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3. Planeamento e Periodização da Atividade

3.1. Modelos de Periodização

A periodização como referimos anteriormente é o primeiro passo para a elaboração da estratégia a utilizar para alcançar o pico de forma desportivo nos momentos pretendidos. O treino desportivo já era usado há milhares de anos no Egipto e na Grécia como meio de preparação dos atletas para os Jogos Olímpicos e também

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para a guerra. Somente no final do séc. XIX, com o início dos Jogos Olímpicos da era moderna, o treino passou a ter uma estrutura mais sistematizada (Barbanti, 2004).

A primeira explicação científica acerca do treino foi provavelmente dada pelo bioquímico soviético Yakovlev que mencionou a existência de um estado de supre compensação a seguir a uma sessão de treino (Issurin, 2010). No entanto, quando se fala em periodização, o nome que lhe está mais associado é o do teórico soviético Matveiev que foi o seu grande impulsionador, baseado sobretudo em análises de vários desportistas bem-sucedidos da URSS (Seiler e Tønnessen, 2015). Matveiev desenvolveu em meados dos anos 1960, o conceito de “forma desportiva”, que se define como o mais elevado estado de preparação do desportista visando a competição (Matveiev, 1986). Ele desenvolveu o modelo de periodização tradicional clássico, que ainda serve de referência hoje em dia a muitos técnicos. Porém, em meados dos anos 80, do século passado apareceram outros modelos (Issurin, 2010), que se adequam mais ao alto rendimento desportivo, tendo em conta o número crescente de competições. A periodização por blocos de Verkhoshanski para as disciplinas de força foi um deles. De seguida, vamos abordar inicialmente os modelos clássicos como o tradicional de Matveiev, (1986) o Pendular de Arosijev (1971) e o estrutural de Tschiene (1977) e depois os contemporâneos, como o modelo por blocos de Verkhoshanski (1979) o integrador de Bondarchuk (1984) o modelo ATR de Issurin (1986) e Navarro (1994) e o de periodização inversa (Clemente et al., 2015).

Tradicional Clássico - Matveiev criou o modelo como consequência das suas

investigações. Este modelo tem como suporte científico o “síndrome geral de adaptação” de Selye, o qual corresponde às diferentes fases para adquirir a forma desportiva. A preparação desportiva consistia em três etapas: i) adquirir estado de forma; ii) estabilização do estado de forma; iii) perda temporária do estado de forma (Navarro, 2010). Estas etapas correspondem a três períodos de treino, período preparatório (constituído pelas etapas de preparação geral e de preparação

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específica); período competitivo e período de transição, considerados pontos fundamentais na periodização tradicional (Olbrecht, 2000). Na etapa de preparação geral os exercícios são menos específicos e o volume é normalmente elevado, enquanto na etapa de preparação específica, os exercícios apresentam um caracter mais particular, pois os nadadores preparam a distância e a técnica em que são especialistas de forma mais assertiva. No período competitivo, os objetivos são a manutenção do estado de forma adquirido no período anterior, consolidação técnica, aperfeiçoamento das ações táticas através das séries de ritmo de prova e aperfeiçoamento das características psicológicas. Por último o período de transição que surge devido à necessidade de um descanso ativo por parte dos nadadores. Neste período há uma quebra das rotinas de treino para que os nadadores possam recuperar psicologicamente do desgaste provocado pelos anteriores períodos.

Pendular - Modelo foi proposto por Arosijev (1971) e consiste numa alternância

pendular sistemática entre cargas gerais e específicas, com o objetivo de estimular o organismo através desta alternação, onde o maior valor de treino específico coincide com a competição mais importante (Raposo, 2010). Há um maior número de momentos de forma e por isso, a sua vantagem é que possibilita um aumento das situações em que o nadador se encontra mais apto para competir. Perto da competição utiliza cargas de caracter específico, após o seu término, volta às cargas de caracter geral.

Estrutural – O Modelo proposto por Tschiene (1977) caracterizado por um elevado

volume e alta intensidade durante toda a temporada. No entanto ele prevê um intervalo preventivo (durante as férias escolares) para que os nadadores não se encontrem em sobretreino. A proposta de Tschiene divide a época em vários ciclos de atividades de acordo com as interrupções escolares (Raposo, 2005). As competições são regulares ao longo da temporada.

