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Modalidade 1: Contatos diretos e indiretos com o poder público

CAPÍTULO 2 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO RIO DE JANEIRO ATLÂNTICO: a

2.2. A PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM COPACABANA

2.2.1. Modalidade 1: Contatos diretos e indiretos com o poder público

Contatos diretos e indiretos dos moradores de Copacabana por melhorias nas condições de acessibilidade e infraestrutura da área datam do século XIX, no período inicial de formação do bairro. Em 1891, por exemplo, proprietários de terrenos e casas encaminharam um abaixo- assinado para as autoridades, solicitando ao poder público o estabelecimento de uma “estrada apropriada” de acesso ao bairro. A justificativa dada pelo grupo foi a seguinte: “com este melhoramento animareis o desenvolvimento do novo bairro e tereis uma nova fonte de renda para a Intendência Municipal, pois que em todo o bairro de Copacabana há cerca de 2 milhões de metros quadrados para edificações em terreno seco e plano” (O’DONNELL, 2011, p. 44).

64 Em 20.07.1924, por exemplo, o jornal expôs que Copacabana deveria ter uma praça de jogos infantis, assim como estas existem em cidades como Buenos Aires, Montevideo e Santiago (Beira-Mar, 20.07.1924, p.1, As

praças de jogos infantis). Um mês depois, em 03.08.1924, o periódico disse que o assunto “dispertou a approvação

e o enthusiasmo de varios leitores, dos quaes temos recebido manisfestações de applauso e encorajamento para que prosiganos, sem desfallecimentos, na campanha emprehendida" (Beira-Mar, 03.08.1924, p. 1, As praças de

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Antes de 1891, entretanto, a Revista de Engenharia publicou notas em que proprietários e moradores do bairro já demandavam diretamente ao poder legislativo e à Prefeitura intervenções em Copacabana. Em 1885, por exemplo, moradores na área “compreendida entre as ladeiras do Leme e do Barroso” pediram a canalização da rede de água (Revista de

Engenharia, ed. 112, 1885, p. 90); em 1889, habitantes dos bairros de Copacabana, Praia

Vermelha e Isabelopolis solicitaram a construção de uma via férrea, do mesmo modo “de que goza[va]m outros bairros desta cidade” (Revista de Engenharia, ed. 201, 1889, p. 3); em 1890, por fim, um grupo de proprietários solicitou iluminação para “as ruas do Barroso e Nossa Senhora de Copacabana” (Revista de Engenharia, ed. 234 1890, p. 117).

Conforme já adiantamos no capítulo 1, no começo do século XX, através do Beira-Mar, moradores buscaram apoio de representantes do poder legislativo local para o atendimento de seus pedidos. Figuras políticas do período como Nicanor do Nascimento (deputado federal), Henrique Dodsworth (deputado federal e prefeito), João Clapp Filho (intendente), Corrêa Dutra (intendente) e Antônio Prado (prefeito) foram alvo do jornal – seja para demandar algo, seja para elogiar os políticos pela sua atuação ou pedir votos em períodos eleitorais.

O jornal também realizou entrevistas com autoridades e pressionou o poder público para o atendimento de demandas. Em maio de 1929 o Beira-Mar publicou uma entrevista com o Dr. Fernando de Azevedo, então Diretor da Instrução Pública. Na conversa, representantes do periódico reivindicaram a construção da primeira escola pública no bairro de Copacabana (caso analisado no capítulo 4 da dissertação).

No entanto, para além dos contatos diretos e verbais com intendentes e diretores, grupos de moradores também recorreram a reivindicações escritas para reconhecer a boa atuação do poder público ou, na maioria dos casos, para a exposição de demandas. O jornal O

Copacabana, o Novo Rio em 1911 informou que moradores do bairro, satisfeitos com o

trabalho de calçamento de ruas feito pelo prefeito Serzedello Corrêa, enviaram um abaixo- assinado ao marechal Hermes, então Presidente da República, para que o “tão útil administrador” continuasse no cargo (O Copacabana, o Novo Rio, Copacabana e seus

interesses, 01.01.1911, p. 1)

Mas também existiram as críticas, que foram a maioria no período. Em 18.03.1923, o

Beira-Mar veiculou uma nota afirmando que moradores enviaram um abaixo-assinado ao

então prefeito, Alaor Prata, solicitando o calçamento da rua Barroso até o Túnel Velho. No mesmo ano, em 25 de novembro, o periódico publicou uma reclamação à Inspetoria de Matas: "ha mais de anno, os moradores da rua Barata Ribeiro e Hilario de Gouvêa, dirigiram um abaixo-assignado ao Sr. Prefeito do Districto Federal, pedindo-lhes providencias para que as

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referidas fossem arborizadas" (Beira-Mar, 25.11.1923, p. 3, Ruas esquecidas pela Inspectoria

de Mattas).

