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O filósofo Stephen Toulmin, no livro Os Usos do Argumento, publicado em 1958, questionou noções anteriores de validade e teve como objetivo descrever os elementos constitutivos da argumentação e as relações funcionais que cada um representa.

O autor propôs um modelo informal de argumentação que se concentrava nas relações funcionais entre os elementos de um argumento em oposição às formas estritas de argumentação promovidas no raciocínio formal ou na lógica e que permitia que argumentos individuais fossem avaliados. Esse modelo foi nomeado de

Toulmin’s Argument Pattern (TAP). Apesar do TAP não ter sido inicialmente proposto especificamente para o campo da Educação, teve seus pressupostos transpostos para o campo da Educação em Ciências, sendo bastante utilizado como instrumento de análise de argumentos por pesquisadores em ensino das Ciências.

Há duas características centrais do TAP. A primeira é a noção de "campo" do argumento. Sobre o termo campo de argumentos, Toulmin (2006) diz que:

[...] dois argumentos pertencem ao mesmo campo quando os dados e as conclusões em cada um dos argumentos são, respectivamente, do mesmo tipo lógico; diz-se que eles vêm de campos diferentes quando o suporte ou as conclusões de cada um dos dois argumentos não são do mesmo tipo lógico (TOULMIN, 2006, p. 20).

O autor define características invariantes de campo como elementos de argumentos, que são os mesmos, independentemente do campo; e características dependentes de campo, que são aqueles elementos de argumentos que variam de campo para campo.

A segunda característica central do TAP é um conjunto de seis componentes que constituem um "argumento". Esses seis componentes são:

1. Dado (D) ou evidência: fato usado para provar o argumento;

2. Garantia(G) ou justificativa ou Warriant: declaração lógica geral, hipotética (e frequentemente implícita) que serve como ponte entre o dado e a conclusão;

3. Conclusão (C) ou claim: a afirmação que está sendo discutida (uma tese); 4. Backing (B) ou apoio: são declarações que servem para apoiar os mandados (isto é, os argumentos que não provam necessariamente o ponto discutido, mas que provam que os mandados são verdadeiros;

5. Qualificador (Q) ou qualificador modal ou qualifier: que limitam a força do argumento ou as declarações que propõem as condições sob a qual o argumento é verdadeiro;

6. Refutação (R) ou rebuttal: são contra-argumentos que indicam circunstâncias em que o argumento geral não é verdadeiro.

Com base nesses componentes, Toulmin (2006) delineou um padrão para analisar argumentos simples e mais complexos. A forma de argumento em seu

sentido mais simples é representada pela seguinte relação, apresentada na Figura 5:

Figura 5 – Estrutura do Argumento Simples

Fonte: Adaptado de Toulmin (2006).

Nesse padrão de argumento, os fatos que fornecem os fundamentos para a afirmação (D) são justificados por proposições (G) que apoiam a conclusão (C). Os três primeiros elementos (D, G e C) são fundamentais para a elaboração de um argumento, classificado como simples: os dados (D) são as evidências as quais recorremos como fundamentos para a conclusão (C); a garantia (G) ou justificativa é elo entre o dado (D) e a conclusão (C), é o que estabelece a relação entre (D) e a (C), sendo de uma natureza hipotética e geral. Assim, um argumento pode ser elaborado apenas com os elementos D, G e C, cuja estrutura básica é “a partir de um dado D, já que G, então C” (VIEIRA; NASCIMENTO, 2013).

Nos argumentos mais complexos há dois modelos. O primeiro modelo está representado na Figura 6.

Figura 6 – Estrutura do Argumento Complexo com 5 elementos

Este primeiro modelo tem um elemento denominado qualificador modal (Q), que é utilizado para qualificar a (C). O qualificador (Q) indica uma referência explícita ao grau de força que os (D) conferem à (C) em virtude da garantia de inferência. Da mesma forma, podemos especificar uma refutação (R) à garantia (G), indicando em que circunstâncias a sua autoridade deve ser desconsiderada, ou seja, a (R) específica em que condições a (G) não é válida para dar suporte à (C) (VIEIRA; NASCIMENTO, 2013).

O segundo modelo está representado na Figura 7. Figura 7 – Estrutura do Argumento

Complexo com 6 elementos

Fonte: adaptado de Toulmin (2006).

Neste segundo modelo de argumento complexo (Figura 7), além do (Q) um outro elemento (B) é identificado. Neste modelo temos os seis elementos lógicos da argumentação estão incluídos: uma conclusão (C), que é afirmada sobre a base de um dado (D), passo argumentativo que é autorizado por uma lei de passagem (G), ela mesma retirada de um apoio (B) ou conhecimento de base; a (R) especifica as condições que invalidam essa passagem, considerando os pesos dos elementos restritivos (refutação) e justificatórios (B); o qualificador Q (ou modalizador), que atenua ou reforça o status da (C) considerada. Argumentos complexos que incluem um suporte para o apoio (B) são denominados analíticos se o apoio contiver implícita ou explicitamente informações comunicadas na própria (C). Se esta informação não for comunicada na (C), o argumento é denominado substancial.

