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CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO

3.3 TECNÓGENO E A GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA

Os primeiros estudos no Brasil que passaram a adotar uma abordagem tecnogênica se deram a partir da década de 1990, com os trabalhos de Oliveira et al. (2005), Nolasco (2003) e Peloggia (1998, 2005).

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Segundo Korb (2006), o termo Tecnógeno, foi introduzido pela escola russa com os estudos de Chemekov e Ter-Stepanian quando se referiam às circunstâncias geológico-geomorfológicas atuais, cuja ação humana ganha um importante significado nos processos da dinâmica externa da Terra quando comparada aos processos anteriores.

Os trabalhos sobre o Tecnógeno estão relacionados com o reconhecimento, caracterização, compreensão e avaliação das transformações dos recursos ambientais a partir a intervenção antrópica. (Andrade 2012).

As ações humanas que transformam o meio geológico, desde a produção agrícola e pastoril denominada Revolução Neolítica, vêm sistematicamente se intensificando, resultando em espaços profundamente modificados, como as regiões agrícolas, mineradas e industrializadas; indicando assim que o Holoceno poderia ser considerado uma transição entre o Pleistoceno e o Tecnógeno (Pedrosa 2007).

Conforme Zalasiewicz et al. (2008), Zalasiewicz et al. (2011) e Hooke (2006), do início da Revolução Industrial até os dias atuais, a população humana global cresce exponencialmente, aumentando a necessidade e, consequentemente, a exploração dos recursos naturais. Ainda segundo os autores, mesmo se tendo provas e evidências que comprovam a intensidade que a ação humana modifica as condições ambientais originais no Holoceno, é ainda precoce reconhecer, do ponto de vista estratigráfico, que o Quaternário tenha chegado ao fim.

A humanidade tornou-se um fator transformante das configurações espaciais do Planeta, servindo como objeto de estudo de pesquisas atuais que buscam esclarecer e entender como a ação geomórfica antrópica tem alterado as formas de relevo e seus processos condicionantes.

De acordo com Peloggia (1998) e Fujimoto (2005), a intervenção antrópica na dinâmica da natureza pode ocasionar em algumas consequências para o ambiente. Essas consequências podem ser agrupadas em três níveis de abordagem, sendo que o primeiro nível está associado a ocorrência de transformações no relevo, mais especificamente em sua forma. O segundo nível é referente às alterações na dinâmica geomorfológica, ou seja, nos processos geomorfológicos. O terceiro nível é relativo à formação de depósitos que podem ter sido desenvolvidos devido a dinâmica antrópica imposta ao meio, depósitos esses denominados tecnogênicos.

Peloggia (2005) diz que, uma paisagem qualquer, natural ou não, pode sofrer processos degradativos tecnogênicos, que são aqueles onde há mobilização de material geológico, produzindo formas de primeiro tipo, como vertentes ravinadas e terrenos com rampas. Segundo Fujimoto (2005), é possível identificar também sulcos erosivos, cones de dejeção ou cicatrizes de solapamento, produzidos por processos tecnogênicos.

Entretanto, ao contrário da degradação, os processos tecnogênicos também podem gerar depósitos tecnogênicos construtivos, quando há acumulação de material geológico, seja de forma direta

Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016

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(meios mecânicos) ou de forma indireta (como resultado da degradação) gerando formas como aterros, morrotes artificiais, planícies aterradas e planícies tecnogênicas (Fujimoto 2005).

Segundo Suertegaray (2002), os depósitos tecnogênicos são resultados de processos bastante intensos, ou seja, eles se formam em curtos períodos temporais e ocorrem devido a fenômenos pontuais na escala planetária. Estes depósitos representam mudanças mais rápidas que as ocorridas em períodos geológicos anteriores.

As mudanças provocadas pelo homem sobre o meio natural impactam de maneira positiva e/ou negativa, a estrutura e a geomorfologia de diversos ambientes em diferentes escalas. Essas transformações ocorrem, na perspectiva do tempo histórico, de maneira rápida, e, por vezes, acarretadas em função das novas conformações do espaço, suprindo às demandas sociais, políticas e econômicas sobre os recursos ambientais. (Andrade 2012).

As alterações antrópicas da paisagem que hoje permeiam o Planeta não têm precedentes geológicos e históricos, podendo ou não representar uma transição irreversível para uma nova paisagem. Sendo assim, prever o futuro quanto ao caminho da paisagem será de grande importância, ajudando na capacidade de antecipar, influenciar, reagir, ou capitalizar sobre o futuro (Haff 2001; Wilkison 2005).

Quando se discute sobre a ação do homem na configuração da paisagem o uso dos termos tecnógeno, antropogênico, antropogeomorfologia existe um duplo significado, a depender da escolha do autor. Estes termos podem se referir a um novo período geológico ou aos processos ou feições criadas pelo homem, ou ainda, como no caso deste trabalho, para ambos os sentidos.

Geomorfologia Antropogênica é o estudo do papel dos seres humanos na criação e/ou modificação de acidentes geográficos e a sua capacidade de alterar processos geomorfológicos como intemperismo, erosão, transporte e deposição (Szabó et al. 2010). A partir da demanda da população, seja por necessidades espaciais ou materiais, novos territórios e recursos são explorados, novas tecnologias são adotadas e o impacto dos seres humanos no meio natural se torna cada vez maior, gerando estas novas geoformas.

Szabó et al. (2010), utilizando dos estudos de Haigh (1978), diferenciaram e classificam as geoformas antropogênicas de acordo com sua origem em dois grupos. No primeiro grupo estão relacionadas as formas de origem direta, ou seja, geradas por processos construtivos e pelas escavações, como na exploração de bens minerais. No segundo grupo estão aquelas geradas de forma indireta, como em ações que o homem altera características do meio e este passa a sofrer por processos geológicos dos quais não sofria antes, como formas erosivas aceleradas, os assoreamentos e entulhamentos e as rupturas de taludes.

Uma outra classificação, segundo a gênese das geoformas, foi proposta por Dávid (2010 in Szabó et al. 2010) em que se distingue três tipos de forma: as de escavações, que são formas negativas; as de acumulações, que são formas positivas; e, ainda, as formas originadas pela retirada de material

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causando aplainamento de superfícies. O autor faz uso da classificação de acordo com as dimensões das formas antropogênicas, utilizando dos termos macroformas, mesoformas e microformas.