• Nenhum resultado encontrado

2.2 GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS

2.2.3 Modalidades de Gerenciamento de Resultados Contábeis

Tendo em vista as motivações mencionadas, várias são as modalidades de gerenciamento de resultados contábeis (earnings management). O estudo de Martinez (2001) evidenciou algumas modalidades de gerenciamento de resultados contábeis a partir de determinadas motivações dos gestores (Figura 1).

Figura 1: Modalidades de Gerenciamento de Resultados Contábeis.

a) Target Earnings:

Gerenciamento de resultados objetivando aumentar ou diminuir os lucros reportados. Os resultados são gerenciados de modo a atingir determinadas metas de referência (benchmarks) que podem ser acima ou abaixo do resultado do período (MARTINEZ, 2001).

A minimização transfere o resultado para futuros relatórios e a maximização tanto pode esgotar reservas passadas como “pegar emprestado” de resultados futuros. Sendo assim, aqui se encaixa o problema de comportamentos agressivos que podem levar a escândalos contábeis quando as condições econômicas se deterioram (RONEN E YAARI, 2008).

Inúmeras são as motivações para inflar os preços das ações, dentre elas tem-se: i) Remuneração de gerentes; ii) Troca de CEOs; iii) Especulação de insider trading; iv) Atingir metas; v) Menor custo de capital em IPOs; vi) Fusões e aquisições; vii) Contratos de dívida; viii) Negociação com sindicatos; ix) Considerações fiscais, entre outras. Entretanto, somente motivação não é suficiente, é preciso ter um veículo (um meio) e uma oportunidade para isso. Como veículo ênfase é dada ao gerenciamento de resultados e como oportunidade temos, além da flexibilidade na adoção das práticas contábeis, as imperfeições da auditoria em que não há certeza de detecção do gerenciamento de resultados por parte da mesma. Cabe destacar que o gerenciamento de resultados contábeis é praticado dentro do que prescreve a legislação contábil.

O sistema de precificação motiva a estratégia de maximização porque o preço da ação quando o resultado maior for divulgado será maior do que o preço quando da divulgação de um resultado baixo. Assim sendo, se configura como estratégia ótima a maximização, pois, reportar baixos ganhos implicaria em revelar a verdade, real desempenho (RONEN e YAARI, 2008).

Enfim, percebe-se assim que o gerenciamento de resultados contábeis será claramente prejudicial/pernicioso, pois introduz distorção dentro do sistema de preços levando ao desconto do preço das ações da empresa que obteve um bom e real resultado e aumenta o preço da empresa que obteve sucesso em falsificar sua realidade econômico-financeira.

b) Income Smoothing:

Gerenciamento de resultados objetivando reduzir a variabilidade dos resultados. O propósito é manter os resultados em determinado patamar e evitar sua excessiva flutuação, passando imagem de maior estabilidade econômica para o mercado (MARTINEZ, 2001).

Esta prática também conhecida como “suavização dos resultados” se refere ao tipo de gerenciamento de resultados em que o gestor elimina os “picos” e “vales” nas sequências de

fluxos de caixa de uma empresa, de forma a reduzir (de forma aparente) a volatilidade nos resultados reportados. Sendo assim espera-se elucidar aos usuários das demonstrações contábil-financeiras uma ideia de menor risco/maior segurança. É importante destacar ainda que é um dos tipos de gerenciamento de resultados mais praticados e estudados recentemente (RONEN e YAARI, 2008).

Cabe ressaltar ainda que existem dois tipos de suavização: i) Real – Obtida a partir de decisões de negócio reais que irão afetar os fluxos de caixa das empresas de forma real, tais como: aquisição de matéria-prima; redução de investimentos; entre outros; e ii) Artificial – Obtida a partir de escolhas contábeis (possibilitadas pelos GAAP), tais como: momento de reconhecimento de receitas e despesas; métodos de depreciação adotados; entre outras (RONEN e YAARI, 2008).

Há motivação para suavização dos resultados no mercado de capitais ligadas ao mercado de ações (modificando ou não) a percepção dos acionistas em potencial em seus processos de Valuation. Podem também haver motivações para suavização ligadas ao sistema de crédito em que se buscaria, por exemplo, afetar as percepções sobre o risco das empresas para as instituições financeiras que lhes emprestam recursos.

