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CAPÍTULO 3 ESTÍMULOS E BARREIRAS À CRIATIVIDADE NAS

3.3. Modelos de criatividade organizacional

Existem diversos modelos que discutem a criatividade nas organizações, sendo que o número de fatores e as relações entre os componentes diferem de um para outro (Kwaniewska & Necka, 2004). Além disso, nos últimos anos têm surgido novas perspectivas teóricas que têm dado menos ênfase ao perfil do indivíduo criativo, e mais nas inter-relações entre o indivíduo e o ambiente com uma visão mais sistêmica (Alencar & Fleith, 2003).

Segundo Alencar e Fleith (2003), existem três modelos de criatividade que foram desenvolvidos com base nessa abordagem recente de criatividade: a teoria de investimento em criatividade de Sternberg (Sternberg & Lubart, 1991), o modelo componencial de criatividade de Amabile (1983, 1996b; Amabile & Mueller, 2008) e a perspectiva de sistemas de Csikszentmihalyi (1999). Além desses três, a análise da literatura indicou a existência de outros modelos, como, Woodman, Sawyer e Griffin (1993) e Drazin, Glynn e Kazanjian (1999), estes, dois últimos, restritos à área organizacional.

Stenberg e Lubart (1991), após analisarem a literatura, desenvolveram um modelo que procura integrar diferentes aspectos que são responsáveis pela criatividade. Esse modelo é denominado de teoria de investimento em criatividade e defende que o comportamento criativo resulta da inter-relação de seis elementos distintos: (1) inteligência, (2) estilos intelectuais, (3) conhecimento, (4) personalidade, (5) motivação e (6) contexto ambiental. Esse modelo procura compreender a criatividade de maneira geral, ao passo que os modelos seguintes tratam a criatividade organizacional dentro de uma visão sistêmica, isto é, destacam a importância dos aspectos sociais e contextuais que influenciam na criatividade dos trabalhadores.

Considerando a sua experiência de mais de trinta anos no estudo da criatividade, Amabile (1983, 1996b) propôs um modelo componencial de criatividade (vide Figura 16). Esse modelo procura explicar como os aspectos cognitivos, motivacionais, sociais e de personalidade influenciam no processo criativo, sendo que grande ênfase é dada ao papel da motivação e dos fatores sociais (Alencar & Fleith, 2003). De acordo com a teoria componencial, a criatividade é um processo influenciado por aspectos internos e externos ao indivíduo. Dentre os elementos do sujeito, tem-se: a motivação intrínseca para a tarefa, expertise e habilidade para a criatividade; e o fator exterior é o ambiente.

Figura 16. Modelo componencial de criatividade de Amabile, adaptado de Amabile e

Mueller (2008, p. 36).

A expertise é considerada a base e compreende os conhecimentos e talentos específicos de determinado domínio, sendo que tais habilidades podem ser afetadas por educação e treinamento formal e informal. Já a habilidade para a criatividade diz respeito às estratégias e os estilos cognitivos utilizados para gerar ideias e/ou solucionar problemas; assim, se a pessoa tem a expertise, mas não possui habilidades para o pensamento criativo, não conseguirá um resultado criativo. Essas habilidades para a criatividade dependem de características de personalidade, independência, tolerância à ambiguidade e podem ser treinadas (Alencar & Fleith, 2003). A despeito da relevância desses dois elementos, é a motivação intrínseca que levará a pessoa a fazer algo criativo. Assim, para que ocorra a criatividade, deve haver a confluência de todos os componentes. Dentre os três elementos internos, a motivação intrínseca é a mais afetada pelo ambiente de trabalho (Amabile & Mueller, 2008).

O componente externo é o ambiente de trabalho (ou ambiente social). Aqui estão incluídos todos os aspectos motivadores extrínsecos, bem como os estímulos e barreiras à expressão da criatividade. A despeito de esse modelo trazer importante contribuição ao estudo da criatividade, alguns componentes não são detalhados. Por exemplo, ao se discorrer sobre o ambiente de trabalho e das variáveis externas, não há uma especificação a respeito de quais seriam os elementos constituintes, de modo que o

AMBIENTE DE TRABALHO MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA EXPERTISE HABILI DADE P/ CRIATIVIDADE CRIATIVIDADE Componentes

modelo permite uma visão geral do fenômeno, mas apresenta uma dificuldade de ser testado integralmente.

