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CAPÍTULO 2 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.6. Alguns métodos de ensino-aprendizagem

2.6.2. Modelo ontológico e educacional de Fayolle e Gailly

Na Figura 2 pode ver-se o quadro modelo de ensino para a educação do empreendedorismo proposto por Fayolle e Gailly (2008) o qual integra duas dimensões – ao nível ontológico e ao nível educacional - no ensino do empreendedorismo.

Figura 2 – Quadro modelo de ensino para a educação do empreendedorismo

Fonte: Elaborado pelo autor e adaptado de Fayolle e Gailly (2008)

Ao nível ontológico, Fayolle e Gailly (2008) apontam duas dimensões principais: i) por um lado uma definição e um reconhecimento claro sobre o que é (e não é) o empreendedorismo como uma área do ensino e, por outro lado, ii) apresentam uma definição sobre o que implica a educação para estudantes e educadores, no contexto do empreendedorismo.

Se, relativamente à primeira dimensão proposta parecem não existir grandes consensos, por via das dificuldades inerentes à própria definição do empreendedorismo, já na segunda dimensão, Béchard e Grégoire (2005) citados em Fayolle e Gailly (2008), propõem três tipos diferentes de conceções no contexto da educação; o papel dos educadores e dos estudantes, o

significado e focus do ensino e quais os conhecimentos a transmitir no contexto do empreendedorismo:

1. Ensinar é: transmitir informações; garantir a apropriação do conhecimento; conversar com os alunos sobre o conhecimento;

2. Um professor é: um apresentador; um facilitador e um tutor; um treinador e um colaborador;

3. Os estudantes são: recetores passivos; participantes; e participantes ativos na co- -construção do seu próprio conhecimento.

Ao nível educacional e, inspirados num modelo básico derivado das ciências da educação, Fayolle e Gailly (2008) levantam cinco questões como base de partida na elaboração e arquitetura de um programa de educação para o empreendedorismo:

1. Por quê (objetivos / metas) ? 2. Para quem (audiências / alvos) ? 3. Para que resultados (avaliação) ? 4. O quê (conteúdos) ?

5. Como (métodos / pedagogias) ?

Na questão “por quê (objetivos / metas)?”, os objetivos e as metas do ensino do empreendedorismo devem estar ligados a necessidades sociais e de aprendizagem, as quais podem surgir por parte de governos, de instituições (universidades, escolas de gestão e de engenharia, agências públicas, etc.), de empresas (grandes e pequenas empresas) e de indivíduos (estudantes, aspirantes a empreendedor, etc.). Os objetivos da aprendizagem podem estar relacionados com o desenvolvimento pessoal, com a tomada de consciência ou estado de espírito e cultura. Por outro lado, os objetivos socioeconómicos da educação para o empreendedorismo referem-se à transmissão de técnicas, ferramentas e formas de lidar com as situações a fim de aumentar as hipóteses de sobrevivência e sucesso, na criação de uma nova empresa (Fayolle e Gailly, 2008).

A questão “para quem (audiências / alvos)?”, devido à heterogeneidade dos públicos e dos conteúdos dos diversos cursos, levanta as maiores questões e dificuldades na preparação de um programa de ensino de empreendedorismo – na implementação da educação para o empreendedorismo. É fundamental, na fase de desenho e criação do curso, reunir toda a

informação sobre as características psicológicas, o background e o ambiente social dos participantes (Béchard e Grégoire, 2005b, citados em Fayolle e Gailly, 2008).

Na questão “para que resultados (avaliação)?”, a avaliação é considerada como um elemento chave no modelo, devendo ser equacionada desde o primeiro momento em que se desenvolve um novo programa de ensino do empreendedorismo.

De acordo com Gartner e Vesper (1994) citados em Fayolle e Gailly (2008), a seleção dos critérios de avaliação deve conseguir responder à grande diversidade de objetivos que, habitualmente fazem parte dos programas de ensino do empreendedorismo. Os critérios de avaliação podem estar relacionados com algum tipo de conhecimento específico; algumas competências ou ferramentas; nível de interesse, consciência ou intenção; grau de motivação ou participação na sala, entre outros. A verdadeira avaliação dos programas de ensino do empreendedorismo deverá ter em conta os efeitos das variáveis tempo e contexto.

