objetivo em questão. Destacam-se aqui duas delas: ALALC e ALADI. A primeira trata-se da Associação latino-americana de livre comércio instituída pelo Tratado de Montevidéu em 1960, assinado por Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai, ao qual aderem posteriormente Colômbia, Equador Venezuela e Bolívia. Seu objetivo era a criação de um mercado comum continental, a partir da instauração e consolidação de uma zona de livre comércio, ao longo de doze anos. Foram vários os motivos que levaram a seu insucesso: diferença nos níveis de desenvolvimento, heterogeneidade das políticas econômicas, monetárias e cambiais, limitações decorrentes do modelo jurídico e institucional adotados, etc. Não obstante referido fracasso, mais uma tentativa com mesmo escopo (mas desta vez menos ousada, pois previa uma área de preferências econômicas) foi lançada em 1980: a criação da ALADI – Associação Latino-Americana de Integração entre Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O Tratado que a instituiu também se denomina Tratado de Montevidéu. Mencionada associação não chegou a ser extinta, no entanto também não logrou sucesso, pois o mesmo pano de fundo do cenário da ALALC se fez presente no cenário da ALADI. CASELLA, 1996, p. 125-126.

324 STERSI DOS SANTOS, 1998, p. 69.

325 MICALI, Isabella Soares. Le Marché commun du Cone Sud MERCOSUR et les autres

mécanismes d’integration et de coopération sur le continent américain – un panorama comparatif. In: BASSO, 1997, p. 589.

melhorar a qualidade de vida de seus habitantes; resolveram unir seus esforços para criarem um mercado comum do sul e desse modo, alcançarem os resultados mencionados acima.326

Para Stersi dos Santos os países do Cone Sul optaram por se inserir numa conjuntura de transformação do cenário mundial, que ocorreu principalmente a partir da década de 70 e trazia em seu bojo uma realidade dotada de uma nova perspectiva de visão da organização dos Estados Nacionais, no tocante à política e economia internacional.327

O sítio eletrônico oficial do Mercosul assinala que os quatro Estados-Partes que constituem o bloco são detentores de “sociedades democráticas, pluralistas, defensoras das liberdades fundamentais, dos direitos humanos, da proteção ao meio ambiente, e do desenvolvimento sustentável” e que, portanto, têm valores em comum. O texto acrescenta que os quatro países partilham também o compromisso com a consolidação da democracia, com o combate à pobreza, com a segurança jurídica e com o desenvolvimento econômico e social equitativamente. E que, portanto, “com essa base fundamental de coincidências, os parceiros buscaram a ampliação das dimensões dos respectivos mercados nacionais”. Vislumbram a integração como instrumento para atingir referidos objetivos comuns, por meio de comportamentos de cooperação.328

A constituição do Mercosul buscava atingir os objetivos propostos por meio de etapas, até dezembro de 1994: a livre circulação de bens, de serviços e de fatores de produção; o estabelecimento de uma tarifa aduaneira comum e de uma política comercial comum face a terceiros países; a cooperação das políticas macroeconômicas e setoriais para assegurar as condições de comércio entre os Estados-Partes e o compromisso dos mesmos em relação à harmonização de suas legislações nas áreas pertinentes, a fim de fortalecer o processo de integração.329 No entanto, chegada a data assinalada no Tratado de Assunção, o objetivo maior do estabelecimento de um mercado comum entre os países da região não havia sido concretizado, postergando-se a sua concretização. Na verdade não foi alcançado até o presente momento, decorridos vinte anos de celebração do Tratado de Assunção.

326 Preâmbulo do Tratado de Assunção. O preâmbulo de um tratado, segundo art. 31.1 e 2 da

Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, é elemento essencial para interpretá-lo, pois fixa o objetivo e o fim do mesmo.

327 STERSI DOS SANTOS, 1998, p. 71.

328 Texto constante na página oficial do Mercosul no tópico “Sobre o Mercosul”. Disponível

em: <www.mercosur.org.uy>. Acesso em: 7 nov. 2010.

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