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2.6 Padronização da informação geográfica

2.6.2 Metadados

Metadados são “dados sobre os dados”, descrevem o conteúdo, qualidade, condição e outras características do dado (FGDC, 2000a). Os metadados são um conjunto de informações que descrevem os dados geográficos auxiliando na sua localização e entendimento (CALAZANS e DOMINGUES, 2007).

Os metadados compreendem especificações sobre o conteúdo, abrangência geográfica, representação, qualidade, histórico, limitações de uso, meios de acesso e uso e referências administrativas de uma série de dados geográficos, aumentando o potencial de consciência do usuário sobre a qualidade dos dados, permitindo comparação, interpretação e utilização correta da série de dados em questão (MIGRA V1, 1996; MÄKELÄ, 2007).

O objetivo da documentação de metadados de dados geográficos é fornecer informações descritivas referentes aos dados, que permitem o usuário localizar e avaliar se o dado serve ou não para o uso que ele pretende fazer. Os metadados adicionam valor aos dados geográficos, como qualidade, transparência e confiabilidade. Sob estas condições os metadados são vitais para a eficiência da gestão da geoinformação. De acordo com Casanova et al. (2005) os metadados tratam a interoperabilidade em nível de gerenciamento da informação, facilitando a recuperação e o uso de um dado ou informação contida em um ambiente computacional.

48 XML é o padrão mais popular do World Wide Web Consortium (W3C) para transferência de informação via internet. Provê meios padronizados para estruturar e armazenar informações na forma de documentos de texto, permitindo a divulgação independente do ambiente e da plataforma na qual sejam consultados. O W3C é um grupo de mais de 450 membros da indústria da computação responsável por diversos padrões existentes na internet (KRESSE, 2004).

2.6.2.1 Padrões de metadados para informações geográficas

Os padrões de metadados para informações geográficas têm como objetivo definir a estrutura/codificação e o conteúdo dos metadados. Padrões de conteúdo descrevem a terminologia comum e definições para a documentação digital de dados geoespaciais, enquanto, que padrões de codificação de metadados, comumente implementados usando documentos e esquemas em XML, descrevem como o conteúdo dos metadados é declarado digitalmente. Usado em conjunto, os padrões de conteúdo e de codificação simplificam a geração de metadados, oferecendo um documento base para conteúdo, bem como, orientação para permitir entrada de informações (BATCHELLER, 2008).

Os padrões de metadados mais utilizados em aplicações geográficas são: ISO 19115:2003 – Metadados, ISO/TS 19139:2007 Metadados - esquema de implementação em XML, Dublin Core e Content Standard for Digital Geospatial Metadata (CSDGM) da FGDC. O OGC adotou a ISO 19115 como substituta do padrão de metadados Open Geodata Interoperability Specification - OpenGIS (OGC Abstract Specification Topic 9) resultando na OGC Abstract Specification Topic 11, que traz os mesmos metadados que da ISO 19115.

A ISO 19115, que sofreu alterações em 2006, define o esquema requerido para descrever informação gráfica e serviços geográficos. O esquema é composto de 20 elementos chaves de metadados e mais 400 elementos (KRESSE, 2004). A ISO 19115 consolida fontes bem conhecidas de metadados, como do padrão norte-americano de CSDGM da FGDC, em um único padrão. Muitos fabricantes de SIG estão incorporando a ISO 19115 em seus sistemas, permitindo a geração automática de elementos de metadados enquanto os dados são atualizados no SIG.

A ISO/TS 19139 é uma especificação técnica49 que define um modelo de implementação UML que é baseado na abstração do modelo UML da ISO 19115. Esta especificação em conjunção com um esquema XML define um documento que descreve a identificação, qualidade, referencia espacial e distribuição de dados geográficos digitais. A implementação descrita neste documento também pode ser usada para descrever outras formas de dados geográficos, como mapas, cartas e documentos textuais (GONG et al. 2004).

49 Especificação técnica é uma descrição técnica, detalhada de um produto ou serviço, que contém toda a informação necessária para sua produção. Algumas especificações técnicas podem ser adotadas como normas ou como padrões (GARCIA e PASCUAL, 2008).

Outra fonte de definição de metadados bem conhecida é a Dublin Core, apesar de sua aplicação não ser especificadamente geográfica. Sua definição é uma compacta lista de 15 elementos de metadados criados originalmente para tecnologias da informação e finalidades bibliotecárias. Este padrão não é totalmente complacente com o padrão ISO 19115, no entanto, organizações governamentais como a União Européia o tem adotado, inclusive em aplicações de informação geográfica (KRESSE, 2004). Os elementos de metadados do Dublin Core foram agrupados na ISO 15836:2003 Information and documentation - The Dublin Core metadata element set (DUBLIN CORE, 2008).

