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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

1.9. Metodologia e métodos

A metodologia de pesquisa proposta é de caráter exploratório misto, uti- lizando métodos intervencionistas e não intervencionistas, e de caráter basi- camente qualitativo. Busca-se nesta pesquisa compreender o modo como os fenômenos a serem estudados ocorrem numa relação de complexidade, e na qual o investigador apresenta pouco controle sobre as diversas variáveis es- tudadas. A estrutura metodológica desta tese com suas respectivas etapas é representada na Figura 9.

• Levantamento do estado da arte sobre os temas de estudo, por meio de crítica da literatura e entrevistas semiestruturadas;

• Pesquisa empírica e intervencionista, por meio de pesquisa-ativa e cons- trução de modelo metodológico;

• Avaliação do modelo por meio de grupo de amostra e grupo de controle; • Estudo comparativo dos resultados da avaliação e elaboração de pré-

-conclusões;

• Revisão do modelo a partir dos resultados da avaliação e pré-conclusões; • Sistematização dos resultados, comparação com os pressupostos iniciais

e elaboração das conclusões;

• Verifi cação das conclusões e seu nível de contribuição ao conhecimento da área de design;

• Recomendações e indicações de possibilidades de investigações futuras sobre o assunto.

Figura 8. Modelo de raciocínio abduti- vo-2 (Dorst, 2011) aplicado à proposta de

pesquisa (Elaborado pelo autor).

1.9.1.

Estado da arte

A construção do estado da arte desta tese inclui dois métodos principais: a revisão e crítica da literatura sobre os assuntos relacionados ao tema de pes- quisa, e as entrevistas semiestruturadas, feitas com especialistas em P&D em novos materiais,. O objetivo das entrevistas é complementar a crítica da literatu- ra com dados de situações reais que não estejam documentadas na literatura.

1.9.1.1.

Revisão e crítica da literatura

Esta etapa, feita por meio de consulta a artigos em journals, anais de con- gressos, teses, dissertações, livros, relatórios setoriais e outras publicações re- levantes, inclui as seguintes temáticas:

• Contexto e problemática dos resíduos têxteis sintéticos;

• Processo de Inovação em novos materiais, incluindo a Pesquisa e Desen- volvimento (P&D) e a criação de novos modelos de negócio;

• Design como abordagem distinta à problemática colocada, e suas cone- xões com outras áreas do conhecimento;

• Aspectos humanos, ambientais, econômicos e tecnológicos do desenvol- vimento de novos materiais;

• Equipes de P&D e seus diversos aspectos (criatividade, gestão, liderança, motivação e outros).

Estes temas principais desdobram-se em diversos outros, conforme será visto na Parte I (Enquadramento Teórico).

1.9.1.2. Entrevistas semiestruturadas

As entrevistas foram feitas com dois coordenadores de grupos de P&D em novos materiais, um do Brasil e um de Portugal. O objetivo foi colher experiên-

O QUÊ

(objeto)

+

COMO

(princípio de funcionamento)

=

VALOR

(benefícios)

novo material novos produtos processo de pesquisa & desenvolvimento e metodologia apropriada

valor para o planeta

> redução de impactos ambientais

usuário > emocional/funcional planeta > ambiental produção > tecnologia economia > negócios inovação ambiental tecnológico econômico processo de P&D equipe e liderança de P&D

produtos de P&D conhecimento e aprendizagem propriedade intelectual por meio de solução por meio de leva a

PROBLEMA

Resíduos têxteis

sintéticos

PRESSUPOSTOS

Desenvolvimento de novos materiais e produtos como possível solução Design como gestor do processo de desenvolvimento

Interdisciplinaridade como condição necessária

assuntos relacionados assuntos

relacionados

OBJETIVO DA PESQUISA

Construir e testar uma metodologia para o desenvolvimento de novos materiais a partir de resíduos têxteis sintéticos, orientada pelo design

VARIÁVEIS DE PESQUISA

valor para a economia

> empresas (diferenciação, competitividade, redução de custos, ganhos de imagem, etc) > pessoas (trabalho, renda, desenvolvimento local)

> governo (impostos, redução de gastos, tratamento de resíduos, etc)

valor para os usuários

> emocional (sensações, emoções, afetividade, status, identidade cultural, etc)

> funcional (usabilidade, conforto, segurança, conveniência, etc)

Figura 9. Estrutura geral da metodologia de pesquisa (Elaborado pelo autor).

