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Os conceitos de mobilidade e acessibilidade são muitas vezes utilizados como sinônimos, no entanto a mobilidade, pode-se dizer, está mais relacionada ao desejo de acessar determinado destino e à capacidade do indivíduo em se deslocar.

A mobilidade urbana, por muito tempo foi entendida como uma “taxa”, ou seja, uma medida exata que considera o número de viagens realizadas por pessoa em um dia útil. No entanto este enfoque veio se mostrando ineficaz, uma vez que o aumento da mobilidade não significa necessariamente uma melhoria da qualidade de vida das pessoas. Entende-se que o enfoque tradicional de mobilidade urbana não permite a compreensão do fenômeno em sua totalidade e abrangência.

Segundo Akinyemi (1998, apud Raia Jr. e Corrêa, 2006), o conceito tradicional de mobilidade urbana é aquele que se relaciona às viagens atuais ou viagens feitas utilizando as medidas: a) número de quilômetros por viagem

14 por pessoa; b) número de viagens por pessoa por dia; e c) número de quilômetros percorridos por pessoa por modo; d) números de viagens por dia por pessoa por modo.

Nas pesquisas de origem e destino a mobilidade é medida pelo número médio de viagens que as pessoas realizam em um dia típico, por qualquer modo e para qualquer finalidade e o índice de imobilidade demonstra a porcentagem de pessoas que não realizam nenhum deslocamento. (BRASIL, 2007).

Os conceitos tradicionalmente utilizados desconsideram as condições das pessoas para acessarem as atividades no meio urbano considerando positivo o alto número de deslocamentos realizados. No entanto, a abordagem sobre o conceito de mobilidade urbana deve ir além de simples quantificações dos deslocamentos e englobar os aspectos qualitativos que envolvem o fenômeno.

Segundo Vasconcellos (2001: 40), a mobilidade em sua visão tradicional, tida como a “habilidade de movimentar-se” em decorrência das condições físicas e econômicas, norteou, e ainda norteia o planejamento de transportes. O qual, partindo desse pressuposto colocou como principal objetivo “aumentar a mobilidade” pelo fornecimento de meios de transporte. No entanto a visão estrita do termo não permite visualizar como e por que a mobilidade é exercida pelas pessoas. Uma vez que um grande número de deslocamentos não representa necessariamente melhores condições de vida, o termo mobilidade, no sentido tradicional, não deve ser pensado separadamente do conceito de acessibilidade.

Vasconcellos (2001) admite que o conceito de mobilidade deve se relacionar com o conceito mais amplo, o de acessibilidade, entendida como “[...] a mobilidade para satisfazer as necessidades de deslocamento, ou seja,

a mobilidade que permite à pessoa chegar a destinos desejados. O autor

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de circulação (vias e veículos) e a estrutura urbana enquanto elementos interdependentes” (Khoenig, 1974: 290 apud Vasconcellos, 2001: 41).

Percebe-se que o conceito de Mobilidade é mais um termo qualitativo do que simplesmente quantitativo, uma vez que a mobilidade está relacionada à capacidade que uma pessoa ou grupo de indivíduos possuem de se movimentar. Essa capacidade é determinada pela oferta de modos de transporte, localização das atividades, condições físicas e financeiras dos indivíduos, crescimento da cidade no tempo e expansão dos sistemas de comunicação, entre outros.

Segundo Raia Jr. (2000: 60) um dos objetivos do poder público é satisfazer de maneira adequada os desejos de mobilidade das pessoas e o maior ou menor grau de satisfação dessas necessidades pode concorrer para a melhoria da qualidade de vida.

Visto que a mobilidade é um componente da qualidade de vida, ela não deve acontecer em desequilíbrio com as condições do meio ambiente. Assim, não seria razoável melhorar as possibilidades de deslocamento urbano piorando as condições do ar, do solo e da água, por exemplo.

