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Morfociclo Padrão

No documento Um Treinar Para Um Jogar (páginas 55-61)

3. Relatório de estágio – Varzim S.C

3.5 Morfociclo Padrão

No futebol não podemos pensar em picos de forma, mas sim em patamares de rendimento, uma vez que o que pretendemos é uma estabilização do rendimento num período de competição que é longo (Frade, 2006).

Para tentarmos manter o rendimento da equipa num patamar elevado, elaboramos um morfociclo padrão (jogo de domingo a domingo), onde contemplamos alguns exercícios padrão para os diferentes dias da semana, que realizamos ao longo da época, mas sempre respeitando a progressão complexa referida anteriormente.

Como pretendíamos que o nosso jogar evidenciasse determinados padrões ou comportamentos, tivemos de treinar esses padrões e comportamentos de uma forma sistemática e consistente. Sendo os comportamentos/princípios, sub princípios e sub dos sub princípios do nosso jogar sempre evidenciados em todos os nossos exercícios, em todos os treinos e em todos os nossos morfociclos, podendo uns ser mais evidenciados do que outros, de acordo com o estipulado para o treino ou para a semana de treino.

Para a elaboração do Morfociclo, respeitamos uma determinada alternância de conteúdos, sendo esses conteúdos sempre específicos do nosso Modelo de Jogo. A necessidade de alterarmos o tipo de esforços nos diferentes dias da semana surge da acumulação da fadiga, como referem Faria (2007), Gomes (2007), Campos (2008) e Oliveira, J.G. et al (2008). Muitos dos

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erros tácticos e técnicos realizados no final de um jogo ou dos treinos, são resultado directo da fadiga acumulada (Bompa, 2009).

A solução encontrada para reduzirmos a fadiga foi através de uma “alternância horizontal em especificidade”. Alteramos o tipo de esforços solicitadas em cada dia da semana, para assim, podermos trabalhar em intensidades elevadas nos diferentes dias, conseguindo gerir o desgaste dos jogadores. Caracterizando as contracções musculares ao nível da tensão, da duração e da velocidade, que apesar de qualquer exercício conter a interacção das três, umas são mais solicitadas num dia do que outras.

Em suma, a gestão do tipo de esforços pedidos nos diferentes dias da semana, vai permitir trabalharmos com índices de intensidade e de assimilação de comportamentos elevados, controlando a fadiga, evitando lesões e recuperando os jogadores para o próximo jogo, tal como confirmam Amieiro et al (2006), Gomes (2007) e Oliveira, J.G. et al (2008).

Assim, para um morfociclo com jogo de domingo a domingo (Figura 4), preparámos os treinos de acordo com o elaborado por vários autores (Faria, 2002; Amieiro et al, 2006; Oliveira, J.G. et al, 2008):

Ao Domingo – Jogo;

Na 2ª Feira – Dia de Folga – Entendemos dar folga na 2ª feira em vez de 3ª feira, porque com a folga depois do jogo conseguíamos, do ponto de vista físico, recuperar algum do desgaste, porém, o verdadeiro objectivo da folga no dia a seguir ao jogo era uma recuperação mais mental do jogador, deixando esse dia para estarem com a família e amigos. Assim, quando retomávamos os treinos, poderíamos reiniciar a semana de treino com elevada (relativa…) concentração e sem interrupções (outro factor importante na escolha da folga à 2ª feira).

À 3ª Feira – Treino de recuperação activa – No primeiro treino da semana realizávamos um treino de recuperação onde o principal objectivo era uma recuperação em contexto táctico/técnico, isto é, onde trabalhávamos maioritariamente aspectos tácticos com graus de complexidade reduzidos e aspectos técnicos (controle de bola, passe, recepção, remate…). Ou seja, trabalhámos com intensidades baixas os sub princípios e os sub dos sub princípios do nosso Modelo de Jogo, mas direccionando o nosso treino de acordo com a nossa concepção de jogo, para trabalhar aspectos técnicos de

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nível individual/colectivo ou tácticos nível individual/colectivo. Neste treino, dávamos também importância ao lado lúdico que o próprio jogo de futebol acarreta (paixão pelo jogo).

