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Modelagem do Processo de Desenvolvimento de Produtos

Muitas empresas têm incorporado melhores práticas ao processo de desenvolvimento de produtos, envolvendo de maneira integrada, aspectos técnicos e outros ligados ao gerenciamento do projeto como um todo. Como conseqüência disso, o processo vem sendo aprimorado a ponto de se tornar, a exemplo da manufatura, mais uma competência de destaque nas empresas, resultando na geração de produtos com qualidade, combinada com a redução do custo total e do ciclo de desenvolvimento65.

Para qualquer empresa, uma etapa comum ao esforço de melhoria é a modelagem ou levantamento dos processos atuais, com o propósito de conhecer e explicitar a forma com que os mesmos são executados na prática (Araújo et alii, 2001).

Conforme Vernadat (1996), os elementos de uma empresa que podem ser modelados e integrados são:

♦ Produtos – descrito sob dois aspectos: modelo do produto, contendo todos os dados técnicos de um produto; e, modelo de processo, definindo o processo de negócio (p. ex. descrevendo como desenvolver o produto).

♦ Recursos físicos – máquinas e equipamentos (p. ex. computadores, servidores, aplicativos, etc.).

♦ Informação – banco de dados, sistemas de arquivo, arquivos de CAD e sistemas de informação.

♦ Organização e decisões – dados, informações ou conhecimento para a tomada de decisões.

♦ Processos de negócio – conjunto de processos usuais e simultâneos de uma empresa (administrativos, gerenciais, técnicos ou de suporte).

♦ Pessoal – gerentes, tomadores de decisão, engenheiros, técnicos, operadores, etc.

Dentro do contexto da modelagem de empresas66, o interesse deste trabalho recai particularmente sobre a modelagem de processos, que segundo Vernadat (1996), é o conjunto de atividades a serem seguidas para a criação de um ou mais modelos de algum processo (definido pelo seu universo de domínio) para atender os propósitos de representação, comunicação, análise, síntese, tomada de decisão ou controle.

Os modelos estabelecem um modo de pensar, abordar e articular os problemas organizacionais e desempenham um papel de referência, ou seja, operam como prescrição para os agentes que tomam decisão a

65 De acordo com Smith e Reinertsen (1997), empresas de muitos setores alcançaram reduções significativas, como é o caso da Deere &

Company, que diminuiu seu ciclo de desenvolvimento de 7 anos em 60%, ao mesmo tempo em que reduziu o custo do desenvolvimento em 30%.

66 Processo de construção de modelos de toda ou de partes de uma empresa a partir do conhecimento sobre a mesma, modelos

respeito de práticas a serem empregadas nas operações e processos (Lima, 2001).

De acordo com Rozenfeld (1997), através de um modelo do processo de negócio pode-se materializar as políticas e estratégias gerenciais, racionalizar o fluxo de informações e de documentos durante o desenvolvimento de produtos, integrando a empresa em torno de uma visão única.

De uma maneira geral, Rozenfeld e Amaral (1999) descrevem que a modelagem do processo de negócio de uma empresa permite às pessoas que nela trabalham:

♦ Obter uma maior compreensão da empresa e do processo.

♦ Adquirir e registrar o conhecimento para uso posterior.

♦ Racionalizar e garantir o fluxo de informações durante a realização das atividades.

♦ Planejar e especificar uma parte da empresa (funções, informação, comunicação, entre outros).

♦ Servir como base para análises de partes ou aspectos da empresa.

♦ Fornecer uma base para simulação do funcionamento da empresa.

♦ Fornecer uma base para a tomada de decisões sobre as operações e a organização da empresa.

♦ Fornecer uma base para o desenvolvimento e implantação de softwares de forma integrada.

Para descrever os vários elementos do processo de negócio podem ser utilizados basicamente dois tipos de modelos (Vernadat, 1996; Amaral, 2001):

♦ Modelos de referência – de aplicação mais ampla e geral que podem ser utilizados como referência para o desenvolvimento de modelos específicos. Descrevem as fases, as atividades, os recursos, os métodos e as ferramentas, as técnicas de gerenciamento de projeto, as informações e a organização do processo propriamente dito.

♦ Modelos particulares ou específicos – também chamados simplesmente de modelos ou modelos de empresa, que representam e/ou são utilizados por uma empresa específica, numa situação específica.

Normalmente, os modelos de referência representam processos de setores industriais – automotivo, aeroespacial, etc. –, servindo como parâmetro para as empresas destes segmentos avaliarem e incorporarem melhorias em seus processos, ou seja, para estabelecerem seus modelos particulares.

Assim, verifica-se que o modelo de referência para o processo de desenvolvimento de produtos tem por objetivo promover uma visão holística do mesmo, de modo que as empresas possam compreender este processo através de um entendimento comum, destacando os seus elementos, suas estratégias, atividades, informações, recursos e organização, assim como, suas inter-relações.