Para Sasseron e Carvalho (2011), o TAP é uma ferramenta eficaz nos procedimentos de análise das argumentações no ensino de Ciências, pois apresenta caráter prescritivo, enquadrando o que é um argumento e diferenciando claramente

daquilo que não é, quando caracteriza e descreve a função dos constituintes estruturais do argumento.

O TAP possibilita a compreensão da AC, já que relaciona dados (D) e conclusões (C) mediante justificativas de caráter hipotético; revela o papel das evidências (D) na elaboração de afirmações; salienta as limitações ou a sustentação de determinada teoria em relação a outras. Os qualificadores e as refutações indicam a capacidade de ponderar diante de diferentes teorias com base na evidência (D) apresentada por cada uma das evidências. Essas características ajudam a relacionar características do discurso em salas de aula de Ciências com aspectos da AC (CAPPECHI; CARVALHO, 2004).

O TAP é um modelo amplamente utilizado em pesquisas de ensino de Ciências, sendo útil para analisar a estrutura de um argumento. Jiménez-Aleixandre e Erduran (2015) apontam alguns aspectos relevantes para a análise da argumentação com a utilização do TAP: a) os argumentos implicam, tanto sustentar posições como as criticar, por exemplo: por meio das refutações; b) as normas e os critérios do raciocínio podem ser dependentes do campo disciplinar, por exemplo: justificações e conhecimento básico; c) as conclusões derivadas do raciocínio podem ser qualificadas, tal como mediante os qualificadores.

Erduran (2018) aponta várias críticas da utilização do TAP realizadas por vários autores: (a) é linear e técnico quando adaptado como uma estrutura analítica única em pesquisa; (b) apresentou dificuldades na ambiguidade dos esquemas de codificação; (c) problemático para analisar a argumentação dos estudantes encontrando dificuldades na codificação entre dados; (d) não explica suficientemente a dinâmica dos critérios epistêmicos e sociais da argumentação.

Erduran, Simon e Osborne (2004) desenvolveram um projeto de pesquisa intitulado Enhancing the Quality of Argument in School Science para examinar a qualidade dos argumentos dos professores e dos estudantes. O projeto teve como objetivo aprimorar os argumentos dos participantes em contextos científicos e sociocientíficos durante discussões em aulas de Ciências. Os dados foram coletados por meio de conversas que foram gravadas em áudio e entrevistas com os professores. A análise incorporou a estrutura do TAP que foi adaptada para

incorporar alguns componentes do padrão. O reconhecimento do papel central de refutações em argumentos racionais é um aspecto importante da estrutura proposta pelos autores, ou seja, para eles, argumentos sem refutações não permitem que os professores e estudantes envolvidos em um diálogo sejam epistemicamente desafiados, além de não permitir que suas crenças e pontos de vistas sejam questionados (MCDONALD, 2008).

O modelo proposto por Erduran, Simon e Osborne (2004) incorpora os componentes do TAP: (D); (G); (C); (Q); (B) e (R), sendo que uma única categoria de dados ou grounds é formada por (D); (G) e (B). Dessa forma, tentaram aliviar algumas dificuldades em diferenciar esses elementos da argumentação e classificaram a qualidade analítica do argumento em cincos níveis (Quadro 1).

Quadro - 1 Níveis de qualidade analítica de argumentos

NÍVEIS ARGUMENTOS

5 São argumentos estendidos com mais de uma refutação. Todos os elementos presentes no argumento. (C) (D) (G) (R) (Q) e (R).

4

Consistem em uma conclusão com uma refutação claramente identificável. Tal argumento pode ter várias conclusões e contraconclusão, mas isso não é necessário (C); (D); (G) ou (B) e (R) identificável.

3

Consistem em uma série de conclusões e contraconclusões com dados, garantias ou apoio com a refutação ocasional e fraca. Elementos presentes no argumento (C); (D); (G) ou (B). Há (R), porém fraca.

2

Consistem em conclusão com dados, garantias ou backing, mas não contêm quaisquer refutações, ou seja, argumento composto de (C); (D); (G) ou (B).

1

Consistem em uma conclusão simples versus uma contraconclusão de contador ou uma conclusão versus conclusão. Estão presentes os elementos no argumento (C) (D) e (G).

Fonte: adaptado de Erduran, Simon e Osborne (2004. Tradução nossa).

O argumento que apresenta CDG (Conclusão-Dado-Garantia) é menos sofisticado e está incluído no nível 1; o que possui os elementos (C) (D) (G) (B), mas não contém qualquer (R), é incluído no nível 2; o que apresenta (C) (D) (G) e (R) ocasional e fraca, é incluído no nível 3, (C) (D) (G) (Q) ou (C) (D) (G) (B) (Q) com uma refutação identificável, incluído no nível 4 e aquele que apresenta os elementos ou (C) (D) (G) (B) (Q) e mais de uma (R) identificável está no nível 5.

McDonald (2008) diz que os autores idealizadores desse modelo de avaliação afirmam que sua estrutura de esquema de avaliação de qualidade analítica de argumento tem por objetivo aprimorar o TAP, já que permite que a estrutura seja aplicada a conversas de toda a classe, permitindo, assim, uma avaliação detalhada do desempenho da argumentação em mais de uma lição.

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