Outra abordagem que procura integrar as pessoas, os processos, os produtos e a situação é a de Csikszentmihalyi (1999). Nesse modelo, ele reforça a ideia de que a criatividade é um processo sistêmico e complexo, o qual é formado pelas inter-relações entre: (1) o indivíduo - aspectos hereditários e experiências pessoais; (2) o domínio- cultura; (3) campo - sistema social; de maneira que a criatividade não depende exclusivamente do indivíduo, mas sim, da interação entre os diferentes domínios. O argumento central, nessa perspectiva, é que a criatividade é construída socialmente e utilizada para descrever ações dentro de um contexto particular (Ford & Gioia, 2000). Assim sendo, é necessária uma visão holística desse fenômeno, pois a criatividade está inserida dentro do contexto sociocultural.

O primeiro subsistema refere-se ao indivíduo. E, dentre as características individuais para a geração de ideias criativas, podem ser listadas a abertura e flexibilidade. O segundo subsistema denominado de campo/sociedade é formado por pessoas que irão decidir quais novidades serão incorporadas à organização. Por fim, o subsistema domínio/cultura pode ser visto como sistema simbólico de regras e procedimentos, que são estabelecidos culturalmente, o que implica dizer que são compartilhados por determinado grupo. Assim, segundo esse modelo, a “ocorrência da criatividade não é uma função apenas de pessoas talentosas, mas também do acesso que se tem a determinado domínio/conjunto de conhecimentos e da receptividade do grupo às novas ideias” (Csikszentmihalyi, 1999, p. 333).

Woodman, Sawyer e Griffin (1993) apresentam um modelo multinível de criatividade com base numa perspectiva interacionista. Segundo eles, a criatividade é um fenômeno, no nível individual, que é afetado por aspectos situacionais e disposicionais (vide Figura 17). Eles afirmam que o grupo de trabalho e os fatores organizacionais podem facilitar ou dificultar os comportamentos criativos na organização.

Dentre as características individuais, tem-se: personalidade, lócus de controle, motivação intrínseca e conhecimento. Como aspectos do grupo, são citadas as normas, diversidade, coesão, tamanho; e como aspectos da organização, a cultura organizacional, sistema de recompensas, estratégia, estrutura. A despeito do modelo não ter sido testado empiricamente, ele traz uma visão ampla do fenômeno da criatividade organizacional.

Figura 17. Modelo de criatividade organizacional de Woodman, Sawyer & Griffin

(1993, p. 309)

Drazin, Glynn e Kazanjian (1999) também propõem um modelo multinível para investigar a criatividade nas organizações. Eles definem criatividade como um processo, em vez de um resultado. No nível individual, a criatividade refere-se ao engajamento com o objetivo de gerar resultados criativos, sendo que o indivíduo escolhe engajar-se em maior ou menor grau para gerar novas ideias. A criatividade também é definida como um processo no nível grupal, pois projetos criativos implicam a participação de diversos membros da organização, em vez de apenas um indivíduo. Já a criatividade no nível organizacional não se refere simplesmente a agregar os esforços individuais e grupais; ela emerge da interação entre os diversos grupos dentro da

Características Pessoais Características Grupais Características da Organização Comportamento Criativo Situação Criativa Estímulos/barreiras Criatividade Organizacional Entrada Pessoas criativas grupos contexto organizacional Transformação Processo Criativo Saída Produtos Criativos Habilidades cognitivas Personalidade Motivação intrínseca Conhecimentos Normas Coesão Tamanho Diversidade Papéis Tarefas Abordagens para solução de problemas Cultura Recursos Recompensas Estratégias Estrutura Tecnologias

organização. Nesse modelo, cada um desses níveis de forma interativa afeta o processo criativo.

Ao analisar os diferentes modelos, verifica-se que há uma profusão de propostas e que eles trazem uma importante contribuição ao estudo da criatividade nas organizações, principalmente porque sistematizam os achados de diversas pesquisas e apresentam uma compreensão ampla do fenômeno; contudo, são encontradas algumas limitações como o elevado número de variáveis envolvidas, o que dificulta na testagem do modelo geral; além disso, em alguns, não há um detalhamento claro acerca de cada um dos componentes (Lubart, 1999). Todavia, observa-se que todos eles tratam da influência do contexto na criatividade. Dentre as variáveis contextuais relacionadas neste trabalho, conforme dito, a variável de interesse é a percepção de estímulos e barreiras à criatividade nas organizações. Assim, na seção seguinte, ela será detalhada.