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Blocos - Foi proposto por Verkhoshanski (1979) e caracteriza-se por um grande

direcionamento de exercícios para um contexto específico aplicada à alta competição. Ao trabalho das capacidades físicas, segue-se um bloco para a técnica (Raposo, 2005). Ele defende dois ciclos anuais, onde a carga é distribuída por blocos que sejam mais compatíveis. Este modelo, apesar de aqui estar sintetizado, foi elaborado para contribuir para os desportos de força.

Integrador- Proposto por Bondarchuk (1984), ele propõe uma divisão da temporada

de preparação em desenvolvimento, manutenção e descanso. No desenvolvimento o trabalho é aumentado, no competitivo o objetivo é focar na competição e manter níveis, o de restauração tem como objetivo folgar (Issurin, 2010). O treino tem um caracter mais individualizado pois depende do nível técnico e físico do desportista bem como da sua capacidade de adaptação ao trabalho. Neste sentido o desportista deve ser visto como uma unidade e como tal a preparação deve ser simultaneamente física e técnica. Além disso a preparação geral não faz parte porque o seu transfere para o rendimento desportivo é duvidosa (Bondarchuk, 1984).

Modelo ATR - Proposto inicialmente por Issurin (1986) e mais tarde por Navarro

(1994), é um modelo parecido com o de Verkhoshanski, onde as cargas de treino são aplicadas de forma concentrada com o desenvolvimento de algumas capacidades em blocos de treino (Navarro, et al., 2010). As fases de treino são acumulação, transformação e realização. Existem diferenças relativas ao macrociclo convencional, pois existe uma redução de conteúdos de treino por mesociclo há uma preocupação em garantir que os conteúdos de treino abordados sejam mais compatíveis, a sequência é baseada na sobreposição dos efeitos residuais. (Navarro et al., 2010). Estes dois aspetos são de enorme importância, pois permitem ao treinador rentabilizar muito mais a periodização. Os períodos de treino como são mais curtos permitem que haja mais competições.

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Periodização Inversa – (Clemente et al., 2015) Este modelo de periodização é

baseado no conceito de alta intensidade e baixo volume (Clemente et al., 2015). O programa começa com treinos de grande intensidade e baixo volume e com o decorrer do macrociclo a intensidade mantêm-se mas o volume aumenta (Clemente et al., 2015). Anteriormente a este estudo já existiam suposições acerca dos seus benefícios, e as razões dos defensores desta periodização são variadas, como por exemplo, eles acreditam que o nadador deve treinar velocidade após as competições porque é nessa fase que estão mais rápidos. Também acreditam que eles devem produzir lactato para depois poderem tolerá-lo (Sweetenham e Atkinson, 2003). Estudos em outras modalidades verificaram o aumento da resistência muscular, e da força máxima, no caso da natação Clemente et al., (2015), concluíram através da sua investigação uma melhor resposta autonómica em nadadores. Em primeiro lugar, os nadadores trabalham a potência e depois tratam de a manter.

Além destes modelos de periodização existem diversos macrociclos utilizados por treinadores, que assentam num ou outro modelo, mas são modificados de acordo com as características dos nadadores. Falamos do macrociclo russo para fundistas desenhado por Igor Koshkin para o nadador Vladimir Salnikov, que é constituído por cinco mesociclos (velocidade e técnica, força, resistência aeróbia, ritmo e taper). No macrociclo tradicional australiano de Bill Nelson constituído por 20 semanas de treino. Os primeiros mesociclos têm grandes volumes e de caracter aeróbio (A1,A2,A3) e nos últimos mesociclos reduz-se o volume para intensificar a carga de treino (V, PAE TL e ritmo). Após três semanas de grandes cargas, há uma com grande recuperação. E por ultimo o macrociclo para velocistas de Touretski, constituído por doze semanas, com mesociclos de 2 a 3 semanas no máximo e volumes mais ondulatórios.

De acordo com as características do nosso envolvimento, nomeadamente o calendário escolar da grande maioria dos nadadores do CDE e o calendário da FPN,

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com três competições principais, o modelo mais consentâneo a seguir, foi o modelo tradicional de periodização tripla (Matveiev, 1986; Tschiene, 1977).