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Capítulo 3 – Intervenção no contexto educativo

3.7. Momentos conjuntos entre os diferentes grupos:

Durante o primeiro e segundo semestre revelou-se possível observar e assegurar momentos de movimento-jogo que implicavam a presença de ambos os grupos de creche e de jardim de infância. De acordo com o Perfil específico de desempenho profissional do educador de infância (Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto), o/a educador/a deve organizar “ um ambiente de estimulação comunicativa, proporcionando a cada criança oportunidades específicas de interacção com os adultos e com as outras crianças”.

No âmbito da minha intervenção observei que no período de acolhimento, as crianças de ambos os grupos exploravam autonomamente o espaço e recursos, sendo que os adultos presentes recebiam os familiares e asseguravam os registos das presenças, acompanhando e colaborando também nos momentos de exploração, com as crianças. As crianças dos diferentes grupos interagiam entre si, nos diferentes espaços da sala, explorando o espaço e recursos autonomamente. Nos finais de tarde, depois das 16h30, os diferentes grupos partilhavam o espaço exterior. Neste período sucediam também momentos livres onde se confirmava a interação das crianças de diferentes idades e grupos.

No decorrer da minha intervenção foram também dinamizadas propostas que asseguraram a participação dos vários grupos, nomeadamente a sessão de expressão musical que abrangeu toda a comunidade escolar, o baile de máscaras. Para além do referido existiram também outras propostas que ainda que direccionadas particularmente para o grupo de jardim de infância, permitiram também a participação

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de algumas crianças do grupo de creche, como o jogo “Lencinho da Botica”. O passeio realizado pelo grupo de jardim de infância com o grupo de berçário (c.f. Apêndice 22,p.146) constituiu-se um outro exemplo de proposta associada ao movimento-jogo onde participaram crianças de diferentes faixas etárias.

De seguida partilharei um breve excerto de um dos relatórios da PES, onde reflito acerca das potencialidades de um destes momentos, o passeio com os grupos de JI e de berçário:

“(…) As crianças do grupo JI que participaram no passeio, auxiliaram-se reciprocamente, não só a transportarem os carrinhos – orientando-os no espaço, segundo sentidos, direções e velocidades – como também se coordenaram conjuntamente com os outros dois colegas que transportavam um mesmo carro. Neste âmbito, a cooperação assumiu destaque. De fato, as crianças tinham de deslocar-se em sintonia, para que o carrinho se deslocasse segundo um mesmo trajeto, não adotando direções contrárias. Este aspeto permitiu que as crianças se apropriassem também das questões associadas à orientação espacial, não só acerca de si próprias, como também perante os colegas, que consigo se deslocavam a pé, como os colegas que iam no carro. Por outro lado, o momento implicou também que as crianças se manifestassem atentas às indicações facultadas pelos adultos, bem como ao trajeto implicado no passeio.” (Relatório individual VII em contexto de JI, de 12 de maio a 16 de maio).

O planeamento de propostas que incluam mais do que o grupo exige, e para além do referido, a comunicação entre as diferentes equipas educativas responsáveis por cada um dos grupos, bem como o debate e negociação acerca do que se pretenda concretizar. Considerando que na instituição onde desenvolvi a PES existem diferentes grupos, este aspeto revelou-se importante de considerar perante propostas que implicavam a participação de mais do que um grupo. Tendo em conta o referido, apresento o excerto que vai de encontro ao mencionado:

“ (…) Todavia, a instituição enquanto contexto próximo e interativo, que pressupõe a socialização diária de crianças e adultos, reflete o forte espírito de equipa e preocupação, em que prevaleça a vantagem do todo. Nesta circunstância prevalece a partilha de recursos e oportunidades que de alguma forma se revelam importantes e enriquecedoras, assim sendo a equipa manifesta-

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se sensível e atenta aos demais que integram também a instituição (…) A preocupação e relação entre as equipas que acompanham cada uma das salas leva-me a constatar que as vantagens que daqui urgem são ainda mais diversas, tendo em conta que há uma partilha de oportunidades e enriquecedoras, proporcionando vivências/experiências que podem potenciar aprendizagens, ou por outro lado, o sentimento de prazer, do ponto de vista lúdico e, inclusivamente, cultural.” (Relatório individual VI em contexto de JI, de 5 a 9 de maio)

Partindo do referindo, contemplando a influência que a relação entre as equipas assume, revela-se importante frisar outros aspetos que permitam potenciar momentos de movimento e jogo entre os diferentes grupos, refiro-me em particular aos recursos materiais necessários à concretização das propostas. Considerando a proposta relativa ao passeio entre os grupos de JI e berçário podemos constatar este mesmo aspeto no seguinte excerto:

