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PARTE II – O OBJETO DE ESTUDO E A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

C APÍTULO V: O E STUDO DE C ASO : D IMENSÃO PEDAGÓGICA DAS AEC

2. Caracterização no agrupamento

2.1.1. Modelo de gestão e recursos humanos

Tratando-se de um agrupamento intermunicipal, que integra escolas dos concelhos de Ponte de Lima e Viana do Castelo, é interessante verificar que essa especificidade, embora implique duas formas de gestão completamente diferentes do ponto de vista da administração do território educativo, no que respeita à operacionalização das AEC, não provoca qualquer tensão, quer entre ambas as câmaras municipais, quer entre estas e o agrupamento.

Como refere o Diretor de Departamento de Educação da C.M.V.C, em entrevista:

A articulação dos municípios é feita de uma forma sistemática ao nível do concelho geral, onde os dois têm os seus representantes e onde por norma estão presentes às reuniões, que é um bom dado que é sempre importante (raramente falham), sendo que, isso permite que nesse contexto o concelho geral como órgão estratégico do agrupamento e da gestão desse território que é mais abrangente do que concelho de Viana portanto, porque abarca duas freguesias de Ponte de Lima, se consigam estabelecer as pontes para diminuir eventualmente alguma, algum pequeno problema que possa acontecer. O que é facto é que até aos dias de hoje não há conhecimento de nenhuma tensão. Há conhecimento de duas realidades de operacionalização das políticas no terreno, a da câmara de Viana e a da câmara de Ponte de Lima, que não sendo iguais, não entram em tensão uma com a outra.57

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Apesar das câmaras terem uma ação diferente e de se posicionarem, na operacionalização da sua política, de forma distinta, os objetivos de ambas convergem, quer na área do social, quer no apoio aos projetos educativos, sendo todos os procedimentos articulados entre as câmaras e o agrupamento.

Da análise efetuada ressalta que, enquanto a câmara de Viana do Castelo desenvolve a administração educativa de uma forma muito direta e muito estruturada, não só em relação às AEC’s, mas também em relação ao enquadramento dos apoios aos projetos escolares, às atividades, aos transportes, cantinas e outros serviços, a câmara de Ponte de Lima realiza-o de forma indireta, recorrendo a parceiros ou a outros atores que ao longo dos anos têm desenvolvido um trabalho reconhecido pela comunidade, ao nível da promoção de atividades de enriquecimento curricular. São vários os exemplos de parcerias na organização de respostas diversificadas em função da realidade local, nomeadamente: (i) o Instituto Britânico de Ponte de Lima, no desenvolvimento da AEC de Ensino de Inglês, (ii) O Clube Náutico de Ponte de Lima, no desenvolvimento da Atividade Física e Desportiva, (iii), A Escola de Música Fernandes Fão, no Ensino de Música, e a (iv) Associação Cultural Unhas do Diabo que desenvolve as Atividades de Expressão Plástica e de Expressão Dramática.

Assim, o facto de a CMVC assumir a plenitude das responsabilidades de entidade promotora das AEC, nomeadamente a gestão da oferta e o seu financiamento integral, marca uma primeira e grande diferença em relação ao processo do executivo camarário de Ponte de Lima, que resulta da mobilização social dos parceiros, instituições ou empresas locais.

De acordo com o responsável pelo Clube Náutico de Ponte de Lima, no caso da Atividade Física e Desportiva, o envolvimento das associações desportivas decorre de serem entidades com know-how no campo desportivo, sob a coordenação de técnicos de educação física e desporto, que não só cooperam com as escolas, mas que desenvolvem outras atividades de cariz social e comunitário, constituindo-se assim como agentes ativos permanentes. O mesmo acontece com as associações culturais, em particular com a Escola de Música e o Instituto Britânico.

