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Saunas, territórios do prazer: algumas notas sobre a

4. AGENCIAMENTOS ERÓTICOS: TERRITÓRIOS, CORPOS E

4.3. Saunas, territórios do prazer: algumas notas sobre a

Apresento aqui algumas anotações relativas à configuração e formatação espacial das saunas onde realizei observações de campo e onde também realizei entrevistas em profundidade com meus interlocutores. Essas notas são relativas, portanto, às saunas de Porto Alegre (RS), Curitiba (RS), Florianópolis (SC) e São Paulo (SP). Não me aterei aqui às saunas que visitei em “viagens de reconhecimento”, como as do Rio de Janeiro (RJ) e de Recife (PE). Apesar de as visitas a esses estabelecimentos nessas últimas cidades terem me proporcionado algumas experiências interessantes que me ajudaram a pensar sobre os fluxos e os códigos operantes em saunas de diversas localidades, resolvi focar apenas naquelas onde puder dialogar mais com os garotos. Saliento, no entanto, que as visitas em todas as saunas geraram anotações em diários de campo, que foram úteis na composição das cartografias.

As notas que se seguem têm um teor mais descritivo/narrativo e foram organizadas a partir da reelaboração e reorganização dos meus diários de campo. Achei importante fazer essa apresentação mais descritiva, pois considero que as saunas funcionam como importantes pontos de territorialização do trabalho sexual e como significativos espaços de subjetivação sexual (PRECIADO, 2008b).

Porto Alegre (RS)

Cheguei em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no meio de uma tarde quente. Viajei de ônibus, partindo de Florianópolis, e como não estava cansado da viagem, resolvi ir à sauna nesse mesmo dia. Já tinha pesquisado na internet em quais saunas da cidade eu poderia encontrar garotos de programa trabalhando. Descobri, através de alguns sites, que havia pelo menos duas saunas mais conhecidas na cidade que ofereciam serviços de boys. Acabei escolhendo visitar somente uma delas, pois segundo vários comentários de clientes em sites de divulgação de saunas, essa seria onde haveria maior concentração de boys, portanto maior possibilidade de interlocução no campo.

Ao chegar ao local, já me impressionei com o tamanho do estabelecimento. Era uma grande construção, como um grande galpão, com uma fachada discreta (como sempre, sem grandes chamativos que descrevessem qual tipo de atividade comercial funcionava por lá). No site da sauna, já somos informados que o local é realmente grande: “Mais de 1000 mts. quadrados para seu divertimento”, anuncia-se já na página inicial do site. O site do estabelecimento também ostenta a descrição de que se trata da “Melhor sauna masculina do sul do país”.

Percebi uma sauna que tinha certo clima de glamour. Sua fachada apresentava uma arquitetura moderna e elegante, diferente de outras saunas que conheci que muitas vezes ficam em lugares mais escondidos, em zonas da cidade mais pobres e com uma arquitetura mais simples. Antes de entrar no estabelecimento, notei que à frente do local, no estacionamento destinado aos clientes, havia vários carros de luxo estacionados. Essa composição entre fachada arquitetônica e carros me fez deduzir que se tratava de um local freqüentado por pessoas de classe média/alta. Outra informação presente no site do local também já indica o público que o estabelecimento pretende atingir:

“A [sauna] proporciona tudo que o homem gay moderno deseja, na companhia dos mais belos e sensuais rapazes no sul do País.

Fala-se: Inglês, Frances, Alemão, Espanhol, Italiano, Holandês e Hebraico.

Tudo isto por apenas R$ 35,00 de entrada”

"[...] foi a primeira sauna no Brasil, construída com o objetivo de proporcionar

entretenimento adulto num ambiente de conforto, de higiene, de discrição

Nota-se, aparentemente, uma intenção de criar a imagem de um estabelecimento que recebe pessoas de outros países (o que de fato pude confirmar ao entrar no local e ver alguns estrangeiros circulando e também quando os boys me falaram sobre a diversidade da clientela). A expressão “gay moderno” me parece ser uma forma de tentar promover certo distanciamento daquela imagem do “viado que procura sexo em locais mais undergrounds ou mais marginais”. O “gay moderno” não precisaria recorrer aos encontros clandestinos em parques ou banheirões, nem frequentar aquelas saunas ou cinemões mais “precários”. O mercado gay – ou o pink money – reconstrói e reconfigura os territórios de circulação homoeróticos, veiculando e reforçando algumas homonormatividades, ainda que vários dos sujeitos que tensionam determinadas homonormas também circulem e consomem esses espaços.

