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2.3 Modelagem Computacional e Análise Exploratória

2.3.2 Modelos de Crescimento Urbano

Inserido no processo de crescimento urbano existem modelos clássicos como o de Von Thunen em 1826 (Krugman et al., 2002) conhecido como modelo de localização das atividades agrícolas, o modelo da localização industrial de Weber em 1909 (Weber and Friedrich, 1929) e a teoria do lugar central de Christaller e Losch em 1933 (Christaller and Baskin, 1966). Os três modelos apresentam algumas semelhanças, tais como a existência de uma planície homogênea no tocante ao transporte e produção; comunicação realizada através de linhas retas e a existência de um ponto central ou uma área central que tem a sua volta diferentes tipos de consumidores, formando assim anéis em torno do ponto central.

Modelo de Estado Isolado

Proposto por Von Thunen e publicado pela primeira vez em 1826 (Krugman et al., 2002) o modelo contempla atividades agrícolas dispersas em torno de um centro urbano ou um mercado consumidor geograficamente localizado, conforme apresentado na Figura 2.16. As atividades agrícolas formam anéis em torno do centro urbano. Neste a distância é determinada levando em consideração o centro urbano e os pontos de atividades agrícolas.

Uma característica interessante aplica-se as áreas mais próximas do Centro e que pos- suem um cultivo de alto valor e consequentemente alto custo de transporte, ou seja culturas que produzem alto valor por hectare. Já as áreas mais externas seriam compostas por qualquer tipo de cultivo, caracterizado por ser de baixo valor e consequentemente baixo custo de transporte (Grigg, 1984).

O modelo distribui diferentes tipos de produções agrícolas em uma planície homogê- nea de custos de produção e transporte constantes, com único mercado central consumidor e que procura maximizar os lucros e produção agrícola.

A seguir são detalhadas outras características do modelo (Grigg, 1984): • Em torno do Centro existem áreas de produção agrícola, formando anéis; • O comércio dos produtos ocorre entre o Centro e as áreas periféricas;

• As áreas periféricas são compostas por agricultores de mesmo nível cultural; • A produção objetiva a maximização dos lucros;

• O único lugar de comercialização é o Centro;

• O transporte da produção é realizado por carroças ou animais; e • A proximidade ao Centro é a única vantagem entre os agricultores.

Sintetizando o conceito do modelo segue a citação de (Krugman et al., 2002): “Imagine uma cidade muito grande, no Centro de uma planície fértil que não é cruzada por

nenhum rio ou canal navegável. Em toda a planície o solo é capaz de ser cultivado e é de mesma fertilidade. Longe da cidade a planície se torna um solo selvagem não cultivável que

Figura 2.16: Modelo de estado isolado (Grigg, 1984) - Tradução Livre.

corta toda a comunicação entre este estado e o mundo exterior. Não existem outras cidades na planície. A cidade central deve, portanto, fornecer às áreas rurais todos os produtos

industrializados e, em troca, ela obterá todas as provisões da área rural ao redor.” Localização Industrial

O modelo proposto por Alfred Weber em 1909 objetiva analisar os custos referentes a localização de uma indústria. Em comparação a teoria de Von Thunen que tinha como um dos objetivos verificar quais atividades agrícolas deviam ser efetivadas em determinados lugares, a teoria de Weber tem como objetivo determinar o local de uma ou mais indústrias levando em consideração os custos envolvidos (Weber and Friedrich, 1929).

O melhor local para uma indústria ser instalada levava em consideração os custos envolvidos na produção ou custos de mão de obra; custos do transporte das matérias-primas, onde a matéria prima já é conhecida e limitada e o mercado consumidor, sendo representado por pontos espacializados.

O fator de localização da indústria é de extrema importância por auxiliar na redução dos custos operacionais. Para determinar a melhor localização Weber determina o ponto de custo mínimo de transporte utilizando o triângulo locacional, conforme demonstrado na Figura 2.17, observando-se as seguintes características:

• Custo da produção: em uma ou mais indústria o custo é o mesmo, o que varia é somente o custo do transporte; e

• Matéria-prima: existem em diferentes locais e com o mesmo custo, variando somente o custo do transporte até a indústria.