Na 4ª Feira – Treino da sub dinâmica tensão – Neste dia, trabalhávamos com intensidades elevadas, visto os jogadores já estarem praticamente recuperados do jogo. Desta forma, exercitámos os nossos sub princípios e sub dos sub princípios, dando ênfase aos aspectos que para nós são determinantes no jogo de futebol, como as transições ofensivas e defensivas, isto é, aos sub princípios e sub dos sub princípios que são importantíssimos para as realizar.

Tínhamos por norma trabalhar situações reduzidas de intensidades elevadas, com grande abundância de acelerações, travagens, mudanças de direcção, mudanças de atitude, decisões rápidas e acertadas em relação a momentos específicos do jogo (pressão ou não pressão, passe ou remate ou finta ou cruzamento, contenção activa ou passiva até chegar ajuda, mobilidade ou cobertura ofensiva, tirar a bola de pressão por onde…). Para tal acontecer realizávamos em espaços curtos, com um número de jogadores reduzido e o seu tempo de realização também era reduzido.

À 5ª Feira – Treino da sub dinâmica duração – Actuávamos ao nível dos nossos grandes princípios, da nossa organização do jogo, dando ênfase à organização ofensiva e defensiva com as respectivas transições, onde predominam situações descontínuas, semelhantes ao jogo, através de exercícios relacionados com o Modelo de Jogo. Para tal, procurávamos exercitar a nível macro todos os princípios que o jogo de futebol tem, através de exercícios de organização intersectoriais e colectivos.

Como já referimos anteriormente, as transições são de extrema importância para nós e como tal também as exercitávamos, neste caso associadas à organização a que estão ligadas. Tínhamos por norma exercitar a organização da equipa intersectorial e colectiva, com o intuito de eliminar erros e promover determinados comportamentos. Colocávamos também, algumas nuances estratégicas de maneira a preparar o jogo seguinte.

Ao contrário do dia anterior, os exercícios neste treino, deveram ser realizados em espaços grandes, com um número elevado de jogadores e com um tempo de exercitação longo.

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Na 6ª Feira – Treino da sub dinâmica velocidade – Neste dia treinam-se sub princípios e sub dos sub princípios num contexto de intensidade moderada/reduzida, ou seja, situações descontínuas, semelhantes ao jogo e relacionados com o Modelo de Jogo, que contemplam uma grande densidade de comportamentos relacionados com sub princípios e sub dos sub princípios.

Sendo o último treino da semana, pretendíamos dar um treino de intensidade “baixa” relativa (gerindo o desgaste da semana de treino), onde acentuávamos a nossa atenção para aspectos estratégicos da nossa concepção de jogo. Treinando as nossas combinações ofensivas e as nossas bolas paradas.

Os exercícios promoviam uma elevada velocidade de decisão e de execução. Como tal, eram realizados em espaços que permitam contemplar os objectivos referidos, sendo o tempo de duração dos exercícios reduzido.

No Sábado (para quem treina neste dia) – Treino de recuperação activa – Neste dia treinam-se sub princípios e sub dos sub princípios relacionados com o Modelo de Jogo, num contexto onde a intensidade geral do treino é reduzida, ou seja, treinam-se situações descontínuas que possam contemplar tensão e velocidade de contracções musculares altas, mas que no somatório do esforço, tornam o treino de baixa intensidade. Tendo como objectivos promover a recuperação quer fisiológica, quer emocional e pré activar a equipa e os jogadores para o jogo do dia seguinte. Contudo, nós, por impossibilidade de treinarmos aos sábados, treinámos apenas quatro vezes por semana, dando folga no dia anterior e posterior ao jogo.