Contudo, a elaboração de modelos de referência é uma tarefa por vezes complexa, não só em função do grau de detalhamento que se deseja modelar, mas, sobretudo pela própria natureza do processo a ser modelado, por isso é importante ter claro os objetivos a serem alcançados – aquisição e explicitação de conhecimento, melhor entendimento, etc.

Seja qual for o caso, Vernadat (1996) recomenda que, na elaboração de modelos de referência, os seguintes princípios devem ser considerados, conforme o Quadro 2.4.

Quadro 2.4 – Princípios para a elaboração de modelos de referência.

Princípio Descrição

Separação de conceitos Processos devem ser modelados em partes, representando as áreas funcionais separadamente ou o

domínio do problema.

Decomposição funcional O processo deve ser modelado de modo a abranger hierarquicamente todas as funções, decompondo-as

num conjunto de subfunções até a descrição das funções mais específicas (fases, atividades, tarefas).

Modularidade Para facilitar as alterações, o modelo deve ser modular, de modo que possa ser atualizado e melhorado

continuamente.

Generalização A modelagem deve possibilitar a criação de blocos padrão (classes genéricas) que agrupem os objetos

cujas propriedades sejam similares.

Reusabilidade Para reduzir o esforço de modelagem e aumentar a modularidade, deve-se utilizar blocos predefinidos ou

reutilizar modelos parciais67 configurados para atender a necessidades específicas, reduzindo o tempo de

desenvolvimento do modelo. Separação entre

procedimentos e funcionalidade

Procedimentos (como fazer – método) não podem ser confundidos com as funcionalidades (o que deve ser feito – atividades) quando se busca flexibilidade organizacional, permitindo modificações em um sem impacto ao outro, e vice-versa.

Separação entre processos

e recursos Similarmente ao princípio anterior, deve-se separar o que deve ser feito dos recursos para fazê-lo, preservando a flexibilidade operacional.

Conformidade Relacionado à exatidão sintática e semântica da representação (clareza, consistência, não redundância)

no domínio da aplicação do modelo.

Visualização A modelagem deve apresentar uma linguagem de representação gráfica de fácil comunicação e

entendimento. Simplicidade versus

adequação A linguagem de modelagem deve expressar o que precisa ser expresso, de modo mais simples possível, sem que haja perda na adequação ao propósito do modelo. Gerenciamento da

complexidade Qualquer técnica de modelagem

68 deve ser capaz de lidar com sistemas de alto grau de complexidade.

Rigor da representação O modelo não dever ser ambíguo e nem redundante, e deve servir como referência para a verificação de propriedades, análises e até mesmo, simulações do sistema modelado.

Separação entre dados e controles

Deve-se distinguir os dados necessários para a realização de um processo (p. ex. entradas), dos dados necessários para controlar o processo (que definem como e quando operar).

Fonte: Adaptado de Vernadat (1996).

A despeito da necessária definição dos objetivos e do atendimento aos princípios supracitados para a elaboração de modelos de referência, convém destacar, a exemplo de Araújo et alii (2001), que:

67 É um modelo que não está totalmente concluído e que pode ser reutilizado para construção de modelos particulares ou específicos

(Vernadat, 1996).

68 São muitas as metodologias empregadas na modelagem de empresas: SADT; família IDEF; SA/RT; GRAI-GIM; CIMOSA; IEM; Merise,

♦ A modelagem de processos não é uma ciência exata, não existindo uma solução única, mas sim várias formas possíveis de entender e agrupar processos e atividades, dependendo, portanto, da visão de quem (indivíduo ou equipe) está modelando.

♦ Quanto maior o envolvimento com a modelagem, maior o aprendizado sobre o processo.

♦ É fundamental manter o foco no conteúdo do modelo a ser gerado, e nos objetivos a serem atingidos, evitando o “encantamento” com ferramentas de modelagem.

♦ Os processos e atividades são entidades intrinsecamente dinâmicas, sempre se adequando às mudanças contextuais, novas formas organizacionais, novas ferramentas e novos paradigmas, novos projetos. Assim, a tarefa de modelagem dos processos deve ser também de natureza contínua.

♦ É correta e 100% aplicável a projetos de modelagem de processos complexos como o desenvolvimento de produtos, a máxima: “é preferível estar aproximadamente correto, do que exatamente incorreto”.

Do exposto acima, depreende-se que a modelagem do processo de desenvolvimento de produtos, apesar de notadamente trabalhosa e complexa, traz contribuições fundamentais, tanto às empresas quanto à academia, uma vez que, através do desenvolvimento de modelos de referência, permite a compreensão das informações do ciclo de vida do projeto, bem como do emprego de métodos e ferramentas de auxílio à sua realização, estabelecendo uma visão detalhada e integrada do trabalho a ser executado.