(…) pelo nosso lado, da nossa instituição, como nós também estamos dentro da comunidade, desenvolvemos uma série de atividades culturais [aaa], acaba por ser um meio de nós também estarmos próximos das crianças e elas usufruírem [eee] dessas atividades.58

(…) cada parceiro, neste caso é especialista numa determinada área ou seja, está perfeitamente à vontade para corrigir, para melhorar, para trabalhar nessa área o que quer que seja (…).59

No caso concreto do Inglês, e de acordo com as informações da nossa entrevistada, o envolvimento do Instituto Britânico, escola homologada pelo ME e que faz parte do British Council e da APPI (Associação Portuguesa dos Professores de Inglês, envolvidos na organização das orientações programáticas do programa), reporta a 2005, com a implementação da generalização do ensino de inglês no 1º ciclo do ensino básico e tendo por base a experiência com o ensino precoce do inglês para crianças.

Compreende-se assim que, enquanto o processo de intervenção como entidade promotora da CMVC, é marcado pela forte presença de uma lógica de autonomia muito ativa, decorrente de uma ação política educativa de proximidade e conhecimento do terreno, que (i) envolve e compromete mais diretamente o município e as escolas, os professores titulares e os coordenadores dessas escolas, (ii) envolve e responde mais rapidamente às questões do dia-a-dia (por exemplo, substituição de monitores quando é necessário) e às dificuldades e problemas colocados pelos pais; por outro lado, o processo de intervenção da CMPL implica uma lógica de mobilização de meios e recursos que têm a ver, sobretudo, com o tecido social local e, em especial, com algumas instituições e empresas com quem já existiam “parcerias” no âmbito de outros projetos de cariz social e comunitário também decorrentes da prática da política educativa do município.

Ainda na CMPL, quando questionadas sobre as contrapartidas de integrarem as AEC, as entidades promotoras referem-nos essencialmente dois aspetos: (i) uma maior intervenção, maior visibilidade e divulgação das suas próprias atividades junto da comunidade local, (ii) diretamente relacionado com

o anterior, os benefícios diretos que cada parceiro consegue com essa participação, nomeadamente no que diz respeito à angariação de alunos/sócios para as suas próprias escolas ou atividades desportivas e/ou culturais, percebendo-se aqui implícita uma certa atuação como ‘agentes económicos’ numa lógica de mercado:

(…) porque esses meninos voltam, e voltam…andam nas AEC e andam cá também no instituto e portanto desenvolvem mais competências(…).60

Investigadora – Então vocês [eee] vão buscar muitos alunos, que depois seguem aqui…até ao 4º ano, não é?

Esc. Música. Fernandes Fão – Sim.

Investigadora – Que seguem aqui o ensino… Esc. Música. Fernandes Fão – Vocacional.61

(…) Quer dizer…sim…no nosso caso é o público importante, sim. Pode gerar público infantil que é uma aposta nossa também. Podemos [eee] educar de certa forma as crianças, no sentido de…, de…, de… pronto… de tomarem conhecimento do que é o teatro, do que é o espetáculo (…) Exato porque [eee] sempre que possível fazemos, fazemos espetáculos para crianças e pronto, como estamos mais próximos conseguimos fazer a divulgação. Tentamos inclusivamente que as escolas (…).62

No que se refere ao recrutamento e gestão dos recursos humanos, enquanto na CMVC a contratação do pessoal das AEC é feita diretamente pelo município de acordo com os procedimentos do Contrato de Trabalho em Funções Públicas, na categoria de Técnico Superior, por período inferiores a 1 ano, tendo direito a todas as regalias que o contrato de trabalho das funções públicas lhe confere (segurança social, direito ao subsídio de desemprego, entre outras), já na CMPL o serviço é adjudicado a empresas e instituições através de protocolos de colaboração ou parceria, que por sua vez contratam os docentes das AEC’s (ou que os disponibilizam porque já os possuem

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Ver entrevista 10 Instituto Britânico de Ponte de Lima – Anexo 1, Vol. II.

