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Micropolítica sexual nos espaços públicos da cidade

4. AGENCIAMENTOS ERÓTICOS: TERRITÓRIOS, CORPOS E

4.2. Micropolítica sexual nos espaços públicos da cidade

“M

eia Noite, Em pleno Largo do Arouche, Em frente ao Mercado das Flores, Há um restaurante francês, e lá te esperei54” Caminhar pelo centro velho de Florianópolis, bem como de qualquer outra capital, pode ser uma experiência que demande uma abertura do olhar, das sensações e dos sentidos para novos e/ou outros códigos de grupos e sujeitos que transitam pelas ruas. Na cidade em que habito, costumo andar frequentemente por suas vielas, ruas e regiões consideradas mais populares, como a região do antigo terminal de ônibus urbano, da Praça XV de Novembro (praça central) e da Catedral. Agrada-me muito circular por aqueles caminhos que parecem ser um quadro movente de personagens que incorporam situações e modos de vida que denunciam a “falha” de certas morais que vem se consolidando desde a ascensão dos grandes centro urbanos brasileiros. Testemunhas de que os códigos de comportamento aceitáveis em nossa sociedade ocidental são fictícios, performáticos, frágeis. Estão sempre à espera do (e resistindo ao) confronto, seja pelo escândalo que tais sujeitos às margens provocam quando explodem na cena higienizada da cidade, seja no silêncio, no escuro, nos becos onde a transgressão ganha espaço, num jogo de experimentações e de misturas entre grupos: o jovem de classe média que vai comprar sua droga numa “boca”; o homem que mantém um casamento e uma vida heterossexual e procura sexo casual em saunas; homens “de respeito” que sucumbem ao tesão pelo sexo “desrespeitado”: sexo com putas, travestis, boys; os homens que gozam com o olhar, com a pegação e com a masturbação coletiva nos banheiros públicos. Enfim, a cidade borbulha, flerta, transa e goza.

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Ao circular por essas paisagens, sempre me interessei especialmente por algumas cartografias dissidentes do desejo, do erotismo e do sexo, ou seja, por esses movimentos de experimentações do prazer que não podem (no sentido de não serem autorizados) ser ditos e vistos, mas que acontecem, e muito eficazmente, no cotidiano da cidade. Com seus códigos próprios, num jogo de fluxos quase incapturáveis pelo plano visível das paisagens da cidade, o sexo se consuma, o desejo adquire matérias de expressão e todo um sistema de afecções e negociações torna-se possível. É no trânsito desse erotismo que se insinua em cantos, estabelecimentos e praças da cidade que vasculhei o terreno por onde alguns homens oferecem sexo por dinheiro e/ou outros bens.

As primeiras vezes que caminhei pela Praça XV com a intenção de procurar e conversar com homens dispostos a oferecer serviços sexuais, não tive, de início, muitas dificuldades para encontrar tais sujeitos. Já sabia de antemão que naquela região aconteciam esses tipos de negociações. Quando passava pelo local, podia perceber, através de alguns gestos e olhares, que ali era possível encontrar garotos de programa. A percepção e identificação dos garotos de programa nas ruas não é algo tão evidente para as pessoas que não estão familiarizadas com certos códigos compartilhados entre homens homossexuais e/ou entre aqueles que procuram alguma interação homoerótica (não necessariamente homens gays). Isso me pareceu evidente, quando, ao comentar com algumas pessoas que eu costumava circular pela praça para fazer observação de campo e para conversar com alguns garotos de programa, pude escutar várias vezes falas como: “Mas lá rola prostituição?!”, “Lá tem michê?!”. Estranhamentos que evidenciam como diferentes códigos-terrritórios circulam muitas vezes nos mesmos espaços geográficos da cidade, fazendo co-existir diferentes territorialidades, desde as mais cotidianas, organizadas e banais, até as mais efêmeras e marginais.

