• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO

3.4 MINERAÇÕES DE OURO

Os primeiros registros da primeira corrida do ouro no Brasil se deu em Minas Gerais (final do século XVII) e indicam que esta se iniciou na bandeira de Fernão Dias Paes Leme, com início em São Paulo até chegar ao Rio das Velhas. Segundo Eschwege (1833) foi no Rio das Velhas que se encontraram as primeiras pepitas de ouro, associadas ao paládio oxidado, que, posteriormente, deu o nome atual à cidade de Ouro Preto.

A princípio, as jazidas de ouro foram encontradas em depósitos aluvionares em que não havia necessidade especial de processos para se recuperá-lo. Conforme Abreu (1973) descreve, a lavra era realizada pelo processo de catação, pois o ouro estava livre, separado da canga, em pó ou em pepitas e acumulado naturalmente. Por não necessitar de aparelhagem específica, a mineração nos primeiros tempos se deu e se esgotou rapidamente.

Segundo Eschwege (1833) o processo de catação de ouro nos córregos se dava de forma rudimentar, com a utilização de pequenas vasilhas para retirar areias desses canais onde havia uma separação do ouro, uma vez que este metal é mais denso que outros sedimentos e, portanto, fica acumulado próximo a área fonte (serras).

Nessa fase inicial a extração aurífera era realizada principalmente pelos homens livres e pobres e alguns escravos, pois era um meio livre e qualquer pessoa poderia se apossar deste trabalho, conforme Rugendas (1956) descreve, “a maioria gasta todo o lucro na venda próxima, em aguardente”. Nos vales, o escoamento da água dos serviços minerários poderia ser feito por meio de carumbés, carregados por escravos, ou com o uso dos rosários – engenhos de rodas d’água para drenagem das lavras.

Com a mão de obra escrava, foram introduzidas as bateias de madeiras, arredondadas e pouco fundas, que facilitam a separação do ouro, mais denso, dos sedimentos menos densos. Também houve a adesão do uso das chamadas “canoas”, em que um canal secundário era aberto nas margens dos rios, facilitando o trabalho com o material de fundo desses fluxos de água. O processo de bateamento começava quando os negros entravam no leito dos rios e mergulhavam a bateira enchendo-a de cascalhos. Com movimento circulares, o ouro acabava por ser concentrado no fundo da bateia e o cascalho era então descartado. (Paula 2013).

Segundo Paula (2013), os depósitos auríferos encontrados em serras, encostas e terraços, para serem explorados, requisitavam de água, que era levada através de um canal principal de onde partiam outros, chamados aquedutos. A água ajudava na desagregação do solo, rico em ouro. Este procedimento

Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016

23

também foi utilizado quando se tinham evidências de ouro nos veios de quartzo, no contato entre as rochas mais friáveis (filitos e xistos, base das serras) das menos friáveis (itabiritos, topos de serra).

Para realizar as atividades de mineração a céu aberto, desenvolveu-se a técnica de se lavrar e desmontar as terras com água superior aos tabuleiros altos. Este sistema reproduzia o "funcionamento da natureza", pois era comum que, nas épocas de chuvas, os morros se desmoronavam nas partes altas e as terras assim acumuladas mais abaixo se retiravam, depois de escavadas, os cascalhos aos quais o ouro se encontraria misturado. (Gonçalves 2004)

Gonçalves (2004) descreve as dificuldades nesse tipo de lavra do ouro, pois as instalações exigidas para os desmontes, a depender da localização das terras minerais, eram bastante onerosas e consistiam em conduzir a água através de penhascos e montes por jiraus de madeira de lei que sustentavam bicas fechadas até ou alcatruzes (manilha ou tubo com que se faz a canalização da água) até que chegassem aos pontos onde o ouro se encontrava.

Estas explorações acabaram por transformar a paisagem deixando registros da atividade humana sobre o meio natural, uma vez que morros inteiros foram descaracterizados. É escopo deste trabalho a análise dessas transformações, tendo em vista os vestígios de aquedutos, desmontes e deposição de material gerado pela mineração ao longo do Anticlinal de Marina.

De acordo com Abreu (1973), apenas quando este ouro chegou na fase de quase esgotamento é que se partiu para a extração do ouro em jazidas de rochas duras, onde foi necessário construir algumas galerias e explorar a rocha matriz ou lavar terras de baixo teor.

Para se lavrar o ouro nas serras, escolhia-se os contatos entre os filitos e os itabiritos, onde se formaram os veios hidrotermais e onde o ouro foi precipitado durante os eventos metamórficos. A prospecção era feita de forma intuitiva, já que o conhecimento geológico da região não era de domínio dos mineiros.

A lavra começava com aberturas de canais perpendiculares às serras até atingir uma camada ou veios, escorando as rochas friáveis com estacas e mourões, que serviam para aliviar as tenções do material rochoso e serviam para direcionar o escoamento de águas. Ao se atingir essas camadas, eram realizadas aberturas de pequenos buracos (cavernas) em que era necessário que os mineiros passagem agachados para fazer a extração do ouro. Quando as rochas eram mais resistentes, era possível a abertura de grandes túneis e galerias que iam até o filão aurífero. Este processo requeria o serviço de diversos escravos que transportavam o ouro retirado em carumbés nas cabeças ou por carrinhos.

Andrade (2012) faz um relato importante sobre os estilos de mineração de ouro nas Minas Gerais do século XVIII, em que cita autores como Roberto Simonsen e Caio Prado Júnior que dizem haver uma tendência em se relacionar a evolução das minas de ouro e a produção do metal com a capacidade e

24

habilidade técnica dos mineradores/trabalhadores na exploração das reservas auríferas naturais. De acordo com esses autores, o auge e a crise das explorações resultaram da situação e do esgotamento das lavras ou, mais precisamente, do atraso tecnológico e das práticas exploradoras irracionais que então se observavam.