RECOMENDAÇÕES SUGESTÕES DE PESQUISA

FUTURA CONCLUSÕES PRÉ-CONCLUSÕES

ANÁLISE DOS RESULTADOS ANÁLISE DOS RESULTADOS

DEMAIS GRUPOS DE AVALIAÇÃO QUASI-EXPERIMENTO GRUPO DE AMOSTRA QUASI-EXPERIMENTO GRUPO DE CONTROLE MODELO DE GESTÃO DO PROCESSO DE P&D MODELO DE GESTÃO DA LIDERANÇA DE P&D sintetiza, critica e aprimora sintetiza, critica e aprimora sintetiza CONTRIBUTO NOVO PARA O CONHECIMENTO PESQUISA-ATIVA MODELO DE GESTÃO DA EQUIPE DE P&D compara com compara com PRESSUPOSTOS projeto de pesquisa 7945 Design-UEL qualitativa intervencionista (empírica) coordenadores de projetos de P&D em materiais ESTADO DA ARTE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS CRÍTICA LITERÁRIA PROBLEMA

Como o design pode colaborar para o desenvolvimento de novos materiais e produtos

obtidos a partir dos resíduos têxteis sintéticos?

qualitativa não intervencionista TEMA

Design aplicado a novos materiais a partir de resíduos têxteis

TÍTULO

Metodologia para o desenvolvimento de novos materiais a partir de resíduos têxteis sintéticos

orientada pelo design

qualitativa não intervencionista qualitativa não intervencionista (empírica) grupos de P&D em materiais e design qualitativa não intervencionista (empírica) grupos de P&D em materiais e design

cias em P&D em diferentes contextos, ampliando assim as perspectivas sobre o problema, e complementando de forma qualitativa a revisão e crítica da lite- ratura.

1.9.2. Pesquisa empírica

A pesquisa empírica, realizada por meio de pesquisa-ação, teve como obje- tivo a construção do modelo metodológico, a fi m de se testar os pressupostos desta tese. Trata-se de um método intervencionista, que exigiu a participação ativa do autor junto a um grupo de P&D em resíduos têxteis sintéticos, integran- te do projeto de pesquisa 7945, realizado junto ao Departamento de Design da UEL, e já citado anteriormente.

1.9.2.1. Pesquisa-ação

A pesquisa-ação é uma forma de pesquisa proposta pela primeira vez por Lewin, em 1951 (Franco, 2005), que tem por objetivo alterar um determinado sis- tema social a partir da ação dos investigadores nele atuantes (Baskerville, Har- per, 1998 apud Amélia e Franco, 2005). Atualmente sua aplicação foi ampliada a áreas bastante diversas, incluindo negócio bancários, saúde e geração de tecnologia, conforme apontam Hart e Bond (1997). Conforme Thiollient (2005), a pesquisa-ação é um processo basicamente participativo e colaborativo, no qual investigadores buscam elucidar uma dada realidade pela identifi cação de problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real.

Além disso, a pesquisa-ação parece encontrar uma convergência com a proposta da “refl exão na ação”, proposta por Schön (1983 apud Snodgrass e Coyne, 1997) (ver Capítulo IV, seção 16). Sobre essa característica, Franco (2005, p. 496), comenta:

“(...) a investigação-ativa (pesquisa-ação) sugere sempre a con- comitância entre investigação e ação e ação e investigação, considerando-se até que deveria ser expressa em forma de dupla fl echa, ao invés de hífen: investigação-ação, de modo a caracterizar a concomitância, a intercomunicação e a interfecun- didade”.

