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1.1 – Messias no Antigo Testamento

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O substantivo hebraico

x;yvim'

, maxiah, tem sua origem na raiz mxh que

significa untar, ungir. Este substantivo, a partir da monarquia, passou a retratar alguém como aquele que é o representante de Deus. Há a ligação entre ungido e rei por muito tempo, até a união da concepção de rei e sacerdote no pós- exílio. Conforme Mckenzie, “ungido no Antigo Testamento é usado para indicar

o rei de Israel e o sacerdote”. 63

63

Ao escrever sobre o verbete

xv;m'

,64 Hamilton também aponta para os

termos correlatos à ele: mishha:65 óleo de unção, moshhâ: porção, mashiah:

aquele que é ungido. Conforme este dicionário,

o verbo mashah, e seus derivados ocorrem cerca de 140 vezes (...). No uso cotidiano mashah podia referir-se à ação de passar (mashah) óleo num escudo (Is 21,5), pintar (mashah) uma casa

(Jr 22,14) ou aplicar (mashah) óleo ao corpo (Am 6,6).66

Torna-se interessante o fato de que o termo messias apareça no sentido cotidiano e, posteriormente, no Antigo Testamento, em Israel, para o aspecto real, adquirindo também um sentido religioso. De acordo com Schmidt, “este título honorífico não é atestado diretamente para o soberano do futuro. ‘O Ungido de Javé’ permanece título do rei durante séculos até aproximadamente

o exílio (de 1Sm 24.7 até Lm 4.20; Zc 4.14)”.67

Soggin,68 ao explanar sobre o termo messias, coloca o a raíz

hvm

, mxh,

junto com o verbete

$lm

, mlk, e destaca o fato de que “a expressão serve para

assinalar a estreita relação que une a Yahvé e o rei”. Ele ainda assevera que:

O termo ‘Messias’ vem da raiz mashah, ‘ungir’, que deu origem em hebraico mashiah em aramaico meshihah, transcrito em grego como Messias (Jo 1,42; 4,25) e traduzido por Christos, e em latim por Chistus. Ele era usado para se designar o ungido, em geral – mas não unicamente – o rei, o qual, em sua

64

HAMILTON, Victor P.

xv;m'

. In: HARRIS, Laird Harris et all. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. p. 884.

65

Sic Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.

66

HAMILTON, Victor P.

xv;m'

. op cit. p. 884.

67

SCHMIDT, Werner H. A fé no Antigo Testamento. p. 295.

68

SOGGIN, J. A.

$lm

. In: JENNI, Ernest e WESTERMANN, Claus. (ed.). Diccionario Teológico

investidura, recebia a unção com o óleo e se tornava, com isso,

um ser que participava da santidade de Deus.69

Além da unção real ainda há a sacerdotal, que veio a ser considerado como um termo que designa uma pessoa específica que promoverá a libertação do povo. Segundo Soggin, “a ampliação do título para designar o ‘Messias’ não pertence, pois, ao âmbito veterotestamentário, senão a uma designação

posterior no judaísmo tardio”. 70 E ainda, segundo Sicre “originariamente se

ungia os reis. Mais tarde, quando desaparece a monarquia, o sumo sacerdote e

posteriormente, todos os sacerdotes71. É mais discutível que se ungissem os

profetas”.72

Observa-se, portanto, que Israel em muitos aspectos é um assimilador de culturas, adaptando-as ao seu próprio estilo e forma de viver em comunidade. A monarquia, então, é a constatação do uso terminológico da unção real, que é sedimentada e perpetrada através da unção daquele que veio a ser o “segundo rei”73 em Israel: Davi, este que, antes de ser ungido rei, era pastor de ovelhas e foi encontrado por Samuel pastoreando o rebanho de seu pai Jessé. Embora, segundo Seybold, “um substancial grupo de ocorrências não aparece até as tradições da elevação de Davi (datam depois do período de

Salomão)”74, ou seja, a ocorrência de Davi como o ungido se consolida num

período pós davídico.

