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O delineamento dessa pesquisa doutoral encontra suas características em uma pesquisa de abordagem qualitativa, sendo exploratória e descritiva em relação aos seus objetivos. Já como instrumentos para a produção de dados serão realizadas as entrevistas semiestruturadas. Desta forma, diante deste contexto geral, apresento abaixo o delineamento metodológico de modo mais detalhado.

Quanto a Abordagem essa pesquisa classifica-se como Pesquisa-qualitativa. Este tipo de abordagem preocupa-se com os aspectos da realidade que não podem ser quantificados. Tem por objetivo centrar-se na compreensão e explicação do enlace das relações sociais. Para Minayo (2001, p. 22) a pesquisa qualitativa dedica-se ao universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, “o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Justifico a pesquisa qualitativa nesta pesquisa doutoral a partir do seguinte argumento: ao usar a pesquisa narrativa como método, que tem por característica evidenciar a experiência dos sujeitos, tenho por intuito compreender a experiência dos docentes que trabalham no ensino superior com o desenvolvimento de práticas pedagógicas gamificadas e, para tanto, por meio das entrevistas, poderei produzir dados - extraídos dos depoimentos - que permitirão compreender, tendo como suporte o referencial teórico, como a cognição inventiva se constitui na docência universitária a partir do entrelaçamento entre as narrativas de si e os relatos de experiências sobre as práticas pedagógicas gamificadas.

Quanto aos objetivos essa pesquisa doutoral caracteriza-se por Pesquisa-Exploratória e Pesquisa-Descritiva. Gil (2002) afirma que a pesquisa exploratória tem como objetivo realizar uma aproximação com o problema de pesquisa. Ele revela que este tipo de pesquisa tem por função o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. No que diz respeito ao seu planejamento, a pesquisa exploratória apresenta-se como flexível, uma vez que permite a consideração de diferentes aspectos inerentes ao fato pesquisado. O intuito em utilizar a pesquisa exploratória é realizar uma aproximação - por meio dos depoimentos narrados durante as entrevistas - das experiências vivenciadas pelos sujeitos de pesquisas, pois o objetivo é explorar/investigar/descobrir o que os docentes aprenderam em suas práticas pedagógicas gamificadas no ensino superior.

Já a pesquisa-descritiva visa a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou ainda, descrever como se estabelecem as relações entre variáveis. Sobre os estudos descritivos no campo da Educação Triviños (1987, p.110) explica que o foco fundamental da pesquisa-descritiva se encontra na vontade de conhecer a comunidade, suas características, “suas gentes, seus problemas, suas escolas, seus professores, sua educação, sua preparação para o trabalho, seus valores, os problemas do analfabetismo, [...], as reformas curriculares, os métodos de ensino, o mercado ocupacional, os problemas do adolescente etc”. Com relação aos instrumentos, em uma perspectiva de pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada se apresenta como elemento fundamental para a produção de dados. Para Zago (2003) a entrevista é um instrumento amplamente utilizado nas Ciências Humanas e Sociais, e, neste sentido, dependendo da sua construção, ela se diferencia com relação aos seus objetivos e modalidades de condução, assim, consequentemente, o tipo de entrevista escolhido não se trata de uma escolha neutra.

Dentro dessa abordagem o pesquisador se apropria da entrevista não como uma técnica que transpõe mecanicamente para uma situação e coleta de dados, mas como parte integrante da construção sociológica do objeto de estudo. Essa construção implica uma interdependência dos diversos procedimentos associados ao processo de produção dos dados, o que inclui sua problematização inicial, passando pelo estudo da realidade e pela análise dos resultados. Desse modo, embora possa ter adaptada a uma diversidade de situações e campos disciplinares, a utilização da entrevista se inscreve em um quadro conceitual [...]. (BEAUD E WEBER apud ZAGO, 2003, p. 295).

Deste modo, os contornos da entrevista devem ser pensados e elaborados com bastante atenção e cuidado. Zago (2003) explica que uma das características da entrevista é a entrevista compreensiva e, nela, há o engajamento do pesquisador, o qual tem por objetivo da investigação a compreensão do social e a riqueza do material que descobre. Zago (2003, p. 296) explica que para Kaufmann (1996, p. 20) a pesquisa compreensiva “inverte as fases da construção do objeto: a pesquisa de campo não é mais uma instância de verificação de uma problemática preestabelecida, mas o ponto de partida desta problematização”. Diante deste contexto inerente a entrevista, Zago (2003) considera outros aspectos importantes, veja a seguir.

