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2.1 TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: CARACTERÍSTICAS E

2.1.2 Modelos de Tarifação

Na regulação da tarifa a custo do serviço o regulador define a tarifa de modo a resultar em uma taxa de retorno à empresa considerada “justa”. Deste modo, a receita definida pelo regulador deve ser suficiente para compensar os custos de operação, manutenção, administração, impostos, encargos, e a recuperação do capital inicialmente investido, acrescida uma taxa de retorno sobre este investimento, conforme Pinto Junior et al. (2007).

Receita – Despesas – Depreciação – Impostos = s x (Base de Capital) (2.1)

onde s é a taxa de retorno especificada por lei ou pelo órgão regulador e a Base de Capital é igual ao total de Investimentos (em funcionamento efetivo) ainda não depreciados.

Visto que existe uma importante assimetria de informação entre o regulador e o regulado, sendo que o regulado possui mais informações e pouco incentivo a partilhá-la, a definição dos valores a serem considerados não é uma questão trivial.

O regulador, a cada período, a partir dos dados contábeis, da política de depreciação

e da inflação no período, fixa níveis tarifários com base em hipóteses de mercado.

Neste ambiente de negociação, a empresa regulada contesta o regulador para corrigir possíveis desvios de rentabilidade com relação ao previsto.

Conforme Church e Ware (2000), este modelo apresenta algumas vantagens:

cria um ambiente de segurança para as empresa realizarem investimentos em ativos específicos, uma vez que garantem seu retorno; existe o incentivo à qualidade dos serviços prestados; o processo de tarifação é bem conhecido por todos os agentes.

Por outro lado, existem desvantagens relevantes para a tarifação baseada em custo:

baixo incentivo para redução de custos; o processo é complicado e dispendioso para o regulador, uma vez que há muita assimetria de informação entre os agentes regulados e o regulador; e em decorrência o problema derivado do efeito Averch-Johnson, quando as empresas são estimuladas a investir, pois a sobre-utilização do capital proporciona uma remuneração da taxa de desconto superior à depreciação deste capital. O regulador, ao operar em um ambiente de assimetria de informação, com uma margem de erro, tende a estabelecer uma taxa de retorno acima da taxa de mercado, uma vez que se errar para menor, não atrairá investidores. O resultado desta oferta de taxa de retorno acima do mercado é a má alocação de capital na economia, devido ao sobre-investimento no setor. (PIRES;

PICCININI, 1998)

A ponderação entre as vantagens e desvantagens deste modelo de regulação de tarifa depende fortemente do grau de conhecimento do regulador (ou dito de outra forma, do grau de assimetria de informação), e da rapidez da mudança tecnológica, que pode não afetar a redução do custo das empresas, dados os desincentivos à redução de custo, uma vez que a margem de lucro é garantida.

O segundo modelo de tarifação consiste em igualar os preços aos custos marginais. A lógica por trás deste modelo é simular a um mercado prefeito, onde o equilíbrio se dá na coincidência destas duas variáveis. Porém, segundo Pinto Junior et al. (2007), no caso de um monopólio natural forte, a empresa não consegue cobrir seus custos fixos no ponto em que o preço iguala o custo marginal. Nesta situação, a solução encontrada é a aplicação de uma otimização do excedente, ou seja, igualar a receita total ao custo total, com a adição de uma margem de lucro razoável, determinada pelo órgão regulador.

É importante destacar que a margem de lucro não é aplicada ao investimento realizado, como na tarifação a custo do serviço, mas diretamente ao serviço

prestado. Este método também tem o atrativo de permitir previsibilidade de retorno à empresa, mas apresenta alguns problemas, como a dificuldade de estimação da curva de demanda e também à do custo marginal, visto que tendem a se alterar ao longo do tempo, e do problema de assimetria de informação entre o regulador e os regulados.

