• Nenhum resultado encontrado

Pode-se definir organização de agentes como a maneira em que os agentes se organizam para executar ações com o objetivo de levar o ambiente a um estado satisfatório a todos. LEMAITRE e EXCELENTE (1998) relatam a existência de duas abordagens para a compreensão de como é a organização de um grupo de agentes: centrada nos agentes e centrada na própria organização.

Nas organizações centradas nos agentes, os agentes não possuem uma representação explícita da organização. Essa representação está distribuída no código dos agentes e um observador externo (ou outro agente) pode apenas inferir de forma subjetiva à organização por meio de observação do comportamento dos agentes. Esta descrição é chamada de organização observada. Pode-se citar como exemplo, a organização de formigas em um formigueiro. Cada indivíduo que observar um formigueiro formará uma opinião diferente sobre a organização, já que não existe uma descrição única da sua real organização, pois está distribuída e implícita no DNA das várias formigas do formigueiro.

Na abordagem centrada na organização, há uma representação explícita da organização e o observador ou um agente pode obter informação formal de como o sistema está organizado. Esta descrição é chamada de sociedade institucionalizada. Pode-se utilizar como exemplo um time de futebol, o qual recebe as instruções vindas do técnico e deve cooperar mutuamente de acordo com as instruções. Neste caso, os observadores conseguem

representá-la explicitamente, sem precisar observar seu comportamento ou mesmo considerar os agentes que a compõem.

Em HÜBNER (2003), é proposta uma sub-divisão nas duas abordagens citadas anteriormente, uma onde os agentes são capazes de representar subjetivamente a organização onde estão inseridos e outra onde os agentes não são capazes de tal representação. Assim temos duas abordagens centradas no agente e duas abordagens centradas na organização.

A Figura 5 apresenta as quatro abordagens segundo HÜBNER (2003), sendo que em (a) apenas o observador consegue modelar o comportamento do sistema de forma subjetiva, em (b) a organização é construída pelos próprios agentes de forma subjetiva, cada agente pode construir uma representação organizacional diferente (na figura, os quadrados hachurados ilustram as diferentes representações subjetivas). Em (c), embora o sistema tenha uma organização, os agentes são incapazes de conhecê-la. Já em (d), os agentes podem conhecer a organização tanto de forma subjetiva (cada agente terá uma visão da organização) ou adquirindo informações formais da organização (institucionalizada).

A seguir, um descrição detalhada de cada abordagem:

• Tipo AR: As organizações tipo AR são concebidas com uma visão centrada nos agentes. Os agentes não representam e não raciocinam sobre a organização observada. Eles são incapazes de gerar uma representação interna de sua organização. Nesse ambiente os agentes possuem comportamentos elementares, e a partir deles, por meio da interação entre os agentes e o ambiente, podem surgir (emergir) comportamentos complexos. Evidentemente, nesse ambiente os agentes são incapazes de alterar sua organização, já que não a conhecem. (ex. formigueiro).

• Tipo AC: As organizações tipo AC também são concebidas com uma visão centrada nos agentes, e nesse modelo os agentes representam e raciocinam sobre a organização observada a partir de sua percepção ou comunicação, embora não exista uma representação explícita. Nesse ambiente, os agentes são incapazes de alterar sua organização (ex. algumas empresas, onde embora a organização não tenha uma representação explícita, os funcionários conseguem de maneira subjetiva raciocinar sobre a organização).

• Tipo OR: São concebidas com uma visão centrada na organização, e os agentes não são capazes de representar internamente a sua organização de modo explícito, apesar da sociedade possuir uma descrição. Este tipo de organização estabelece uma restrição forte sobre os agentes, já que estes não têm permissão de agir de forma diferenciada ao comportamento estabelecido pela organização, nem mesmo tirar proveito desse conhecimento para a realização das tarefas. Nesse modelo os agentes não podem mudar a organização (ex. Rede de Espionagem, onde embora haja uma organização, os espiões são incapazes de representá-las).

