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4 METODOLOGIA DA PESQUISA

Para avaliar os pontos positivos e negativos teóricos e práticos dos indicadores, realizou-se um levantamento de indicadores do município de Curitiba feito por bairro, utilizando bases secundárias (IBGE, 2002; IPPUC, 2006; Curitiba, 2005).

Existem, no entanto, algumas limitações de pesquisa nesta etapa. A primeira, e mais corriqueira para a realidade brasileira, é a falta de informações atualizadas para o estabelecimento de dados para um local com vitalidade própria, que pode ser um bairro ou parte dele. Nem sempre as informações são registradas para futuras avaliações nem existem dados disponíveis distribuídos por bairro. Em virtude dessas limitações, a alternativa é utilizar as informações existentes. Além disso, o levantamento de parcela dos indicadores é censitário, ou seja, não foi possível encontrar indicadores do mesmo ano para todos os bairros, nem indicadores analisados num período maior, como, por exemplo, anual. Dados sobre qualidade das águas e do solo existem, mas não se encontram disponíveis por bairro.

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A delimitação territorial do trabalho é o município de Curitiba, especificamente seus 75 bairros. Alguns dados, como qualidade do ar, qualidade das águas e cobertura vegetal, importantes indicadores para a dimensão ambiental, não foram utilizados neste trabalho por não estarem disponíveis por bairro (de acordo com pesquisa feita no IAP).

Ao todo foram coletados 140 indicadores, distribuídos entre as cinco dimensões (social, cultural, espacial, econômica e ambiental). Desses, foram utilizados 75 para análise do software; alguns foram excluídos, outros agregados, utilizando-se a classificação do relatório “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, elaborada pelo IBGE. Por exemplo, os indicadores de “Faixa Etária”, que relacionam a quantidade de pessoas de cada faixa etária, e os indicadores “População Homens” e “População Mulheres” foram incluídos no indicador “População” em 2000; os indicadores “Escolas Estaduais”, “Escolas Municipais” e “Escolas Particulares” foram incluídos no indicador “Total de Estabelecimentos de Ensino”.

Quando possível, os indicadores foram divididos pela população para relativizar o seu valor e tornar a análise mais consistente. Por exemplo, um bairro que tinha cinco mil habitantes e apenas uma unidade de saúde tem menos a oferecer do que um bairro com setenta mil habitantes e nove unidades de saúde? Se relativizarmos os dados, veremos que aquele bairro tem 37,07 unidades de saúde/população e este, 17,00, o que nos permite melhor análise.

A análise da interdependência dos indicadores foi realizada com o uso do software SPSS para correlação de indicadores simples. O SPSS é um software estatístico que permite fazer uma análise de um número de dados ou informações muito grande, chamada de “análise multivariada”.

A análise multivariada é importante para avaliar correlações entre as variáveis em questão sem privilegiar uma em detrimento de outras. “É somente por meio de técnicas multivariadas que essas múltiplas relações podem ser adequadamente examinadas para se obter uma compreensão mais completa e realista na tomada de decisões” (HAIR et al., 2005, p. 25). De modo geral, a análise multivariada refere-se a todos os métodos estatísticos que, simultaneamente, analisam múltiplas medidas sobre cada indivíduo ou objeto sob investigação (STEINHAUSEN, 2006).

Para avaliar a interação entre as variáveis e obter um índice de qualidade do ambiente por bairros de Curitiba foi utilizado o método Genebrino ou Distancial, que mensura, basicamente, os resultados em que se utilizou grau de satisfação das necessidades materiais e culturais da população. Foi utilizado pela primeira vez em 1966, pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da ONU, sendo posteriormente incorporado pelo Instituto Econômico e Social (IGS) da Polônia. No Brasil, o primeiro trabalho em que utilizou o método foi “A medição do nível de satisfação das necessidades materiais e culturais da população em Curitiba”, elaborado pelo IPPUC, em conjunto com o Ipardes em 1984.

