• Nenhum resultado encontrado

5 Análise da configuração Organizacional Administrativa do Movimento Pró-Criança

5.1 Características estruturais e dispositivos de coordenação

5.1.3 Nível de formalização

5.1.3.2 Missão, crenças e valores organizacionais

A missão do Movimento Pró-Criança é expressa como: “promover a melhoria da qualidade de vida e a conquista da cidadania de crianças, adolescentes e jovens em situação de risco ou abandono, na Região Metropolitana do Recife”. Claramente, o MPC busca atuar sobre a qualidade de vida de crianças, adolescentes e jovens através de suas atividades artísticas, de ensino, profissionalizantes e esportivas.

A missão do Movimento Pró-Criança é bastante clara para seus participantes. Todos os entrevistados denotaram ciência da missão, apontando, principalmente, os resultados obtidos ao longo de sua existência. Eles relacionam com facilidade as atividades que são desenvolvidas para cumprir a missão organizacional, demonstrando clara compreensão de que as atividades desenvolvidas são de extrema relevância para a sociedade.

“Acho que a principal missão é ocupar as crianças no horário em que não estão na escola, pra evitar que elas corram o risco de violência, tráfico de drogas ou violência domestica. Essa é a grande contribuição. Além de formar muita gente para o mercado de trabalho, né? Mercado de trabalho nacional, internacional” (“C”).

“Acreditamos que um menino desses, depois de passar esse tempo se envolvendo numa atividade, jamais ele voltará para a rua, ou vai se marginalizar” (“A”).

Foi observado também que as atividades fim tendem a ser supervalorizadas em relação às atividades meio, que desenvolvem suas atividades de suporte permeadas de várias resistências na organização.

Para análise das crenças e valores observadas no Movimento Pró-Criança, é mister apresentar a definição desses dois componentes da cultura organizacional. Para Alves (1997), “crença” é a compreensão que damos como certa e que serve de pilar para o nosso entendimento das coisas. “É um assentimento a um juízo produzido sob a influência de

alguém ou de algo em que confiamos; está relacionada com as perspectivas que temos sobre os outros, sobre o ambiente e sobre a vida” (ALVES, 1997, p.10). “Valores” são as noções compartilhadas que os indivíduos têm que são acessíveis e importantes para o grupo ao qual pertencem. Estes, ainda, agem como padrões quanto à forma de sentir e de atuar, e como critérios ou roteiros para a escolha de objetivos ou soluções alternativas, em uma circunstância qualquer

Através da realização do PEP – Planejamento estratégico Participativo – em 2003, no Movimento Pró-Criança, foram verificados diversos valores compartilhados que emergiram do grupo participante de tal experiência. Estes estão listados no quadro abaixo. Neste levantamento procurou-se respeitar o que a organização preza, seu passado cultural e histórico, seu ambiente e suas crenças:

VALORES DO PRÓ-CRIANÇA SIGNIFICADO PARA O GRUPO DE

DISCUSSÃO

Confiança Acredita-se que todos merecem confiança

Solidariedade As pessoas são solidárias quando a causa é boa Comprometimento Todos devem ter dedicação e compromisso com a

missão da instituição

Justiça social As pessoas independentemente da posição ou condições sociais devem ser tratadas com justiça Profissionalismo e competência É essencial para a realização do trabalho no MPC Participação Estimula a motivação das pessoas na organização Respeito às diferenças AS pessoas são diferentes, mas têm os mesmos

direitos

Cooperação A cooperação é fundamental para o grupo alcançar os objetivos organizacionais

Reconhecimento É importante para a motivação das pessoas

Criatividade É necessário incentivar ações empreendedoras em busca de auto-sustentação

Quadro 14(5): Valores compartilhados pelo Pró-Criança (Fonte: Silva, 2004)

Através da coleta de dados pôde-se observar valores homogêneos ao grupo tais quais educação, sustentabilidade, solidariedade, mobilização da sociedade. Estes demonstraram ser comuns a todos os níveis hierárquicos da organização, sendo cultivados e ratificados através de depoimentos e demais oportunidades que sejam franqueadas aos participantes da organização. Quanto a valores como: valores cívicos e religiosos (visão cristã), transparência, amor, dedicação e contribuição, parecem ser de menor ascendência no MPC, entretanto, permanecem como valores ativos na instituição.

No nível estratégico da organização os valores cristãos são bastante disseminados. Diariamente, por exemplo, existe um momento reservado no início do dia para rezas e orações no “hall” da sala da direção. Todos os funcionários que trabalham na sala participam junto aos diretores e quem mais estiver naquele momento. É um momento rápido, diário, que serve para ratificar os valores cristãos empregados na instituição.

De qualquer forma, o valor principal que rege o Movimento Pró-Criança em todos os seus anos de existência é acreditar na integração cidadã das crianças beneficiárias da instituição, além de sua não opção pelo caminho da violência. Mais especificamente, o MPC acredita em uma forma específica para tal, que é através da arte. O depoimento abaixo do diretor-presidente representa tais coisas:

“Eles são rejeitados pela sociedade. Se ele chega junto [...] Se quiser entrar em qualquer canto, não entra, entende? Um exemplo pra mim, marcante, foi quando o shopping Tacaruna, pra fazer um marketing, pediu que nós levássemos 170 meninos pra conhecer o shopping, pra andar, e num sei que. E os meninos corriam, riam... Até mais por marketing pra eles, responsabilidade social. Eu achei esse negócio 170 meninos, mesmo acompanhados, cada grupo de 10 com uma assistente social, eu achei demais. Aí combinamos de só mandar 80. Convidados pelo Tacaruna, a mulher lá do marketing disse que quando entraram aqueles 80 meninos, um grupo de 10 com uma responsável foram cercados pelos seguranças. Uma coisa, assim, humilhante pra eles, entende? [...] Ficou lá, na frente de todo mundo, eles cercados pelos seguranças. Aí depois de ‘chama a dona fulana’, que era a encarregada de marketing, aí ‘ah, me desculpe’, mas não adianta, eles sentiram a humilhação. Eu tava dizendo aos padres ‘vocês tão pregando o sermão da montanha que diz que todos são iguais... Se um menino desse entrar na igreja vocês mandam uma catequista pegar ele pela mão’, não é? E lógico que ele é culpado, porque rouba, porque faz isso, porque faz bagunça. Mas isso cria neles uma revolta interna tão grande. Aí, de repente, inverte-se o papel. Ele é aplaudido pela dança. Toca o violão dele lá, o violino, sei lá, palmas da platéia. Sai no jornal nacional... Você já saiu?” (“F”).