• Nenhum resultado encontrado

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.3 Modelagem de equações estruturais (PLS)

4.3.1 Modelo de mensuração (outer model)

Na análise do modelo de mensuração são verificadas a validade convergente, a validade discriminante e a confiabilidade dos construtos. A validade convergente garante que os indicadores de um construto estão correlacionados o suficiente para medir o conceito latente. A validade discriminante verifica se os construtos medem efetivamente diferentes aspectos do fenômeno de interesse. A confiabilidade revela a consistência das medidas em mensurar o conceito que pretendem medir.

A fim de testar a validade convergente dos construtos, foi utilizado mais uma vez o critério proposto por Fornell et al. (1981). Como dito anteriormente, ele garante tal validade caso a Variância Média Extraída (AVE), que indica o percentual médio de variância compartilhada entre o construto latente e seus indicadores e varia de 0% a 100% (HAIR et al., 2009), seja superior a 50% (HENSELER; RINGLE; SINKOVICS, 2009), ou 40% no caso de pesquisas exploratórias (NUNNALLY; BERNSTEIN 1994). Para validade discriminante, foi utilizado o critério de Fornell et al. (1981), que garante a validade discriminante quando a variância extraída (AVE) de um construto não for menor que a variância compartilhada desse construto com os demais. Para mensurar a confiabilidade dos construtos, também foi utilizado o Alfa de Cronbach (AC) e a Dillon-Goldstein's (DG). Como relatado, de acordo com Tenenhaus et al. (2005), os índices AC e DG devem ser maiores que 0,70 para uma indicação de confiabilidade do construto.

Na TABELA 7 podem ser verificados os pesos, as cargas fatoriais e as comunalidades do modelo de mensuração.

TABELA 7 – Modelo de mensuração - Inicial.

Itens de 2ª Ordem Pesos Fatorial Carga Comunalidade

Oportunidade Q11 0,25 0,79 0,62 Q12 0,19 0,57 0,32 Q13 0,25 0,80 0,64 Q14 0,25 0,79 0,62 Q15 0,35 0,87 0,75 Pressão Q22 Q23 -0,01 0,86 0,96 0,40 0,92 0,16 Q25 0,30 0,60 0,36 Racionalização Q26 0,48 0,69 0,47 Q27 0,58 0,76 0,58 Q28 0,23 0,53 0,28 Q29 0,20 0,54 0,29 Percepção Q34 0,07 0,34 0,12 Q35 0,51 0,71 0,51 Q36 0,44 0,64 0,41 Q37 0,47 0,69 0,47 Reação ao Furto 01 Q18 Q19 0,80 0,40 0,93 0,66 0,86 0,44 Reação ao Furto 02 Q16 0,52 0,70 0,49 Q20 0,74 0,86 0,74

Fonte: pesquisa direta 2014.

Sendo interessante destacar que:

 Todas as cargas fatoriais apresentaram valores acima de 0,50, exceto os itens Q23 e Q34. Para um bom modelo de mensuração, esperam-se cargas fatoriais acima de 0,70 ou comunalidade acima de 0,40, devendo as cargas fatoriais abaixo de 0,50 ser retiradas do modelo.

As análises da validade convergente, validade discriminante, dimensionalidade e a confiabilidade dos construtos foram realizadas na TABELA 8.

TABELA 8 – Validação do Modelo de Mensuração - Inicial.

Construtos de 2ª Ordem Itens AC DG Dim AVE 1 2 3 4 5

1 Oportunidade 5 0,82 0,88 1 0,59 2 Pressão 3 0,64 0,81 1 0,48 0,00 3 Racionalização 4 0,55 0,75 1 0,41 0,02 0,05 4 Percepção 4 0,49 0,72 1 0,38 0,15 0,05 0,02 5 Reação ao Furto 01 2 0,50 0,80 1 0,65 0,07 0,10 0,07 0,07 6 Reação ao Furto 02 2 0,39 0,77 1 0,62 0,01 0,10 0,07 0,20 0,02 Fonte: pesquisa direta 2014.