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A partir do estabelecimento de parâmetros (limiares) é elaborada uma escala que vai de ótima (limiar máximo) a péssima (limiar mínimo). Nessa oscilação estabelece-se a posição do indicador avaliado.

Considera-se a situação ótima como 100% e a situação péssima como 0%. Após calcular o valor empírico em porcentagem, os medidores da qualidade ambiental rece- bem valores numéricos que podem variar de 0% a 100%, por meio da fórmula dos índices parciais:

(1)

onde: yij = índice parcial; yij.e = valor empírico dos indicadores;

yij.0 = limiar mínimo; yij.100 = limiar máximo.

Quando houver no grupo de indicadores mais de um indicador por dimensão, estrutura-se o indicador grupal. Nesta fase os indicadores parciais, calculados a partir de dados empíricos, são reunidos num indicador composto chamado de “índice grupal”. Calcula-se o índice grupal por meio da média aritmética simples dos índices parciais do grupo:

(2)

onde: yi = índice grupal n = número de indicadores yij = índices parciais

Finalmente, a partir de vários índices grupais é estruturado o índice sintético, que permite uma avaliação composta e global da cidade, considerando todas as suas dimensões (social, espacial, econômica, cultural e ambiental). Para o cálculo do índice sintético é feita a média aritmética dos índices grupais:

onde: yS = índice sintético n = número de indicadores y

i = índices grupais

Como salientado anteriormente, a matriz inicial era de 75 por 75, ou seja, 75 indicadores obtidos em meios digitais (IBGE e IPPUC) pelos 75 bairros de Curitiba.

O software SPSS analisa os indicadores a partir da seleção dos que possuem uma maior correlação entre si e agrupa-os em fatores. Neste software, que pode rodar em qualquer computador, os dados são alimentados por planilhas, como do Excel. Dos 75 indicadores analisados pelo SPSS restaram apenas vinte. O resultado da análise, bem

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como as respectivas dimensões a que os indicadores pertencem, pode ser observado no Quadro 1.

Item Indicador Resultado fatorial Dimensão 1 População de adolescentes (12 a 18 anos) em 2000 0,994 Social 2 População em 2001 0,989 Espacial 3 População em 2002 0,988 Espacial 4 População em 2000 0,988 Espacial 5 População em 2003 0,986 Espacial 6 População em 2004 0,982 Espacial 7 Total de alfabetizados 0,980 Social 8 Total de analfabetos 0,980 Social 9 Total de nascidos vivos no período de 1997 a 2001 0,979 Social 10 População 15 anos ou mais 0,977 Social 11 Pop. analfabeta de 15 anos ou mais 0,974 Social 12 Total de domicílios com ligação de água na rede/canalização

interna

0,968 Ambiental 13 Total de domicílios com rede de esgoto ou fossa séptica 0,955 Ambiental 14 Creches 0,942 Social 15 Faróis do saber 0,900 Social 16 PIA – Programa de Integração da Infância e Adolescência 0,835 Social 17 Domicílios em aglomerados subnormais 0,834 Social 18 ECOS – Espaço de contraturno socioambiental 0,832 Ambiental 19 Mercadão Popular 0,817 Econômica 20 Área do bairro 0,769 Espacial Fonte: Elaborado pelo autor.

Quadro 1 - Resultado da matriz fatorial com dimensões do desenvolvimento para Curitiba

A partir desse fator definem-se os vinte indicadores demonstrados como aqueles que fazem parte de um ambiente com qualidade, já que há uma alta correlação entre eles. Isso significa que cada um é interdependente de todos os outros. Observa-se que, dos vinte indicadores resultantes, dez são da dimensão social, o que ocorre pela alta correlação entre estes e os demais indicadores. ECOS, ou seja, espaços de contra-turno socioambiental são espaços onde ocorre a educação ambiental. A educação é muito importante para o aumento da qualidade do ambiente. É a base do conhecimento, o

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qual, na área ambiental, otimiza o uso ou não-uso de recursos naturais para a melhoria da qualidade do ambiente.

