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Meu Encontro com o Experimental da Lapa

1. O INÍCIO DO PERCURSO, ONDE TUDO COMEÇOU

1.1. O Grupo Escolar Experimental da Lapa

1.1.1. Meu Encontro com o Experimental da Lapa

Em 1955 fiz uma experiência de freqüentar o Jardim da Infância do Colégio Campos Salles na Lapa, por um curto período. Talvez menos de um mês, porque tive uma insolação, de acordo com a minha mãe, porque o pátio do colégio não tinha cobertura e ficávamos durante muito tempo expostos ao sol.

Em 1956 nos mudamos para a Rua Tibério, esquina com a Rua Clélia, a meia quadra do Experimental da Lapa.

Mas, problemas de saúde adiavam a minha entrada para a escola até que ficasse completamente curado.

Finalmente em 1958 comecei a freqüentar o Jardim da Infância do Grupo Escolar Experimental.

O Jardim da Infância do Experimental era dividido em três graus, o primeiro grau era destinado a crianças a partir de quatro anos e meio, o segundo para aqueles com no mínimo cinco anos completos e o terceiro para crianças com seis anos.

Quando entrei contava com seis anos completos, mas provavelmente como não tinha ainda freqüentado a escola, fui colocado no 2º grau.

Lembro da minha imagem de uniforme: boné, calça curta para o verão e de pernas compridas para o inverno e tênis azulão; a camisa era branca e a calça tinha suspensórios e na frente tínhamos preso aos suspensórios por botões, uma pequena faixa também azul com letras brancas: G.E.E. Fazia parte ainda uma sacola que se encaixava em nossas cadeirinhas, com o nome bordado em sianinha

branca. Tínhamos toalhinhas brancas para enxugar as mãos, o guardanapo azul com as bordas desfiadas para a hora do lanche e um tapete um pouco maior que nossa altura para a hora de descanso.

As salas de aulas ficavam numa área separada do Curso Primário. Possuíam cinco ou mais mesinhas com quatro lugares cada uma. Logo na entrada à direita havia um grande e comprido baú de madeira, onde ficavam guardadas nossas “capinhas” de cadeiras. Logo em seguida na parede havia cabides para pendurarmos nossos bonés. Cada aluno tinha o seu cabide identificado por pequenos cromos, com figuras de animais, o meu era um cachorrinho.

No meio da sala, ficavam as mesinhas com as cadeirinhas e bastante espaço livre entre elas. À direita tínhamos um armário com caixas de papelão azul marinho, individuais, todas iguais onde ficavam guardados os nossos lápis de cera para desenhos, identificadas também com estampas iguais às dos cabides para bonés. Ficavam ainda nesse armário cadernos de desenho espiral grande, onde, em casa, fazíamos tarefas. Geralmente recortes de figuras de animais domésticos, animais selvagens, carros, casas, que eu fazia auxiliado por minha mãe.

Os títulos das lições eram colocados pela professora.

No Jardim do Experimental não havia nenhum tipo de alfabetização, com exceção de prontidão para alfabetização realizada no terceiro grau.

Na entrada da sala, havia uma bateria de pias, onde lavávamos as mãos, escovávamos os dentes e os banheiros. Essas portas eram comuns, mas à direita da sala, ficavam também portas de correr, de moldura de madeira, com vidros e grades de ferro, que davam para um pequeno gramado individual com saída para um amplo tanque de areia à direita.

As salas do jardim e pré eram agrupadas de duas em duas (lado a lado) eram segundo me lembro três conjuntos e eram interligados por um corredor coberto. Entre os conjuntos havia casinhas de bonecas de madeira em tamanho natural onde meninos e meninos brincavam juntos.

Saindo do conjunto de salas do Jardim e Pré, logo em seguida vinha o refeitório, com mesas e bancos onde os alunos do primário tomavam lanche. O Jardim e o pré tomavam o lanche na própria sala. Continuando a subida havia a sala de lanche dos professores, a cozinha, o consultório médico, o consultório odontológico, a sala de direção do pré e Jardim, a biblioteca, as salas de serviço

social e a Cooperativa Escolar. Na frente da porta externa da biblioteca havia um grande pé de café.