Ao entrar, não percebi nada muito diferente de nenhuma outra sauna que já conheci. Algo, no entanto, me surpreendeu: na recepção, uma mulher me recebe para me dar a chave do armário e fazer meu cadastro. A figura da mulher foi uma surpresa para mim, pois dentre as minhas experiências em saunas eu raramente vi mulheres trabalhando no seu interior. Após me aproximar mais da recepcionista e conversar um pouco com ela, notei que era uma mulher trans56.

Após a conversa com a recepcionista, o ritual de sempre: passo na recepção, pego uma chave com o número do armário onde vou guardar minhas coisas e que também funciona como “comanda” de tudo que eu for consumir no bar. Recebo duas toalhas, um par de sandálias, sigo para a área do vestiário com os armários, tiro a roupa, guardo

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As grandes saunas, como espaços freqüentados hegemonicamente por homens cisgêneros, raramente permitem o acesso de mulheres transexuais e/ou travestis, salvo algumas exceções, quando estas podem entrar em tais locais com a finalidade de entreter os clientes, atuando como drag-queens. Achei interessante ver essa mulher trans trabalhando na recepção, haja vista que a população trans é sumariamente excluída do mercado de trabalho. A Chilli Peppers, uma das maiores e mais famosas saunas da cidade de São Paulo (mas que não permite o trabalho de garotos de programa no seu interior), ganhou destaque, em alguns sites voltados ao público LGBT, por admitir profissionais transexuais em seu quadro de funcionários/as. Mais informações sobre as funcionárias trans da sauna Chilli Peppers, podem ser lidas no site:

minhas coisas no armário, me enrolo na toalha e sigo para outros ambientes.

Nessa sauna, como nas outras onde entrevistei garotos de programa (Florianópolis, Curitiba e São Paulo), os boys não podem acessar a parte do vestiário, onde os clientes se trocam. É como se fosse um “espaço neutro”, onde o boy ainda não pode interagir com o cliente, que ainda está se “preparando” para entrar na “zona de consumo”. Alguns boys, no entanto, ficam esperando, estrategicamente, na saída desse “espaço neutro”, já com a intenção de se apresentarem aos clientes que estão chegando.

Quando saí da área do vestiário para seguir para os outros ambientes, já fui abordado por vários garotos que, de modo muito simpático (como bons vendedores), procuram se apresentar, puxar papo, envolver o cliente num certo jogo inicial de sedução. Muitos cumprimentam os clientes com um beijo no rosto e com abraços, insinuam o volume do “dote” (pênis) por debaixo da toalha. Toda uma performance erótica já se estabelece nesse momento, inserindo e/ou iniciando o cliente no jogo dos códigos-território locais. Esse momento parece ser importante tanto para os clientes habituais, que reencontram os boys com quem já estabeleceram contatos em ocasiões anteriores, como para os novos clientes, que muitas vezes chegam meio perdidos e precisam de um quebra-gelo para se sentirem mais à vontade.

Depois de algumas abordagens iniciais, segui meu caminho para explorar o ambiente. Entre a área do vestiário e o saguão central havia um corredor pelo qual os clientes passavam. Nas paredes desse corredor, mais boys exibindo seus corpos, se masturbando, com o pênis à mostra. Mais abordagens, mais investidas. Muitos me param, converso com alguns, apresento-me, falamos sobre coisas triviais. Entre conversas e tentativas de conquistar um novo cliente, mais abraços, mais exibição dos dotes. Alguns boys são mais contundentes na abordagem. Durante a conversa se aproximam mais, pedem para que toquem em seus pênis semi-eretos... Continuo meu caminho, reconhecendo os afetos eróticos que o território mobiliza e apreendendo os jogos dos códigos envolvidos nas negociações do sexo que se vende.

