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METODOLOGIA DE ANÁLISE DAS ENTREVISTAS: O DISCURSO DO

Em pesquisas de caráter descritivo é importante que exista uma eloquência entre as informações obtidas dos participantes, de maneira que as ideias e a essência de cada resposta sejam mantidas do modo como a pessoa transmitiu. Dessa maneira, se faz importante que o pesquisador utilize de meios para conseguir fazer a ligação entre as ideias.

Em meio a isso, optamos pelo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), estudo desenvolvido pelos pesquisadores Fernando Lefevre e Ana Maria Cavalcanti Lefevre, ambos da Universidade de São Paulo (USP). Essa metodologia de análise tem o objetivo de padronizar e sistematizar todos os procedimentos utilizados pelo pesquisador, de maneira que possa agrupar e sintetizar os discursos coletados.

Na tentativa de fazer um resgate do pensamento que apresenta teor relevante para uma pesquisa empírica, em um determinado grupo de indivíduos, sobre um determinado tema, é necessário compreender que esse pensamento ou opinião dos sujeitos envolvidos no grupo, de fato acontecem de maneira efetiva a partir de um depoimento realizado na forma de um discurso. Nesse discurso, podemos perceber as mais diversas manifestações de posicionamento do indivíduo quando está defronte a um determinado tema composto por uma ideia central e seus argumentos. (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005, p. 13).

O Discurso do Sujeito Coletivo (doravante DSC) ao realizar o resgate do pensamento identifica nas opiniões individuais os sentidos que apresentam caráter semelhantes agrupando-os em categorias semânticas globais, características essas encontradas em diversas pesquisas que utilizam o tratamento de perguntas ou questões subjetivas. O que diferencia a metodologia do DSC, dos demais processos metodológicos, é que cada categoria encontram-se associações aos conteúdos das opiniões que possuem sentidos equivalentes. Elementos expostos em diferentes depoimentos, formando a partir da concatenação dessas declarações uma síntese, a qual é escrita na primeira pessoa do singular, caracterizando a fala de um grupo na representação de um indivíduo.

De acordo com os autores são necessários quatro operadores para a construção do Discurso do Sujeito Coletivo, que são:

➢ Expressões-chave (E-ch) – partes do material verbal do depoimento, que melhor representam o seu conteúdo;

➢ Ideias Centrais (ICs) – são fórmulas que sintetizam o(s) sentido(s) presentes no depoimento individual e no conjunto de respostas de diferentes pessoas, necessitando ter sentido idêntico ou complementar;

➢ Ancoragens (ACs) – são afirmações genéricas que exprimem os valores e crenças do sujeito, no individual ou coletivo, de forma a enquadrar situações particulares. Elas só existem se houver no depoimento tais afirmações de forma clara;

➢ Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs), propriamente dito – é a união das expressões-chave, que apresentam Ideias Centrais (ICs) ou Ancoragens (ACs) com significado parecido ou complementar.

Após todo o processo de levantamento dos dados que deverão ser registrados através de registros gravados, o entrevistador deverá transcrever todas as falas dos participantes para que sejam tabuladas para posterior análise. Nesse sentido, deve- se seguir criteriosamente alguns passos para a realização dessa tabulação, que segundo Lefevre e Lefevre (2015, p. 46-54), são:

No primeiro passo as questões deverão ser analisadas isoladamente, isto é, será inicialmente analisada a questão 1 de todos os sujeitos entrevistados: a seguir a questão 2 de todos os sujeitos entrevistados e, assim, sucessivamente. [...] O segundo passo consiste em identificar e sublinhar, em cada uma das respostas, com uma cor determinada ou utilizando outro recurso gráfico, as expressões-chaves das idéias centrais e, quando houver, com outra cor ou usando outro recurso, as expressões-chave das ancoragens. No caso, aqui, as expressões-chave das idéias centrais estão representadas. [...] O terceiro passo consiste em identificar as idéias centrais e (quando for o caso) as ancoragens, a partir das expressões-chave, colocando essas idéias centrais e ancoragens nas caseias correspondentes. [...] O quarto passo consiste em identificar e agrupar as idéias centrais e as ancoragens de mesmo sentido ou de sentido equivalente, ou de sentido complementar. [...] O quinto passo consiste em denominar cada um dos grupamentos por A, B, C, etc., o que, na realidade, implica criar uma idéia central ou ancoragem-síntese, que expresse, da melhor maneira possível, todas as idéias centrais e ancoragens de mesmo sentido. [...] O sexto passo é a construção do DSC. Para isso é preciso usar o lAD 2 - INSTRUMENTO DE ANÁLISE DE DISCURSO 2.

Vemos através dos esquemas a seguir a constituição da tabela do Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) que apresenta as expressões-chave, as ideias centrais e a ancoragem (quando tiver), e a tabela do Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2) que determinam as expressões-chave e o discurso do sujeito coletivo gerados a partir da tabela anterior, vejamos:

IAD 1

Expressões - chave Ideias Centrais Ancoragem

IAD 2 Grupamento A:

Expressões – chave DSC

Para a construção do Discurso do Sujeito Coletivo, além dos seis passos descritos por Lefevre e Lefevre (2015), devemos nos pautar em seguir duas outras etapas. Para essa construção o entrevistador deve partir das ideias apresentadas no Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD2). Para isso, devemos copiar todas as palavras-chaves sublinhadas do IAD, que foram previamente agrupadas, para o IAD2. Nesse caso, a construção do DSC será discursar sobre as expressões-chave do IAD2 seguindo como premissa a esquematização de qualquer ideia clássica, a qual deve apresentar um começo, um meio e um fim. É importante ressaltar que o discurso gerado a partir dessas falas deve ser feito com conectivos que possam proporcionar a coesão dos fatos apresentados. Outro fator importante é retirar qualquer tipo de ideia que seja de cunho particular, que demonstre ser de um único indivíduo e que não caracterizam o grupo. Além da retirada de ideias repetidas.

Na apresentação dos resultados, os autores sugerem duas maneiras simples: a primeira é a de gerar discursos resultantes para cada questão apresentada na entrevista; em segundo caso, se houver mais de uma construção de DSC para a questão, podemos construir um quadro-síntese de análise com as ideias centrais dos questionamentos realizados.

Podemos dizer que o resultado de uma pesquisa realizada através do Discurso do Sujeito Coletivo é uma construção. Ou seja, um elemento de uma descrição

sistemática em busca de uma realidade para compreender a construção e reconstrução do pensamento coletivo gerado através de um produto científico.