Onde se pode destacar que:

 Nem todos os construtos apresentaram os índices de confiabilidade AC acima de 0,60, porém, para os índices de DG, todos ficaram acima de 0,60, evidenciando assim a confiabilidade dos construtos;

 Todos os construtos foram unidimensionais segundo o critério da Análise Paralela (HORN, 1965), que retorna a quantidade de dimensões do construto;

 Todos os construtos, exceto “Percepção” apresentaram AVE superior a 0,40, indicando validação convergente;

 Todas as variâncias compartilhadas, de todos os pares de construtos do modelo, foram inferiores às variâncias médias extraídas (AVEs) dos construtos comparados e com isso se obteve a validação discriminante.

Como o construto “Percepção” não alcançou a validação convergente e apresentou um item com carga fatorial menor que 0,50, e como o item Q23 do construto “Pressão” apresentou uma carga fatorial muito baixa, foram excluídos os itens Q23 e Q34.

Abaixo, segue o modelo apresentado com os itens Q23 e Q34 excluídos,

TABELA 9 – Modelo de Mensuração - Final.

Itens Pesos Fatorial Carga Comunalidade

Oportunidade Q11 0,25 0,79 0,62 Q12 0,21 0,58 0,34 Q13 0,24 0,80 0,63 Q14 0,23 0,77 0,60 Q15 0,36 0,87 0,75 Pressão Q22 Q25 0,84 0,32 0,96 0,62 0,91 0,38 Racionalização Q26 0,47 0,69 0,47 Q27 0,54 0,74 0,54 Q28 0,26 0,56 0,31 Q29 0,23 0,57 0,32 Percepção Q35 Q36 0,53 0,45 0,71 0,63 0,51 0,40 Q37 0,49 0,70 0,49 Reação ao Furto 01 Q18 Q19 0,82 0,36 0,94 0,63 0,89 0,40 Reação ao Furto 02 Q16 0,53 0,71 0,50 Q20 0,73 0,86 0,73

Pode-se notar que:

 Todas as cargas fatoriais apresentaram valores acima de 0,50.

A TABELA 10 apresenta a análise da validade convergente, a validade discriminante, dimensionalidade e a confiabilidade dos construtos.

TABELA 10 – Validação do Modelo de Mensuração - Final.

Construtos Itens AC DG Dim AVE 1 2 3 4 5

1 Oportunidade 5 0,82 0,88 1 0,59 2 Pressão 2 0,53 0,81 1 0,65 0,00 3 Racionalização 4 0,55 0,75 1 0,41 0,02 0,05 4 Percepção 3 0,42 0,72 1 0,46 0,14 0,05 0,03 5 Reação ao Furto 01 2 0,50 0,80 1 0,64 0,07 0,09 0,07 0,08 6 Reação ao Furto 02 2 0,39 0,77 1 0,62 0,01 0,10 0,07 0,20 0,02 Fonte: pesquisa direta 2014.

Pode-se destacar que:

 Embora os índices de confiabilidade de AC não tenham apresentado valores acima de 0,60, todos os construtos apresentaram os índices de confiabilidade DG acima de 0,70, evidenciando assim a confiabilidade dos construtos;

 Todos os construtos foram unidimensionais, o critério da Análise Paralela, que retorna a quantidade de dimensões do construto;

 Todos os construtos apresentaram os AVEs superiores a 0,40, indicando validação convergente;

 Todas as variâncias compartilhadas, de todos os pares de construtos do modelo, foram inferiores às variâncias médias extraídas (AVEs) dos construtos comparados e com isso se obteve a validação discriminante.