43 2ª Feira 14/12/09 3ª Feira 15/12/09 4ª Feira 16/12/09 5ª Feira 17/12/09 6ª Feira 18/12/09 Sábado 19/12/09 Domingo 20/12/09 Intensidade baixa

Hora: 7h Hora: 8h Hora: 7h Hora: 7h

Intensidade baixa Intensidade máxima Intensidade baixa Intensidade moderada/alta Intensidade moderada/alta Intensidade moderada/baixa Folga Jogos técnicos (passe, recepção, condução…) Jogo lúdico Passes em contexto técnico-táctico Transições ofensivas e defensivas (MPB) Finalização em contexto táctico técnico com transições Organização ofensiva intersectorial com transição defensiva (avançados e médios) Organização ofensiva com transição defensiva (mudança de atitude em jogo) Passes em contexto técnico-táctico Organização defensiva intersectorial com transição ofensiva (Defesas, médios e extremos) Organização ofensiva colectiva com transições defensivas Organização defensiva colectiva com transições defensivas Terminar em jogo Meinho Transições ofensivas e defensivas (MPB com zona neutra) Finalização em contexto técnico Cruzamentos em contexto táctico- técnico Bolas paradas Folga Jogo Cachão Tempos para as diferentes dimensões: Táctica – 30’ Técnica – 20’ Táctica – 50’ Técnica – 10’ Física – 10’ Táctica – 60’ Técnica – 10’ Táctica – 50’ Técnica – 25’

Nota: Na dimensão táctica contemplámos todas as dimensões…

Figura 4 – Exemplo Morfociclo semanal Após o referido anteriormente, podemos esclarecer que por exercícios padrão, referimo-nos a exercícios com uma base de esforços mais propícia a determinado dia da semana, respeitando a “alternância horizontal do tipo de esforços em especificidade”.

Tentávamos procurar e criar sempre contextos de treino onde podia haver desempenhos máximos, mas como existia sempre um desgaste relacionado com o jogo ou com o treino anterior, era importante encontrar soluções que resolvessem esse problema. Daí a importância que a “alternância horizontal em especificidade” do tipo de esforço do jogar assumiu para nós no estágio. Alternar os comportamentos e o tipo de contracções musculares pedidas nos diferentes dias da semana foi decisivo para que a exigência do

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que queríamos fosse feita em função da relação que existia entre o desempenho e a recuperação, como concordam Faria (2007) e Campos (2008).

Concordando com vários autores (Faria, 2007; Gomes, 2007; Oliveira J.G., 2007; Oliveira J.G. et al, 2008), a interacção da “alternância horizontal do tipo de esforço em especificidade” com a “progressão complexa” é fundamental, pois não podemos exigir a evidenciação de determinados princípios com grande complexidade quando os jogadores ainda estão em processo de recuperação. Tendo em conta esse aspecto, concluímos que a “progressão complexa” está ligada: à interacção do desgaste emocional e do tipo de esforço realizado nos diferentes dias; à complexidade táctica dos exercícios, que engloba a complexidade do ou dos princípios existentes; à complexidade da dinâmica do exercício; á quantidade dos jogadores presentes no exercício; o espaço do jogo; e do tempo e duração do exercício.

Nota:

a) Tendo em conta que após um jogo analisámos e definimos um conjunto de objectivos a trabalhar ao longo da semana, o morfociclo padrão torna-se importante para a organização do processo. Assim, com o morfociclo semanal procurávamos preparar o próximo jogo, tendo em consideração o que se passava no jogo anterior e o que pretendíamos para o jogo seguinte, como concorda Oliveira J.G. (2006);

b) A intervenção do treinador nos exercícios é que os direcciona para os objectivos e comportamentos pretendidos, como tal, o mesmo exercício pode ter efeitos diferentes dependendo daquilo que queremos treinar;

c) Em todos os treinos, iniciámos o aquecimento com passe, trabalhando os elementos técnicos mais básicos e importantes do futebol, recepção, passe e condução, entre outros, favorecendo a multilateralidade dos jogadores;

d) No ponto seguinte, vamos referir o tipo de exercícios trabalhados nos diferentes dias da semana do morfociclo.

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No documento Um Treinar Para Um Jogar (páginas 55-61)