Chaney e Lewis (1995) enfatizam que, ocorrendo suavização, um instrumento sinalizador seria importante para separar as empresas de alto valor das empresas de baixo valor, uma vez que os acionistas não conseguiriam discernir entre os dois tipos e, consequentemente, subestimariam as de alto valor e superestimariam as de baixo valor.

Na figura 2, percebe-se de forma gráfica a prática do income smoothing:

Figura 2. Ilustração do Gerenciamento de Resultados Contábeis denominado Income Smoothing.

Fonte: Adaptado de Ronen e Yaari (2008). 0 2 4 6 8 10 12 14 16 1 2 3 4 5 6 Tempo 7 8 9 10 11 12 13 Com suavização Sem suavização V al o r

c) Take a Bath ou Big Bath Accounting:

Gerenciamento de resultados para reduzir lucros correntes em prol de aumentos nos lucros futuros. As empresas gerenciam os seus resultados correntes piorando-os, tendo como propósito obter melhores resultados no futuro com a reversão destas práticas adotadas.

Ronen e Yaari (2008) se referem a esta prática como minimização radical dos resultados reportados sendo o bem-estar ou função de utilidade do gestor/empresa grande mecanismo impulsionador desta prática.

Cabe ressaltar ainda que Ronen e Yaari (2008) dividem em quatro as estratégias/modalidades de gerenciamento de resultados, sendo as três mencionadas acima e também explicitadas por Martinez (2001) e a quarta é caracterizada pelos autores como a estratégia de “Dizer a Verdade”.

Conforme aponta Hellman (1999), os gestores têm um incentivo para evitar a manipulação da Contabilidade. A defesa desse ponto de vista se dá pelo argumento de que a Contabilidade se caracteriza como uma linguagem utilizada para descrever o negócio e as atividades de uma empresa, sendo consequentemente um importante instrumento para a gestão da mesma.

Se os usuários da informação contábil-financeira percebem que essa é manipulada, poderão buscar outros sistemas de informação provocando sérios problemas aos gestores. Nesse sentido, haveria um incentivo natural para uma empresa “Dizer a Verdade” por meio de suas demonstrações contábil-financeiras. Dizer a Verdade e gerenciamento de resultados perniciosos seriam então antíteses (RONEN E YAARI, 2008).

Portanto, em algumas situações a estratégia de gerenciamento de resultados da empresa será justamente a estratégia de reportar a verdade em suas demonstrações contábil- financeiras, uma vez que isso pode ser capaz de maximizar seus ganhos. No caso de empresas no mercado de capitais, um tipo comum de sinalização utilizado para informar ao mercado que são boas empresas se dá pelo pagamento de dividendos, que implicam em custos, na medida em que se reduzem as disponibilidades de caixa das empresas, aumentando seus riscos e custo de capital. Contudo, como implicam em altos custos só “boas” empresas conseguirão emitir estes sinais e os investidores perceberiam estes sinais e conseguiriam a partir daí, discernir empresas boas e ruins (RONEN E YAARI, 2008; MATOS, 2001).

De um modo geral, observando-se a quantidade elevada de regulamentação pode-se inferir que o gerenciamento de resultados pode colocar em pauta a eficiência dos mercados de capitais uma vez que diz respeito à falta de confiança por parte dos stakeholders acerca das

informações contidas nos relatórios contábil-financeiros, principal meio de comunicação entre empresa e mercado (LO, 2008).

Enfim, é importante destacar ainda, no âmbito do gerenciamento de resultados contábeis que o pesquisador deve ser cauteloso quando da investigação da perspectiva oportunista, como neste trabalho, pois o gerenciamento pode se caracterizar como uma forma de comunicação de informações dos gestores para o mercado, objetivando melhor previsão sobre o desempenho futuro da empresa. Entretanto, diante da diversidade de incentivos e formas de gerenciamento que circunstanciam o ambiente empresarial, adicionados às dificuldades na identificação dos accruals discricionários, torna-se complexa a tarefa de evidenciação empírica de quando tal prática se enquadra sob uma perspectiva oportunista ou de eficiência (PAULO, 2007).