4.3.2 Modelo estrutural (inner model)

De acordo com Hair et al (2009), a SEM (Structural Equations Modeling) é uma continuidade de algumas técnicas de análise multivariadas, principalmente da análise de regressão múltipla e análise fatorial. O que a difere das demais técnicas multivariadas é que a SEM permite examinar diversas relações de dependência ao mesmo tempo, enquanto que as

demais técnicas são capazes de verificar e examinar um único relacionamento entre as variáveis de cada vez.

O modelo de mensuração e modelo de regressão foram realizados utilizando o método PLS (Partial Least Square). A Modelagem de Equações Estruturais (SEM) é bastante popular em muitas disciplinas, sendo a abordagem PLS (Partial Least Square) uma alternativa à abordagem tradicional baseada na covariância. A abordagem PLS tem sido referida como uma técnica de modelagem suave com o mínimo de demanda, ao se considerarem as escalas de medidas, o tamanho amostral e as distribuições residuais (MONECKE et al., 2012).

Para verificar a qualidade do ajuste, foi utilizado o R2 e o GoF. O R2 representa, em uma escala de 0 a 100, o quanto os construtos independentes explicam os dependentes; quanto mais próximo de 100% melhor. Já o GoF é uma média geométrica da média das AVEs dos construtos com a média dos R² do modelo. Ele varia de 0% a 100%, não havendo ainda valores de corte para considerar um ajuste como bom ou ruim, mas sabe-se que quanto mais próximo de 100% melhor o ajuste.

O modelo completo pode ser visualizado na FIGURA 3, apresentada a seguir.

FIGURA 3 – Modelo final da pesquisa proposto pelo autor com base em Cressey (1953), Krippel (2008) e ACFE (2014).

Cabe ressaltar que o modelo apresentou um GoF de 38,12%, tendo sido os demais resultados estatísticos melhor detalhados na TABELA 11.

TABELA 11 – Modelo Estrutural

Endógenas Exógenas β E.P.(β) Valor-p

Percepção Oportunidade 0,417 0,085 0,000 21,8% Pressão 0,190 0,087 0,031 Racionalização 0,165 0,088 0,064 Reação ao Furto-1 Oportunidade -0,373 0,088 0,000 31,9% Pressão 0,157 0,083 0,062 Racionalização 0,195 0,084 0,022 Percepção 0,352 0,089 0,000 Reação ao Furto-2 Oportunidade 0,018 0,091 0,844 27,7% Pressão 0,204 0,086 0,019 Racionalização 0,157 0,086 0,072 Percepção 0,377 0,092 0,000 GOF=38,12%

Fonte: pesquisa direta 2014.

De acordo com os resultados apresentados para o modelo que considera como variáveis endógenas (dependentes) os construtos “Percepção”, “Reação ao Furto-1” e “Reação ao Furto-2”, tem-se que:

a) Em relação à Percepção ao Furto:

 Existe influência significativa (p-valor=0,000) e positiva (β=0,417) da Oportunidade sobre a Percepção ao Furto, sendo assim, quanto maior a Oportunidade, maior a Percepção ao Furto.

 Existe influência significativa (p-valor=0,031) e positiva (β=0,190) da Pressão sobre a Percepção ao Furto; sendo assim, quanto maior a Pressão, maior a Percepção ao Furto.

 A Racionalização não influencia a Percepção ao Furto.

 Juntos, os três indicadores citados acima conseguem explicar 21,08% da variabilidade da Percepção.

b) Em relação à Reação ao Furto-1:

 Existe influência significativa (p-valor=0,000) e negativa (β=-0,373) da Oportunidade sobre a Reação ao Furto-1, sendo assim, quanto maior a Oportunidade, menor é a Reação ao Furto-1.

 Existe influência significativa (p-valor=0,022) e positiva (β=0,195) da Racionalização sobre a Reação ao Furto 01; sendo assim, quanto maior a Racionalização, maior é a Reação ao Furto 01.

 Existe influência significativa (p-valor=0,000) e positiva (β=0,352) da Percepção sobre a Reação ao Furto 01; sendo assim, quanto maior a Percepção, maior é a Reação ao Furto-1.

