• Nenhum resultado encontrado

5 Análise da configuração Organizacional Administrativa do Movimento Pró-Criança

5.3 Caracterização do agente organizacional e relacionamentos internos

5.3.5 Relacionamentos internos no MPC

No Movimento Pró-Criança o relacionamento entre os membros da organização, sem distinção entre funcionários ou voluntários, foi descrito por palavras como profissionalismo, amizade, amor, respeito, compromisso com o trabalho, cooperação, solidariedade, dedicação, companheirismo, cumplicidade, ajuda mútua, dedicação e doação.

Pela natureza da organização, a identificação com a organização em razão da causa que todos abraçam costuma ser refletida nos laços entre os funcionários e voluntários. O depoimento abaixo frisa a importância que as crianças atendidas exercem no relacionamento entre os membros da organização:

“Acho que o sentimento maior presente nos relacionamentos é o amor. Se você ama o que você faz, supera todas as barreiras, todos os obstáculos. Não tem coisa melhor do que você ver o sorriso de uma criança dessa, criança como a gente já pegou, grupo aqui de chegar atirando pedra na vidraça e depois esse sorriso. E até o depoimento, que eu gosto de lembrar de uma, quando eu ia passando com ela, uma competição lá no Santos Dumont onde ela passou num sinal e ela disse assim: “eu vivia aqui e hoje eu sou atleta”. Então... Isso é marcante na vida da gente” (“K”).

Apesar da relação por igual no intuito do respeito desenvolvido por cada um ser unanimidade, relações com vínculo e cumplicidade pessoal maior costumam acontecer no MPC. Isto acaba por influir na maneira como uns tratam os outros, se não desrespeitando uns, mas privilegiando outros. O depoimento abaixo reflete isso:

“Tenho o sentimento de respeito entre os membros do MPC. Procuro ser o mais profissional possível. Embora tenho um carinho especial por alguns que considero verdadeiros amigos” (“L”).

Sobre os problemas de relacionamento dentro do MPC, eles existem, e muitas vezes causam seqüelas na qualidade da relação que se desenvolve entre as pessoas. Como as relações patriarcais tendem a se sobrepor às relações burocráticas, muitas vezes fala além da estrutura o tempo de casa que tem o agente, além da possibilidade de um papel agregador ou mesmo de um papel regulador mais acentuado em virtude das características da dominação patriarcal que afloram no sujeito. A possível implantação de uma área de gestão de pessoas para atuar na regulação das relações é desejada por funcionários. Os depoimentos a seguir demonstram essas idéias:

“A relação interpessoal aqui, eu acho, não de todos, mas de algumas pessoas, ainda com muita deficiência, acho que precisa ter um momento pra melhorar isso” (“K”).

“Entre os próprios funcionários mesmo, às vezes na questão do tratamento tá entendendo? Das pessoas, dos funcionários, às vezes né? Você às vezes não respeita o outro, vai então gente trata de uma forma até como se fosse um escravo, né? Assim de uma forma mais dura, mais agressiva, tá entendendo? Sempre existe isso, dentro da instituição existe. E a gente não tem assim uma área de recursos humanos, né? Pra cuidar desses setores, porque o recursos humanos que tem aqui é o que? Fazer folha de pagamento, né? Tem um funcionário que cuida da folha de pagamento e uma gestora financeira que cuida do lado financeiro, dos pagamentos. Mas a área de recursos humanos, da pessoa humana dentro da instituição que é o mais, que é fundamental, né? O principal, que é justamente a pessoa, aí gente não tem uma área que cuide disso aí. Tem 95 funcionários, 40 voluntários a gente já poderia também pensar nisso aí. Assim é importante em qualquer instituição, acho que é uma das coisas principais, componente principal é a questão dos recursos humanos, implantar recursos humanos, administrar conflitos, né?” (“P”).

No tocante ao relacionamento das gestoras com a direção, a proximidade diária proporciona uma confiança bastante enriquecida através do contato pessoal para compartilhar as dificuldades e oportunidades. Cada gestora sente-se bastante a vontade para tratar as várias demandas das suas unidades, principalmente, com o diretor-presidente. O olhar da gestora sobre a unidade passa a ser o olhar da direção também sobre ela. Segundo a gestora da unidade Piedade:

“A gente ta fazendo melhorias na própria estrutura da unidade. A gente ta ampliando, a gente ampliou esse ano, por exemplo, a parte de cima do anexo que a gente não tinha, hoje a gente já tem as salas realmente boas em cima. Então tudo isso, se não houvesse essa proximidade com a presidente e com a diretoria talvez eles não tivessem o olhar, porque eles não vão lá, a gente traz as informações, né? Vão assim esporadicamente, porque as atividades praticamente administrativas acontecem aqui na unidade dos Coelhos. Pra se deslocar até Piedade é complicado, você já esteve lá e percebeu que não é muito fácil o acesso. E quando chove é o caos. Então tudo isso se você não tiver essa proximidade com a diretoria, não vai funcionar. Eles precisam entender como é que funcionam os mecanismos das unidades com o olhar da gestora, com o olhar que a gente traz, eles fazem essa melhor alocação dos recursos” (“H”).

Ademais, é importante ressaltar sobre os relacionamentos no Movimento Pró-Criança que:

• A Unidade dos Coelhos é a que parece ter mais problemas de relacionamento inter- pessoal;

• A disputa por recursos acaba atingindo também a esfera dos relacionamentos, haja vista as pessoas levarem para o lado pessoal a liberação ou não de recursos para determinadas áreas ou atividades;

• Todos os participantes da organização têm um imenso carinho e admiração pelo diretor-presidente, Sebastião Campello, migrando, em certos casos, para um sentimento de temor e reverência pela sua pessoa.

• Os valores cristãos são exaltados e praticados de maneira enobrecedora pelo diretor- presidente, que os usa como princípios para seus relacionamentos, principalmente, quando recebe algum tipo de afronta de alguém.