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Motivos e implicações da ausência do diálogo

O diálogo é elemento essencial para a condição humana. Podemos ver o diálogo em diversas fases da história do homem. Dentro da dimensão relacional, o diálogo é palavra, experiência, sentido e significado para a existência humana (SÍVERES, 2013). O diálogo valoriza a história e cria valores e vínculos através da palavra. No processo dialógico é possível resgatar contextos: podemos explicar a realidade e também mudar a forma como enxergamos o mundo.

Sobre um processo dialogal é didática a metáfora da sinfonia, proposta por Síveres, em que cada instrumento musical, apesar dos diferentes sons, acaba gerando uma harmonia prazerosa aos ouvidos (SÍVERES, 2013). Do mesmo modo acontece no processo dialógico, em que seres pensantes que apresentam suas diferentes ideias para atingir o mesmo objetivo, nesse caso, a aprendizagem. Mas, o diálogo parece comprometido. Síveres aponta que é a partir da

modernidade que isso acontece, quando a identidade do sujeito se fragmenta e a individualidade se sobressai às interações sociais, ou seja, as relações entre indivíduos, tão necessárias para o diálogo, deixam de acontecer (SÍVERES, 2013).

A falta do diálogo compromete a formação dos indivíduos em sua capacidade argumentativa, assim como em sua potencialidade para continuar criando e se enxergar como parte de um sistema maior de interações contínuas, uma vez que o diálogo permite o exercício linguístico pelo qual os seres humanos se entendem e pelo qual organizam o seu pensamento de forma a refletir sobre suas ações e sobre seu propósito. Com isso, expomos as inquietações e descobertas, compartilhamos com outro indivíduo que nos ouve e faz sua intervenção sobre o que está sendo dito, e na ausência do diálogo isso não acontece.

Importante esclarecer que, apesar de haver diferentes circunstâncias que ocasionam a anulação do diálogo na perspectiva educacional, no presente estudo será abordado o racionalismo moderno, que aplicado aos processos educativos gera um distanciamento nas áreas de conhecimento privilegiando a individualidade do sujeito, a fragmentação do conhecimento e a instrumentalização fundamentada em preceitos técnico-científicos.

Ora, o ser humano deu as costas para sua história e elevou a ciência. Supervalorizou a razão e abandonou a reflexão filosófica e, por consequência, o exercício do diálogo, e como efeito disso temos indivíduos que reproduzem conhecimentos que, perdem o sentido por não haver conexão entre eles. (FERNANDES, 2008). Isso significa que uma parte do ser humano foi esquecida dentro dele mesmo. Na busca por uma perfeição no método de conhecer, a humanidade nega outras dimensões humanas, que são inerentes à sua capacidade de construir saberes e, com o passar do tempo isso começou a fazer faltar. O processo dialógico reflexivo precisa ser retomado neste mesmo ser humano.

Identificando a falta de comunicação, Habermas faz críticas à sociedade moderna sem reflexão, sem espaço para um processo dialógico, que alimenta a hegemonia científica fundamentada na razão puramente instrumental (HABERMAS, 2003). Essa crítica contundente destaca que o indivíduo que não se relaciona de forma comunicativa, que não fala, que não escuta, que não interage, consequentemente, não gera desenvolvimento. Sendo assim, neste processo, em que a conversação não é identificada, um passo a mais para a modernidade fica

Diálogo na ação comunicativa | 133

comprometido, na visão do autor.

E a propósito da instrumentalidade, procurando distinguir sujeito de objeto, a ciência se fragmenta e o conhecimento passa a ser compartimentalizado. Surgem então as diversas disciplinas organizadas em currículos, derivando exaustivas especializações, dando origens profissionais que não sabem e desconhecem sua atividade dentro de um contexto sistêmico de valores e funcionalidade. Neste sentido, Morin (2005) destaca que os conhecimentos produzidos pelas instituições ditas científicas não conseguem integrar a sociedade e, na realidade, o que se tem é uma ruptura do tecido social em nome do que se conhece como desenvolvimento.

Diante disso, a conversação e a interação do professor e do aluno para a construção de um conhecimento permeado de provocações e descobertas se fazem necessárias, pois é para esse contexto que a mudança por um ensino dialógico pede espaço. Vivemos numa sociedade em crise, que não sabe lidar com a autonomia gerada pela modernidade, o progresso conquistado desestabilizou o indivíduo como ser social e construiu uma imagem de autossuficiência irreal, ocasionando isolamento, de tal modo que o diálogo se extinguiu.

Apesar de inexistente, o indivíduo autônomo e reflexivo, o ser pensante, com ideias próprias, crenças, valores e convicções morais pode ser construído. Uma vez que buscamos o processo comunicativo, a interação social e a reconstrução de um processo educativo de encantamento nas relações do professor com o aluno, podemos reencontrar o indivíduo que pensa filosoficamente. De acordo com Síveres (2013), o diálogo pode ser resgatado se for aplicado em uma perspectiva educacional. O autor destaca o fato de que o diálogo, que pode ser desenvolvido em salas de aula, possibilita articulação entre os conhecimentos e é nesse propósito que a busca pelo processo dialógico deve ser mantida.

Portanto, como já foi dito, o racionalismo compartimentalizou o conhecimento e interrompeu a comunicação que existia, e algo deve ser feito para se resgatar o ensino do conhecimento sistêmico e significativo. A interdisciplinaridade seria uma opção porque é um método pelo qual os alunos podem entender e resgatar o sentido do que estão aprendendo, pois, segundo Moraes (2008), a interdisciplinaridade é facilitadora do diálogo entre as disciplinas e promove um ambiente singular de aprendizagem, agradável, desafiador, significativo, no qual

professores e alunos podem entender o sentido daquilo que ensinam e apendem. De certo que a interdisciplinaridade é uma alternativa para se reestabelecer o diálogo ao processo de ensino e aprendizagem e ao processo dialógico, não meramente um construto didático, mas uma potencialidade reflexiva. A partir do resgate do diálogo entre as áreas de conhecimento, proporcionado pela interdisciplinaridade, teremos também o indivíduo que pensa, que vai refletir sobre suas ações e sobre sua forma de aprender e vai agir, de forma a perpetuar esse modelo sistêmico de construção de conhecimento. Ainda mais, temos uma ação colaborativa que promove a dialogicidade em detrimento do conhecimento compartimentalizado sem uma consciência filosófica.