Lugar Central

O modelo proposto por Walter Christaller representa as funções que as cidades pos- suem e a relação existentes entre elas. O modelo propõe uma medida de centralidade como um princípio de ordem espacial. A centralidade tipifica um ranking que a cidade recebe em rela- ção a variedade de bens ou serviços que disponibiliza para outras localidades perifericamente distribuídas (Queiroz Ablas, 1982).

Figura 2.17: Triângulo locacional de Weber (Rezende, 2015).

A principal característica da centralidade é que grandes cidades possuem maior in- fluência (econômica, política ou cultural) sobre menores cidades ou localidade periféricas. A influência da grande cidade vai diminuindo a medida em que a distância vai aumentando.

É possível observar na Figura 2.18 a aplicação das características do modelo do lugar Central.

• Lugar Central: Centro urbano que presta funções centrais para regiões periféricas; • Função Central: Bens ou serviços oferecidos exemplo:hospital(especializada), Merca-

dos(pouco especializada);

• Unidade Funcional: locais que prestam uma função central exemplo: diversos hospitais (edificações);

• Centralidade: ranking que cada cidade recebe em relação a quantidade e variedades de bens/serviços (Função Central);

• Raio de Eficiência: distância limite de deslocamento da população para obter um serviço prestado pela função central no lugar central; e

• Área de Influência: abrangência em relação as regiões periféricas.

A teoria do lugar central possui alguns princípios que de certa forma se assemelham aos princípios da teoria do modelo de estado isolado de Von Thunen. Os princípios da teoria do lugar central são apresentados abaixo (Carvalho Ferreira, 1975):

• Cada área de mercado possui as mesmas características; • População distribuída uniformemente;

• Lugar central fornece bens e serviços exercendo uma área de influência;

• Consumidores procuram os lugares centrais mais próximos para adquirirem ou consumi- rem bens e serviços;

• Fornecedores procuram maximizar os lucros;

• Os consumidores não devem estar distantes dos fornecedores a uma distância maior do que estão dispostos a percorrer;

• Lugar central fornecem muitas funções são denominados Centros de Ordem Superior e possuem todos os bens e serviços que os Centros de ordem inferior;

• Outros lugares, que oferecem uma quantidade menor de funções são denominados Cen- tros de Ordem Inferior;

• Consumidores possuem as mesmas necessidades; e • Consumidores possuem a mesma renda.

Em síntese o modelo do lugar central define o índice de centralidade do lugar central e a sua área de influência em relação as áreas periféricas, com isto o consumidor iria para o lugar central de maior hierarquia que estivesse mais próximo para adquirir os bens e serviços que desejasse.

Em linhas gerais, os três modelos apresentados (estado isolado, localização indus- trial, lugar central) apresentam conceitos associados ao processo de crescimento urbano, o qual incorpora diferentes tipos de equipamentos como sistemas viários, sistemas de transporte, es- colas, parques, hospitais, praças, postos de saúde, unidades da polícia, edificações comerciais, edificações residenciais, bares, panificadores e outros, bem como as funções que exercem e a sua localização espacial.

O Contexto de Curitiba

Os conceitos de crescimento urbano, mesmo sendo estabelecidos por especialistas na área, possuem particularidades dadas pela história de cada cidade, neste caso Curitiba.

Com o crescimento populacional em Curitiba, iniciou-se o processo de hierarquização da cidade, representada pela divisão dos locais de moradia conforme classe social e atividades econômicas. No início do século XX, áreas como a do bairro Rebouças foram destinadas a fábricas e do bairro Portão a moradias de operários (PMC, 2015).

Entre os anos de 1941 e 1943 foi definido o plano Agache (PMC, 2015), que adotou um sistema radial de vias ao redor do centro da cidade, apresentado na Figura 2.19-a. O plano

definia áreas específicas para habitação, serviço, indústrias e a reestruturação viária. A configu- ração viária radial ligava setores e áreas especializadas, originando assim o Setor Industrial do Rebouças, Cidade Universitária, Centro Militar no Bacacheri e o Hipódromo do Prado Velho. Origina-se então em 1953 a primeira lei de zoneamento de Curitiba.