Nos anos seguintes o jornal fez menções a outros abaixo-assinados produzidos no bairro e encaminhados ao poder público:

 20.07.1924: pedido de proprietários e moradores da rua Santa Clara à Francisco Sá, ministro da Viação e Obras Públicas, solicitando-lhe iluminação elétrica para a rua;  26.10.1924: residentes enviaram carta ao prefeito reclamando de uma construção que

não seguiu o código de obras e feria a "esthetica" da avenida;

 21.06.1925: moradores recolheram assinaturas para solicitar o retorno do Dr. Paula e Silva para o cargo de delegado do 30º Districto Policial;

 02.05.1926: Armando Sobral, um dos autores do Beira-Mar, relatou que 15.000 moradores de Copacabana assinaram um documento que reivindicava a construção de uma escola pública no bairro;

 07.11.1926: abaixo-assinado de moradores enviado ao prefeito, em que se solicitou a instalação de um "guignol" para crianças na Praça Serzedello Corrêa;

 22.09.1929: residentes demandaram à prefeitura a doação de um terreno para a construção de uma paróquia;

 21.12.1930: funcionários que trabalhavam no posto de salvação de Copacabana enviaram ao prefeito um abaixo-assinado em que solicitaram o fim das irregularidades no exercício da função.

Em alguns casos o jornal também publicou evidências que indicaram a atenção do poder público para as demandas de moradores. Em agosto de 1929, por exemplo, o Beira-Mar publicou uma notícia na primeira página com críticas à Antônio Chaves, Inspetor de Matas, sobre a situação dos jardins de Copacabana. De acordo com a notícia, a Prefeitura não estava agindo segundo os planos de Agache65, que previam a modernização dos jardins, retirando-lhes o aspecto “sombrio” e “denso” (Beira-Mar, 11.08.1929, p. 1, O remodelamento e o

aformoseamento dos nossos jardins publicos). Em resposta aos moradores, o jornal publicou

vinte dias após a reclamação sobre os jardins uma nota do gabinete do Prefeito, como vemos no recorte abaixo.

65 Entre 1927 e 1930 Alfred Agache, a convite do prefeito Prado Junior, elabora o Plano de Remodelação, Extensão e Embelezamento para a cidade do Rio de Janeiro. ”A proposta é transformar a capital do país numa cidade com grandes avenidas arborizadas e áreas com jardins no Centro e nos bairros da Zona Sul. Os bairros da Zona Norte seriam destinados à população de renda média, e os subúrbios, à população operária” (REZENDE, 2002, p. 261).

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Figura 19 – Recorte do Beira-Mar com resposta do governo sobre uma demanda de moradores

Fonte: Beira-Mar, 01.09.1929, p. 1, A reforma dos nossos jardins

Em outros casos, o Beira-Mar também foi utilizado como intermediário entre moradores e as autoridades municipais: os primeiros enviaram cartas ao jornal, com o intuito de que estas fossem tornadas públicas e encaminhadas aos funcionários públicos e/ou repartições competentes por providenciar soluções aos serviços reclamados. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 06 de janeiro de 1924, com um pedido de moradores da Praça Serzedello Corrêa.

Figura 20 – Recorte do Beira-Mar com menção à carta enviada por moradores

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Além dos jornais, encontramos mais evidencias sobre a participação social em outras fontes. No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, existem registros de contatos diretos e indiretos de moradores de Copacabana enviados as autoridades públicas. O’Donnell (2011, p. 45-46) identificou uma dessas demandas, de 1907, na qual:

[...] um grupo de pouco mais de cem pessoas, liderados pelo investidor e morador do bairro Theodoro Duvivier, encaminhou à prefeitura um abaixo-assinado no qual se ressentem de que "não há uma única rua em Copacabana que tenha calçamento, mesmo a macadame, a não ser no centro dos trilhos das ruas trafegadas pelos bondes". Por esse mesmo documento ficamos sabendo que algumas das ruas transversais possuem "uma camada de barro sobre a areia", posta por particulares, e "que no tempo seco a mistura deles dificulta o trânsito dos veículos e no tempo de chuva transformam-se as ruas em lamaçais impedindo a passagem quase que absolutamente". Além disso, afirmam os moradores e proprietários que "por ocasião das chuvas fortes despejam as montanhas grande quantidade d'água que fica estagnada na planície, pois não existem escoadouros para as águas a não ser uma ou outra vala feita por particulares, as quais não têm capacidade precisa para esgotá-las. Assim pois ficam estas águas estagnadas comprometendo por esta forma a salubridade de um local reconhecido como um dos mais saudáveis desta capital".

Por fim, podemos concluir que as informações extraídas das fontes de dados utilizadas – em especial o Beira-Mar, mas também O Copacabana, o Novo Rio e as contribuições de O'Donnell (2011) – revelaram que moradores de Copacabana buscaram participar dos assuntos políticos do bairro através (1) de relações diretas e indiretas com o poder público e que estas se converteram (2) em formas de interação com os próprios políticos. Nas considerações finais do capítulo retomamos alguns dos achados desta seção sobre o relacionamento entre moradores e políticos no período.