 A Pressão não influencia a Reação ao Furto-1.

 Juntos, os quatro indicadores citados acima conseguem explicar 31,90% da variabilidade da Reação ao Furto-1.

c) Em relação à Reação ao Furto-2:

 Existe influência significativa (p-valor=0,019) e positiva (β=0,204) da Pressão sobre a Reação ao Furto-2; sendo assim, quanto maior a Pressão, maior é a Reação ao Furto-2.  Existe influência significativa (p-valor=0,000) e positiva (β=0,377) da Percepção sobre a Reação ao Furto-2; sendo assim, quanto maior a Percepção, maior é a Reação ao Furto-2.

 A Oportunidade e a Racionalização não influenciam a Reação ao Furto-2.  Juntos, os quatro indicadores citados acima conseguem explicar 27,70% da variabilidade da Reação ao Furto-2.

Esses resultados apontam que a Percepção ao furto por parte dos gestores empresariais surge com mais facilidade quando o empregado encontra-se diante de uma oportunidade para cometer o crime, principalmente quando há falhas no sistema interno de segurança. Ainda, ao passar por algum tipo de pressão situacional, principalmente dívidas financeiras, o empregado criminoso pode levantar suspeitas comportamentais no seu gestor; de tal forma que ele perceba mais facilmente que sua empresa está sendo furtada por aquele indivíduo. Porém, a percepção do gestor não é influenciada quando o inconsciente do empregado busca argumentos a fim de justificar para ele mesmo que não está fazendo nada de errado.

Como Reação ao Furto-1, marcada principalmente pelo ato de “divulgar internamente a punição aplicada a quem cometeu o furto”, é de se esperar sua relação inversa com a Oportunidade (falhas no sistema interno da empresa). Pois um gestor, ao perceber que sua empresa está sendo furtada por um empregado que se aproveitou de falhas no sistema de segurança interno não divulgue o caso para os outros empregados com o intuito de moralizá- los. Isso porque, caso contrário, poderá instigar os outros a cometerem o mesmo crime. Quanto à Racionalização, destacada por “só levei mercadoria danificada” e “trabalho muito e ganho pouco”, justifica-se a reação do gestor em divulgar para os outros empregados que

esses tipos de pensamentos são equivocados e que quem cometer furtos acreditando que será perdoado por causa dessas alegações, está errado e sofrerá igualmente as consequências.

Ademais, a influência significativa e positiva da percepção baseada principalmente nos controles internos e auditorias sobre a reação de divulgar o furto de um determinado empregado para os seus colegas faz pleno sentido. Um gestor que consegue constatar um crime interno ocasionado por um empregado com o auxílio de ferramentas internas de controle e auditoria certamente estimará interessante de divulgar aos outros que em sua empresa há mecanismos para descobrir se alguém o está furtando.

Em seguida, como Reação ao Furto-2 as prováveis atitudes do gestor apontadas pelo modelo são eliminar as relações trabalhistas da empresa com o empregado criminoso e fazer uma ocorrência policial e/ou abrir um processo judicial contra o mesmo. Essas atitudes do gestor são influenciadas positivamente quando o indivíduo possui dívidas financeiras e vive em uma família desestruturada, uma vez que, nesses casos, o gestor tende a não se abalar emocionalmente por uma situação de vida complicada de seu empregado.

A percepção via controles internos, auditoria e investigação também é um fator que potencializa a demissão do empregado como também facilita a moção legal de ações contra ele.

4.3.3 Comparação entre os índices e o enquadramento do furto

Para verificar se os índices criados pelo modelo de mensuração foram diferentes entre os tipos de enquadramento do furto, foi realizado o teste de Mann-Whitney. Dessa forma, avaliando a TABELA 12, pode-se destacar que:

Houve diferença significativa dos índices de Reação ao Furto-1, Reação ao Furto-2, Pressão e Percepção entre os tipos de enquadramento do furto, tendo sido encontrados valores médios dos índices de Pressão, Percepção, Reação ao Furto-1 e Reação ao Furto-2 maiores quando o furto era de Desvio de Ativos.

