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5 Análise da configuração Organizacional Administrativa do Movimento Pró-Criança

5.3 Caracterização do agente organizacional e relacionamentos internos

5.3.4 Sucessão dos dirigentes

A sucessão do dirigente principal do Movimento Pró-Criança é dada a partir da indicação do Arcebispo de Olinda e Recife. O Diretor-Presidente do MPC é nomeado pela Autoridade Eclesiástica da Arquidiocese de Olinda e Recife. Sendo um cargo de confiança, até hoje não existe a representação formal de critérios objetivos que possam fornecer base racional-legal para esta nomeação. Entretanto, é sabido que, como o Movimento Pró-Criança está ligado diretamente a uma instituição católica, o diretor-presidente deve ser pessoa que professe a fé católica, se submetendo a suas doutrinas e estrutura de poder, notadamente, a tutela do Arcebispo de Olinda e Recife.

Durante os 15 anos de existência do Movimento Pró-Criança tem se mantido no cargo de diretor-presidente o sr. Sebastião Barreto Campello. Pessoa de personalidade com traços carismáticos, foi um dos idealizadores do MPC, reunindo amigos e pessoas que compartilhavam da mesma visão bem antes do ano de 1993, ano da fundação do Pró-Criança. Segue relato do vice-presidente da instituição sobre o processo de eleição e indicação de diretores:

“Nós temos aí uma eleição de dois em dois anos para indicação dos membros da diretoria, instituição dessa diretoria. Do ponto de vista da diretoria, a pessoa que nesses 15 anos vem se mantendo, é o presidente, Dr. Sebastião. Que é uma pessoa importantíssima. Ele é eleito, agora... A indicação é mais do Arcebispo. Esse conselho é presidido pelo Arcebispo, e ele é quem nomeia o presidente. Os demais diretores são eleitos para um período de 2 anos. Já houve diretores que entraram e saíram. Diretores são pessoas que ou as vezes já estão no Movimento ou que tem um determinada... Já demonstrou interesse, uma visão cristã da vida e tem interesse em apoiar – no sentido de trabalhar” (“A”).

Os demais diretores do MPC são escolhidos a cada dois anos pelo Conselho da instituição. Após eleição, os nomes necessitam ser confirmados pela Arcebispo de Olinda e Recife. Os membros da Diretoria são constituídos para um biênio, podendo ser reeleitos para outros biênios consecutivos. Todos os membros da Diretoria devem exercer seus cargos a título gratuito, segundo reza o estatuto da instituição, não podendo exigir qualquer remuneração do MPC para tal.

No nível intermediário, o processo de seleção através de uma consultoria externa é o mais utilizado para admissão de novos funcionários. Gestores, gerentes e coordenadores são captados no mercado externo através de recrutamento realizado por essas consultorias, sendo então selecionados, e logo após admitidos. Também existe espaço para indicação da direção neste sentido, refletindo, nesta situação, necessidade de laços de confiança desenvolvidos já com os indicados.

No âmbito operacional predomina a seleção de funcionários feita através dos próprios gestores e coordenadores, com o apoio do setor psicossocial. Existem como funcionários ex- alunos da instituição e também pessoas que começaram seu envolvimento enquanto voluntários. Alguns dos coordenadores e gestores que hoje estão no MPC entraram no MPC nessa condição, migrando para a condição de funcionários, e hoje assumindo cargos de maior responsabilidade.

A participação de funcionários nas seleções para as unidades é restrita às gestoras. As indicações provenientes de pessoas que já trabalham no MPC são acatadas como bem-vindas, principalmente, se advindas da direção.

Quanto ao processo para engajamento de voluntários, ele dá-se através de encaminhamento para o departamento psicossocial. Após checar a necessidade das unidades, e também verificar a unidade que mais se encaixe com o perfil do candidato a voluntário, ele

é encaminhado. A pessoa preenche uma ficha de voluntariado e passa por um momento de capacitação, no setor que deseja atuar. A campanha Clarear é um dos projetos do MPC que mais agrega voluntários hoje. São mais de 50 voluntários envolvidos com a captação de recursos.

Certos perfis são complicados de serem recebidos pela instituição. O destaque fica por conta de casos como de voluntários que ambicionam ser contratados pela instituição, os que deseja fazer algum tipo de assistencialismo, simplesmente por que acham “bonitinho” o trabalho, sem comprometimento mais afundo com a transformação social, e também aqueles que se voluntariam como um tipo alternativo de terapia, muitas vezes com o perfil do caso anterior. Os depoimento abaixo retratam essas questões, juntamente com a dificuldade de permanência dos voluntários em meio a adversidades:

“Há certo cuidado de não aceitar pessoas que verbalizam sofrer de depressão e estar a procura de uma ocupação para esquecer seus problemas ou que possuem interesse de ser contratados pela instituição; procuramos encaminhar as pessoas voluntárias no perfil para as áreas de sua aptidão, preenchemos com elas o termo de voluntariado e apresentamos as mesmas aos demais funcionários da instituição” (“L”).

“Lá a gente tem hoje, tem poucos, já teve muito mais. Tá em torno de 8 pessoas, contando com o pessoal do (...). Já teve tempo lá de 20, 25 pessoas engajadas. Muita gente se perde ao longo do ano, quando começa a chover. A gente tem essa dificuldade lá, sabe? Começa a chover, a gente vai perdendo os voluntários, entendeu? É uma dificuldade que Piedade tem é o acesso, é uma coisa que a gente tem...” (“H”).

“Uma coisa que a gente coloca é não colocar um voluntário para trabalhar diretamente com aluno ao ponto de assumir uma sala de aula, por exemplo. A gente não coloca. Porque... É a até chato falar. Mas, as vezes, o voluntário não tem compromisso. Então, a gente já ficou na mão do voluntário e por experiência própria a gente procura não deixa que isso aconteça. Outra coisa, tem toda uma linha de pensamento educativa que a gente constrói em equipe, ai chega uma pessoa, de fora, que a gente não sabe com vai trabalhar com os meninos alguma coisa e desmancha um trabalho que a gente vem fazendo. Eles podem trabalhar com os meninos mas não diretamente, ele podem vim aqui montar uma oficina , uma coisa assim, mas um curso não” (“R”).