Observei que os garotos que ficam na praça não se expõem tão visivelmente como algumas mulheres cis e/ou mulheres trans e travestis prostitutas que também circulam em outras regiões do centro e que muitas vezes investem em uma imagem explicitamente sexualizada, tornando-se facilmente identificáveis, pela maioria, como trabalhadoras do sexo. Elisiane Pasini (2000), em sua pesquisa sobre prostituição feminina na cidade de São Paulo, também identificou que as performances corporais (uso de determinadas roupas, a quantidade de maquiagem no rosto, a forma de abordagem do cliente, etc.)

empreendidas por mulheres que atuam como trabalhadoras do sexo nas ruas comunicam visualmente que elas estão fazendo “ponto”, ou seja, oferecendo serviços sexuais. Com os boys que encontrei na Praça central de Florianópolis, esses jogos pareciam funcionar de outro modo. Eles se vestiam casualmente, sem chamar atenção. Nada além de uma calça jeans, camiseta, uma blusa. São vistos como um transeunte qualquer, que passeia pela praça desinteressadamente. Essa estética, de certa forma, já me pareceu fazer parte de uma fantasia que os boys (pelo menos aqueles que atuavam nas ruas) vendem: uma masculinidade viril, uma performance “heterossexual e discreta”. Quanto mais próximo do homem viril, masculino e heterossexual ele parecer, mas valorizado será pelos clientes, como me informaram alguns garotos que circulam nas ruas. Néstor Perlongher (2008) já havia mostrado essa importante relação entre virilidade e a prostituição masculina. A masculinidade exacerbada e a virilidade naquele contexto agregam valor ao programa, fato este que fez com que Perlongher chamasse a prática dos garotos de programa de prostituição viril. Apesar de em minha experiência na Praça de Florianópolis eu me deparar com essas performances bem masculinas e viris, durante minha pesquisa notei que nem toda prostituição exercida por homens é necessariamente performada pelas marcas da virilidade. Essa minha percepção me levou a não fazer uso da categoria “prostituição viril” para descrever o trabalho sexual exercido por homens, ainda que, em alguns contextos, a virilidade seja uma marca importante nas performances dos boys (mas não a única forma de expressar a masculinidade entre esses sujeitos).

Os homens com os quais conversei pareciam passar despercebidos pela multidão apressada no andar cotidiano. Mas o que me fez aproximar e saber que eles eram garotos de programa? Fui percebendo que os códigos, os movimentos e os gestos são antecedidos por algo muito fugidio e discreto: o olhar. O olhar, que sinaliza e autoriza a sequência de um ritual de negociação, aproxima dois sujeitos pelo desejo. O erotismo começa a se desenhar pelos olhares de ambos, que desencadeiam uma sequência de códigos. Tal interação, a princípio, ainda não denuncia que se trata da intenção de se pagar ou oferecer serviços sexuais. Traça-se um novo rosto entre mim (visto como um possível cliente) e o boy. Para Deleuze e Guattari (2008), um rosto seria uma superfície semiótica formada pela montagem de um dispositivo: um “sistema muro branco-buraco negro”. Muro branco de significação, de atribuição da linguagem, das nomeações e significados, dos enunciados, dos significantes; buraco negro das subjetivações, das ressonâncias, das paixões, que desterritorializa a superfície do muro branco. O rosto surge

desse sistema, a partir de uma máquina abstrata de rostidade que pode ser acionada no agenciamento dos corpos, na rua, no olhar, nos gestos. O rosto, lembram Deleuze e Guattari, não pode ser confundido com a cabeça. A cabeça é parte do organismo e não necessariamente há um rosto codificado nela, do mesmo modo que nem sempre o rosto se estabelece nesta região. O corpo todo pode ser rostificado. O rosto é uma superfície, um mapa de linhas, traços, velocidades.

