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3.3 Multimodalidade: Contexto Histórico

3.3.3 Multimodalidade e o CD-ROM

Já faz há algum tempo que o material didático de língua estrangeira, em especial o de língua inglesa, é multimodal em sua composição. Amudança que ocorreu no material didático é visível, concomitante às transformações ocorridas na sociedade, desse modo, compatível com o desenvolvimento da tecnologia da informação da comunicação. Isso pode ser constatado no trabalho de Bezemer e Kress (2009) que pesquisaram sobre a mudança, evolução, ampliação e presença da multimodalidade em 23 livros didáticos da disciplina inglês, produzidos desde 1930 até 2009. Na pesquisa, os autores discutem como essa evolução ocorreu e o que ela representa na constituição e combinação do texto verbal e imagético na construção de sentido no livro didático. Esse fato também tem eco na pedagogia, pois até o texto verbal pode ser caracterizado como multimodal, visto que abriga, pelo menos, palavras e tipografia, e novos modos de realizar o texto como fonte, tamanho e disposição de caracteres, sem falar do layout. ´

Para Bezemer e Kress (2009), o livro didático é alvo de profundas mudanças as quais se referem não só ao incremento do uso da imagem, mas também ao layout das páginas e à sua apresentação gráfica. De certo modo, o design deixa de ser exclusivamente da imagem e passa a contemplar significativo conjunto de modos semióticos. A imagem é assim introduzida no universo de modos semióticos, com destaque para detalhes pictóricos, tais como tamanho, cor, forma, iluminação, profundidade e movimento.

Desde a década de 1940, já existiam livros didáticos com imagens associadas ao texto, embora às vezes servindo mais como ilustração, na acepção mais elementar de imagens ou figuras de qualquer natureza, e inseridas no texto de livros, folhetos, periódicos e outras publicações.

Mais recentemente, sobretudo do final dos anos 1990 até hoje, a imagem vem assumindo expressiva importância nas artes, no design, na publicidade e propaganda (PP) e, posteriormente, no ensino de idiomas em consequência do incremento da ciência e tecnologia (C&T). As questões relacionadas ao uso da imagem no ensino-aprendizagem de línguas

ganharam maior dimensão tanto com relação à sua leitura quanto à sua inclusão ou adaptação à era multimodal dos materiais instrucionais. Este aspecto se reflete no número de pesquisas sobre modalidade e letramento visual voltadas para o material didático, relacionadas ao ensino. Atualmente, poucos contextos educacionais e de ensino-aprendizagem, em particular, não sofrem mudanças advindas da incursão maciça do elemento visual em domínios em que antes a linguagem escrita era o único modo ou, no mínimo, o elemento prevalente. Alguns autores, dentre os quais Kress, defendem que o texto não é só o que está escrito, pode ser algo mais como imagem, layout, dentre outros. Seguindo tal tendência, os livros didáticos estão ampliando, mais e mais, o número de imagens e introduzindo em sua composição muitos modos semióticos combinados que lhes imprimem um design multimodal.

No contexto do design multimodal e das demandas impostas pelas TICs, surgem o CD, o DVD e o CD-ROM como suportes didáticos. Este último tem na multimodalidade destaque intenso para a imagem em movimento, num ambiente acentuadamente de tecnologia virtual. Além do mais, os CD-ROMs congregam material informacional e criativo com a função de auxiliar a compreensão da língua. Para tanto, recorrem a imagens em movimento e a efeitos sonoros, que trazem consigo os vários modos semióticos na produção de sentido. Isto mostra que é indispensável reconhecer nesse tipo de material didático como a multimodalidade pode favorecer a compreensão e a aprendizagem dos idiomas, com ênfase para a língua inglesa. Em geral, o material de ensino de língua inglesa pode ser considerado multimodal e multissemiótico por abrigar, pelo menos, dois modos combinados: o texto escrito e as imagens.

O CD-ROM como material didático multimídia tem grande potencial para a aprendizagem, pois o visual ajuda na compreensão. Oxford (1990, p. 40) chama atenção para o fato de que o uso da imagem traz benefícios para o letramento visual, pois a ligação do visual com o verbal permite que a capacidade visual suplante a capacidade verbal material. A imagem visual pode ser o dispositivo mais potente para auxiliar o verbal e, segundo a autora, aprendizes têm preferência pela compreensão visual, porque o ambiente deles está repleto de imagens, textos digitais e eletrônicos e a comunicação deles é diferente daquela promovida pela escola.

Na escola, as potencialidades da imagem como recurso semiótico multimodal são reconhecidas e celebradas. E o CD-ROM merece atenção dos professores e alunos porque oferece ao usuário a possibilidade de desenvolver competências multimodais. Ele traz instruções que orientam como o usuário deve realizar a atividade. Desta forma, o CD-ROM multimídia em estudo, usado como suporte, apresenta grande potencialidade como material

instrucional porque oferece ao aprendiz oportunidade de estimular os elementos transversais e culturais da aprendizagem, além de encorajar escolhas por meio de várias atividades.

O grande paradoxo se estabelece entre a importância da imagem para a sociedade visual, para as mídias, arte e o design, bem como o renovado interesse na imagem no âmbito educacional. O fato que chama a atenção é o uso escasso que o professor faz do CD-ROM em sala de aula de inglês, que pode estar relacionado aos problemas com sua execução devido aos parcos recursos tecnológicos que as instituições públicas de ensino têm como também às dificuldades advindas da falta de condições econômicas dos professores e dos alunos para aquisição deste material multimídia. Mas todos esses problemas não inviabilizam o uso potencial do CD-ROM, que se apresenta como recurso para promover a instrução multimodal e hipermídia e também estimular os elementos transversais e culturais. Desta forma, revelando o uso da imagem como parte essencial na produção de sentido do texto.

De fato, se alguns países como o Brasil, por exemplo, engatinham no investimento em material didático centrado na multimodalidade, recentes estudos, além de alguns anteriormente citados, como os de Jewitt (2006, 2009); Kress e van Leeuwen (2001; [1996] 2006); e de Stein (2008), sinalizam a intensa preocupação de educadores e de administradores educacionais com a função e o uso da multimodalidade no setor. Há reconhecida atenção para as relações semânticas entre imagem e texto, análise das metafunções em textos multimodais presentes em livros didáticos e em revistas, por exemplo. Se a lógica da imagem e da escrita diferem, isso não impede a interação entre elas, o que gera, consequentemente, textos atraentes e que formam um todo coerente e significativo sob esse novo formato de texto.

A constatação sobre o renovado interesse de teóricos no estudo da modalidade voltada para o ensino-aprendizagem é a razão pela qual se retomam os nomes de Iedema (2001); Jewitt (2002; 2006; 2009); Kaltenbacher (2004); Kress e van Leeuwen (2001, [1996] 2006); O’Haloran (2004); Stein (2008); Unsworth (2001; 2006); van Leeuwen e Jewitt (2001); e Ventola et al. (2004).

Na comunicação multimodal, vários modos semióticos são usados na produção de um produto ou evento semiótico, em que o indivíduo pode fazer uso dos modos e recursos semióticos para moldar sua representação e comunicação. Essa comunicação tem-se tornado multimodal, promovendo uma interface entre os modos linguísticos com outros modos como visual, gestual e espacial. Ao associar os modos de criação de significado, em que o visual se integra com o textual, o espacial com o sonoro, o indivíduo desenvolve a habilidade de produzir, codificar ler e construir experiências visuais.