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Mestrado em Medicina Legal 3.1. METODOLOGIA

Etimologicamente, o termo metodologia vem da conjugação de três vocábulos gre- gos: metà (“para além de”), odòs (“caminho”), e logos (“discurso”, “estudo”). O conceito alude aos vários métodos de investigação que permitem obter certos objetivos.

Metodologia é, pois, o conjunto dos métodos e das técnicas que guiam a elabora- ção do processo de investigação científica. É, igualmente, uma secção de um relatório de investigação que descreve os métodos e as técnicas utilizadas no quadro dessa investi- gação (Fortin, 2009).

Método, na sua definição etimológica, provém do termo grego methodos (“caminho” ou “via”) referindo-se ao meio utilizado para chegar a um fim. O seu significado original aponta para o caminho que conduz a algures.

Entende-se, pois, que a metodologia é uma etapa específica que procede de uma posição teórica e epistemológica, para a seleção de técnicas concretas de investigação, dependendo dos postulados que o investigador acredita serem válidos, já que a ação metodológica será a sua ferramenta para analisar a realidade estudada.

Apresenta-se, desta forma, neste capítulo, a metodologia de investigação entendida como operacionalização do método através de procedimentos e de técnicas utilizados para obtenção dos objetivos traçados inicialmente para o estudo.

3.1.1. OBJETIVOS

Os objetivos indicam o fim para o qual se orienta a investigação, ou seja, a meta que se pretende atingir com a elaboração da pesquisa. São eles que indicam o que um investigador realmente deseja fazer.

A definição dos objetivos ajuda em muito quanto aos aspetos metodológicos da pesquisa.

Podemos distinguir dois tipos de objetivos em um trabalho científico: os objeti- vos gerais e os objetivos específicos.

3.1.1.1. OBJETIVO GERAL

Os objetivos gerais são as contribuições que se desejam oferecer com a execução da pesquisa. Em geral, o primeiro e maior objetivo é o de obter uma resposta satisfatória ao problema de pesquisa concreto (Fortin, 2009).

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Foi objetivo geral deste estudo dar a conhecer o processo evolutivo da transexuali- dade no nosso país por ser um tema que tem vindo a ser debatido, nos últimos anos, entre psiquiatras, cirurgiões, políticos, juristas, e até sociedade em geral.

3.1.1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para se cumprirem os objetivos gerais é necessário, no entanto, delimitar metas mais específicas dentro do trabalho. São estas metas mais específicas que, somadas, conduzirão ao desfecho do objetivo geral.

Segundo Fortin (2009), para que isso seja conseguido, os objetivos devem especifi- cas as variáveis-chave, a população alvo e a orientação da investigação.

Tendo em conta o objeto de estudo, foram delineados os seguintes objetivos:  conhecer o número total de casos de transexualidade submetidos a cirurgia, em

Portugal, desde 2005, no SNS;

 conhecer o número total de trransexuais que obtiveram a alteração das menções de sexo e de nome próprio nos seus assentos de nascimento após a entrada em vigor da Lei n.º 7/2011, de 15 de março;

 comparar a prevalência de casos de transexualidade em razão do género.

3.1.2. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Segundo Fortin (2009), as questões de investigação são as premissas sobre as quais vão incidir os resultados de investigação. A questão de investigação é, assim, entendida como um enunciado interrogativo, escrito no presente que inclui habitualmente uma ou duas variáveis, assim como a população estudada.

Para delimitar a direção que será dada a esta investigação, e de acordo com o pro- blema em estudo, foram elaboradas as seguintes questões de investigação:

 Entre junho de 2005 e 28 de fevereiro de 2011 quantas pessoas efetuaram as cirurgias de reatribuição sexual, com recurso ao SNS, mais concretamente no úni- co estabelecimento de saúde público de Portugal que as realizava – Hospital de Santa Maria, em Lisboa?

 Entre junho de 2005 e 28 de fevereiro de 2011 quantas mulheres passaram a homens?

Mestrado em Medicina Legal  Entre junho de 2005 e 28 de fevereiro de 2011 quantos homens passaram a

mulheres?

