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Modelos Conceptuais em Intervenção Precoce

1. Perspectivas teóricas actuais em psicologia

1.2. Modelo transaccional e modelo ecológico

As políticas e as práticas em intervenção precoce na infância têm tido como referencial, durante as últimas décadas, modelos teóricos do desenvolvimento humano que têm vindo a ser aperfeiçoados ao longo do tempo. Estes modelos teóricos incluem o modelo transaccional formulado por Sameroff (2009; Sameroff & Fiese, 2000) e o modelo bioecológico enunciado por Bronfenbrenner (2005; Bronfenbrenner & Morris, 2006). Em conjunto, estes

Capitulo I. Modelos Conceptuais em Intervenção Precoce

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modelos sublinham a forma como o desenvolvimento é influenciado pela interacção entre factores de risco e factores de protecção que podem ser identificados a nível individual, familiar, comunitário e nos contextos sociais e económicos. Cada um destes modelos também enfatiza a influência mútua das interacções adulto-criança no processo de desenvolvimento, salientando a importância de relacionamentos apropriados, bem como o reconhecimento do papel activo da criança no seu próprio desenvolvimento.

A perspectiva actual em intervenção precoce na infância realça a necessidade de focar aspectos relativos à criança, mas também de considerar, para além da criança, o seu ambiente (família e comunidade), de forma a possibilitar uma análise contextualizada dos problemas do desenvolvimento. Esta perspectiva, inspirada nos princípios básicos da abordagem bioecológica do desenvolvimento humano destaca, assim, a importância de se estudar o desenvolvimento nos diferentes contextos de vida da criança.

De facto, a perspectiva ecológica em psicologia realça a necessidade de analisar a natureza das relações entre pessoas, grupos, organizações, em diferentes contextos socioeconómicos bem com a forma como essas relações e acontecimentos influenciam, tanto directa como indirectamente, o funcionamento da família, as atitudes e competências parentais, o desenvolvimento e comportamento da criança, e outros aspectos do funcionamento humano (Dunst, 2004). Estas noções são explicitadas na definição de ecologia do desenvolvimento humano, referida como o estudo científico da acomodação progressiva e gradual, ao longo da vida, entre um organismo activo, em crescimento e altamente complexo – caracterizado por um conjunto complexo especifico de capacidades inter-relacionadas e em evolução, para pensar, sentir e agir – e as propriedades em mudança dos cenários imediatos onde a pessoa em desenvolvimento vive, sofrendo este processo a influência das relações que se estabelecem entre estes cenários e os contextos mais alargados nos quais estes cenários estão inseridos (Bronfenbrenner & Morris, 2006).

Perspectivas teóricas Capitulo I. Modelos Conceptuais em Intervenção Precoce

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Bases do Desenvolvimento Saudável

e Factores de Adversidade Precoce Implicações na Aprendizagem, Comportamento e Saúde do Adulto Responsividade & Estimulação Ambiente dos Relacionamentos Mecanismos Causais Efeitos Cumulativos ao Adaptações e Disfunções Fisiológicas Comportamentos Relativos à Saúde Promoção da Saúde Negligente ou Abusivo Ameaça à Saúde Promoção da Saúde Ambiente Físico, Químico & Construído Longo do Tempo Interacção Genes e Ambiente Metabólica Neuroendocrina Neurodesenvolvimental Cardiovascular Imune Sucesso Educativo & Produtividade Económica Alto Ameaça para a Saúde Baixo

Apropriada Nutrição Saúde Física

& Mental

Bem-estar Embedding Biológico

nos Períodos Críticos

Pobre

Doença & Distúrbio

Figura 1 – Abordagem biodesenvolvimental para compreender as origens e disparidades da aprendizagem, comportamento e saúde (Adaptado de Shonkoff, 2010)

Os avanços no desenvolvimento de programas de intervenção precoce evidenciam o papel positivo das experiências precoces no fortalecimento da arquitectura cerebral e a crescente compreensão de como a adversidade afecta os circuitos cerebrais e influencia a aprendizagem, o comportamento, bem como a saúde mental e física ao longo da vida. Para além disso, tal como refere Shonkoff (2010, p.365), “a neurobiologia diz-nos que, quanto mais tempo esperarmos para investir nas crianças que estão em risco, mais difícil será atingir resultados positivos, particularmente para aquelas que experienciaram disfunções biológicas precoces”.