Ao fundo, um campinho de futebol (fundos que davam para a Rua Sabaúna), todo gramado rodeados por árvores, plantas e muros brancos. Nos lados dos muros havia morrinhos que adorávamos subir e descer correndo. Na confluência desses morrinhos havia uma bananeira bem alta, que resistiu bravamente durante vários anos.

Do outro lado do campinho entre a divisa do prédio e do refeitório havia um galinheiro, com galinhas, pintinhos, patos e coelhos. Não me lembro se o galinheiro já estava lá quando ingressei na Escola, ou se foi construído mais tarde.

Voltando-se para a sala de lanche dos professores, havia o galpão coberto com um palco ao fundo ladeado por duas pequenas salas (camarins?) e uma sala ao fundo com piano que viria a tornar-se nossa sala de música. Na frente do galpão ficava a quadra de esportes de cimento, ladeada por espaços de terra com plantas e árvores, um trepa-trepa e um gira-gira. No fundo, após o galpão havia as rampas descobertas que davam acesso ao andar superior. Havia também à esquerda da rampa escadas cobertas para os dias de chuva, banheiros, pias e duas pequenas salas.

Subindo pela rampa dávamos em frente à porta da casa da zeladora, onde morava a querida Vó Amélia, que tratava a todos com muito carinho. À esquerda ficava o acesso ao primeiro andar, com um hall onde desembocavam as escadas e duas baterias de banheiros, seguidos pelo corredor com as oito salas de aulas. No fundo do corredor à direita havia ampla sala, que na época funcionava como uma espécie de museu com animais empalhados e um forno para queimar cerâmica desligado. Os funcionários mais antigos diziam que no tempo da Escola Ao Ar Livre, esse forno ficava no pátio e era ligado esporadicamente. Essa sala em 1963 veio a tornar-se a nossa sala de Artes Plásticas. No final do corredor em sentido contrário à sala de Artes, um pequeno lance de escadas dava acesso à sala da direção, secretaria e recepção, além de outras saletas que abrigavam setores técnicos.

FOTOS DO EXPERIMENTAL DATADAS DE 1959, FIGURAS 3 A 14; AUTORIA DAS FOTOS DESCONHECIA – ACERVO DO AUTOR.

FIG.3

VISTA DE TRÁS

FIG.5

AULA DE TRÂNSITO

FIG.6

VISTA A PARTIR DA RAMPA

BIBLIOTECA DO PRÉ FIG.8 CONSULTÓRIO DENTÁRIO FIG.9 CASINHA DE BONECA FIG.10

MUSEU (SALA QUE EM 1963 TORNOU-SE NOSSA SALA DE ARTES) AO FUNDO O FORNO DE CERÂMICA

FIG.11

RAMPA

FIG.12

PROF. ULISSES LOMBARDI DIRETOR FIG.13

PROFª. MARIA JOSÉ RANGEL VICE-DIRETORA

FIG.14

Nossa rotina no Jardim começava às 08h 30 min.

Logo após a entrada, se não estava chovendo, brincávamos no tanque de areia, seguido por um tempo em sala de aula, onde escutávamos histórias, ou aprendíamos músicas e brincávamos de roda. Em seguida, lavávamos as mãos, tomávamos o lanche. O lanche no Experimental era socializado, preparado na própria escola. Pagávamos uma taxa mensal para isso. As crianças carentes não pagavam nada, os recursos saíam da Caixa Escolar formada também por contribuições dos pais.

Após o lanche, tinha o recreio, em seguida escovávamos os dentes, e tinha um tempo de descanso onde, estendíamos nossos tapetinhos pela sala e nos deitávamos.

Para finalizar a manhã, desenhávamos. A maior recordação que tenho é de desenhar com giz de cera em papel jornal tamanho A4. Algumas vezes fazíamos pinturas com tinta guache preparada na própria escola. Não me lembro de trabalhos com recorte e colagem, mas recordo-me que trabalhávamos modelagem com massinha de modelar.21

Só tenho recordação de uma única vez, no final do ano, de trabalhar com argila, na construção do presépio.