O Ministério das Cidades, por meio da Secretaria de Transporte e Mobilidade (SeMOB) propõe um novo paradigma para o mobilidade urbana, que integre instrumentos de gestãos urbanística subordinados aos princípios da sustentabilidade ambiental e inclusão social. Assim a mobilidade urbana é entendida como:

“um atributo associado às pessoas e bens; correspondendo às diferentes respostas dadas por indivíduos e agentes econômicos às suas necessidades de deslocamento, consideradas as dimensões do espaço urbano e a complexidade das atividades nele desenvolvidas” (BRASIL, 2004)

16 Quanto à acessibilidade, para Vickerman (1974, apud Raia Jr. et al. 2006), o conceito combina dois elementos: a localização de superfície relativa para destinações satisfatórias e as características de rede de transporte ou ligações de pontos daquela superfície. Segundo Corrêa e Raia Jr (2006) a acessibilidade pode ser definida como “uma característica inerente de dado

local com relação à superação de obstáculos espaciais”, enquanto que a

mobilidade relaciona não só os deslocamentos das pessoas e bens no espaço urbano mas também a facilidade e possibilidade de que eles aconteçam, o que pode ser condicionado por aspectos socioeconômicos da população, como renda, idade e sexo e pelo ambiente de circulação.

No Projeto de Lei que institui a Política de Mobilidade Urbana a acessibilidade é definida no Capítulo I, ART 4º Inciso X:

“X – acessibilidade: a facilidade em distância, tempo e custo, de se alcançar com autonomia, os destinos desejados na cidade.”

Assim podemos dizer que a mobilidade está associada à pessoa e sua capacidade em se deslocar no espaço, enquanto que a acessibilidade depende, além da mobilidade, da localização das atividades que se deseja alcançar e dos meios de transporte disponíveis (incluindo-se o transporte a pé). Ou seja, a acessibilidade depende em alto grau da oferta e efetividade de meios de transporte em conectar atividades localizadas no espaço, enquanto que a mobilidade depende de “como” e “por que” o indivíduo faz uso dos sistemas de transporte.

A Política de Mobilidade Urbana, ainda Projeto de Lei, considera a mobilidade urbana enquanto instrumento da política de desenvolvimento urbano tendo como objeto a interação dos deslocamentos de pessoas e bens com a cidade (Capítulo I, ART 1º do Projeto de Lei). Tendo como objetivo

17 contribuir para o acesso universal à cidade, por meio do planejamento e gestão do Sistema de Mobilidade Urbana (Capítulo I, ART 2º do Projeto de Lei). Este, definido como o conjunto organizado e coordenado, física e operacionalmente, dos meios, serviços e infraestruturas, que garante os deslocamentos de pessoas e bens na cidade (art. 3º do Projeto de Lei).

“A política de Mobilidade Urbana Sustentável é entendida como conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, por meio da priorização dos modos de transporte coletivo e dos não-motorizados, de forma efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável.” (BRASIL, 2006a)

O Projeto de Lei parte do pressuposto de que a sustentabilidade da mobilidade urbana nas regiões metropolitanas depende da gestão compartilhada dos serviços que estão sob a responsabilidade de diferentes governos no mesmo território, favorecendo a sua integração e o equilíbrio de uso dos diferentes modos de transporte.

A Política de Mobilidade Urbana (art. 5º) está fundamentada nos seguintes princípios: acessibilidade universal; desenvolvimento sustentável; equidade no acesso ao transporte público coletivo; transparência e participação social no planejamento, controle e avaliação da política; segurança nos deslocamentos; justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes meios e serviços e equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros. No que se refere aos dois últimos, a política visa proporcionar as bases para a racionalização do uso dos veículos particulares motorizados, especialmente nos grandes centros urbanos, através de instrumentos de mitigação das externalidades negativas, como congestionamentos, poluição, acidentes e ocupação desigual do espaço público de circulação (Art. 20).

18 As diretrizes gerais (Art. 6º) se orientam pela integração da política de mobilidade com a de controle e uso do solo; prioridade dos meios não- motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte coletivo sobre o transporte individual; a complementaridade e diversidade entre meios e serviços (intermodalidade); a mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e bens; o incentivo ao desenvolvimento tecnológico e ao uso de energias renováveis e não poluentes; a priorização de projetos de transporte coletivo estruturadores do território, conforme princípios estabelecidos.