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Movimento ASSEMA Associação em Áreas de Assentamento no Estado do

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (páginas 42-47)

CAPÍTULO 1 OS ELEMENTOS DA CONSTRUÇÃO DO ESTUDO

1.5 Movimento ASSEMA Associação em Áreas de Assentamento no Estado do

21 No capítulo 2, no item 2.1 - A luta pela Terra e pelo Babaçu é aprofundado sobre os conflitos nessas áreas.

A Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), surgiu em 1989 no âmbito de um processo de mobilização, assim registrado: “... as formas de organização política conjugadas com um aprofundamento da assistência técnico- administrativa para uma eficaz gestão das terras conquistadas, resultaram na criação da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA)..." (ALMEIDA 1995:239).

Também recupera a posição da ASSEMA a interpretação de Silva. Ao realizar um estudo sobre “a organização agro-extrativista”, ele menciona a ASSEMA

"(...), essa associação prima por desenvolver ações que possam ser úteis aos interesses dos pequenos produtores que atuam na sua área de abrangência (...). Essa associação procura sempre demarcar um espaço de luta, querendo, com isso, viabilizar uma alternativa de enfrentamento de uma realidade adversa às famílias que procuram sobreviver através do extrativismo e das culturas tradicionais (arroz, feijão, milho e mandioca)" (SILVA 2000: 216).

Segundo Lago (2002 p. 24), a ASSEMA é...

(...) entidade que se define como representativa dos trabalhadores rurais das áreas de assentamentos rurais daquela região, cuja função principal é a de desenvolver políticas de ação orientadas para os trabalhadores rurais beneficiários da reforma agrária, instrumentalizando os agricultores através da assistência técnica e educacional em articulação com os diversos movimentos sociais da região do Médio Mearim.

Ainda, Martins (2000 p. 19) define a ASSEMA como sendo...

... uma entidade fundada pelos Sindicatos de Lago do Junco e Esperantinópolis e pela Oposição Sindical de Lima Campos, no ano de 1989, atuando nesses municípios e no de São Luiz Gonzaga, através das Associações, Sindicatos e Cooperativas. Dentre os objetivos dessa entidade, que se constitui em um locus social entrecortado por diferentes planos de organização, articulando diversos movimentos sociais, destaca-se a ampliação dos canais de participação e pressão pela viabilização de projetos para as áreas desapropriadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela política agrária - INCRA e ITERMA.

Lendo os documentos, atas de assembléias, relatórios de trabalhos, avaliações externas, etc e principalmente ouvindo dirigentes e lideranças locais, percebi que o certo é que a ASSEMA foi sendo construída e se constitui numa rede de organizações locais, assumindo características de um movimento social regional.

Ao longo da sua trajetória de 15 anos, as lideranças e equipe técnica da ASSEMA buscaram investir na formação do quadro de associados – pessoas e organizações coletivas

que tem o nome registrado no livro de sócios, bem como as famílias que se sentem representadas e que são consideradas sócias indiretas – nas próprias lideranças e também no seu quadro de técnicos-assessores, buscando construir um movimento político forte e autônomo nas suas relações.

O estudo das atas da entidade, que realizei durante o trabalho de campo, mostrou que nas assembléias gerais de 1996, os sócios individuais, que até então representavam grupos coletivos, resolvem que a partir de então os novos sócios da ASSEMA passariam a ser os próprios grupos. É feita uma alteração estatutária e mantém-se os sócios individuais como fundadores e a gama de organizações locais se associam. Adotaram o critério de indicação pela área de abrangência do grupo de base, sendo que a organização de atuação municipal indica até três representantes e os grupos de atuação nos povoados indicam até dois representantes. Não há regra que exija do grupo de base sua constituição jurídica, podendo se associar todo grupo que tiver o reconhecimento das famílias e que aceitar e apoiar os princípios da ASSEMA, e que realize assembléia com a finalidade de tomar decisões sobre a associação.