21Esta descrição das atividades corresponde também à descrição da Professora Diva Francisca Sguelia, quando

ela assumiu a direção do Jardim e do Pré em entrevista a Maria Antonieta Zambroni Vilella, por ocasião da elaboração de sua dissertação de Mestrado apresentada a Escola de Comunicações e Artes da Universidade São Paulo em 1991.Anexo 9 v.2 – Anexos.

Podemos dizer que esses métodos utilizados em 1958 no Experimental, no Jardim da Infância e no Pré, pertenciam a uma interpretação da escola nova; desenhos de forma dirigida por histórias contadas, poucas técnicas diferenciadas, caderno de Artes voltadas para o início de Estudos Sociais (meio).

Bem, voltado às atividades esqueci-me de dizer que na parede logo na entrada da sala havia um painel onde eram expostos os trabalhos desenvolvidos.

Era um daqueles painéis horríveis, ainda hoje existentes em várias escolas, com trabalhos praticamente selecionados, pela professora, todos praticamente iguais, lembrando em muito os painéis de desenhos mimeografados até hoje utilizados.

Foi por causa de um desses painéis que tive uma experiência muito amarga. A professora distribuiu papel espelho vermelho para todos os alunos. Dobradas as pontas superiores em diagonal para o centro, com o lado branco voltado para cima, formavam um bico como se fosse um telhado vermelho sobre o papel branco, lembrando o telhado de uma casa.

A professora propôs então, que deveríamos desenhar e completar nossas casas com giz de cera.

Fiz o solicitado, mas fui o único na classe toda, que não pintou a parede da casinha de amarelo ou com cores claras, pintei a casinha de marrom.

A professora expôs todas as casinhas no painel, com o título “Minha Casa”. Fui motivo de “chacotas” da sala inteira, enquanto os trabalhos estiveram expostos. Quando vinha alguma visita à nossa sala, os coleguinhas diziam:

“- Ih! Agora eles vão ver a sua casinha marrom.”

Não deixei de fazer as atividades de desenho, pois sabia que essas nunca iam para o painel. Mas, mesmo depois no primário, muitas vezes, para a confecção dos desenhos solicitados, eu pedia ajuda a minha mãe. Isso era um fato usual na época, ou seja, os pais muitas vezes realizando os desenhos para os filhos.

Talvez a minha maior alegria no Jardim fossem as apresentações do Teatrinho de Fantoches realizadas às sextas-feiras, no último horário, no lugar das atividades plásticas. Havia uma grande coleção de bonecos, com os personagens das histórias infantis mais conhecidas: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, O Patinho Feio, Cinderela, etc.

Provavelmente foi esse o meu primeiro contato com as artes cênicas e com certeza o primeiro com uma paixão que me acompanhou durante toda a minha vida e

permanecem até hoje: os fantoches. Passei anos de infância construindo bonecos, e apresentando historinhas para uma audiência imaginária. Construía um palco usando uma cadeira coberta por uma colcha e passava horas representando.

Ao aproximar-se o final do ano houve um pequeno impasse, já tinha idade suficiente para freqüentar no ano seguinte o 1º ano do curso Primário, mas ainda estava no 2º grau do Jardim. No mesmo caso estava uma coleguinha de classe. Fomos encaminhados ao Instituto de Educação Caetano de Campos para testes. E os testes indicaram que estávamos aptos a cursar o curso Primário. Ensaiamos a formatura do curso Pré-Primário juntamente com o 3º grau.

Nossa formatura foi juntamente com a Festa de Fim de Ano do Jardim no auditório do Instituto de Educação Caetano de Campos. Dançamos o Minueto, todos vestidos de branco, com gravatinha borboleta também branca, enquanto a nossa sala de 2º grau dançou representando uma Festa de Natal onde faziam papéis de brinquedos, com fantasias coloridas de polichinelo, cavalinhos de pau, soldadinhos de chumbo, bailarinas. Que vontade de estar junto, vestido com uma daquelas fantasias coloridas, ao invés de estar todo de branco, dançando o Minueto, em postura de formando.

1959! 1º ano do curso Primário, já não usávamos boné, tínhamos que sentar em carteiras enfileiradas na forma tradicional e não podíamos mais conversar e brincar tanto!

Lições para fazer, lições de casa...

Exercícios e mais exercícios de prontidão.

Não me lembro de desenhos. Lembro que completávamos os exercícios de prontidão, fazendo-os parecer, por exemplo, peixinhos, e os coloríamos com lápis de cor.