O padrão de metadados CSDGM da FGDC tem como objetivo oferecer terminologia e definições comuns para documentação de dados geoespaciais digitais. Este padrão contém mais de 300 elementos de dados e componentes (FGDC, 1998). Conforme Casanova et al. (2005) a substancial burocracia envolvida em adotar o padrão FGDC não se traduz em benefícios proporcionais.

De acordo com Lima Júnior (2002, p. 46):

O grande problema da proposta do FGDC (e do uso de metadados em geral) é a excessiva ênfase em informações que descrevem o processo de produção dos dados. Com relação à sintaxe, o padrão limita-se a indicar qual o formato em que os dados estão disponíveis. No aspecto semântico, suas informações são muito limitadas, pois o FGDC não adota o ‘modelo padrão’ de geoinformação (campos e objetos). Adicionalmente, o padrão do FGDC reflete os compromissos inevitáveis do ‘projeto de comitê’, pois requer uma excessiva quantidade de informações (de aplicação questionável), com dezenas de formulários.

Assim como padrões simplificam a geração de metadados, simultaneamente eles podem ter um efeito prejudicial, complicando a geração e potencialmente impugnando iniciativas de implementação. Contudo, os benefícios dados pela completa adoção de algum padrão serão significativamente maiores que os recursos necessários para alcançá-los (BATCHELLER, 2008).

As tentativas internacionais ou nacionais de padronização de metadados geram modelos ainda complexos para o uso permanente por parte de profissionais e empresas ou organismos não oficiais de geração

de cartografia. Por exemplo, o padrão de metadados FGDC, que estabelece 334 diferentes metadados e para cada um deles, suas regras de produção. Este tipo de padrão de metadados deve ser considerado no gerenciamento de um sistema nacional de informação espacial, o que implica num projeto nacional de metadados, e não no dia-a-dia dos profissionais e pesquisadores. A única maneira de garantir a existência dos metadados é a criação de uma estrutura de metadados, apoiada nos padrões atuais, mais simplificada e/ou adaptada para a aceitação dos usuários (PARMA, 2003).

Uma iniciativa que vem sendo praticada por muitos países e organizações para tratar da generalidade e complexidade dos padrões de metadados é a criação de perfis de padrões de metadados (metadata profiles). Conforme CAMBOIM (2007, pg. 25) perfis de metadados consistem em:

Um detalhamento da norma geral, segundo linguagem e características locais. Enquanto o padrão é complexo e genérico, o perfil é composto de uma descrição detalhada do padrão, definindo termos e valores de domínio para uma comunidade específica. O perfil pode também estender a norma, colocando, mais atributos, ou diminuindo, descartando campos irrelevantes. Um perfil geralmente contempla a tradução e definição dos elementos de metadados, seleção dos elementos da norma escolhida, transformação de campos opcionais e obrigatórios, extensão das listas de códigos e criação de novas listas de códigos, elaboração de um manual de instruções que especificará como deverá ser preenchido cada campo dos elementos de metadados (CAMBOIM, 2007).

Perfis de padrões de metadados têm aparecido por uma variedade de domínios de aplicação e sua criação pode ser orientada por padrões formalizados como a ISO 19106:2006 Geographic Information - Profiles. Similarmente, existem em abundância perfis regionais específicos, como os perfis da série ISO 19100 administrados pela CEN/TC 287 (BATCHELLER, 2008).

A FGDC em conjunto com o Instituto Americano de Padronização está planejando migrar o padrão CSGM/FGDC para ser perfil da ISO 19115 (OGC, 2008).

O objetivo de criar perfis de metadados não é desenvolver um novo padrão, mas deliberar regras de implementação para os padrões existentes e fazer os ajustes necessários para atender as necessidades específicas de cada país ou organização. Os perfis de metadados mais

comuns são os perfis da ISO 19115 e da FGDC, como exemplo respectivamente, pode-se citar o padrão suíço de metadados SN612050 (HALL e BEUSEN, 2006) e o perfil de metadados criado pela empresa Companhia Vale do Rio Doce - CVRD (CREM, 2007).

A combinação de mais de um padrão de metadados é outra iniciativa empregada por alguns países, como a Colômbia, que criou a NTC 4611-2000: Informação Geográfica - Metadados, que consiste num subconjunto de padrões do FGDC e da ISO/TC 211 com alguns elementos próprios (ICONTEC, 2008 e CADAVID, VALBUENA e AMAYA, 2008).