TABELA 12 – Comparação dos índices por enquadramento do furto

Construto Variável N Média E.P. 1ºQ 2ºQ 3ºQ Valor-p

Oportunidade Corrupção Desvio de Ativos 88 0,02 27 -0,08 0,21 -1,06 -0,29 0,82 0,11 -0,71 0,26 0,76 0,699 Pressão Corrupção Desvio de Ativos 88 0,20 27 -0,64 0,11 -1,25 -0,85 -0,15 0,11 -0,70 0,09 1,03 0,000 Racionalização Corrupção Desvio de Ativos 88 0,05 27 -0,16 0,22 -0,98 -0,56 0,22 0,10 -0,92 -0,10 0,73 0,176 Percepção Corrupção Desvio de Ativos 88 0,13 27 -0,41 0,13 -0,80 -0,80 -0,33 0,11 -0,80 -0,13 0,69 0,006 Reação ao Furto 01 Corrupção Desvio de Ativos 88 0,19 27 -0,62 0,07 -0,84 -0,84 -0,59 0,11 -0,84 0,13 1,34 0,000 Reação ao Furto 02 Corrupção 27 -0,77 0,16 -1,38 -1,07 -0,40 0,000

Desvio de Ativos 88 0,24 0,10 0,04 0,04 0,04 Fonte: pesquisa direta 2014.

Em outras palavras, isso significa que, embora haja a presença do Triângulo da Violação, sobre a análise dos gestores, a oportunidade e a racionalização são os construtos de maior relevância para o ato da corrupção, o qual costuma ser menos percebido pelos superiores, que reagem com menos intensidade e severidade ante esse tipo de ato.

5 CONCLUSÕES

Os furtos por empregados são uma realidade para empresas de todo o mundo; não se trata de um fenômeno exclusivo de uma determinada sociedade ou de um momento de seu desenvolvimento. Cabe às empresas o desafio de operar de forma eficiente, procurando minimizar corretamente sua vulnerabilidade, pois a competitividade e a lucratividade estão condicionadas ao controle das condutas antiéticas de seus empregados. O ato de combater os crimes dentro das empresas é uma tarefa árdua, mas que deve ser perseguida.

O objetivo principal deste estudo foi validar um modelo de mensuração capaz de explicar como os gestores empresariais avaliam os fatores de contexto dos furtos por empregados no setor comercial varejista de materiais para construção civil de Belo Horizonte/MG.

Pelo modelo estrutural, buscou-se, com este trabalho, desenvolver e validar um instrumento de pesquisa baseado em seis construtos (“Oportunidade”, “Pressão”, “Racionalização”, “Reação ao Furto-1”, “Reação ao Furto-2” e “Percepção”) amparados em três bases teóricas distintas. A primeira traz a categorização geral das fraudes corporativas classificadas pela ACFE (desvio de ativos tangíveis ou intangíveis, corrupção e manipulação contábil).

A segunda refere-se ao Triângulo da Violação de Cressey (1953), que aponta a existência de três fatores os quais estão sempre presentes quando um empregado furta a empresa onde trabalha (pressão situacional, oportunidade e racionalização).

A terceira e última base teórica consiste nos achados de Krippel (2008). Basicamente, seus estudos relatam que os empregados que furtaram as empresas onde trabalhavam eram predominantemente do sexo masculino, possuíam aproximadamente 30 anos de idade e se sentiam mal remunerados e explorados quanto à carga de trabalho. Seus crimes foram descobertos por meio de controles internos, investigações especiais e denúncias internas. Como reação, os gestores demitiam os autores, informavam internamente os outros empregados das punições sofridas pelo criminoso, exigiam a restituição dos valores furtados e abriam um processo jurídico contra o empregado criminoso.