O modelo de price cap (preço máximo) surge pela exaustão dos modelos anteriores, cujos problemas de desincentivos à eficiência e redução de custo se mostraram significativos, principalmente em sistemas elétricos maduros, em fase de estabilização de expansão (mercados norte-americano e europeu). Neste modelo de regulação por incentivos, são definidas regras que induzem as empresas a atingir metas de desempenho, cujos excedentes são incialmente capturados pela empresa e na sequência pelos consumidores, em condições pré-estabelecidas. Neste modelo, a busca e implementação de inovações e redução de custo são incentivados e premiados, e ao longo do tempo capturados pelos consumidores. O modelo de tarifação price cap consiste na definição de um preço teto para os preços médios da firma, corrigido de acordo com a evolução de um índice de preços ao consumidor, com a redução de um percentual equivalente a um fator X de produtividade, para um período prefixado de anos. Esse mecanismo pode envolver, também, um fator Y de repasse de custos não gerenciáveis (ou contingências) para os consumidores, conforme a Equação 2.2.

ΔP = IPC – X + Y (2.2)

onde,

ΔP é a variação do preço permitida para a concessionária;

IPC é o Índice de Preço ao Consumidor;

X é o Fator de Produtividade;

Y são as despesas Não-Gerenciáveis.

Esta configuração resulta em um mecanismo em que, caso ocorra uma redução real de custo em relação à meta de produtividade estabelecida pelo regulador, ela será apropriada pela empresa, por um período pré-estabelecido pelo regulador. A princípio, a principal vantagem desta regra tarifária é a sua transparência, com redução do risco de captura das agências reguladoras (minimiza a assimetria de informação) e incentiva a eficiência das empresas, que têm o

incentivo da apropriação dos excedentes da redução dos custos, ao menos nos períodos estabelecidos. Porém, algumas definições de premissas tornam o processo de regulação por price cap menos transparente e neutro do que o teorizado, entre elas indexador de preços, fator de produtividade, grau de liberdade para a variação de preços relativos, grau de extensão dos repasses dos custos permitidos para os consumidores e formas de incentivo ao investimento e à melhoria da qualidade do atendimento. (PIRES; PICCININI, 1998)

Na regulação de tarifa de price cap, o incentivo à redução de custos é mais acentuado, pois, dado o preço contratado e as metas de produtividade fixadas para os próximos anos, qualquer redução real de custos mais acentuada que as metas pode ser apropriada pela concessionária. Por outro lado, o preço é contratado em um ambiente de leilão, muitas vezes acirrado, que em princípio reduz a possibilidade de ganhos extraordinários.

O Quadro 1 apresenta as principais diferenças entre os primeiros modelos de regulação, baseados na garantia da taxa de retorno das empresas concessoras e o price cap.

Quadro 1 – Princípio de Regulação Tarifária nas Indústrias de Rede

Tipo de Regulação Taxa de Retorno Price cap

Objetivos/Características

Assegurar o reajuste de preços que permita o reembolso integral dos incerto: cap é alto, ou prazo para a revisão de X longo.

Fonte: Pinto Junior et al. (2007, p.177)

Em princípio, o modelo de tarifação por price cap exige menos informação para o regulador. Por outro lado, a definição das metas de produtividade só é possível com conhecimento profundo do mercado e das empresas, o que leva a custos elevados para o órgão regulador. Em segundo lugar, o processo de revisão

das tarifas resulta em conflitos com os regulados, o que exige ainda mais informação. Com o passar do tempo, a resolução de conflitos é crescente, dada a natureza intrínseca de incompletude dos contratos. A má resolução dos conflitos pode levar a aplicação da regulação longe do modelo ideal, com a capacidade de resultar em desconfiança das empresas com a regulação, com retração de novos investimentos. No outro extremo, a aceitação de lucros extraordinários por um período longo para uma determinada firma ou indústria é discriminatória, e inviável politicamente. Isto faz com que a regulação por preço necessite ser mais pesada na prática do que o esquema básico supõe para manter a capacidade de arbitragem do regulador.