• Nenhum resultado encontrado

O presente estudo está amparado em três eixos teóricos: i) a classificação dos furtos por empregados de acordo com a ACFE; ii) a teoria do Triângulo da Violação proposta por Cressey (1953); e iii) as formas de detectar e reagir aos furtos por empregados apontadas por Krippel (2008). A compreensão e investigação sobre a existência desses eixos alicerçou o modelo proposto por este estudo, que em última linha, buscará mensurar e tipificar a reação dos gestores aos casos pesquisados.

O modelo aplicado nesta pesquisa foi desenvolvido após quatro tentativas. O primeiro, representado pela FIG.2, foi descartado antes de se aplicar a pesquisa, pois sua estrutura sugeriu um questionário estruturado e ao mesmo tempo semiestruturado, com questões abertas e fechadas, o que provavelmente comprometeria a qualidade dos indicadores estatísticos.

FIGURA 2 – Modelo inicial proposto pelo autor com base em Cressey (1953), Krippel (2008) e ACFE (2014).

Dois outros modelos foram descartados após a conclusão da pesquisa de campo. Afinal, os construtos já estavam definidos, e a opção das substituições foi basicamente a partir de testes nas variáveis dependentes e independentes, buscando assim maior credibilidade do estudo através de indicadores estatísticos mais expressivos e confiáveis. Para melhor compreensão, os dois outros modelos testados e descartados encontram-se no APÊNDICE C deste trabalho.

Por fim, mesmo os entrevistados (gestores comerciais) respondendo questões relacionadas a outras pessoas (empregados que furtaram a empresa), o quarto modelo apresentou indicadores sólidos e expressivos, garantindo sua validação, conforme será apresentado mais adiante.

3.1 Tipo de pesquisa

Por buscar resultados quantificáveis e utilizar medidas e meios estatísticos para mensurar os eventos estabelecidos nos objetivos específicos, a presente pesquisa utilizou uma metodologia, quanto à abordagem, predominantemente quantitativa (VERGARA, 2000).

Richardson et al. (1999) explica que:

O método quantitativo representa, em princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando, consequentemente uma margem de segurança quanto às inferências. É frequentemente aplicado nos estudos descritivos, naqueles que procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nos que investigam a relação de causalidade entre fenômenos (Richardson et al., 1999, p. 70).

Quanto ao fim, ela enquadra-se como descritiva, uma vez que descreve as características do fenômeno “furto por empregados”, além da percepção e o tipo de reação dos gestores entrevistados. A amostra foi constituída de forma aleatória, tendo como amostra inicial somente empresas conhecidas. De acordo com Malhotra (2001), as pesquisas descritivas podem ser classificadas como transversais e longitudinais, sendo esta uma pesquisa transversal (cross-section) porque, embora ocasional, poderá ser repetida futuramente.

[...] os estudos transversais envolvem a coleta de informações de qualquer amostra de elementos de população somente uma vez. Elas podem ser únicas ou múltiplas. Nos estudos transversais únicos é extraída somente uma amostra de entrevistados da população-alvo e as informações são obtidas desta amostra somente uma vez. Nos estudos transversais múltiplos há duas ou mais amostras de entrevistados e as informações de cada uma delas são obtidas somente uma vez. Com freqüência as informações de amostras diferentes são obtidas em ocasiões diferentes. (MALHOTRA, 2006, p. 109).

Segundo Richardson et al. (1999, p.71), os estudos de natureza descritiva propõem-se a investigar o “que é”, ou seja, a descobrir as características de um fenômeno tal como é. Nesse sentido, são considerados como objeto de estudo, uma situação específica, um grupo ou um indivíduo.

O meio utilizado por esse trabalho foi a pesquisa de campo, que, segundo Vergara (2000, p. 47), é a investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo, podendo incluir entrevistas, aplicação de questionários, teste e observação participante ou não.

No estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo (GIL, 2007, p.53).

Essa pesquisa caracteriza-se por ser empírica, porque levantou e analisou dados colhidos de uma realidade empresarial (DEMO, 2000, p. 21).

3.2 Descrição da população e amostra

A presente investigação foi realizada com indivíduos adultos (homens e mulheres) que ocupavam formalmente algum cargo de gestor em empresas comerciais varejistas do setor de materiais para construção civil situadas na cidade de Belo Horizonte/MG.

Quanto à aplicabilidade do questionário, houve a necessidade da presença de um entrevistador para realizar as visitas aos pesquisados.

A escolha das empresas comerciais foi aleatória e não obedeceu a nenhum critério específico. Contudo, houve indicações de algumas empresas pelo Sindicado do Comércio de Material de Construção do Estado de Minas Gerais (SINDIMACO/MG), por empresários e gestores do ramo.