1.2. Modelo transaccional e modelo ecológico

As políticas e as práticas em intervenção precoce na infância têm tido como referencial, durante as últimas décadas, modelos teóricos do desenvolvimento humano que têm vindo a ser aperfeiçoados ao longo do tempo. Estes modelos teóricos incluem o modelo transaccional formulado por Sameroff (2009; Sameroff & Fiese, 2000) e o modelo bioecológico enunciado por Bronfenbrenner (2005; Bronfenbrenner & Morris, 2006). Em conjunto, estes

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modelos sublinham a forma como o desenvolvimento é influenciado pela interacção entre factores de risco e factores de protecção que podem ser identificados a nível individual, familiar, comunitário e nos contextos sociais e económicos. Cada um destes modelos também enfatiza a influência mútua das interacções adulto-criança no processo de desenvolvimento, salientando a importância de relacionamentos apropriados, bem como o reconhecimento do papel activo da criança no seu próprio desenvolvimento.

A perspectiva actual em intervenção precoce na infância realça a necessidade de focar aspectos relativos à criança, mas também de considerar, para além da criança, o seu ambiente (família e comunidade), de forma a possibilitar uma análise contextualizada dos problemas do desenvolvimento. Esta perspectiva, inspirada nos princípios básicos da abordagem bioecológica do desenvolvimento humano destaca, assim, a importância de se estudar o desenvolvimento nos diferentes contextos de vida da criança.

De facto, a perspectiva ecológica em psicologia realça a necessidade de analisar a natureza das relações entre pessoas, grupos, organizações, em diferentes contextos socioeconómicos bem com a forma como essas relações e acontecimentos influenciam, tanto directa como indirectamente, o funcionamento da família, as atitudes e competências parentais, o desenvolvimento e comportamento da criança, e outros aspectos do funcionamento humano (Dunst, 2004). Estas noções são explicitadas na definição de ecologia do desenvolvimento humano, referida como o estudo científico da acomodação progressiva e gradual, ao longo da vida, entre um organismo activo, em crescimento e altamente complexo – caracterizado por um conjunto complexo especifico de capacidades inter-relacionadas e em evolução, para pensar, sentir e agir – e as propriedades em mudança dos cenários imediatos onde a pessoa em desenvolvimento vive, sofrendo este processo a influência das relações que se estabelecem entre estes cenários e os contextos mais alargados nos quais estes cenários estão inseridos (Bronfenbrenner & Morris, 2006).

Perspectivas teóricas

Capitulo I. Modelos Conceptuais em Intervenção Precoce

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O modelo de ecologia social proposto por Bronfenbrenner (2005) identifica as influências distais relativas à família, à escola, ao trabalho e cultura, na disponibilização de reforços para a criança, constituindo um modelo empírico compreensível para se predizerem as diferenças individuais no desenvolvimento. Assim, ao mesmo comportamento da criança podem ser dados diferentes significados em diferentes sociedades, levando a diferentes consequências no desenvolvimento, e no sentido oposto, a diferentes comportamentos pode ser dado o mesmo significado conduzindo às mesmas consequências.

O estudo científico do desenvolvimento é actualmente caracterizado pelo compromisso em compreender as relações dinâmicas entre desenvolvimento individual e a integração da ecologia multi-nível do desenvolvimento humano. De acordo com Lerner (2005), a plasticidade associada ao envolvimento activo da criança nos seus contextos legitima uma abordagem optimista relativamente à possibilidade de aplicação da ciência do desenvolvimento na melhoria dos contextos de vida. Nesta perspectiva, o processo básico do desenvolvimento humano pode ser estimulado e aprimorado através da aplicação de políticas e programas desenhados para promover um desenvolvimento saudável.

