• Nenhum resultado encontrado

1 Introdução

2.1.4 Modo de funcionamento e seus stakeholders

As organizações da Economia Social são diferentes das empresas e das instituições públicas. Uma diferença está relacionada com o seu fim – não têm como vocação o lucro. Têm como missão o apoio social, educacional, cultural, de investigação, de lazer, de defesa dos direitos humanos e causas ambientais, entre muitas outras. É contudo importante desmistificar a questão do lucro, uma vez que as organizações podem ter lucro, não podendo fazer deste, o seu primeiro objetivo (Andrade e Franco, 2007).

A Figura 3 enfatiza, em termos gerais, o modelo de negócio das organizações da Economia Social e os seus stakeholders.

Figura 3: Modelo de Negócio das OES e seus Stakeholders

Fonte: Adaptado de Andrade e Franco (2007:36)

Verifica-se que as organizações da Economia Social, interagem com diversos

stakeholders, e que recorrem a recursos próprios, públicos e privados, para exercerem a

sua atividade. Por sua vez, estes recursos subdividem-se em humanos, materiais e financeiros.

São exemplos de stakeholders das OES, os funcionários, voluntários, doadores, Estado, fornecedores, beneficiários, Financiadores (UNESCO, UE, Agências de Cooperação), a Plataforma das ONGD (no caso das ONGD) – Figura 3.

No que se refere a recursos humanos, as organizações da Economia Social integram colaboradores remunerados, bem como colaboradores em regime de voluntariado. Os

16

colaboradores que optam pelo terceiro sector têm habitualmente motivações distintas dos usais colaboradores dos outros sectores de atividade, tais como, relacionadas com a causa da organização, ou com a reduzida hierarquia da estrutura, ou com a informalidade e a autonomia na execução das tarefas (Andrade e Franco, 2007). É crucial as organizações apostarem na formação dos trabalhadores, tanto nos que são remunerados, bem como nos que trabalham em regime de voluntariado (Carvalho et al., 2008).

Num estudo realizado em 2011 constata-se que os níveis de participação em atividades de voluntariado são tendencialmente reduzidas, quando comparadas com os países do Norte e Centro da Europa (CES, 2013). Nos últimos 10 anos o nível de participação em atividades de voluntariado manteve-se estável, mas assistiu-se a um decréscimo desde os anos de 1990 e o início de 2000. Os baixos níveis de participação em atividade de voluntariado prendem-se, nomeadamente, com uma prática deficitária de entreajuda, com a reduzida visibilidade das acções de voluntariado, com a ausência de formação e educação nas escolas e universidades, bem como o não reconhecimento de algumas formas de participação social consideradas como voluntariado noutros contextos geográficos (CES, 2013).

Segundo o estudo da Universidade Católica sobre as Organizações não Governamentais, que inquiriu 153 ONG revela que várias ONG indicam que os voluntários têm um grande papel na divulgação do trabalho da organização junto da comunidade ou na promoção da imagem da ONG. As alterações no contexto económico na sequência da crise, as dificuldades vividas no mercado de trabalho, bem como as alterações sócio culturais têm dificultado a captação de voluntários em número suficiente, bem como, com a qualidade desejada. Referem também que a consciencialização da comunidade para os problema sociais e a disponibilidade de pessoas muito qualificadas em idade de reforma podem abrir portas a novas oportunidades de voluntariado (Franco et al., 2015).

Ao nível dos recursos materiais e financeiros estas organizações estão frequentemente dependentes do apoio de entidades externas, neste caso, dos seus financiadores ou doadores. A relação entre estes e as organizações deve ter como base a confiança, de modo a contribuir para a transparência e respetiva capacidade de prestação de contas

17

(Andrade e Franco, 2007). Segundo o projeto The Portuguese Non-Profit Sector in

Comparative Perspective (Franco et al., 2005) realizado em Portugal, as receitas

próprias, que incluem pagamentos privados por bens e serviços, quotizações e rendimentos de investimento, são a fonte dominante (48%) de recursos das OES. Deste modo, mais de metade das verbas que financiam estas organizações provém de entidades externas, sendo que 40% são fundos do Governo e apenas 12% dos fundos que provêm da filantropia (inclui doações individuais, de fundações e empresariais). Numa análise genérica, pode concluir-se que a atividade das OES continua muito dependente do financiamento público, o que do ponto de vista da sustentabilidade económica é preocupante, uma vez que a diversificação das fontes de financiamento garante autonomia consistência e coerência na concretização da missão (Azevedo e Couto, 2012).

O financiamento por parte do Estado às OES está em redução, mas o rigor na avaliação da eficácia das mesmas, por parte do estado, está aumentando cada vez mais. Igualmente, as empresas e os particulares que contribuem para as OES, são mais exigentes no momento de escolher a organização a apoiar (Azevedo e Couto, 2012). Sendo este sector concorrencial e estando a sofrer uma diminuição do rendimento disponível, as OES tornaram-se orientadas para o mercado (Modi, 2012), devido à necessidade de manter os atuais financimentos e promover novos . Deste modo, é necessário estabelecerem uma relação de transparência com os financiadores, a qual só é conseguida através da divulgação de informação sobre o desempenho nos projetos desenvolvidos, solicitação de feedback e grau de satisfação por parte dessas entidades (Kaplan, 2001). Esta postura de abertura e transparência, promove a satisfação dos financiadores e a confiança que depositam nos projetos, o que potencia os apoio prestados pelos mesmos.

É crucial as organizações da Economia Social terem cada vez mais capacidade organizacional para satisfazerem ou influenciarem os seus stakeholders. Esta capacidade é fundamental, uma vez que é importante que as organizações conheçam quais as expectativas e medidas de satisfação que os seus stakeholders valorizam (Andrade e Franco, 2007).

18

Por fim, a aprendizagem com os resultados é essencial para a evolução da organização. Os sistemas de informação de gestão, são um apoio crucial, mas não são a essência. É importante existir consciência de que a avaliação é uma prioridade (Andrade e Franco, 2007).