Passando pelo corredor, chego ao saguão central, onde se encontra o bar, um pequeno palco onde ocorrem shows de stripers, o acesso às saunas (seca e à vapor) e aos chuveiros. Mesas e cadeiras de bar ficam dispostas pelo saguão, onde os clientes bebem, comem, conversam entre si e eventualmente com outros boys. Noto algumas “rodinhas” de clientes e outras de boys.

Depois de conhecer o saguão, sigo caminhando para o segundo andar, onde se encontram algumas salas nas quais são exibidos filmes pornôs (hétero e gay), e onde se concentra uma grande quantidade de boys e clientes. Nesse piso é onde ficam os quartos privativos que são alugados pelos clientes e onde se realizam os programas. O cliente que quer pagar pelo programa negocia com o boy, vai até a recepção, pega a chave de um quarto e fica lá o tempo que achar necessário. O aluguel do quarto é por hora e é pago quando o cliente vai acertar sua conta na recepção. O dinheiro do programa é pago diretamente para o boy que ofereceu o serviço, não havendo nessa transação nenhuma mediação da administração da sauna.

O clima do segundo piso é um pouco diferente do saguão central. Clientes e boys parecem estar mais focados na busca e oferta do programa. Alguns boys passam um tempo se masturbando nas salas de vídeo pornô hétero, buscando, aparentemente, ficar excitados com o que vêem. Os vídeos excitam os boys que precisam mostrar um pênis sempre à disposição sexual, e os boys, que se masturbam com o pornô hétero, excitam os clientes, que têm acesso a essas salas e ficam admirando a cena, possivelmente fantasiando sobre a aparente heterossexualidade daquele garoto que pode lhe oferecer um encontro (homo)erótico. Jogos de fetiches que criam uma atmosfera pornográfica fora da tela e que compõe um quadro luxurioso, mobilizando fantasias e instigando o desejo do consumo sexual.

No mesmo andar, em outra sala de vídeo, filmes pornográficos gays são exibidos. Nessa sala é mais freqüente encontrar apenas os clientes, que ficam sentados ou de pé, por vezes descansando ou também se masturbando. O lugar, à meia luz, produz uma atmosfera um pouco abafada. A comunicação nessa zona do estabelecimento é menos verbal e muito mais corporal. Ouve-se o som dos atores do pornô na televisão, que performam um sexo quase teatral e estimulam o tesão que passa a percorrer o ambiente como um contágio. Vídeo pornô, televisão, música eletrônica, corpos nus e semi-nus, gemidos dos que já estão nos quartos usufruindo do programa, toques mútuos, alguns homens conversando baixinho próximo ao ouvido, sussuros, boys discretamente trocando informações entre si sobre um cliente ou outro, boys tentando negociar com os clientes que transitam nos corredores, boys exibindo seus dotes, boys abraçando clientes num ritual de provocação sexual, certos de que essa é uma das estratégias que catalisa a decisão do cliente em pagar pelo serviço sexual. Uma paisagem que não parece se diferenciar muito de uma feira ou um mercado público, a não ser pelo

produto vendido (a prática sexual), e pelas formas de se anunciar o que se vende, onde o corpo erótico, a “lábia” e o tesão são elementos decisivos57.

Sigo meu caminho para o terceiro e último andar. Lá se encontra o terraço, uma parte aberta para fumantes e outro bar. É um ambiente de encontros parecido com a área do saguão central, porém com algumas diferenças. A música é menos intensa, a circulação de pessoas é menor e o clima parece “menos sexual” (mas não menos erótico). Nesse lugar converso com alguns clientes, boys e com o barman, tomo uma cerveja e observo com mais calma algumas interações entre boys e clientes que vão além das práticas sexuais. Circulei bastante por essa sauna e pude conversar com vários garotos e clientes.

Curitiba (PR)

Em minha passagem por Curitiba, acabei escolhendo como campo de observação uma sauna localizada em um bairro da região central de cidade. O critério para ir diretamente nessa sauna foi o mesmo usado na sauna de Porto Alegre e de São Paulo: busquei por informações em sites que me orientassem sobre quais das saunas de cada uma dessas cidades havia mais garotos de programa trabalhando e circulando.