Com relação ao número de entrevistas, Zago (2003) destaca que a quantidade (dependendo de alguns fatores) não deve ser um critério a ser adotado, pois a importância está na profundidade de seus conteúdos. A autora esclarece também que “as respostas sobre a delimitação do número de entrevistas dependem do método escolhido [...] e, uma vez escolhido, deve-se entrar na sua lógica”, afirma Zago (2003, p. 297).

Outro aspecto a ser considerado com relação a realização das entrevistas é a relação entre a entrevista e a observação. “Essa relação de complementaridade entre os dois recursos está diretamente relacionada à escolha do local da pesquisa”, explica Zago (2003, p. 299). A autora afirma que a entrevista se encontra amparada em alguns recursos cuja função é complementar informações e ampliar os ângulos de observação, bem como as condições de observação de dados. Por isso, essa relação entre a entrevista e a observação é inseparável.

Cabe ainda destacar o uso frequente do gravador nas pesquisas apoiadas em entrevistas, prática essa que exige uma negociação com o informante, para obter sua aprovação. A gravação do material é de fundamental importância pois, com base nela, o pesquisador está mais livre para conduzir as questões, favorecer a relação de interlocução e avançar na problematização. Esse registro tem uma função também importante na organização e análise dos resultados pelo acesso a um material mais completo do que as anotações podem oferecer e ainda por permitir novamente escutar as entrevistas, reexaminando seu conteúdo. (ZAGO, 2003, p. 299).

Assim, alguns aspectos característicos da entrevista devem ser considerados. Zago (2003) indica que a flexibilidade faz parte do método qualitativo e que por esta razão a entrevista compreensiva deve apresentar sua dose de flexibilidade mesmo quando existe um roteiro de questões. Assim, a partir deste contexto de flexibilidade da entrevista, evidencio outro fator relacionado a este: a condução da entrevista. É importante que o pesquisador saiba conduzir a entrevista e, neste sentido, saiba o momento de interromper seu entrevistado, o momento de reiterar uma pergunta e até mesmo, o momento de flexibilizar suas questões com relação ao roteiro, pois em algumas situações o entrevistado trará elementos os quais não constam naquele roteiro prévio e o pesquisador terá que saber lidar com esses novos elementos e assim, saber organizar de imediato uma pergunta específica sobre aquele novo elemento que surgiu a partir da resposta do seu entrevistado e que se apresenta como fator inesperado e relevante para sua pesquisa.

Dentre tantos fatores relacionados a entrevista, Zago (2003) também desta a importância da relação de confiança entre pesquisador e entrevistado. A autora explica que há consenso entre ela e outros autores - que propõe discussão sobre os aspectos relacionados a entrevista – os quais evidenciam que é devido a esta relação de confiança entre pesquisador e entrevistado que o pesquisador irá conseguir um material rico a ser interpretado. Para possibilitar essa relação de confiança, Zago (2003) explica que cada momento da entrevista deve ser acompanhado de uma observação cuidadosa que vai orientando o pesquisador sobre a melhor forma de condução da entrevista.

É preciso não esquecer que é do entrevistado o lugar central do encontro e, por isso mesmo, um elemento fundamental é a manifestação de interesse pela sua pessoa e o seu discurso. Esse interesse é indissociável da capacidade da escuta do que é dito e de não-julgamento. (ZAGO, 2003, p. 303).

No contato inicial entre pesquisador e entrevistado, o tom da conversa ganha um status mais formal e, na medida em que a conversa flui, a entrevista transcorre de forma mais descontraída a ponto de a presença do gravador não parecer um obstáculo que intimida o entrevistado. E, por fim, Zago (2003) esclarece que o tempo dedicado para cada entrevista em uma pesquisa qualitativa é variável, pois pode se ampliar para além do que foi previsto, produzindo assim, uma conversação mais rica em detalhes.

O trabalho de campo vai sendo submetido a uma análise constante. Tendo realizado as primeiras entrevistas, é importante dar um tempo, rever o material para afinar questões previamente definidas. Com o objetivo de melhorar a condução das entrevistas, um procedimento importante é escutar a entrevista gravada e transcrevê-la. Podemos assim reavaliar a produção da entrevista, modificar certas formulações, verificar aspectos aos quais não damos suficiente atenção e ainda evitar a prática que consiste em cortar a palavra em momentos inapropriados, sugerir respostas ou não dar a devida importância a uma ideia nova e que mereceria ser explorada. (ZAGO, 2003, p. 306-307).

Deste modo, diante de todo este do delineamento evidenciado acima, compreendo que a investigação se orienta com as metodologias imbricadas ao que se pretende alcançar com essa investigação.