Fazíamos continhas usando figuras ao invés de números, que eu adorava repeti-las em casa para colorir as figurinhas.

O deslumbramento das primeiras letras e a alfabetização utilizando a cartilha Upa, Cavalinho, de Lourenço Filho 22 . Enquanto gerações anteriores e posteriores foram alfabetizadas com a cartilha Caminho Suave.

Upa, Cavalinho de Lourenço Filho, trazia Pedrinho, sua irmã Maria Clara, a boneca Lili e o cavalinho Valete. O primeiro livro foi Pedrinho também de Lourenço Filho, que era uma série continuada que só foi interrompida, no 2º ano primário. No terceiro: Aventuras de Pedrinho e no quarto: Leituras de Pedrinho e Maria Clara.

Ah! E a Festa Junina? As festas do Experimental eram famosas. Com todos vestidos a caráter, cada sala apresentava uma dança. Todas as crianças participavam, não era selecionado, como o eram em várias escolas na época. A quadra era toda cercada por bambus que mantinham a sua imagem, e as entradas de arcos igualmente de bambus e todas aquelas bandeirinhas e enfeites. Os pais compareciam em massa.

No final do ano havia a quermesse. Toda aquela preparação para a arrecadação de prendas, enfeite de Natal, etc. Algumas prendas precisavam ser buriladas, ou então ganhávamos material para a confecção das mesmas, e a Escola inteira se entregava à preparação e à confecção de prendas: alunos, professores, técnicos, funcionários. Tinha barracas de pescaria, pescaria surpresa, coelhinho na toca, bazar, roleta, bigode no gato, rabo no burro: fazíamos muita farra!

Destaco que nunca conheci uma Escola onde tivesse trabalhado ou simplesmente conhecido com tamanha participação da comunidade escolar e do restante da comunidade onde ela estava inserida.

Lembro-me também que em nosso material escolar foram solicitados Cartões de Alinhavo. Eram cartões impressos com figuras estilizadas, subdivididas igualmente, com pontos grandes marcando as subdivisões e eram para serem “bordados”, seguindo as linhas e os pontos marcados serviam para demarcar a entrada e saída da agulha. Não sei dizer realmente se serviriam como exercícios de prontidão ou exercício para a coordenação motora. Esperava curioso o dia de começar a trabalhar ou voltar a fazer os cartões e para mim a demora era uma eternidade.

Tivemos também uma professora de Educação Física, D.Ceci, que não dava aulas regulares, pelo contrário, eram muito esporádicas e não sei dizer até hoje, se ela era uma professora da Escola, ou uma voluntária; vinha de vez em quando ministrar aulas. Mas sempre, pelo menos nos dois primeiros anos do curso, estava presente e nos ensaiando para as danças da Festa Junina.

Outra lembrança, que não sei se era uma prática comum na época em escolas públicas, pelo menos umas três vezes por ano recebíamos a visita de uma

funcionária da Secretaria da Saúde. Ela vinha com uma cesta repleta de tubos de Vacinas BCG (para prevenção da tuberculose), que éramos obrigados a tomar, lembro até hoje daquele gosto horrível...

No final do 1º ano, e somente nesse ano, veio um técnico do Experimental aplicar as provas finais no lugar da professora da classe.

1960 – ano da inauguração de Brasília e o meu segundo ano primário. Mudança de período, do período matutino, para o período vespertino. Alguns novos colegas, outros já conhecidos do primeiro ano primário.

Sei hoje que a preocupação maior do Experimental era formar salas para os anos seguintes, procurando manter alunos que já possuíam vínculos de relação, nem que fossem alguns em cada sala.

Revendo minhas recordações e poucas fotos que me restaram, revejo em minha história, rostos de colegas que me acompanharam durante o curso Primário.

O mais marcante durante o segundo ano foi sem dúvida termos tido acesso ao galinheiro da escola, e acompanhado todo o processo de geração dos pintinhos. Construímos dentro do galinheiro uma gaiola fechada para abrigar a galinha com os ovos depois pintinhos. Dá para imaginar a cena: a professora, rodeada por crianças de oito anos, serrando, pregando pregos, preparando a gaiola?

