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1. INTRODUÇÃO

1.6. O Contexto e seus efeitos sobre o desempenho e competência

1.6.1. O microssistema Família

Estudos envolvendo o nível socioeconômico da família e o desempenho de crianças indicam que quanto melhor o nível socioeconômico de um aluno, maior a probabilidade de ter um melhor desempenho e competência acadêmica.

Bandeira et al (2006c) corroboram esta indicação, pois encontraram correlação positiva entre o nível socioeconômico e a competências acadêmica, bem como maior escolaridade dos pais e competência acadêmica. Assim como o estudo realizado por Gardinal-Pizato, Marturano e Fontaine (2012) no qual o nível socioeconômico também foi associado a indicadores de desempenho e competência acadêmica e o de Piccolo et al (2012) que verificou associação entre fatores psicossociais e leitura, em estudo longitudinal.

Alves e Soares (2007), em estudo com 553 alunos que foram avaliados em matemática e português no início e no fim do 5º ano e ao final do 6º ano, encontraram que alunos matriculados em turmas com melhor nível socioeconômico obtiveram mais ganhos em matemática e português, mesmo sendo pequena esta diferença socioeconômica. Os autores sugerem que as diferenças são melhor explicadas por variáveis associadas à estrutura social da sala de aula, adotada seja pela escola ou sistema educacional, como por exemplo as turmas formadas com base na habilidade de leitura. Em outro estudo longitudinal (Alves & Soares, 2008), os autores verificaram que as crianças com melhor nível socioeconômico tiveram melhor desempenho inicial, ao passo que alunos com nível inicial mais baixo, em média, tiveram mais ganhos de desempenho ao longo dos anos, embora as diferenças de persistissem no final do estudo.

Trabalhos que investigam propriedades do microssistema familiar, além do nível socioeconômico, têm demonstrado que recursos do ambiente familiar (Baggio, 2010; Ferreira & Barreira, 2010; Moreira, 2006) e a relação estabelecida entre os membros adultos e a criança (Moreira, 2006) também apresentam associação direta com o desempenho acadêmico.

Baggio (2010), avaliando 71 alunos de 6ª e 7ª séries, encontrou que grupos com desempenho médio e superior no TDE apresentam mais recursos no ambiente familiar. Moreira (2006) realizou uma investigação que envolvia o resgate parcial da história de vida familiar e escolar de crianças na 4ª série com alto e baixo rendimento. A autora concluiu que o grupo com alto rendimento acadêmico além de mais atividades de leitura, realizavam mais passeios e programas junto com os pais, enquanto que o grupo com baixo rendimento passou por mais eventos estressantes.

Um estudo longitudinal foi realizado por Targartt, Sylva, Melhuish, Sammons, e Siraj- Blatchford (2011) na Inglaterra nos anos de 1997 a 2008, em um projeto denominado Effective Provision of Pre-School And Primary Education – EPPE – o qual envolveu o acompanhamento da trajetória de desenvolvimento de cerca de 3 mil crianças na Inglaterra a partir dos 3-5 anos de idade. Numa primeira fase o objetivo foi investigar a influência de fatores relacionados à pré-escola, criança, família e aprendizagem em casa, sobre o desenvolvimento cognitivo e sociocomportamental até a idade dos sete anos. Em uma segunda fase as crianças eram acompanhadas durante o primário até os 11 anos de idade, depois dos 11 aos 16, com a previsão de término do projeto no ano de 2013. Os autores concluíram que “o que os pais fazem é mais importante do que quem eles são” (p.83) sugerindo que escolas ofereçam apoio e orientação aos pais, já que os resultados encontrados mostraram que a qualidade do ambiente de aprendizagem em casa é mais fortemente associada ao desempenho acadêmico das crianças do que o nível socioeconômico ou a escolaridade da mãe.

Resultados semelhantes foram encontrados por Ferreira e Barreira (2010) que apesar de encontrar associações do desempenho de crianças em idade pré-escolar com recursos do ambiente familiar e com a escolaridade materna e não observou associações com nível socioeconômico. Assim como Mazetto-Betti (2007) que ao caracterizar a clientela atendida em um ambulatório de psicologia de uma universidade, investigando quais características da criança e da família são relevantes para o desempenho escolar, encontrou que as crianças com melhor desempenho tinham mais recursos e vivenciaram menos adversidades e suas mães tinham mais escolaridade.

O efeito das interações das crianças com seus pais também foi considerado por Costa, Cia e Barham (2007) ao compararem dois grupos de 25 crianças - um que vivia com ambos os pais e o outro que vivia apenas com a mãe, quanto ao desempenho escolar, por meio do TDE, e quanto à qualidade da interação familiar na percepção dos filhos. Nos resultados, as crianças que viviam com ambos os pais tinham melhor desempenho, porém não houve diferença entre os grupos considerando o envolvimento materno. Obteve-se correlação entre o desempenho escolar e envolvimento materno somente no grupo de alunos com estrutura familiar monoparental, salientando um importante papel dos pais para o aprendizado de seus filhos.

Estes dados corroboram os encontrados por Cia, D`Affonseca e Barham (2004) que verificaram que quanto maior o envolvimento dos pais nas atividades escolares, culturais e de

lazer e comunicação entre pais e filhos, maior o desempenho acadêmico. O estudo foi realizado com 58 díades pai-criança, que frequentavam 5ª e 6ª séries do EF.

Santos e Graminha (2005) compararam um grupo de 20 crianças consideradas com alto desempenho acadêmico por seus professores, e outro grupo de crianças com baixo rendimento acadêmico, em termos de características familiares. Constataram que no grupo com alto rendimento as famílias ofereciam mais materiais e estímulos para o desenvolvimento das crianças e as mães participavam mais das reuniões escolares; já no grupo com baixo rendimento as famílias apresentavam menor nível socioeconômico e a escolaridade dos pais também era mais baixa.

Em estudo prospectivo realizado por Marturano, Trivellato-Ferreira e D’Ávila Bacarji (2005), no qual avaliaram no início do EF, o ambiente familiar de 70 crianças por meio do Inventário de Recursos do Ambiente Familiar – RAF (Marturano, 2006), os resultados mostraram que disponibilidade de brinquedos e materiais educativos, variedade de atividades de lazer e oportunidade para interagir com os pais em casa foram associados à competência social da criança na 1ª série, seis meses depois. Analogamente, o desempenho na 1ª série foi associado a diversas classes de recursos do ambiente familiar, avaliados previamente: passeios, disponibilidade de brinquedos, supervisão para a escola, diversidade de livros em casa.

Leme (2011) investigando práticas educativas, recursos do ambiente familiar e habilidades e competência acadêmica de crianças com composição familiar diferente, encontrou que além das práticas educativas dos pais, a qualidade da relação com o pai biológico são preditores para competência acadêmica.

Os dados dos estudos apresentados nesta seção reafirmam que algumas características de alunos podem atuar como Recursos e Disposições Seletivas. Também permitem reafirmar a premissa do Teoria Bioecológica de desenvolvimento de que um microssistema influenciar outro – mesossistema. Mais especificamente, fica clara a contribuição do contexto familiar para o desempenho e competência acadêmica de alunos nas séries iniciais, com efeitos a curto e longo prazo.

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