Mesmo humana, a cabeça não é forçosamente um rosto. O rosto só se produz quando a cabeça deixa de fazer parte do corpo, quando para de ser codificada pelo corpo, quando ela mesma para de ter um código corporal polívoco multidimensional – quando o corpo, incluindo a cabeça, se encontra descodificado e deve ser sobrecodificado por algo que denominaremos Rosto. [...] Não se trata absolutamente de tomar uma parte do corpo para fazê-la assemelhar-se a um rosto, ou representar um rosto de sonho como em uma nuvem. Nenhum antropomorfismo. A rostificação não opera por semelhança, mas por ordem de razões (DELEUZE E GUATTARI, 2008, p. 35)

Parece-me que o encontro de corpos interessados numa prática sexual, especialmente uma prática marginal que não pode ser vista nem percebida no espaço público, favorece a produção de máquinas abstratas de rostificação: há uma operação que passa a maquinar outros códigos e a operar um corte daqueles fluxos dispersos que até então não eram capazes fazer aproximar dois corpos. O corpo organizado que se movimenta em caminhos já codificados (na paisagem higiênica, policiada e vigiada da cidade), engata-se numa outra política que favorece a aproximação pelo desejo. Esse mesmo corpo é descodificado ao ser afetado por um outro corpo. Dois corpos que, num encontro, são sobrecodificados e produzem uma rostidade. Esse rosto não está estampado como uma impressão ou uma fotografia no corpo de cada um, mas está justamente nos perceptos visuais, gestuais e eróticos que se estabelecem numa comunicação que começa a se esboçar. “Os rostos não são primeiramente individuais”, como afirmam Deleuze e Guattari (2008, p.32), “eles definem zonas de frequência ou de probabilidade, delimitam um campo que neutraliza antecipadamente as expressões e conexões rebeldes às significações conformes”. Afinados numa outra

frequência, os corpos se comunicam eroticamente. O rosto é uma política e favorece, nesse caso, o exercício de uma política erótica.

O olhar é o primeiro contato, a primeira significação que transcorre nesses tipos de encontros. Não se trata do olhar de um flerte qualquer, mas de um olhar erótica e sexualmente interessado que afeta os dois envolvidos e os envolve em um outro caminhar. A partir do olhar, seguem-se alguns códigos sutis, códigos bastante efetivos nessa comunicação pública e erótica. Desacelera-se o andar, disfarçadamente olha-se um para a direção do outro, muda-se a rota do percurso, caminha-se para algum sentido comum, ficam parados em algum ponto esperando novos sinais, mexe-se no celular para disfarçar qualquer ansiedade ou para parecer que se parou ali por outro motivo. Esperam-se outros movimentos, os olhares continuam a se cruzar e o corpo começa a ser mais direto. Do lado do boy, uma acariciada no pau, um movimento do corpo que deixa evidente que, sob a calça, ele está excitado, com pênis ereto. Nesse ponto, não se olham nos olhos, parecendo evitar qualquer constrangimento de maus entendidos. Um olhar mais fixo para outro homem que não se conectou a essa política erótica compartilhada entre cliente e boy poderia mobilizar de afetos homofóbicos, resultando em algum tipo de agressão verbal ou mesmo física. Não se olham nos olhos, mas se olham mesmo assim, entre o horizonte disfarçado e os corpos interessados. O rosto desloca-se para outras partes do corpo, de modo que mínimas gestualidades podem compor afecções eróticas: uma leve levantada da camiseta, uma acaricida no peito, uma coçada no saco... Aos poucos os dois vão se aproximando. Um deles se senta no banco da praça e o outro, confiante de que já pode puxar uma conversa, senta-se também, ao seu lado.

Variações desse “ritual” (de descodificação e recodificação) foram recorrentes no encontro com os boys da praça. São esses movimentos afectivos, com variações de intensidades e velocidades dependendo do modo como os corpos se conduzem, que possibilitam uma aproximação, um entendimento dos interesses e um reconhecimento do outro. Imerso nesses códigos, não posso negar que os (re)conheço e os (com)partilho talvez por saber interagir, em outros contextos, com alguns flertes homoeróticos. O flerte homoerótico, que historicamente precisou passar dissimulado do olhar público e ainda hoje precisa, em alguns contextos, ser feito de modo cauteloso (haja vista o risco iminente de retaliação homofóbica), precisou inventar agenciamentos próprios para se efetivar e dar expressão ao desejo que não se deixa capturar por prescrições heteronormativas. Além de saber

ler e reconhecer tais códigos, ser homem e jovem configura uma significação sobre meu corpo que facilita muito as aproximações nesses encontros (na minha pesquisa de mestrado (SANTOS, 2012) sobre homossexualidade e velhice isso já foi um facilitador muito importante no meu encontro com homens homossexuais mais velhos).