Neste trabalho, dialogo freqüentemente com organizações e grupos informais que envolvem diversas famílias agro-extrativistas. Estas, por sua vez, formam a ASSEMA, que aqui trato como o Movimento ASSEMA. A ASSEMA é uma instituição juridicamente constituída, com direção eleita, membros filiados, reuniões regulares de direção e de associados, que planejam e seguem planos de atuação estruturados segundo uma lógica da organização, e adotando uma certa hierarquia em seu funcionamento.

Adoto o termo Movimento porque sobre a ASSEMA pode ser feita essa outra leitura de sua forma de existir. Ela pode ser considerada um Movimento, pois se articula em rede regional composta de vários outros tipos de organizações juridicamente constituídas ou não,

que objetivam tanto a organização da produção e da comercialização como da mobilização social.

A rede de organizações locais se refere a grupos de base, tais como: cooperativas agro- extrativistas; associações de assentamentos; grupos por unidades produtivas, como produtoras de sabonetes, de papel reciclado, de plantas aromáticas, de plantas medicinais, unidades de desidratação de frutas, produção de doces de frutas; associações de trabalhadoras rurais; comissão municipal de quebradeiras de coco babaçu; grupos de jovens; escola família agrícola; escolinhas informais de alfabetização de crianças; grupos de educação de jovens e adultos; e sindicatos de trabalhadores rurais da mesma área de atuação.

Esse tipo de organização combina hierarquia com flexibilidade. Sua forma de atuação ao mesmo tempo em que exige coordenação das suas ações gerais, permite autonomia aos grupos comunitários e/ou por segmento (jovens, mulheres, produção, assentamentos, etc.), de forma que cada grupo coletivo se auto-identifique como sendo parte da ASSEMA. A expressão que se tornou bem comum, utilizada pelas lideranças da organização, é a de se referir à organização como a “família ASSEMA”. Essa pode ser considerada como sendo uma representação de que todos que compõem a idéia de ASSEMA, independente das diferenças, devem agir em prol dessa idéia.

A característica de movimento da ASSEMA também pode ser reiterada no aspecto que busca manter articulações entre os diversos grupos que a compõe, objetivando a mobilização em busca dos seus interesses que normalmente estão apoiados na preservação ambiental e na melhoria de condições de vida no campo, num intenso exercício de construção da cidadania.

Ao se relacionar com a sociedade global e com o Estado, visando lograr os direitos das famílias agro-extrativistas que esse Movimento representa, a ASSEMA o faz similarmente à descrição proposta por Piñeiro (2004, apud documento do RIMISP, 2004, p.2): “En (las redes) los individuos interactúan, se influyen recíprocamente, negocian y producen las estructuras

motivacionales necesarias para la acción”. Num forte diálogo entre os indivíduos e de forma processual vai se determinando as ações.

Também foi possível constatar, através de levantamento de fontes secundárias, que a forma particular desse grupo social se organizar e mobilizar como um conjunto de organizações de base também caracteriza uma pauta diversa, que envolve discussões tais como: mercado na perspectiva de uma economia distributiva e solidária; convivência com a natureza e utilização dos seus recursos naturais de maneira responsável que garanta sua preservação para as gerações futuras; educação voltada para a valorização da vida no campo; produção e beneficiamento dos recursos visando a adoção de técnicas orgânicas e ecológicas; debates sobre as relações de gênero e como essas podem ser reconstruídas objetivando a valorização das diferenças, mas com a igualdade de direitos. A essa diversidade de assuntos, acrescenta-se a constante mobilização por recursos, pressão e negociações na busca de implementar suas políticas no campo.

O que está implícito é uma visão de um mundo novo, pois o que esse Movimento busca, pelo menos na sua área de atuação e nas relações com outros movimentos mais amplos, é o processo de transformação social. “Es decir que no solo desafían la distribución desigual del poder político o de los bienes económicos, sino también los sentidos sociales compartidos, esto es la manera de definir e interpretar la realidad” (RIMISP - marco conceptual para el Programa Movimientos Sociales, Gobernanza Ambiental y Desarrollo Territorial Rural).

Na revista publicada em comemoração aos 15 anos da ASSEMA, a “ASSEMA em Revista”, página 11, é apresentado a seguinte estrutura organizacional da associação.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (páginas 42-47)