E depois como cuidamos! Íamos às férias alimentar os bichinhos.

Quanto à atividades de arte, lembro-me que se limitava à ilustração de conteúdos aprendidos principalmente em Estudos Sociais, feitos praticamente todos num caderno de desenho grande, chamado na época de caderno de cartografia.

Como já disse anteriormente, vários deles tinham a “mão de gato” da minha mãe.

Na Festa Junina, dançamos “Rancheiras de Carreirinha” do Folclore Gaúcho. Não sei se era comum na época, mas no primeiro ano e parte do segundo só usávamos lápis para escrever; a partir de um determinado momento, a professora do segundo ano autorizava-nos a utilizar a caneta tinteiro. Parece que isso era feito de acordo com a caligrafia do aluno. Esperei em vão pela autorização para usar a caneta. Finalmente foi sugerida em uma reunião de pais, que aqueles alunos que necessitavam melhorar a caligrafia, contratassem uma professora particular. Formamos um grupo e na própria sala de aula em um horário de 30 minutos não me

recordo com que freqüência, tivemos o curso de Caligrafia Muscular de Lister, muito em voga na época.

Consegui finalmente a autorização para o uso da caneta e assim conclui mais um ano da minha trajetória.

1961 – Terceiro Ano Primário.

O Professor Ulysses Lombardi deixa a direção do Grupo Escolar Experimental. A comunidade faz abaixo-assinado para a sua permanência. De nada adiantou. Ele é substituído por alguns meses, pela Professora Diva Francisca Sgueglia até a nomeação de seu substituto. Foi nomeada para substituí-lo a professora Therezinha Fram.

Como aluno não me lembro de grandes modificações iniciais apesar de todos os depoimentos consultados darem conta que aí se inicia um novo e mais fecundo período da história do Experimental.

FIG.15 – EU E A PROFESSORA CLEIRE TEIXEIRA MALAGOLI. AUTORIA DA FOTO DESCONBHECIDA. ACERVO DO AUTOR

Talvez a ausência de lembranças dessa época de D.Therezinha se deva ao fato dela ter se ausentado algumas vezes para viagens aos Estados Unidos, e numa delas ter permanecido ausente por cerca de dezoito meses, realizando lá um curso de Liderança Comunitária.

Em seu depoimento, a professora Maria Jurema Venceslau de Carvalho 23,

nos conta que as duas idéias principais que a professora Therezinha trouxe com ela em seu regresso eram: Planejamento e Comunidade.

O regresso definitivo de D.Therezinha se deu por volta de 1963, quando eu já estava no 5º ano primário, meu último ano como aluno do Experimental.

Voltando ao terceiro ano acompanhava-nos novamente um livro de leituras de Lourenço Filho: As Aventuras de Pedrinho. Os desenhos continuavam sendo fonte de ilustrações para os conteúdos estudados.

Lembro-me de que estudamos em Estudos Sociais o Município e o Estado de São Paulo. Fizemos um mapa do Estado em cartolina preta, e sobrepúnhamos outros mapas do Estado em papel transparente (papel manteiga), cada um focalizando uma das principais culturas agrícolas do Estado. Num deles, por exemplo, localizamos as cidades onde a principal cultura era a cafeeira, e colávamos grãos de café junto ao nome das cidades produtoras. Em outro, a cultura canavieira, outro a algodoeira, e assim por diante formando como se fosse um álbum da cultura agrícola do Estado.

Tínhamos também afixado na parede do fundo da sala, um mural cronológico histórico, uma linha do tempo, onde anotávamos os principais fatos do período, ilustrados com desenhos que realizávamos ou colagens de estampas históricas que eram compradas prontas em qualquer papelaria, muito usadas na época.

Foi a partir do 3° ano creio que comecei a perder um pouco da vontade de estudar com o afinco que tinha no 1° e 2° anos. Com nove anos de idade, não sei se a precária estrutura familiar começava a tornar-se consciente para mim, só sei que fazia as tarefas correndo, sem capricho, pulava partes da lição, meu caderno de “Lições de Casa” tinha anotações em todas as folhas: “faltaram duas contas”, “pulou um pedaço da cópia”, “fez apenas cinco sentenças, quando o pedido foram dez”, e