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3.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA E VARIÁVEIS DE ESTUDO

3.3.1 Modelo Conceitual Adotado

O atual paradigma da pesquisa contábil concentra-se na discussão sobre a supremacia da abordagem positiva sobre a abordagem normativa (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999; RIAHI-BELKAOUI, 2000; KOTHARI, 2001; LOPES; LIMA, 2001; NIYAMA; SILVA, 2008; IUDÍCIBUS; LOPES, 2008). A abordagem positiva representa o principal indutor do atual contexto de discussão acadêmica, estando nela inseridos os aspectos de modelagem analítica e operacional em contabilidade.

Essa abordagem é classificada em três níveis de pesquisa, a analítica, a comportamental e a empírica, (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999; RIAHI-BELKAOUI, 2000). A pesquisa analítica tem o objetivo de gerar proposições testáveis empiricamente, relacionando os temas contábeis e o mercado de capitais, além da assimetria informacional. A Pesquisa empírica tem o objetivo de estudar as relações entre o comportamento dos usuários, os fatores institucionais e organizacionais, e a influência dessas informações no contexto econômico, a partir de fundamentos de natureza econômica e contábil. Essas pesquisas testam hipóteses através de métodos matemáticos e estatísticos (WATTS; ZIMMERMAN, 1986; HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999; RIAHI-BELKAOUI, 2000; PAULO, 2007).

No contexto científico, o desenvolvimento de modelos objetiva compreender e predizer o comportamento dos envolvidos com o processo contábil, conjugando os indivíduos, os fatores institucionais e organizacionais e suas complexidades inerentes (PAULO, 2007).

Para o autor, “o desenvolvimento e a posterior a aplicação dos modelos é uma necessidade para a evolução da pesquisa científica contábil”. (PAULO, 2007, p. 74)

O modelo é uma forma de obtenção de conhecimento e serve para lançar luz sobre uma questão específica de pesquisa. É uma estruturação da realidade que supostamente representa, de forma geral, suas características e relações importantes. Caracteriza as ideias fundamentais da teoria, com auxílio de conceitos com os quais o pesquisador já está familiarizado antes da sua formação. Nesse contexto, o modelo é um elemento da teoria, e uma teoria será consistente se possuir um modelo (MARTINS, 2005; MAZZON, 1978; PAULO, 2007). Watts e Zimmerman, (1986) afirmam que a teoria consiste de duas partes: uma relativa as suposições, incluindo as definições das variáveis e a lógica que as relaciona, e outra relacionada ao conjunto de hipóteses substantivas que as representa.

No contexto de discussão sobre a influência da educação fiscal sobre a gestão de recursos públicos municipais, objetiva-se elaborar um modelo conceitual que permita uma base subjacente as análises dos resultados dos testes das hipóteses previstas, operacionalizadas por um modelo operacional a partir das técnicas de análises multivariadas de análise fatorial e regressão múltipla.

Esse processo considera as premissas estabelecidas por Martins (2005) quanto à parcimônia necessária no estabelecimento de modelos, uma vez que o processo de simplificação da realidade é um problema inerente à formulação, que pode vir a omitir fatores relevantes à compreensão do fenômeno estudado (MARTINS, 2005). Essa característica exige do pesquisador uma base científica que lhe permita o discernimento necessário ao processo de formulação e interpretação do modelo como adequado ou não á realidade observada, respaldando, alterando ou propondo novos pressupostos (ou teorias) a partir de suas constatações.

Em se tratando de conceitos sociais, crenças, valores e atributos quanto ao entendimento do que vem ser a função socioeconômica dos tributos, da justiça fiscal e da ética distributiva, do controle social e de accountability, é imperioso destacar a parcialidade na interpretação desses conceitos pelos vários indivíduos a serem pesquisados, o que presume afirmar que o modelo conceitual a ser adotado não capturará a totalidade dessas percepções, fato este que não empobrece as pesquisas que adotam esses critérios (MAZZON, 1978; MARTINS, 2005; PAULO, 2007).

A adoção dessa abordagem não presume um engessamento factual, fechado à linearidade na avaliação dos resultados eventualmente obtidos na pesquisa, mas antes uma

sistematização metodológica responsável, frente ao amplo conjunto de conceitos, crenças e valores sociais e políticos inerentes ao contexto de discussão de um programa de governo pertencente a determinada política pública.

Assim, os conceitos tomados como referências à construção da teoria subjacente aos eventuais achados da pesquisa, consideram as etapas para a construção de modelos apresentadas por Martins (2005, p.140):

Conceitualização - busca de teorias que possam ajudar a explicar o fenômeno que

está sendo representado;

Modelagem – processo de lapidação e enriquecimento através elaboração de

representações mais simples e eficazes. Processo de estabelecimento de associações ou analogias com estruturas teóricas previamente desenvolvidas;

Solução do Modelo Operacional – Refere-se à interdependência entre o modelo

operacional do sistema e a solução obtida ou desejável;

Implementação – Adoção dos resultados obtidos pela solução do modelo

operacional. Evidencia um processo de transição, mudança organizacional, exigindo adaptação. Deve ser um processo contínuo ao longo de todas as fases do fluxo de trabalho;

Validação – Capacidade de explicação e de previsão do modelo. Indicadores de

eficácia das etapas de conceitualização, modelagem, solução e implementação.