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Ver entrevista 8 Escola de Música Fernandes Fão – Anexo 1, Vol. II.

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integrados nos seus recursos humanos), sempre em articulação com a câmara municipal.

Desta análise podemos constatar que, apesar das regalias que o formato de contrato em funções públicas confere, o modelo da CMVC, torna a desvinculação dos professores mais fácil, uma vez que o perfil de quem concorre abarca docentes que detêm, em regra, habilitação para a docência de disciplinas específicas (inglês, música ou atividade física e desportiva), mas que não encontram no sistema educativo colocação através dos concursos nacionais ou regionais. Estes professores, estando naturalmente à procura de emprego, quando são posteriormente colocados através de concurso de escola, optam por uma situação de maior segurança e estabilidade financeira, abandonando facilmente as AEC’s.

Por seu lado, a CMPL, ao adjudicar o serviço a uma instituição ou empresa, conta com os profissionais e recursos humanos destas, o que aparentemente tornaria mais difícil a sua desvinculação. Contudo, o que se verifica é que as entidades promotoras também registam várias falhas ou necessidades de proceder a substituições, o que também as obriga a contratar outros “monitores” para além dos seus recursos próprios.

Na dimensão do controlo e articulação funcionais, o modelo da CMVC é mais centralizado, o que poderá permitir uma visão mais abrangente. Por seu lado, o modelo da CMPL permite que as instituições, associações e outras entidades promotoras, consigam emergir com mais força no tecido social local.

Não poderia deixar de se ressalvar que, ao nível dos recursos humanos internos das câmaras municipais, pese embora o incremento e o peso de trabalho que implicam os contratos de execução relativos à transferência de competências na área da educação, em particular para a implementação das AEC, ambos os municípios acomodaram as novas tarefas às disponibilidades já existentes, não criando novos dispositivos, nem novas estruturas para coordenar e acompanhar a implementação das atividades nas escolas dos respetivos territórios. De salientar, no entanto, que no caso da CMVC, os docentes das AEC integram o balanço social do próprio município.

No que diz respeito à distribuição dos docentes das AEC no AAL, aferimos que o agrupamento segue a tendência do Alto Minho, havendo um

existe uma maior oferta63 de blocos desta temática, seguindo-se os de Ensino de Inglês (31%) e de Atividade Física e Desportiva (23%).

Gráfico 27. Distribuição dos docentes das AEC’s, no AAL, 2011.

Fonte: DREN- EAE-VCT (2011).

Uma nota interessante a salientar, quando cruzamos estes dados estatísticos com as entrevistas efetuadas, é ser várias vezes referido como aspeto menos positivo das AEC’s a falta de docentes e a sua constante substituição, podendo este fator provocar algum enviesamento no número de docentes por bloco. Como solução para estas constantes substituições, na maioria dos casos, os entrevistados apontam para a possibilidade de flexibilização dos horários, referida mais adiante.

Outra das coisas, é que este ano, principalmente este ano, os professores têm sido (…) substituídos (…) E portanto têm vindo muitos professores novos (…).64

A única coisa que correu mal este ano foi o inglês, pronto, porque tivemos aqui uma, (…) jovem e começou a faltar muito. Faltava muito, faltava.65

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Ver mais à frente Gráfico 28 - Nº de Blocos de AEC do 1º Ciclo EB do AAL, p/ ano de escolaridade, 2011.

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Ver entrevista 1 Coordenadora da Escola da Torre – Anexo 1, Vol. II.

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(…) um dos aspetos menos positivos era o facto de dentro da mesma, imaginemos nas artes plásticas, os meninos durante o ano terem três e quatro e cinco professores diferentes.66

(…) depois o que acontece também [eee] é que as pessoas, é muito fácil aparecer uma coisa melhor, não é?! Uma proposta de trabalho melhor ou seja, qualquer coisa que apareça, estamos sujeitos de ficar sem professores.67

2.1.2. Espaços onde decorrem as atividades, recursos materiais e