As conversas que tive com os garotos da praça costumavam se iniciar após sentarmos (eu e algum garoto) em algum banco. Começávamos timidamente: “E ai, passeando?...”. Um dos primeiros garotos que conheci, perguntou-me: “Tá na pista também?”. Sorri, disse que não, mas aproveitei para puxar conversa sobre o assunto. Perguntei sobre preço, local onde ele realizava o programa... Ser confundido com um boy foi algo muito recorrente durante minhas pesquisas de campo. Alguns diziam que tenho o “tipo de boy”, como se as marcas do meu corpo fossem concordantes com aquilo que se espera vender nas negociações do mercado do sexo. Durante a conversa que tive com esse homem, ele me contou que trabalhava à tarde e que às vezes, antes de ir para casa, passava pelo centro para fazer programa, “juntar uma grana”. Disse que era casado com uma mulher e deu a entender que os programas eventuais eram mais uma forma de “bico”.

Já com outro homem com quem conversei, estabelecemos um contato diferente. Primeiramente, ele mostrou interesse em oferecer um programa, queria cobrar porque precisava viajar de volta para o Rio Grande do Sul, local onde morava. Não disse o que tinha ido fazer em Florianópolis. Eu lhe falei que não tinha dinheiro para ajudá-lo. Começamos a conversar sobre coisas “banais” e resolvi ir embora. Ele disse que me acompanharia até o terminal de ônibus, pois também estava indo naquela direção. Fomos caminhando juntos e durante o percurso ele se posicionou de forma diferente, parecendo estar “interessado” em mim. Disse que não cobraria mais se eu quisesse sair com ele, pois havia “gostado de mim”. Ao chegar no terminal trocamos celular. Avisou-me que provavelmente estaria voltando pro Rio Grande do Sul naquela noite e que ficaria difícil manter contato. Mas guardei seu número de celular mesmo assim, caso um dia ele entrasse em contato comigo, o que não veio a acontecer.

Em outra ocasião caminhando pela Praça XV, encontrei Leonardo, outro garoto com quem troquei alguns olhares e logo percebi que se tratava de alguém interessado em oferecer um programa. Ao cruzarmos nossos caminhos, o olhar atraiu nossos rostos fazendo-nos olhar para trás e conferir se a intenção era recíproca. Voltamos um em direção ao outro, cumprimentamo-nos e sentamos num banco para

conversar. O jovem parecia bastante tímido, com jeito de garoto do interior, loiro, alto, olhos claros. Disse-me que tinha 27 anos, que era do Rio Grande do Sul e que estava em Florianópolis havia uma semana. Não tinha emprego e estava sem sua carteira de trabalho. Estava hospedado em um hotel popular no centro da cidade e procurava trabalho, mas vinha encontrando dificuldades por falta dos documentos. Insinuou, muito timidamente e desconcertado, se eu estava interessado em “algo”. Parecia bastante inexperiente na negociação do programa. Cobrava R$50,00 e “curtia tudo” (em relação ao sexo), só não “dava” (fazendo referência a ser passivo durante o ato sexual). Perguntei onde que poderia “rolar” e ele me disse que iríamos no hotel onde ele estava hospedado. Falei que não poderia naquele momento, pois estava indo ao encontro de um amigo com quem tinha um compromisso. Ao perceber que o programa não aconteceria, começamos a conversar sobre outras coisas. Pediu um cigarro e falou que não tinha grana nem pra comer. Dei-lhe um cigarro. O cigarro, em geral, parecia facilitar muito os contatos. Ao oferecer um, um gesto de camaradagem se instala, e passamos a falar de um outro modo, na “parceria”. Mais à vontade, disse que já tinha feito alguns programas em outras cidades, e também se envolvia com mulheres. Pareceu-me que ele se interessava muito mais por mulheres do que por homens. O sexo com homens era mesmo “por uma questão de grana”. Perguntei se ele conhecia a “sauna de boys” em Florianópolis (na época ainda em funcionamento). Contou-me que nunca tinha ido e nem sabia como funcionava uma sauna. Ficou curioso e me perguntou como poderia chegar ao local e se conseguiria arrumar algo por lá. Disse-lhe que era possível, precisaria ir pessoalmente e conversar com o gerente do espaço. Expliquei-lhe onde era a sauna e ele pareceu um pouco intrigado com essa possibilidade.