• Tipo OC: Concebidas com uma visão centrada na organização, os agentes têm capacidade de representar internamente a organização institucionalizada, possuem seu comportamento parcialmente determinado pela organização, percebem como esta interfere internamente no seu comportamento e no comportamento dos demais agentes do sistema. Os agentes são capazes também de utilizar estas informações para melhorar o seu funcionamento. O tipo de restrição imposta por este tipo de organização é chamada de restrição fraca, pois como os agentes conhecem a organização institucionalizada podem fugir do comportamento que a organização

estabelece para promover os objetivos. Por exemplo, em um time de futebol o zagueiro pode sair de sua posição original para marcar um gol.

Deve-se também levar em consideração as características de autonomia dos agentes dentro das organizações, sendo chamada autonomia organizacional a capacidade do agente de agir de forma diferente ao pré-estabelecido. Para organizações do tipo OC, a autonomia é uma possibilidade. Para organizações do tipo OR não existem autonomia organizacional, já que os agentes são inteiramente dependentes do comportamento estabelecido pela organização e não conseguem modificá-las. Já nas organizações centradas nos agentes (AR e AC) não pode ser definida autonomia organizacional, já que não existem restrições organizacionais.

O modelo MOISE+ (Model of Organization for multI-agent SystEm) desenvolvido por HÜBNER (2003), é utilizado para representar a organização de agentes no presente trabalho.

2.6.1 MOISE+

O modelo MOISE+ apresenta uma visão centrada nas organizações do tipo OC, onde existe uma organização institucionalizada com uma representação explícita e os agentes têm capacidade de raciocinar sobre tal representação. Como conseqüência da visão centrada na organização, o modelo MOISE+ possui uma Especificação Organizacional (EO), um documento que deve ser respeitado por todos os agentes que pertencem à organização. A Especificação Organizacional é subdividida em três dimensões: Especificação Estrutural (EE); Especificação Funcional (EF) e Especificação Deôntica (ED).

Especificação Estrutural

A Especificação Estrutural se preocupa com os aspectos que devem ser respeitados pelos agentes na organização, tais como a estrutura da organização e as atividades que serão distribuídas para os agentes. Nessa especificação se encontram as definições dos grupos, as atribuições de papéis aos grupos e as relações entre os papéis (autoridade, comunicação, conhecimento sobre outro papel e compatibilidade).

No modelo de organização proposto pelo MOISE+, o conceito de papel tem função primordial por ser o elo entre o agente e a organização. Os papéis somente são assumidos no

nível coletivo, isto é, dentro de um grupo. Intuitivamente, um grupo representa um conjunto de agentes com afinidades maiores e objetivos mais próximos.

Especificação Funcional

Na Especificação Funcional, a idéia fundamental é a noção de uma meta global, também chamada de esquema, formada por várias metas locais. Uma meta global representa um estado do mundo que é desejado pelo SMA. Uma meta global diferencia-se de uma meta local pelo fato desta última ser uma meta de um único agente, enquanto a primeira é uma meta de todo o SMA. Como as metas são organizadas em uma hierarquia, onde uma meta global (nível hierárquico maior) é decomposta em metas locais (nível hierárquico menor). As metas locais podem ser: seqüenciais (uma é realizada após a outra, e a meta global é satisfeita quando todas as metas locais forem realizadas), paralelas (podem ser realizadas ao mesmo tempo, mas a meta global só é satisfeita se todas as metas locais forem realizadas) ou escolha (idêntica a anterior, porém a meta global é satisfeita se pelo menos uma meta local for realizada).

Uma meta possui um valor associado ao nível de satisfação, que indica se a meta já foi realizada (valor satisfied) ou não (valor unsatisfied), ou ainda se ela é impossível de ser iniciada em dado momento (valor impossible). Uma meta é impossível quando em uma seqüência de metas, a meta anterior a ela ainda não foi realizada.

Especificação Deôntica

A relação entre a Especificação Estrutural e a Especificação Funcional é feita pela Especificação Deôntica em seu nível individual. Nela são especificadas quais metas locais um papel tem permissão ou obrigação de se comprometer.

Uma permissão determina que um agente com um papel pode se comprometer com um objetivo local específico. Restrições temporais são estabelecidas para a permissão, isto é, se estabelece um conjunto de períodos de tempo onde a permissão é válida.

Uma obrigação estabelece que um agente com papel específico deve se comprometer com um objetivo local em um período de tempo pré-determinado.

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO SIMULADOR