69

SOGGIN, J. A.

$lm

. op. cit. p. 1245.

70

SOGGIN, J. A.

$lm

. op. cit. p. 1244.

71

Conforme já descrito na nota nº. 41 desta tese.

72

SICRE, José Luiz. De Davi ao Messias: textos básicos da esperança messiânica. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 19.

73

Há alguns autores que destacam o fato de nunca ter havia um rei para todo o Israel, a não ser Davi, que chegou mais próximo a esse ideário monárquico, aliás, utilizando-se do aspecto tanto militar, pois tinha o seu próprio exército (1Sm 2,2), como, em especial, do aspecto religioso, ao retornar a arca para Israel e tê-la colocado em Jerusalém (1Sm 4-6 e 2Sm 4), uma cidade estratégica entre Norte e Sul. Para um maior aprofundamento cf. DONNER, Hebert.

História de Israel e dos povos vizinhos. V. 1. São Leopodo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 1997, e

também, SILVA, Airton José. “A história de Israel na pesquisa atual.” In. FREITAS, Jaci Correia (org). História de Israel e as pesquisas mais recentes. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 43-87, e DE VAUX, Roland. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Teológica, 2003. p.117- 126.

74

SEYBOLD, K. MäšîaH. IIn: BOTTERWEK, G. Johannes; RINGGREN, Helmer e FABRY, Heins-Josef (ed). Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Michigan: William B. Eerdmans, 2004. p. 48.

A tradição davídica como o “Ungido de Javé” perdurou por vários

séculos no imaginário75 do povo. Quando Davi foi ungido, maxiah, ele passou

então a ser aquele por excelência que tem o respaldo de Javé para libertar e tornar o povo de Israel numa nação forte, e isso através de suas empreitadas bélicas.

O que se conhece sobre a terminologia messias provém justamente dessa unção real, que no começo designava uma pessoa específica separada para o exercício de uma função. Para Fohrer:

O Messias não é um ser sobrenatural que desce à terra mas um ser humano como qualquer outro. Ele é superior apenas por causa de seu relacionamento particularmente estreito com Iahweh, de quem é representante, e por ser descendente da antiga dinastia. Não há nada de miraculoso acerca do Messias; o milagre será a era da salvação inaugurada por Iahweh e o

império estabelecido por ele.76

Este relacionamento com Javé confere ao messias o título de “Ungido de Javé”, o qual permaneceu designação referente ao rei durante séculos até o período do exílio. Assim, há que se inferir no fato de que o messianismo é um movimento que surge num contexto conturbado do povo, e que gera a espera pelo messias. Entrementes, a expectativa de um libertador, num ambiente hostil

e de grandes perturbações políticas, suscita o movimento messiânico77.

75

A expressão “imaginário” é um conceito trabalhado no âmbito da comunicação social, que trata este conceito, em linhas gerais, da seguinte forma: o imaginário demonstra “a maneira como a realidade é concebida e pensada gera conseqüência em nossa vida individual e social. Prova disto é que as civilizações se organizam e atuam segundo uma visão – sem se esquecer também que uma organização e atuação se constroem também uma visão particular. Desde as origens da humanidade todas as civilizações tem mostrado um ‘núcleo intuitivo’ que constitui uma visão, orientação, modos de fazer, de sentir, de compreender e de praticar suas condutas, ‘núcleo’ que se institui nas formas de organização política e econômica, nos ritos e crenças, nos sistemas de pensar e de organização social”. Cf. LUENGO, Enrique. “A construção do conhecer a partir do imaginário”. In: Revista eletrônica Razón e palabra, nº. 25, fev/mar de 2002. Disponível em: http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n25/eluengo.html#2 Acesso em 11/05/2010.

76

FOHER, Georg. História da Religião de Israel. p. 437.

77

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