Assim, a investigação deste trabalho foi realizada mediante 134 questionários preenchidos por respondentes adultos (homens e mulheres) que ocupam formalmente algum cargo de gestor em empresas comerciais varejistas do setor de materiais para construção civil situadas na cidade de Belo Horizonte/MG.

Baseado no modelo de pesquisa representado pela FIGURA 3, procurou-se validar um questionário estruturado através de ferramentas estatísticas, a fim de garantir a confiabilidade dos índices gerados pelos construtos e pesos das cargas fatoriais representativos. Nesse momento, o modelo de mensuração foi validado mediante a exclusão dos itens Q17; Q21; Q23; Q24; Q30; Q31; Q32; Q33 e Q34.

Vale lembrar que a pesquisa em questão foi aplicada aos gestores de autores dos furtos, ou seja, várias respostas foram construídas a respeito da percepção de uma pessoa em relação à outra. Entretanto, mesmo sabendo da existência desse “ruído”, em resposta ao objetivo geral, conseguiram-se bons resultados estatísticos que validassem o modelo da pesquisa, possibilitando mensurar e explicar como os gestores empresariais avaliam os fatores de contexto dos furtos por empregados no setor comercial varejista de materiais para construção civil de Belo Horizonte/MG.

Em resposta aos objetivos específicos traçados inicialmente, através da frequência das variáveis de caracterização dos empregados que furtaram suas empresas em consonância com o modelo de mensuração final, desenvolvidos e apresentados pela presente pesquisa, tem-se os seguintes resultados:

- Constatou-se a ocorrência conjunta das variáveis sugeridas por Cressey (1953) em sua teoria denominada Triângulo da Violação nos casos de furto por empregados no setor comercial varejista de materiais para construção civil de Belo Horizonte/MG;

- De acordo com a classificação da Association of Certified Fraud Examiners

(ACFE), o tipo de furto por empregado que ocorre em maior frequência na região estudada é o Desvio de Ativos Tangíveis ou Intangíveis. Quanto aos autores, 80% eram do sexo masculino; 80% tinham entre 19 e 35 anos de idade; 47% eram solteiros e 45,20% casados; 42,60% haviam cursado apenas o ensino fundamental; 87,80% dos empregados não tinham cargos de chefia; 80,70% tinham menos de 3 anos como empregado da empresa; 71,30% recebiam, como forma de remuneração, apenas salário fixo; 54,80% recebiam menos de R$ 1.000,00 por mês; 50% praticaram esse crime no máximo por 6 meses; e 49,60% desviaram durante esse tempo valores entre R$ 100,00 e R$ 1.000,00.

- O meio de controle mais eficaz que os gestores empresariais da região e setor estudado utilizaram para descobrir que estavam sendo furtados foram os sistemas de segurança, tais como câmeras de monitoramento, revistas pessoais, etc.;

Ao analisar em conjunto todas as questões válidas da presente pesquisa pelo modelo estrutural aqui apresentado, pode-se elaborar uma análise do contexto mais

abrangente e de uma possível cadeia linear de acontecimentos a respeito dos furtos por empregados na região e setor estudado. Conclui-se que esses empregados furtam as empresas onde trabalhavam mediante a existência de três fatores que compõem uma teoria denominada Triângulo da Violação – oportunidade, pressão e racionalização (CRESSEY, 1953). Pesquisando essa teoria com os gestores empresariais da amostra da presente pesquisa, constatou-se que o impulso para esses crimes ocorre principalmente no empregado que possui dívidas financeiras e que, ao se deparar com falhas nos sistemas internos de segurança das empresas onde trabalha, imagina que poderá resolver seus problemas financeiros facilmente. Ainda, para se livrar de um estresse emocional de culpa, seu inconsciente faz com que esse indivíduo acredite que não cometeu nenhum crime, pois ele “só levou mercadoria danificada”, além de “trabalhar muito e ganhar pouco”.