 Entre 01 de março de 2011 e 30 de setembro de 2013 quantas cirurgias de rea- tribuição sexual, com recurso ao SNS, foram realizadas – mais concretamente no único estabelecimento de saúde público que continuou o trabalho efetuado no Hospital de Santa Maria – o Hospital de Jesus?

 Entre março de 2011 e 30 de setembro de 2013 quantas mulheres completaram a mudança para o género masculino?

 Entre março de 2011 e 30 de setembro de 2013 quantos homens completaram o processo de mudança de género?

 Desde 15 de março de 2011 até 28 de Fevereiro de 2012, quantos processos de mudança de nome e sexo foram concluídos com sucesso no IRN?

 Quantos processos de mudança de nome e sexo concluídos foram de Feminino para Masculino?

 Quantos processos de mudança de nome e sexo concluídos foram de Masculino para Feminino?

3.1.3. OPÇÕES METODOLÓGICAS

Como refere Coutinho (2006), "falar da investigação num dado domínio científico é como que ver refletido num espelho aquilo que, num dado momento, preocupa, interessa e intriga os investigadores nessa área ou domínio do conhecimento; nesse sentido, é também uma forma de procurar justificação para as opções feitas em termos de temáti- cas, referenciais teóricos e paradigmáticos, todo um conjunto de fatores (valores, ace- ções e tendências) a que se costuma chamar de ‘paradigma de investigação’ (Kuhn, 1970). A cada paradigma corresponde uma forma de entender a realidade e de encarar os problemas educativos e a evolução processa-se quando surgem novas formas de equacionar as questões impulsionando a que os paradigmas fluam, entrem em conflito na busca de novas soluções para os problemas do ensino e da aprendizagem."

O paradigma quantitativo interessa-se por essencialmente controlar e por prever os fenómenos, o qualitativo interessa-se por compreender e o crítico por intervir na situação ou contexto. Por exemplo, se o interesse é explicar a realidade transexual para desenvol- ver teorias explicativas deve optar-se por uma abordagem quantitativa ao problema em questão; se o objetivo é compreender os fenómenos transexuais pela busca de significa- ções pessoais e de interações entre pessoas e contextos, então deve optar-se por uma abordagem qualitativa ao problema em questão. Se para além de compreender, o inte-

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resse é intervir no contexto com vista a modificar situações, deve fazer-se uma aborda- gem inspirada no paradigma crítico (Coutinho, 2006).

E, assim, seguindo esta linha de pensamento, este estudo orienta-se segundo um modelo misto (qualitativo, quantitativo e crítico), dentro do tipo exploratório-descritivo. A utilização de diversas metodologias reflete a necessidade de procurar uma compreensão adequada do fenómeno estudado, aumentando, dessa forma, a fiabilidade dos resulta- dos.

Ao lado das investigações quantitativas, a investigação qualitativa permite com- preender o fenómeno da transexualidade segundo a perspetiva dos sujeitos. Por isso, o seu desenho é flexível e determinado pelo objeto de estudo, verificando-se uma relação entre a realidade objetiva e a subjetividade dos sujeitos.

O enfoque quantitativo permite a mensuração de dados relevantes sobre aspetos práticos da transexualidade bem como uma análise dos efeitos da nova legislação. A metodologia quantitativa “permite descrever, verificar relações entre variáveis e examinar as mudanças operadas na variável dependente após a manipulação da variável indepen- dente” (Fortin, 2009). O método de investigação quantitativa é um processo sistemático de recolha de dados observáveis e quantificáveis, sendo característica major a sua obje- tividade e generalização. Desta forma contribui para o desenvolvimento e para a valida- ção dos conhecimentos, permitindo a possibilidade de se generalizar os resultados e de controlar os acontecimentos.

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, onde se recorre à descrição rigoro- sa e direta dos dados recolhidos respeitando-se a forma como foram registados ou trans- critos, na tentativa de se conhecer e interpretar a realidade sem nela se interferir.

3.1.4. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Tendo-se definido as questões orientadoras e o tipo de investigação, chegou a altu- ra de escolher os participantes no estudo.