De acordo com Bronfenbrenner e Morris (2006), o modelo de conceptualização do sistema integrado do desenvolvimento humano inclui quatro componentes: (a) o processo desenvolvimental, que inclui a relação dinâmica do indivíduo e do contexto; (b) a pessoa, com o seu reportório individual, biológico, cognitivo, emocional e comportamental; (c) o contexto, conceptualizado como um conjunto concêntrico de níveis ou sistemas da

ecologia do desenvolvimento humano2; (d) o tempo, conceptualizado como

ligação das múltiplas dimensões de temporalidade. Estes autores referem que

2Bronfenbrenner (1979) concebeu o modelo teórico “a ecologia do desenvolvimento humano” como um

conjunto inter-relacionado de sistemas: microssistema - o ambiente em que o indivíduo interage num dado momento da sua vida; mesossistema - o conjunto dos microssistemas que constituem o nicho do desenvolvimento individual num dado período do desenvolvimento; exossistema - os contextos que embora não directamente implicados no desenvolvimento têm influência no comportamento e desenvolvimento da pessoa (por exemplo, trabalho dos pais); e, macrossistema - o nível que implica a cultura, macro-instituições e politicas públicas, e que influencia a natureza das interacções em todos os outros níveis da ecologia do desenvolvimento humano.

Capitulo I. Modelos Conceptuais em Intervenção Precoce

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os processos proximais são os principais motores na promoção do desenvolvimento e consideram que estes processos variam sistematicamente como uma função conjunta das características da pessoa em desenvolvimento, do ambiente (imediato e remoto) no qual o processo tem lugar, da natureza dos resultados do desenvolvimento e das mudanças sociais que ocorrem ao longo do tempo durante o ciclo de vida e do período histórico durante o qual a pessoa vive.

Sameroff e Fiese (2000) baseiam-se no modelo ecológico para enumerar os factores que afectam a competência da criança, desde factores proximais como os cuidados parentais, que têm uma influência directa sobre o comportamento da criança, até aos factores sociais e económicos que a afectam através da acção dos outros. Os autores destacam que nenhum factor constitui, por si só, um risco ou uma oportunidade para o desenvolvimento das crianças. Ou seja, não se pode isolar um factor como responsável pelos bons ou maus resultados desenvolvimentais. Do ponto de vista da intervenção, isto significa que é pouco provável que se possam encontrar programas universais para os problemas das crianças. Na sua análise ecológica do desenvolvimento, estes autores sublinham que, para além da ênfase dada ao contexto, não se pode perder de vista o importante papel que jogam as diferenças individuais da criança, na medida em que ela influencia o ambiente e é influenciada por ele.

De facto, o modelo transaccional considera o desenvolvimento como um produto das interacções dinâmicas, contínuas e bidireccionais, que se estabelecem entre a criança e as experiências que lhe são proporcionadas pela família e pelo contexto social (Sameroff, 1975; como citado em Bairrão & Almeida, 2003).

As componentes do modelo proposto por Sameroff (2010), que de modo unificado enquadra o desenvolvimento humano, englobam os domínios psicológicos (áreas de inteligência a nível cognitivo e emocional, saúde mental, competência social e identidade, entre outros) que são servidos e interagem com os processos biológicos (neurofisiologia, neuroendocrinologia, proteômica, epigenoma e genoma); estes sistemas de auto-regulação interagem com

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O modelo de ecologia social proposto por Bronfenbrenner (2005) identifica as influências distais relativas à família, à escola, ao trabalho e cultura, na disponibilização de reforços para a criança, constituindo um modelo empírico compreensível para se predizerem as diferenças individuais no desenvolvimento. Assim, ao mesmo comportamento da criança podem ser dados diferentes significados em diferentes sociedades, levando a diferentes consequências no desenvolvimento, e no sentido oposto, a diferentes comportamentos pode ser dado o mesmo significado conduzindo às mesmas consequências.

O estudo científico do desenvolvimento é actualmente caracterizado pelo compromisso em compreender as relações dinâmicas entre desenvolvimento individual e a integração da ecologia multi-nível do desenvolvimento humano. De acordo com Lerner (2005), a plasticidade associada ao envolvimento activo da criança nos seus contextos legitima uma abordagem optimista relativamente à possibilidade de aplicação da ciência do desenvolvimento na melhoria dos contextos de vida. Nesta perspectiva, o processo básico do desenvolvimento humano pode ser estimulado e aprimorado através da aplicação de políticas e programas desenhados para promover um desenvolvimento saudável.