Na questão “o quê (conteúdos)?” e de acordo com Hindle (2007) e Johannisson’s (1991) ambos citados em Fayolle e Gailly (2008), são apontadas três dimensões principais, as quais orientam a estrutura e os conteúdos da educação do empreendedorismo: i) a dimensão profissional; ii) a dimensão espiritual; iii) a dimensão teórica.

i) A dimensão profissional mais relacionada com o conhecimento prático assenta em três tipos de conhecimento: 1) Saber o quê (Know-what) – o que é necessário saber para decidir e agir numa determinada situação; 2) Saber como (Know-how) – saber como lidar com uma determinada situação; 3) Saber quem (Know-who) – quem são as pessoas mais importantes (úteis) e quais são as redes de contactos mais influentes, num determinado contexto.

ii) A dimensão espiritual confere ao indivíduo a capacidade deste se posicionar no espaço (identificar as situações empreendedoras que sejam consistentes com o seu perfil) e no tempo (identificar os momentos na vida em que é possível e desejável envolver-se num projeto empreendedor), relativamente ao fenómeno do empreendedorismo. Os conteúdos devem estar focados em dois aspetos: 1) Saber por quê (Know-why) – o que é que determina as ações e o comportamento humano, os valores e a motivação, as atitudes dos empreendedores; 2) Saber

quando (Know-when) – quando é que é o tempo adequado para avançar? Qual é a melhor situação tendo em conta o meu perfil pessoal?

iii) A dimensão teórica relaciona-se com o quadro do conhecimento teórico e científico que é importante e útil conhecer, por forma a melhor compreender o fenómeno do empreendedorismo.

Na questão “Como (métodos / pedagogias)?”, são abordados os métodos pedagógicos a utilizar no ensino do empreendedorismo. Alguns desses métodos podem envolver a criação ou avaliação de planos de negócio, o desenvolvimento do projeto de criação de uma nova empresa ou exercícios comportamentais ou simulações em computador. São também vários os meios de suporte e de comunicação desses métodos, nomeadamente, no campo das TIC15. Contudo, dado ainda não existir um método pedagógico universalmente aceite sobre o ensino do empreendedorismo, a escolha das técnicas e modalidades depende essencialmente dos conteúdos, dos objetivos e das restrições impostas pelo contexto institucional (Fayolle e Gailly, 2008).

O processo educativo está diretamente relacionado com diversos fatores e encerra várias restrições, como sejam por exemplo os fatores relacionados com o tempo e contexto em que ocorre o processo de aprendizagem; a duração dos programas de formação e a forma como o ensino do empreendedorismo é introduzido nos currículos; as condições materiais inerentes aos equipamentos utilizados (recursos educativos) e às características das próprias salas de aula; a qualidade e disponibilidade dos professores e do orçamento das instituições de ensino (Fayolle e Gailly, 2008).

Perante estas restrições Fayolle e Gailly (2008) propõem três processos diferentes de aprendizagem: 1) aprender a tornar-se um indivíduo empreendedor; 2) aprender a tornar-se um empresário (ou um especialista em empreendedorismo); 3) aprender a tornar-se um professor (académico ou investigador no campo do empreendedorismo).

De entre as várias dimensões chave que são apontadas pelos autores para cada um destes processos de aprendizagem, destacam-se o entendimento do empreendedorismo como um

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conceito muito abrangente; a importância em recorrer a outros empreendedores como modelos de referência; o focus na dimensão profissional e prática da atividade (saber o quê, quem e como?) e, o adquirir competências e conhecimentos práticos que permitam atingir o sucesso como empresário, etc.

Este modelo será tomado como referência no trabalho empírico desenvolvido e, servirá também como enquadramento para os objetivos propostos inicialmente (ver Introdução). Nesse sentido, adotam-se duas das proposições propostas por Fayolle e Gailly (2008), por estarem relacionadas quer diretamente com o presente modelo, quer também com os objetivos propostos para o presente estudo.

P1 – Cada programa de educação para o empreendedorismo deve basear-se numa conceção clara do empreendedorismo, levando a uma definição sem ambiguidades da própria educação para o empreendedorismo.

P2 – Dependendo dos objetivos e do perfil da audiência, os conteúdos de cada programa de formação em empreendedorismo, devem ser explicitamente definidos através de uma combinação das três dimensões (profissional, espiritual e teórica).