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O infante D. Fernando morreu a 18 de Setembro de 1470, com apenas 37 anos540. A sua morte provocou um importante reajustamento nas camadas superiores da nobreza portuguesa. O infante deixava oito filhos, todos eles menores. As duas raparigas, D. Leonor e D. Isabel, estavam, como já aqui vimos, prometidas ao príncipe D. João e ao conde de Guimarães, respectivamente. Ou seja, D. Fernando tinha garantido que uma das suas filhas seria rainha de Portugal (apesar da pressão exercida por Henrique IV de Castela, que pretendia casar a sua filha Joana com o herdeiro do trono português), e que a outra seria duquesa de Bragança, a mais importante casa nobre do país a seguir à sua.

Quando o seu irmão morreu, D. Afonso V concedeu ao sobrinho, D. João, o filho primogénito de D. Fernando, todo o património da casa de Viseu/Beja, com excepção de todos os cargos de cariz militar. Era uma forma de evitar a desmesurada concentração de poder. O cargo de condestável do reino passou para as mãos de D. João, filho do duque de Bragança541, o governo da Ordem de Santiago foi concedido ao herdeiro do trono e a ordem de Cristo passou para D. Diogo, filho segundo do infante D. Fernando. Curiosamente, o monarca tomou a seu cargo a tutoria de D. Diogo, sendo ele quem, na realidade, controlava a ordem de Cristo. D. Beatriz foi nomeada tutora do seu filho D. João, então duque de Viseu, e ficou encarregada da gestão do ducado e das ilhas do Atlântico. Com a morte de D. João, foi o irmão D. Diogo quem lhe sucedeu no ducado, como 4º duque de Viseu. D. Beatriz continuaria a gerir os negócios do ducado e a Ordem de Cristo voltou a estar associada à casa de Viseu.

É de todos conhecida a forma como D. Beatriz inteligentemente geriu a casa de Viseu/Beja durante a menoridade dos seus filhos e o protagonismo político que adquiriu nas negociações das terçarias de Moura. Sabemos também que, durante a crise política dos anos 80 foi ela a maior defensora da casa de Bragança. Contudo, parece-nos que está por estudar a relação entre D. Beatriz e o 2º duque de Bragança, nos oito anos em que o duque de Bragança sobreviveu ao infante D. Fernando. Julgamos poder afirmar que, politicamente, D. Beatriz só assumiu grande protagonismo após a morte do duque.

540 CDAV, vol. III, cap., CLXI, p. 54.

541 Relembremos que o cargo de condestável tinha sido alvo de disputa por parte dos herdeiros de D.

Nuno Álvares Pereira, mais precisamente pelo conde de Ourém, durante a regência de D. Pedro. O cargo voltava agora a ser exercido por um descendente do mais prestigiado condestável do reino.

Quadro 1 - Relações do 2º duque de Bragança

_____ Bragança

_____ Cônjuges Bragança

_____ Pais dos Cônjuges

_____ Irmãos Cônjuges _ _ _ Ilegitimidade

A infanta não era, por exemplo, membro do conselho régio, pelo que a sua voz fazia-se chegar, julgamos, através do seu parente mais próximo, o duque de Bragança.

O infante D. Fernando tivera, ao longo da sua vida, uma importante relação com o 1º duque de Bragança542, unindo-os, para além do parentesco, a inimizade para com o infante D. Pedro543. Nada nos garante que esta cumplicidade entre o infante e o velho duque de Bragança se tenha estendido também a D. Fernando, até porque este fora sempre um dos grandes apoiantes do infante D. Henrique, cuja relação com o filho adoptivo, nos últimos anos de vida, não fora a melhor. Contudo, após a morte do infante, o 2º duque de Bragança era o parente mais próximo de D. Beatriz, órfã de pai desde 1442 e cuja mãe partira para o reino vizinho acompanhando a filha D. Isabel, aquando do seu casamento com João II de Castela. O seu tio, D. Fernando, era um homem sábio cuja experiência e influência lhe poderiam ser úteis na gestão da casa de Viseu.

Como podemos verificar no Quadro 1 – As relações do 2º duque de Bragança, D. Fernando conseguira consorciar os seus filhos com a mais alta nobreza titulada do reino e esta situação rendia-lhe uma inigualável influência político-social. Ainda que a casa de Viseu fosse maior em riquezas e, em teoria, tivesse mais poder devido à sua proximidade com a casa real, eram os Bragança os maiores protagonistas políticos do reino. Prova desta situação foi a necessidade de o rei fazer relembrar os “estados, assentamentos e procedimentos dos Duques e senhores Comdes e pessoas grandes de seus Rejnos”544. Os direitos de precedência na corte eram os seguintes: o duque de Viseu prevalecia a toda a nobreza, seguindo-se-lhe os seus irmãos, ainda que não titulados por serem tão “chegados a sobcessam do Rejno”545; depois o duque de Bragança e o seu filho, o duque de Guimarães. Os restantes filhos de D. Fernando, ainda que não titulados, tinham direito de precedência sobre todos os condes, excepção feita ao conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses, cunhado do duque. Note-se que, nesta

542 Apesar do infante D. Fernando ser filho adoptivo do infante D. Henrique, tudo leva a crer que não

tenham convivido muito. De entre os irmãos do pai, D. Fernando tinha uma relação preferencial com o duque de Bragança, a cuja família pertencia também a sua mulher, D. Beatriz.

543 O infante D. Fernando e D. Afonso, o duque de Bragança, foram os únicos membros da família real a

recusar comparecer nas exéquias fúnebres do duque de Coimbra, realizadas em Novembro de 1455.

544 “Conselho feito em Coimbra sobre os assentamentos dos senhores em uida del Rej Dom Affonso”, in

Álvaro Lopes de CHAVES, Livro de Apontamentos… cit., pp. 138-150. Este documento encontra-se datado, na fonte, de Agosto de 1482. Esta data está incorrecta. Supomos que o documento seja, ao invés, do ano de 1472, atendendo a que D. João, filho do duque de Bragança, ainda não tinha sido nomeado marquês de Montemor, o que aconteceu em 1473.

data, excluindo o duque de Guimarães, D. Afonso, conde de Faro, era o único filho titulado do duque546, pelo que a ordem entre os irmãos deveria ser a seguinte: D. Afonso, o único titulado, D. João (ainda que mais velho não podia preceder ao irmão por não ter título) e por último D. Álvaro547.

546 D. Álvaro, o filho mais novo de D. Fernando foi, na realidade, o único que não recebeu um título.

Contudo, D. Álvaro casou, como já vimos, com a herdeira dos condes de Olivença e previa-se que viesse a herdar o título do sogro.

9.3 – 1471: A Conquista de Arzila, o domínio de Tânger e a