Dos vinte indicadores apresentados no Quadro 1 apenas 12 serão utilizados. Estabeleceu-se como população apenas o indicador População em 2000, porque a maioria dos indicadores resultantes é de 2000; os outros quatro indicadores de população foram excluídos por não interferirem na análise.

O indicador População de Adolescentes foi excluído da análise, por não ser de conhecimento deste trabalho uma situação ótima para o número de adolescentes num bairro.

Para a determinação dos valores limiares para cada indicador foi utilizado o critério comparativo, no qual os medidores limiares se apóiam na prática de outros países ou regiões mais desenvolvidas (para mais detalhes, ver SLIWIANY, 1997). Foi utilizada a comparação com outras capitais, com informações encontradas no Censo IBGE, 2007, ou fornecidas por Sliwiany (1997) e da própria autora da obra. Para a avaliação da qualidade ambiental a maior parte dos dados foi relativizada.

Após dispostas e aceitas as informações sobre os valores limiares e empíricos para cada um dos 12 indicadores, calcula-se o índice parcial, utilizando a fórmula 1 apresentada anteriormente. Foi fornecida, pelo cálculo do índice parcial, a porcentagem de qualidade do ambiente para cada indicador. Ressalta-se que, como os limiares máximos e mínimos já foram definidos como péssimos e ótimos, quer as grandezas sejam diretamente ou inversamente proporcionais, os valores dos índices parciais, assim como dos índices grupais e do índice sintético, são tanto melhores quanto maior for o seu valor.

Para a análise dos índices grupais optou-se, neste trabalho, por quatro faixas, que correspondem à classificação: Ruim – entre 0 e 25%, Regular – entre 25% e 50%, Bom – entre 50% e 75% e Ótimo – entre 75% e 100%, representadas pelas cores vermelho, laranja, amarelo e verde, respectivamente. Com o cálculo por meio da fórmula 2, ou seja, pela média aritmética dos índices parciais de cada dimensão, obtém-se o índice grupal.

Para o cálculo do índice sintético é feita uma média aritmética entre os índices grupais. Com os resultados obteve-se um índice sintético de 75,96, significando que a qualidade ambiental de Curitiba está em 75,96%. A seguir, faz-se uma análise de alguns resultados por bairros para verificar se a qualidade ambiental é aplicada em todos eles. Uma visão geral dos valores empíricos, valores limiares, índices parciais, grupais e do índice sintético é apresentada no Quadro 2.

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Teoria e Evidência Econômica - ano 14, n. 29, p. 149-170 – jul./dez. 2007 Indicadores Leitura dos dados Valor mínimo Valor empírico Valor máximo Índice parcial Índice grupal Índice sintético 0% - 100% Espacial 99,94 75,96 Densidade demográfica Pop/Área 0 0,00423 6,83 99,94

Social

59,35 Coeficiente de analfabetos

de 15 anos ou mais % 100 3,28 0 96,72 Número da analfabetos para

cada alfabetizado % 100 5,79 0 94,21 Faróis do saber un. 0 45 334 13,47 Creches un. 0 228 1.210 18,84 PIA – Programa de

Integração da Infância e Adolescência

un. 0 32 3.554 0,90

Nascidos vivos hab. 0 143.101 145.155 98,58 Taxa de domicílios em

aglomerados subnormais % 100 7,27 0 92,73 Ambiental

58,54 Taxa de domicílios com rede

de esgoto ou fossa séptica % 0 84,69 100 89,35 Taxa de domicílios com

ligação de água na rede/ canaliz. interna

% 0 89,35 100 84,69

ECOS – Espaço de

Contraturno socioambiental un. 0 33 2.066 1,60 Econômica

86,00 Mercadão Popular (%) % 0 86 100 86,00

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quadro 2 - Indicadores com seu respectivo valor empírico, valores limiares máximos e mínimos e índice parcial, grupal e sintético

5 AVALIAÇÃO COMPARATIVA DOS RESULTADOS NOS BAIRROS