Por contingências de disponibilidade humana e de tempo para a pesquisa escolhe- ram-se como unidades de observação o Hospital de Santa Maria para o período que medeia entre junho de 2005 e fevereiro de 2011 e o Hospital de Jesus para o período subsequente até setembro de 2013.

Mestrado em Medicina Legal 3.1.5. SELECÇÃO DE SUJEITOS

Para a amostra contactou-se com o médico-cirurgião, responsável pelas cirurgias de reatribuição sexual em ambas as unidades de saúde pois ninguém melhor do que este para fornecer os dados concretos e corretos sobre as cirurgias até hoje realizadas.

Utilizou-se, portanto, o método de amostragem por seleção racional que se caracte- riza por ser uma técnica que tem por base o julgamento do investigador para constituir uma amostra de sujeitos em função do seu carácter típico, como no presente estudo (Fortin, 2009).

Este método permite uma melhor compreensão do fenómeno da transexualidade em Portugal.

3.1.6. MÉTODO DE RECOLHA DE DADOS

Como a investigação pode incidir sobre uma variedade de fenómenos, requer o acesso a diversos métodos de recolha de dados. A natureza do problema de investigação determina o tipo de método de colheita de dados a utilizar (Fortin, 2009).

Para a prossecução dos objetivos deste estudo optou-se pela utilização de um questionário, o que veio aumentar a eficácia, a validade e a fiabilidade dos resultados. É um instrumento de medida que traduz os objetivos de um estudo com variáveis mensurá- veis. Ajuda a organizar, a normalizar e a controlar os dados, de tal forma que as informa- ções procuradas possam ser recolhidas de uma maneira rigorosa.

Tendo sido um estudo com recurso apenas a um sujeito que tinha o acesso e o conhecimento mais direto e concreto dos dados pretendidos, bem como pelo facto de ser o único cirurgião no país que continua a ter uma equipa de cirurgia especializada neste tipo de casos, elaborou-se um questionário pessoal intitulado “Questionário sobre Cirur- gias de Reatribuição Sexual” – ver Anexo V. Este questionário foi dividido em duas par- tes: uma onde se colheram os dados de caracterização profissional (dados de identifica- ção); outra onde se avalia a experiência profissional especializada na área das cirurgias de reatribuição sexual. Foram apresentadas 15 questões no total, tendo o profissional quer questões de resposta fechada onde apenas tinha de colocar números, quer ques- tões de resposta aberta podendo discriminar o tipo de cirurgia em causa quando fossem mais do que as indicadas previamente, quantificando o número de intervenções que efe- tuou em cada uma. Este questionário foi enviado por correio eletrónico e as respostas enviadas pelo mesmo meio.

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Este questionário foi aplicado no período compreendido entre junho de 2013 e setembro de 2013.

3.1.7. VARIÁVEIS DOS DADOS

O termo “variável” é o termo privilegiado no contexto das aplicações da medida. As variáveis são qualidades, propriedades ou características de objetos, de pes- soas ou de situações que são estudadas em uma investigação (Fortin, 2009). Chama-se variável a todo o atributo, dimensão ou conceito suscetível de assumir várias modalida- des. Quando um conceito apenas tem um único atributo ou indicador, a variável identifi- ca-se com o atributo. Quando um conceito é composto por várias dimensões e atributos, a variável é o resultado da agregação das dimensões e dos atributos (Quivy, 2013).

Neste sentido, e para que o presente estudo se tornasse mais compreensivo, surgiu a necessidade de se definirem variáveis que possibilitassem selecionar os dados a colher através do questionário.

Considerou-se como variável independente:  o recurso às cirurgias de reatribuição sexual Considerou-se como variável atributo:

 sexo / género

3.1.8. TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

Para o tratamento da informação recolhida através do questionário utilizam-se téc- nicas estatísticas descritivas (frequências absolutas, percentuais e médias) (Fortin, 2009).

A apresentação dos resultados será feita por meio de gráficos e de tabelas, acen- tuando-se os dados mais relevantes, obedecendo à ordem porque foi aplicado o instru- mento de recolha de dados.

IV. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS

No documento Transexualidade: Passado, Presente e Futuro (páginas 125-133)

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