O nome desta sauna é uma referência ao número da casa onde ela está localizada. A estratégia de dar à sauna o mesmo nome do número da casa ou, em alguns casos, o mesmo nome da rua onde ela está localizada, é uma prática bem comum no Brasil. No caso específico dessa sauna, a numeração da casa já serve como um sinalizador de que a sauna é ali, ajudando novos clientes a encontrar o local que, como as saunas em geral, não possui placas ou outdoors que indiquem sua existência.

Esse estabelecimento é mais modesto que o de Porto Alegre. Trata-se de uma casa comum, que foi transformada e adaptada para funcionar como sauna. Dificilmente um transeunte desinformado que passa pela rua pode deduzir que ali funciona um espaço destinado a

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No capítulo sete retomarei o tema da exibição corporal, do imperativo da excitação, da lábia nas negociações e da fabricação do corpo sexual entre os garotos de programa.

práticas sexuais e à prostituição masculina. Como a maioria das saunas gays, a descrição e invisibilidade do estabelecimento parece se constituir como um elemento necessário para agregar aqueles clientes que não podem (ou não querem) ser vistos nessas cenas/espaços sexuais da cidade. A sauna fica em um bairro de classe média/alta de Curitiba, em uma região muito arborizada, na área central da capital paranaense. As casas do entorno da sauna são grandes, algumas bastante luxuosas. A localidade parece indicar um distanciamento daqueles espaços urbanos tradicionalmente associados ao sexo, à prostituição, à clandestinidade, à boemia, à luxúria e à marginalidade, como as “regiões morais” (PARK, 1973), os “guetos gays” (LEVINE, 1998) e as “bocas” (PERLONGHER, 2008). Certamente esses espaços mais marginais ainda existem nos grandes centros urbanos e possibilitam o funcionamento de certas políticas eróticas e sexuais muito singulares. Mas é importante sinalizar aqui como alguns estabelecimentos, antes restritos a zonas menos elitistas e higienizadas, passam a ocupar regiões mais “nobres” e mais ricas da cidade.

Adentrando à sauna, fica muito evidente a adaptação arquitetônica destinada ao funcionamento deste tipo de negócio. O local, antes uma casa, passa a funcionar como sauna com a reorganização do espaço e da estrutura interna. O lugar é bem amplo, com uma área central onde fica o bar, um jardim interno, mesas e cadeiras. As saunas (seca e à vapor) ficam mais aos fundos. Há também os “quartos de massagem” (onde os programas são realizados), “sala de relax”, sala de TV e computadores com acesso à internet. O espaço externo para fumantes, que seria o quintal da casa, foi onde eu realizei as entrevistas, seguindo a sugestão dos próprios garotos. Esse ambiente era mais calmo, mais silencioso e com menor circulação de pessoas.

Comparativamente à sauna de Porto Alegre, na de Curitiba havia uma presença menor de boys e de clientes, ainda que houvesse uma quantidade razoável de garotos. Conversando com um dos boys que trabalhava no local, descobri que essa sauna poderia ser considerada “mista”, ou seja, a interação sexual entre clientes com outros clientes aparentemente não causava nenhum constrangimento entre os boys. O mesmo garoto me disse que havia alguns dias da semana que a sauna era destinada apenas aos clientes e que, nesses dias, os boys não podiam frequentar o lugar.

A atmosfera interna dessa sauna me pareceu menos “glamorosa” do que a de Porto Alegre, talvez porque ostentasse menos

luxo e porque tinha uma organização e estrutura mais simples. O clima era bem mais calmo e um pouco mais intimista.

Florianópolis (SC)

Em Florianópolis, cidade onde resido, encontrava-se a sauna que pude frequentar por mais vezes. Porém, no começo de 2015, quando voltei do meu estágio doutoral no exterior, descobri que ela havia fechado, o que me impossibilitou de continuar fazendo observações de campo por lá. Florianópolis possuía apenas duas saunas gays em funcionamento, sendo que somente uma delas permitia a prática da prostituição no seu interior. Com o fechamento desta sauna, os boys que trabalhavam naquele local tiveram que encontrar outras formas de oferecer seus serviços, seja pela internet, nas ruas, por aplicativos de celular, apartamentos privados ou em algumas casas de massagem.

