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2.4 A Semiótica Social

2.4.2 O modo semiótico

Nesta pesquisa, há a recorrência de dois termos reconhecidamente importantes para o estudo da multimodalidade: recurso (cf p. 39) e modo. Modo, para Kress, é um recurso para produção de sentido dado culturalmente e moldado socialmente, e Jewitt (2009, p.21), alinhada ao pensamento de Kress, entende modo como o “resultado de uma modelagem cultural de um material” O modo mostra regularidade pelas maneiras como as pessoas o empregam, permitindo a realização simultânea de discurso e tipos de inter(ação), enquanto recursos semióticos são ações, materiais e artefatos que usamos com propósitos comunicativos.

Modo tanto na perspectiva da semiótica social quanto na análise multimodal interacional é visto como socialmente construído, podendo ser afetado pelos contextos histórico, cultural e situacional em que é usado. Nas situações de interação, os participantes empregam os modos mais adequados, significativos para aquele contexto da situação.

Norris (2004), apoiada em Kress e van Leeuwen (2006), argumenta que modo é um sistema semiótico com regras e regularidades ligadas a ele. Ela reconhece que os termos modo e modo comunicativo podem ser usados alternadamente.

Aprofundando essa noção de modo, van Leeuwen assume que na concepção da Sociossemiótica, além de descrever os modos semióticos como se tivessem características e sistematicidades extrínsecas e leis, esta abordagem centra-se no modo como os indivíduos regulam o uso de recursos semióticos em contextos de instituições e práticas sociais específicos, e em diferentes modos e diferentes graus (2005, p.xi)

Na pesquisa multimodal, o conceito de modo é central para a criação de significado e a introdução desse conceito desafia a noção linguística já estabelecida para língua, pois este conceito não é a parte central ou único meio capaz de expressar todos os significados, mas apenas um dentre os outros para criação de significado.

Diferentemente da linguística, a semiótica social aponta que o “modo, seus princípios e recursos, são entendidos como um resultado da modelagem cultural de um material” (JEWITT, 2009, p.21). Nesse contexto, a língua, não pode ser mais concebida como central e dominante, ela é mais um modo entre muitos. Nesse sentido, a multimodalidade se diferencia da linguística ao tomar a noção de modo ao invés de língua, ela pode trazer ou significa uma profunda reorganização em favor da multimodalidade.

Segundo Kress (2003, p. 57), diferentes modos têm lógica organizacional diferente e, como tal, tem diferentes affordances para criação de significado, se tomarmos as ideais contidas na imagem do CD-ROM, por exemplo, elas podem trazer um significado diferente e ser organizadas simultaneamente no espaço, enquanto as ideias inseridas e codificadas na fala são apresentadas e organizadas em sequência e temporalmente. E de acordo com Kress (2010), é natural que o efeito fundamental na escolha do modo tenha influência em instâncias específicas de comunicação.

Kress et al (2001) afirmam que todos os modos de comunicação desenvolvem-se e alteram-se segundo as demandas sociais, assim, novos modos são criados e os já existentes são modificados. Para Kress (2009; 2010) e Jewitt (2009), o modo é usado para se referir a um conjunto organizado e regularizado de recursos para a construção de significado, incluindo a imagem, imagem em movimento, a fala, o gesto, a escrita, o layout, a trilha sonora e objetos em 3D. Esses modos diferem de cultura para cultura.

Os modos são aqui entendidos como sendo o efeito do trabalho da cultura na formação do material, como recursos para a representação. Esses recursos exibem regularidades devido ao trabalho cultural e a sua utilização em frequente interação social.

Após ressaltarmos a existência de vários modos que favorecem um potencial de significação que cada um traz, discutiremos, a seguir, a lógica semiótica dos modos, mais diretamente aquelas ligadas à nossa pesquisa.

2.4.2.1 Tipos de modo

Considerando modo como um recurso socialmente construído e culturalmente dado na construção de significados (KRESS, 2009), apresentamos no Quadro 1, alguns tipos de modos e suas descrições.

Quadro 1 - A lógica semiótica dos modos

MODO DESCRIÇÃO DO MODO

Fala

A fala apresenta um princípio organizacional fundamental, a sequência temporal que constitui a lógica semiótica (som, palavra ou a sentença) pois tudo ocorre em sucessão. A fala é comum a todas as culturas. Kress assevera que a sequência temporal da fala acontece no tempo. A entonação é uma entidade material da fala, usada para marcar as informações dado/novo nas entidades semióticas, unidade de informação (HALLIDAY 1967, apud Kress, 2009). Essa sequência temporal se constitui em um princípio fundamental de organização.

Imagem

A imagem se organiza no espaço e seus elementos são apresentados simultaneamente em uma superfície, sendo que o espaço em que estão enquadrados e a distância que apresentam entre si criam significados. A lógica semiótica da imagem é espacial e oferece potencial de significado em diferentes culturas. A imagem estática é baseada na lógica do espaço.

Imagem em movimento

A imagem em movimento apresenta lógica semiótica espacial, observada em fotos, tabelas, ilustrações, desenhos e pinturas; e também lógica temporal, observada na fala. Os princípios organizacionais são compartilhados em várias culturas. Na imagem em movimento, a lógica da sequência no tempo é fornecida pela sucessão de

frames da imagem e cada uma delas é organizada pela lógica do espaço e

simultaneidade.

Gesto

Usa a sequência temporal em que os movimentos das mãos, braços, cabeça e da face são necessários para produzir significado numa interação e esses mesmos movimentos podem ser enquadrados no espaço através do tronco (KRESS 2009, p. 56) Os gestos não são permanentes.

Layout Modo que utiliza o espaço para organizar os elementos.

Som Aparece no tempo e permite a voz sustentar o som e modificá-lo como recursos de significado.

Fonte: Adaptado de Kress (2009, p. 54-56; 2010, p.79-83).

Cada modo apresenta potencial para realizar significado de acordo com a preferência modal da sociedade e deve realizar funções comunicativas básicas.