Ao todo, foram pesquisadas 154 empresas das 2.328 existentes na cidade de Belo Horizonte/MG. Destas, 67 afirmaram que não tinham casos de furto de empregados para relatar e 87 contribuíram para que 134 questionários da pesquisa fossem preenchidos.

3.3 Instrumento de coleta dos dados

A pesquisa foi realizada com um total de 134 relatos de casos de furtos por empregados, mediante um questionário estruturado (APÊNDICE A) composto por onze variáveis para caracterização do empregado que furtou e 27 variáveis sobre o objeto de

estudo, divididas em seis construtos (“Oportunidade”, “Pressão”, “Racionalização”, “Reação ao Furto-1”, “Reação ao Furto-2” e “Percepção”). As questões referentes aos construtos foram elaboradas sob a forma de afirmativas que deveriam ser julgadas a partir de uma escala Likert de 10 pontos. Este instrumento foi elaborado pelo autor de acordo com as bases teóricas relacionadas no APÊNDICE B, e as afirmativas foram divididas de acordo com o construto correspondente, seguindo o modelo de mensuração final que será apresentado mais adiante.

Como demonstrado no QUADRO 5, as afirmativas Q11 a Q15 estão relacionadas ao construto “Oportunidade”; Q18 e Q19, ao de “Reação ao Furto-1”; Q16, Q17 e Q20, ao de “Reação ao Furto-2”; Q21 a Q25, ao de “Pressão”; Q26 a Q32, ao de “Racionalização” e Q33 a Q37, ao de “Percepção”.

QUADRO 5 – Relação dos itens do questionário

Oportunidade

Q11 As práticas do “manual de conduta e ética” ou equivalente na empresa Q12 A aplicação de punições legais para os empregados que cometem falhas Q13 Os controles administrativos

Q14 Os controles internos da empresa Q15 Os sistemas internos de segurança

Reação ao Furto 2 Q16 Eliminar as relações trabalhistas da empresa com o empregado Reação ao Furto 2 Q17 Transferir o empregado para outro setor ou função dentro da empresa Reação ao Furto 1 Q18 Divulgar internamente a punição aplicada a quem cometeu o furto Reação ao Furto 1 Q19 Buscar o ressarcimento do que foi furtado

Reação ao Furto 2 Q20 Fazer uma ocorrência policial e/ou abrir um processo judicial

Pressão

Q21 Vivia acima dos padrões da renda que tinha Q22 Possuía dívidas financeiras

Q23 Fazia uso de bebidas alcoólicas ou drogas

Q24 Tinha relações inadequadas com clientes ou fornecedores Q25 Vivia em uma família desestruturada

Racionalização

Q26 “Trabalho muito e ganho pouco” Q27 “Só levei mercadoria danificada” Q28 “Só estava pegando emprestado”

Q29 “Eles vão me despedir de qualquer jeito”

Q30 “Eu trabalho aqui há muitos anos e isto me pertence” Q31 “A firma está com muito! Isto não faz diferença para ela” Q32 “Apenas aproveitei de uma falha da empresa”

Percepção

Q33 Denúncia interna ou externa

Q34 Controles internos, tais como check-list, gestão da frota, inventários... Q35 Sistema de segurança, tais como câmeras, revistas pessoais...

Q36 Auditoria interna ou processos de conferência e investigação Q37 Polícia ou investigadores particulares

A fim de facilitar as respostas dos entrevistados quanto ao Tipo de Furto (Q02) e garantir fluidez nas entrevistas, optou-se por não discriminar e exemplificar a “Manipulação Contábil” no instrumento de coleta de dados, pois, como descrito no Referencial Teórico da presente pesquisa, tal prática ocorre principalmente em grandes empresas, sendo as multinacionais as principais vitimas ˗ que não representam a grande maioria dos pesquisados. Contudo, como pode ser percebido no APÊNDICE A, deixou-se uma lacuna “Outros” para preenchimento caso o respondente tivesse conhecimento de tal prática.

Ciente do receio das pessoas de responderem a um questionário que supostamente poderia comprometê-las em virtude do conteúdo das informações nele demandadas, o primeiro passo foi explicar todos os aspectos, procedimentos e razões da pesquisa, reforçando que as informações coletadas seriam tratadas estatisticamente e em conjunto, sendo a identidade dos respondentes preservada. Também foi esclarecido e demonstrado que, após o preenchimento do questionário, ele seria colocado em uma urna lacrada junto com outros já respondidos e que esta seria aberta somente ao final de todo o levantamento para compilar os dados de forma agregada em um software estatístico, não sendo possível fazer nenhuma identificação pessoal ou empresarial.

Os procedimentos utilizados para extrair as conclusões acerca dos problemas e objetivos deste estudo são demonstrados ao longo do texto, direcionando esforços no sentido de avaliar pressupostos das técnicas estatísticas, a qualidade da mensuração e a validade do modelo de pesquisa.

Documentos relacionados