Essa sauna ficava num grande galpão antigo. Ao lado desse estabelecimento, havia uma igreja evangélica que funciona em um espaço com uma arquitetura quase idêntica a da sauna, pelo menos no que diz respeito à fachada. A impressão que temos é que ambos os galpões foram construídos no mesmo período e, posteriormente, serviram para propósitos diferentes.

A igreja evangélica e a sauna ficavam localizadas na rua de trás de uma famosa casa noturna de shows, descrita pelo seu site como “a primeira casa de luxo voltada para o sertanejo de Santa Catarina”. Tal espaço é conhecido como um lugar de classe média/alta na cidade. Os altos preços de entrada no estabelecimento já indicam uma marca de classe que “seleciona” quem pode pagar e frequentar o local. De acordo com as informações do site do estabelecimento, homens com nome na lista pagam R$50,00 e mulheres R30,00, e sem nome na lista, homens pagam R$100,00 e mulheres R$60,00. Anexo a este estabelecimento, há também uma estrutura que funciona como um espaço para sediar festas de formatura, casamentos, bailes, aniversários e eventos corporativos, além de shows de grandes nomes do cenário artístico nacional e internacional.

O fato de uma sauna gay que abriga garotos de programa estar ao lado de uma igreja evangélica e na rua de trás de uma casa noturna considerada de “luxo”, parece apontar para um “borramento” das fronteiras do que muitos autores consideram como territórios específicos para a prática da prostituição. A partir da localização de todas as saunas

nas quais realizei as observações, considero que noções como gueto gay (LEVINE, 1998), territórios homossexuais (BARBOSA DA SILVA, 1959), região moral (PARK, 1973) ou mesmo as bocas (PERLONGHER, 2008), parecem categorias que precisam ser relativizadas. A localidade da sauna e suas vizinhanças sugerem que diferentes grupos podem estar circulando num mesmo espaço urbano, sem que fronteiras radicalmente delimitadas marquem a divisão de zonas específicas para modos de sociabilidades bastante distintos. O funcionamento de algumas territorialidades, especialmente aquela que se constitui a partir da sauna, pode ser invisível aos olhos de muitas pessoas. Na sauna de Florianópolis, por exemplo, algumas das vezes em que eu saí do estabelecimento coincidiram com o momento do fim do culto da igreja evangélica, de modo que as “bichas”, os “bofes” e os “boys” acabavam cruzando com os crentes na rua e na calçada.

A forma arquitetônica de um grande galpão se assemelha muito à sauna de Porto Alegre, com a diferença de que naquela sauna o prédio é uma construção bem moderna e esteticamente mais glamurosa. O galpão antigo da sauna de Florianópolis era bem mais simples e modesto, porém também bastante amplo no seu interior. Sua fachada era discreta, sem grandes anúncios. Algumas vezes notei algum informativo impresso em uma folha de sulfite e anexado à porta de entrada.

Ao entrar no espaço de circulação comum onde se localizava um bar, há uma grande área de sociabilidade, com algumas mesas de bar e uns sofás. Nessa sauna os boys usavam uma toalha vermelha e os clientes ficavam com uma toalha branca, de modo que esse código facilitava a diferenciação entre boys e clientes. A parte superior da sauna era como um mezanino, onde ficavam localizadas as cabines com camas nas quais os programas eram realizados, um labirinto (uma construção com tapumes de madeira) e cabines menores, sem camas, onde clientes podiam circular e interagir sexualmente. Um dos boys me disse que na área do labirinto os boys não podiam circular, de modo que ali era um espaço exclusivo para os clientes que quisessem interagir entre si. Havia também na parte do mezanino uma sala de vídeo onde, como na maioria das saunas, ficavam sendo projetados vídeos pornôs. Nessas salas também era comum encontrar boys se masturbando e assistindo vídeos