Durante nossa conversa, Alex, um amigo de Leonardo que aparentava ser bem mais novo, aproximou-se de nós. Cumprimentou- me, apresentou-se a mim e pediu um cigarro. Tirei um da minha mochila e lhe entreguei. Parecia que Alex e Leonardo já tinham alguma intimidade (pelo menos já se conheciam). Leonardo perguntou ao Alex se ele conhecia a sauna de que eu havia falado. Ele disse que sim e que era um bom lugar pra ganhar uma grana, porque os clientes pagavam bem mais, dava pra tirar até uns R$500,00 numa noite. Leonardo pareceu bastante empolgado e pediu para que Alex o levasse até lá, mas este disse não saber exatamente onde era. Perguntou a mim, disse que sabia, mas que estava sem tempo para levá-lo ao local. Leonardo ficou curioso pelo fato de Alex não ir nessa sauna, uma vez que lá poderia

“tirar mais grana”. Recrio aqui um diálogo que se passou entre nós três e que posteriormente foi anotado em um dos meus diários de campo55:

- Ah, eu não tenho presença como você, sou normal. Além disso, minha namorada não deixa eu ir lá – Contou Alex.

- Você tem namorada? – perguntei - Tenho!

- E sua namorada não deixa você ir na sauna mas deixa você ficar aqui na praça? – perguntei intrigado e achando a situação engraçada.

Leonardo soltou uma gargalhada:

- É mesmo! Não vai na sauna, mas trabalha aqui! - É, sei lá, aqui ela deixa! – respondeu Alex. Leonardo, ainda interessado na tal sauna, continua a conversa com Alex:

- Mas como faço pra trabalhar lá? E Alex:

- Você ta com seus documentos ai? - Tô.

- É só chegar lá, conversar e apresentar seus documentos.

- Só isso? - É.

- Pow, me leva lá?!

- Não sei como chegar, pede pra ele te explicar... – disse Alex apontando pra mim.

Expliquei ao Leonardo como chegar ao local e ele disse que ia tentar ir até lá. Acho que com o grande interesse pela sauna e pela necessidade de dinheiro, resolveu procurar o local. Disse que ia nos deixar sozinhos e despediu-se de nós. Ficando sozinho com Alex, conversamos por pouco tempo, pois eu precisava ir embora. Ele pareceu bastante aberto para conversar, por isso aproveitei pra perguntar sobre o programa. Disse que também cobrava R$50,00 e que se eu “fechasse” a gente podia ir pra algum “hotelzinho” ali pela região mesmo. Indicou- me dois: um próximo da rodoviária e outro mais próximo da praça XV. Um era mais caro, R$28,00 por duas horas e, segundo ele, era mais

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Esse diálogo não foi gravado. Trata-se de uma recriação minha, que foi escrita em um dos meus diários de campo logo após a conversa com Leonardo e Alex.

limpo e organizado. O outro era R$20,00 pelo mesmo tempo, mas era mais sujo. Ele disse preferir o mais caro, sentia-se melhor por lá. Conversamos mais um pouco lá pela praça e nos despedimos.

Apesar de a prostituição de rua não ser meu foco nessa tese, essas cenas foram importantes para conhecer um pouco a dinâmica desse território pelo qual muitos dos garotos que atuam nas saunas já passaram, pelo menos em algum momento de suas vidas. Experienciar um pouco as movimentações dessa rede de circulação por onde muitos garotos atuam foi importante para começar a perceber que os boys não estavam restritos a uma única territorialidade. Tendo apresentado um pouco esse cenário das ruas, a seguir passo a narrar um pouco sobre as saunas, um dos pontos de territorialização do trabalho sexual com os quais tive mais contato.

4.3. Saunas, territórios do prazer: algumas notas sobre a