Em 1965 foi elaborado um novo plano com uma concepção linearizada de um cres- cimento composta por eixos estruturais e fundamentada no tripé Uso do Solo, Transporte e Sistema Viário. Assim, o crescimento deveria acontecer em novos centros lineares denomina- dos eixos estruturais. Logo depois criou-se o eixo de integração e desenvolvimento metropoli- tano conhecido como BR-116, apresentado na Figura 2.19-b. A Avenida República Argentina compôs o eixo sul, e o prolongamento da Avenida João Gualberto o eixo norte.

(a) Plano agache - crescimento radial (b) Crescimento linear

Figura 2.19: Plano Agache e crescimento linear.

De acordo com (PMC, 2015) um plano de crescimento urbano, ou um plano diretor objetiva definir a função social da cidade e da propriedade urbana, além de organizar o cresci- mento e o funcionamento do município.

A questão do zoneamento está inserida no plano diretor e tem por objetivo dividir o território de um município e fornecer a cada região melhor utilização em função do sistema viário, topografia e infraestrutura existente. A criação de zonas e setores de uso e ocupação do solo e adensamentos diferenciados, é utilizada para esta finalidade, conforme a Lei número 9800 de 2000 (PMC, 2015).

Segundo a lei número 9800 de 2000, Curitiba é dividida em zonas e setores de uso como Zona Central - ZC, Zonas Residenciais - ZR, Zonas de Serviços - ZS, Zonas de Transição - ZT; Zonas Industriais - ZI, Zonas de Uso Misto - ZUM, Zonas Especiais - ZE, Zona de Contenção - Z-CON, Áreas de Proteção Ambiental - APA e Setores Especiais - SE.

A Figura 2.20 apresenta mapa do município de Curitiba apresentando as diferentes áreas e seu respectivo zoneamento.

Figura 2.20: Zoneamento da cidade de Curitiba (IPPUC, 2015).

Algumas disposições da lei número 9800 de 2000 em relação ao zoneamento en- volvem a concessão de alvarás de construção e de alvarás de localização de usos e atividades urbanas.

Os alvarás mencionados na lei são documentos ou declarações governamentais que autorizam alguém à prática de determinado ato ou exercício de uma atividade (PMC, 2015) e descrevem o conceito de tipo de negócio, ou seja, a finalidade do negócio, quer seja para a educação, hospitalar, fábricas ou outros.

Em síntese, tem-se: no contexto do processo de crescimento de Curitiba vários aspec- tos apresentados na seção 2 encontram-se implícitos ou são conhecidos por outros conceitos. Exemplificando, o conjunto de ruas, bairros, indústrias, comércios, e outros, teoricamente fo- ram conceituados como objetos ou equipamentos; o crescimento radial ou linear da cidade em torno de determinados pontos ou eixos pode ser observado como uma distribuição espaciali- zada de diferentes tipos de geometrias (pontos e linhas) que se relacionam por meio de funções espaciais disponíveis em banco de dados espacial.

Outra característica no processo de crescimento é a existência de informações sobre localização, nome de bairros, ruas, tipos de negócio (habitação, serviço, indústrias) e datas. Isso caracteriza a utilização de três tipos de dados: espaciais, não espaciais e temporais.

A referência ao plano Agache denota a utilização de funções espaciais como a função (contém), ou seja, uma área contém determinado tipo de negócio, reforçado posteriormente pelo surgimento da lei de zoneamento. Ou rodovias como a BR-116 que cruza a cidade de Curitiba ou passa pelo bairro do Tatuquara podem ser observadas respectivamente como geometrias do tipo linha que cruzam geometrias do tipo polígono, fazendo uso da função espacial cruza. Ou hospitais identificados por objetos ou equipamentos e representados pela geometria ponto que estão perto de uma praça, por exemplo, representada pela geometria polígono, fazendo uso da função distance, que permite calcular a distância entre as geometrias.

Ou identificar que uma área com zoneamento residencial fica entre duas áreas de zo- neamento industrial, tipificando o uso da geometria multipolígono e a função espacial entre. O contexto de crescimento de Curitiba contém os aspectos descritos na seção 2. Assim torna-se viável a aplicar a fundamentação teórica para representar parcialmente a visualização espaci- alizada dos objetos ou equipamentos que representam o processo de crescimento urbano de Curitiba.