Franco (2005, p. 485-486) identifi ca ainda pelo menos três tipos diferentes de pesquisa-ação feitas no Brasil nos últimos anos:

• pesquisa-ação colaborativa, na qual a função do investigador consiste em integrar e cientifi cizar um processo de mudança já desencadeado pelo grupo;

• pesquisa-ação crítica, na qual o grupo percebe a importância da mu- dança a partir das investigações prévias do investigador, com base em uma construção cognitiva da experiência apoiada por uma refl exão crí- tica coletiva;

• pesquisa-ação estratégica, na qual a transformação é previamente pla- nejada sem a participação do grupo, e na qual o investigador acompa- nhará os seus efeitos.

Neste sentido, esta pesquisa tem caráter principalmente colaborativo, pois o investigador encontra-se inserido em um projeto de pesquisa que já em an- damento, e para o qual buscou estruturar uma lógica de ação (metodologia) que foi tanto infl uenciadora quanto infl uenciada pelo projeto e pelos investi- gadores dele participantes. A pesquisa apresenta também elementos de pes- quisa-ação estratégica, uma vez que houve um protagonismo do autor desta tese como gestor do processo, formulando modelos e planos de trabalho, e buscando ferramentas e recursos, entre outras ações. O uso da pesquisa-ação como abordagem metodológica pressupõe ainda um com o tempo necessário para a pesquisa, conforme aponta Franco (2005):

“(...) a investigação-ativa, para bem se realizar, precisa contar com um longo tempo para sua realização plena. Não pode ser um processo aligeirado, superfi cial, com tempo marcado. A im- previsibilidade é um componente fundamental à prática da in- vestigação-ativa. Considerá-la (a imprevisibilidade) signifi ca es-

tar aberto para reconstruções em processo, para retomadas de princípio, para recolocação de prioridades, sempre no coletivo, por meio de acordos consensuais, amplamente negociados. A pressa é um pressuposto que não funciona na investigação-ativa e se estiver presente conduz, quase que sempre, a atropelamen- tos no trato com o coletivo, passando a priorizar o produto, e tornando mais fácil a utilização de procedimentos estratégicos que vão descaracterizar a investigação (p. 493).”

Neste sentido, o autor buscou destinar um período de tempo adequado para a realização da pesquisa-ação, que consumiu cerca de um ano de traba- lho.

1.9.2.2. Avaliação com grupos de amostra e controle

A avaliação do modelo foi realizada em dois momentos específi cos: no pri- meiro, a avaliação da proposta de modelo de gestão do processo de P&D, que foi realizada utilizando-se quatro grupos, sendo dois de amostra (A1 e A2) e dois de controle (C1 e C2). Os grupos de amostra (A1 e A2) tiveram como obje- tivo desenvolver aplicações a partir de resíduos utilizando o modelo de proces- so de P&D proposto, enquanto que os grupos de controle (C1 e C2) deveriam fazê-lo utilizando um processo próprio.

No segundo momento, foi feita a avaliação da proposta de modelo de pro- cesso de P&D com mais doze grupos, com recortes temporais que variaram de uma a 16 semanas. Nesta etapa, os grupos tiveram o mesmo desafi o dos grupos de amostra e de controle, mas todos utilizaram o modelo proposto, de forma parcial.

Para cada uma das avaliações é feito um estudo comparativo específi co, e deste são retiradas pré-conclusões, as quais servem para a revisão e aprimo- ramento do modelo. Após estes ajustes, são sistematizados os resultados fi nais da pesquisa, os quais são comparados com os pressupostos iniciais para a elaboração das conclusões. Estas são então analisadas para verifi car se houve real contribuição em termos de novos conhecimentos para a área.

Finalmente, são elaboradas as recomendações e indicações de possibilida- des de investigações futuras sobre o assunto, indicando lacunas de conheci- mento que a pesquisa não preencheu ou que só foram detectadas posterior- mente.

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