De acordo com Bronfenbrenner e Morris (2006), o modelo de conceptualização do sistema integrado do desenvolvimento humano inclui quatro componentes: (a) o processo desenvolvimental, que inclui a relação dinâmica do indivíduo e do contexto; (b) a pessoa, com o seu reportório individual, biológico, cognitivo, emocional e comportamental; (c) o contexto, conceptualizado como um conjunto concêntrico de níveis ou sistemas da

ecologia do desenvolvimento humano2; (d) o tempo, conceptualizado como

ligação das múltiplas dimensões de temporalidade. Estes autores referem que

2Bronfenbrenner (1979) concebeu o modelo teórico “a ecologia do desenvolvimento humano” como um

conjunto inter-relacionado de sistemas: microssistema - o ambiente em que o indivíduo interage num dado momento da sua vida; mesossistema - o conjunto dos microssistemas que constituem o nicho do desenvolvimento individual num dado período do desenvolvimento; exossistema - os contextos que embora não directamente implicados no desenvolvimento têm influência no comportamento e desenvolvimento da pessoa (por exemplo, trabalho dos pais); e, macrossistema - o nível que implica a cultura, macro-instituições e politicas públicas, e que influencia a natureza das interacções em todos os outros níveis da ecologia do desenvolvimento humano.

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os processos proximais são os principais motores na promoção do desenvolvimento e consideram que estes processos variam sistematicamente como uma função conjunta das características da pessoa em desenvolvimento, do ambiente (imediato e remoto) no qual o processo tem lugar, da natureza dos resultados do desenvolvimento e das mudanças sociais que ocorrem ao longo do tempo durante o ciclo de vida e do período histórico durante o qual a pessoa vive.

Sameroff e Fiese (2000) baseiam-se no modelo ecológico para enumerar os factores que afectam a competência da criança, desde factores proximais como os cuidados parentais, que têm uma influência directa sobre o comportamento da criança, até aos factores sociais e económicos que a afectam através da acção dos outros. Os autores destacam que nenhum factor constitui, por si só, um risco ou uma oportunidade para o desenvolvimento das crianças. Ou seja, não se pode isolar um factor como responsável pelos bons ou maus resultados desenvolvimentais. Do ponto de vista da intervenção, isto significa que é pouco provável que se possam encontrar programas universais para os problemas das crianças. Na sua análise ecológica do desenvolvimento, estes autores sublinham que, para além da ênfase dada ao contexto, não se pode perder de vista o importante papel que jogam as diferenças individuais da criança, na medida em que ela influencia o ambiente e é influenciada por ele.

De facto, o modelo transaccional considera o desenvolvimento como um produto das interacções dinâmicas, contínuas e bidireccionais, que se estabelecem entre a criança e as experiências que lhe são proporcionadas pela família e pelo contexto social (Sameroff, 1975; como citado em Bairrão & Almeida, 2003).

As componentes do modelo proposto por Sameroff (2010), que de modo unificado enquadra o desenvolvimento humano, englobam os domínios psicológicos (áreas de inteligência a nível cognitivo e emocional, saúde mental, competência social e identidade, entre outros) que são servidos e interagem com os processos biológicos (neurofisiologia, neuroendocrinologia, proteômica, epigenoma e genoma); estes sistemas de auto-regulação interagem com

Perspectivas teóricas

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outros sistemas de regulação, que representam os diferentes ambientes da ecologia social, incluindo a família, a escola, a vizinhança, a comunidade e as influências geopolíticas (ver Figura 2). Considerados em conjunto estes domínios enquadram os aspectos bio-psico-sociais do indivíduo em contexto.

É, pois, evidente a importância de se identificarem as diferentes fontes de regulação do desenvolvimento humano para se promoverem os resultados da intervenção. Assim, há a organização biológica, inicialmente conceptualizada como genótipo, que regula os aspectos físicos do desenvolvimento de cada indivíduo ao longo do ciclo de vida; e, há o mesótipo, resultado da combinação dos principais contextos que afectam o desenvolvimento da criança, que consiste nos padrões de socialização familiar e cultural, análogos ao genótipo biológico (Sameroff, 2009). O comportamento da criança é em qualquer momento, um produto das transacções entre o

fenótipo, ou seja a pessoa, o mesótipo, isto é a fonte de experiência externa, e

o genótipo, que é a fonte de organização biológica.

Figura 2 – Sistema ecológico bio-psico-social (Adaptado de Sameroff, 2010)

A inovação do modelo transaccional é a sua visão igualitária sobre os efeitos da criança e do ambiente, de modo que as experiências proporcionadas pelo ambiente não se concebem como independentes da criança. Este modelo

Pais