“(…) Por outro lado, também a questão associada aos recursos materiais disponíveis poderá suscitar alguma reticência, por parte do educador em dinamizar e potenciar este tipo de momentos. A possibilidade das crianças utilizarem os próprios carrinhos permite que esta questão seja colmatada. Na circunstância da escassez de recursos poderia também pensar-se em alternativas, como por exemplo, transportar alguns dos bebés ao colo. (…) A colaboração das famílias, ainda que indireta, revelou-se também determinante, uma vez que foram os familiares dos/as meninos/as que se predispuseram a facultar os carrinhos, o que reflete também uma aceitação da proposta, bem como uma reflexão da parte das famílias, ao nível da sua influência e importância para as crianças. (…)”(Relatório individual VII em contexto de JI, de 12 de maio a 16 de maio).

O mesmo se aplicaria, perante os recursos humanos que possam estar implicados nas propostas que englobem diferentes grupos, como podemos averiguar no excerto que se segue:

“(…)A possibilidade dos bebés poderem deslocar-se até ao exterior constituiu-se uma questão possível de assegurar, uma vez que as crianças possuíam carrinho, por outro lado, também o número de adultos, em paralelo, com o número de crianças do grupo de jardim de infância potenciou a concretização da referida proposta. Em determinadas circunstâncias, a escassez de recursos humanos

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dificulta este tipo de momentos.” (Relatório individual VII em contexto de JI, de 12 de maio a 16 de maio).

Com este aspeto pretendo ressaltar a necessidade de negociação entre as diferentes equipas educativas, com o intuito de serem discutidas as condições necessárias à concretização das propostas.

No decorrer da PES, nos momentos em que havia a partilha do espaço exterior, constatei que, por vezes as crianças dos dois grupos interagiam entre si, chegando a imitar explorações dos colegas, como podemos constatar no seguinte excerto, quando realizado o jogo Lencinho da Botica:

“Neste momento, no âmbito do jogo, foi possível observar que todas as crianças tiveram oportunidade de correr atrás do colega e eleger um outro menino(a), onde iriam colocar o lenço. O momento revelou-se bastante entusiasmante, chegando também a participar algumas crianças do grupo de creche, que se encontravam no espaço exterior também e que, ao observarem os colegas mais velhos, vieram ao meu encontro, pedindo para jogar. A realização do jogo implicou portanto a participação de crianças dos grupos de creche (I. M., B., M., G. e G.) e de jardim de infância.” (Relatório individual III em contexto de JI, de 7 a 11 de abril).

O aspeto referido apelou à minha atenção neste sentido. Ainda que os grupos de creche e de jardim de infância sejam constituídos por crianças de diferentes idades, havendo portanto a heterogeneidade, os momentos que impliquem a interação com os colegas de diferentes grupos permite às crianças socializar com os colegas, conhecendo outros/as meninos/as que frequentam a mesma instituição, desta forma as crianças conhecem a comunidade escolar. Na circunstância dos/as meninos/as transitarem, por exemplo, para um outro grupo, já conhecem os seus colegas. Importa ressaltar também que, os momentos de movimento e de jogo, quando sucedidos com os diferentes grupos revelavam-se enriquecedores, tendo em conta que existia a reciprocidade na observação. Os/as meninos/as ao observarem os sues colegas, manifestavam interesse em imitá-los, o que potencia o desenvolvimento motor, tendo em conta que as crianças se desafiam a si próprias, imitando os colegas. Este aspeto levou-me a constatar que podem ser as próprias crianças a estimular-se, de uma forma recíproca.

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Em suma, os momentos que permitam a participação de diferentes grupos e, consequentemente, de crianças com faixas etárias mais diversificadas em momentos de movimento e de jogo apresentam benefícios, conforme o referido no excerto que se segue:

“(…)Se, de facto, este tipo de iniciativas em muito beneficia todos os que nela participam, ao nível das vivências/experiências e, a longo prazo, ao nível do desenvolvimento e aprendizagem, considero que o/a educador/a deve fomentar este tipo de propostas. Importa acrescentar também que também as crianças mais velhas se revelaram autónomas, possuindo sobre si uma determinada responsabilidade (…).” (Relatório individual VII em contexto de JI, de 12 de maio a 16 de maio).

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Capítulo 4 – Análise e discussão dos dados recolhidos durante a