Após cometer o furto, esse empregado é descoberto por seu gestor mediante a utilização dos próprios sistemas de segurança que o primeiro acreditava ser falho ou então mediante processos de auditoria. Como reação, o gestor divulga sua descoberta e respectivas punições internamente na empresa com o propósito de moralizar o restante da equipe e elimina as relações trabalhistas com o empregado criminoso.

Porém, caso essa sequência lógica de acontecimentos seja quebrada, eliminando o elo do construto Percepção, o modelo aponta que a Oportunidade, representada por falhas nos sistemas internos de segurança da empresa, tem uma relação significativa e inversa à Reação ao Furto-1, representada pela divulgação interna da punição aplicada a quem cometeu o crime. Em outras palavras, significa que, sem o construto da Percepção, o gestor tende a não propagar para os outros empregados o furto cometido, a fim de não expor a vulnerabilidade dos controles internos de segurança da empresa. Por outro lado, ao inserir o elo do construto Percepção, o gestor se sente motivado a divulgar a punição para os outros empregados, com o objetivo de demonstrar que, ao contrário do que imaginam, a empresa possui ótimos controles de segurança.

Além das diferentes tipificações entre os autores de Corrupção e Desvio de Ativos, a pesquisa também revelou que os gestores percebem e reagem de forma distinta. Destarte, fazendo um apanhado geral, é possível concluir que empregados corruptos, em comparação com os que desviam ativos, são aproximadamente 10 anos mais velhos, casados ou separados/divorciados, com bom nível educacional e que ocupam cargos de chefia. Geralmente, os corruptos trabalham por mais tempo nas empresas, ganham melhores salários e chegam a furtar, por um maior período de tempo, mais de cinco vezes o montante subtraído

pelos empregados autores de desvio de ativos. Por fim, os gestores alegaram que percebem e reagem menos aos empregados que cometem corrupção, ou seja, os corruptos, embora desviem maiores valores das empresas, correm menos risco de serem demitidos.

Como formas de mitigação aos furtos por empregados, a presente pesquisa sugere que a prática de bons controles internos alinhada a auditorias e a um sistema de remuneração por produção pode minimizar os prejuízos das instituições.

As limitações deste estudo são de tamanho da amostra e abrangência geográfica da pesquisa. Pelo número de comércios varejistas de materiais da construção civil situados em Belo Horizonte (2.328 lojas – segundo informado pelo SINDIMACO), percebe-se que os respondentes da pesquisa formam um grupo pequeno.

Outro aspecto limitador deve-se ao fato de que essa pesquisa foi efetuada com proprietários/gestores de empresas comerciais varejistas de material de construção civil de Belo Horizonte/MG. Logo, pode ser que em outras cidades, em outro grupo amostral ou até mesmo em outros setores do comércio o desempenho das respostas seja diferente.

Por fim, pesquisas futuras são necessárias para confirmar ou refutar os achados deste estudo em diferentes localidades e setores econômicos. Também é necessário identificar as características de empresas que não sofreram furtos por empregados, podendo incluir construtos como práticas de contratação de funcionários, características da empresa, controles internos, entre outros. Uma vez que as práticas mais eficazes para prevenir e detectar os furtos por empregados forem identificadas, as empresas comerciais poderão empregá-las para reduzir seus prejuízos.

REFERÊNCIAS

ABBOTT, L. J; PARK, Y; PARKER, S. The effect of audit committee activity and independence on corporate fraud. Managerial Finance, v. 26, n. 11, p.55-67, 2000.

ABRAMO, C. W. Corrupção no Brasil: a perspectiva do setor privado. Relatório de Pesquisa

da Transparência Brasil, São Paulo, 2004.

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Vade mecum criminal. 2 ed. São Paulo: Ridel, 2009. AGRESTI, A. Categorical data analysis. New York: Wiley, 2002.

ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: um curso moderno e completo. São Paulo: Atlas,

Documentos relacionados