No processo de conceitualização, são apresentados os conceitos e os pressupostos subjacentes iniciais a serem utilizados na pesquisa. Considerando o atual estado da arte da pesquisa, são assumidos estes pressupostos teóricos obtidos em função das similaridades entre trabalhos que abordam as temáticas estudadas. Da mesma forma, são estabelecidos os modelos operacionais. As demais etapas da metodologia apontada por Martins (2005) seguem a estrutura normal de elaboração, neste caso, consequentes da efetivação da pesquisa (solução, implementação e validação)

3.3.1.1 Conceitos Subjacentes à Educação Fiscal

Para o contexto da educação fiscal são adotados os seguintes fundamentos:

Educação Fiscal: Uma nova prática educacional que tem como objetivo o desenvolvimento

de valores e atitudes, competências e habilidades necessárias ao exercício de direitos e deveres na relação recíproca entre o cidadão e o Estado. Fundamenta-se na conscientização da

sociedade sobre a estrutura e o funcionamento da Administração Pública; a função socioeconômica dos tributos; a aplicação dos recursos públicos; as estratégias e os meios para o exercício do controle democrático (PNEF ESAF/MF/MEC, 2004; LOBO et al 2005).

Filosofia da Educação Fiscal: Entendida como uma Concepção Dialética que vê o homem

como uma síntese de múltiplas determinações, por conseguinte, vê-lo concreto (SAVIANI, 1980, p. 23-28).

Função Sócioeconômica do Tributo: Uso do Sistema Tributário Nacional, pelo o Estado,

como um instrumento efetivo para o cumprimento da sua função social de promover o bem comum, a igualdade e a justiça, por meio do desenvolvimento social e econômico (PNEF, Caderno 3 p. 55).

Ética Distributiva: Processo de consciência moral atrelado aos princípios constitucionais e

aos objetivos fundamentais do Estado de construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais a partir da repartição igualitária dos tributos, de forma a promover a igualdade social (art. 3º. da CF; PNEF, Caderno 2).

Justiça Fiscal: Gestão efetiva dos recursos arrecadados pelo Estado com equidade,

progressividade, neutralidade e simplicidade. Essa visão, presente nos trabalhos de Matias- Pereira (2009c, p. 219), fazem parte do fundamento da teoria da tributação.

3.3.1.2 Conceitos Subjacentes à Eficiência Pública

Em relação a eficiência pública, são adotados os seguintes conceitos:

Eficiência Pública: Relação ótima entre recursos aplicados e resultados alcançados

(MUSGRAVE & MUSGRAVE, 1980; BARACHO, 2000; MARQUES, 2004; PENÃ, 2008; MATIAS-PEREIRA, 2009)

3.3.1.3 Conceitos Subjacentes ao Controle Social e Accountabilitry

Accountability: Obrigação dos gestores públicos em informar sobre o uso dos recursos

públicos e de responsabilizar-se por falhas no alcance dos objetivos planejados (ARMSTRONG, 2004; SILVEIRA; SILVEIRA, 2006; MATIAS-PERIRA, 2009c).

Controle Social: Exercício democrático e participação na aplicação dos recursos em

benefício da população, com vistas à eficiência e à qualidade dos gastos. Esse controle permite que não haja mera fiscalização, mas que, por meio da Gestão Democrática dos Recursos Públicos, o cidadão, conhecendo todos os trâmites por quais passam os Orçamentos Públicos, por exemplo, tenha mais condições de verificar seu real cumprimento (ESAF – PNEF cad. 4, p. 63).

Políticas Públicas: Toda ação desenvolvida ou não pelo governo. É tudo o que o governo

opta por fazer e por não fazer. Suas ações consistem, basicamente, em regular conflito na sociedade e entre as sociedades, distribuir benefícios simbólicos e materiais, realizar organizações burocráticas e até mesmo provocar mudança comportamental na sociedade. Estão intimamente ligadas às questões de liberdade, igualdade, controle democrático, distribuição da renda e das riquezas. As ações promovidas pelo Estado são possíveis através da cobrança de impostos, taxas e contribuições, o que denota a necessidade de igualdade na distribuição e na aplicação dessas fontes (DYE, 2005; MATIAS-PEREIRA, 2009b)

3.3.1.4 Conceitos Subjacentes aos Indicadores Utilizados

A conceituação das variáveis utilizadas para medir a eficiência, são conceituadas da seguinte forma:

Arrecadação do IPTU: Representa o total de recursos arrecadados pelo município com o

Imposto Predial Territorial Urbano no período.

Arrecadação do ISS: Representa o total de recursos arrecadados pelo município com o

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza no período.

Arrecadação de TAXAS: Representa o total de recursos arrecadados pelo município com

taxas e contribuições no período.

Arrecadação do ITIV Representa o total de recursos arrecadados pelo município com o

Imposto sobre Transmissão Intervivos de Bens e Direitos no período.

Arrecadação Total de Tributos: Representa o total de recursos arrecadados pelo município

Despesas com Educação: Representa o total alocado pelo ente público em programas de

Ensino, considerando todos os níveis de ensino.

Despesas com Saneamento: Representa o total alocado pelo ente público em programas

relacionados ao Saneamento básico.

Despesas com Saúde: Representa o total alocado pelo ente público em programas

relacionados à saúde pública, excluídas as parcelas relativas às transferências legais.

Despesas com Segurança: Representa o total alocado pelo ente público em programas

relacionados à Segurança.

Despesas com Assistência Social: Representa o total alocado pelo ente público municipal em

programas de assistência social.

Despesas com Habitação e Urbanismo: Representa o total alocado pelo ente público em

programas habitação e urbanismo.

Total de Despesas com Funções de Governo: Representa o total alocado pelo ente público

em todas as funções de governo.

População Total: Quantidade de habitantes segundo dados associados coletados junto ao

FINBRA.