• Nenhum resultado encontrado

Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB

4.2 As organizações parceiras

4.2.4 Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB

As mulheres quebradeiras de coco surgem como uma nova expressão social e política no meio rural, como um sinônimo de resistência nas lutas em defesas dos babaçuais e no enfrentamento com proprietários de terra. Suas ações estão pautadas no combate à expropriação ilegal dos recursos naturais, mais precisamente, em defesa das florestas de babaçuais. Também foi no final dos anos 1980 que as quebradeiras de coco iniciaram o processo de organização, primeiramente, por meio das cooperativas. Em 1989, com a criação da ASSEMA – Associação em Áreas de Assentamento do Estado do Maranhão59 – o trabalho passou a ter um assessoramento técnico. Daí a organização

cresceu resultando na criação da Articulação das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu em 1991. A partir de 1995, transformou-se no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB.

Este Movimento atua nos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins. É formado por trabalhadoras rurais que se autodefinem como quebradeiras de coco (Almeida, 1995; Barbosa, 2006; Lago, 2002; e Mota, 2006). O principal elemento de identidade do MIQCB é a luta pela terra e a defesa dos babaçuais, como fonte de sobrevivência e renda.

Na década de 1990, principalmente no Estado do Maranhão, muitas famílias passaram a sobreviver da quebra do coco babaçu, por meio do seu beneficiamento integral, diversificando a agricultura familiar com esta atividade agroextrativista. A inserção dos produtos oriundos do babaçu se diferencia no mercado pelas estratégias de organização coletiva, baseadas nos princípios da sustentabilidade, da agroecologia e do comércio justo e solidário. Essa relação com o mercado caracteriza-se pelos aspectos sociais, econômicos e ambientais nos quais os produtos, além de gerarem renda dão visibilidade às lutas das quebradeiras de coco. Suas experiências estão diretamente associadas às lutas pela democratização do acesso a terra. Nessa relação está presente um forte componente econômico, mas envolve componentes ambientais e elementos de representação simbólica

59

A ASSEMA desenvolve trabalho na região do Mearim, no Maranhão, considerada o epicentro da luta pela terra, onde a reforma agrária ocorreu em função da pressão e de muitos conflitos com pouca presença do Estado. A presença de organizações ligadas aos direitos humanos e à igreja foi fundamental tanto na mediação dos conflitos quanto no apoio ao processo de organização das comunidades.

relacionados à proteção dos recursos naturais.

Esta relação entre natureza e sobrevivência, implica em uma nova concepção de direitos por questionar o direito civil que privilegia a defesa da propriedade privada e o direito agrário, para repensar a função social da terra, ainda respaldada na visão conservacionista. Essa concepção, desafia o próprio direito ambiental, a incluir o ser humano na preservação dos recursos naturais. A estratégia é adotar uma visão ampliada do direito e concretizada pelo MIQCB ao fazer várias parcerias com redes de organizações sociais, incluindo instituições jurídicas na elaboração de instrumentos legais que resultou, entre outras ações, na Lei do Babaçu Livre60.

Considerando as atividades produtivas, as quebradeiras de coco estão inseridas na categoria de agroextrativistas juntamente com os(a)s seringueiros(as), as açaizeiras, as coletadoras de frutos e outros(as), mas tal classificação não exclui sua autodefinição como

quebradeiras que para estas é o que representa a identidade coletiva ao grupo. “A gente

está querendo se expor pro mundo dizendo eu sou quebradeira, porque é o que a gente faz mesmo na seca e de verde é quebrar coco, pois se nós quebramos coco de inverno e verão nós somos é quebradeira” (D. Moça, 2007)61.

Esta identidade reivindicada, além de posicioná-las e diferenciá-las em relação às demais trabalhadoras rurais, também diz respeito à afirmação de um sujeito coletivo, pois

ser quebradeira expressa suas atividades produtivas, suas formas de se relacionar com a

natureza e de posicionar como mulheres extrativistas. Assim, um olhar mais atento indica a existência de vários pontos de tensionamento e ao mesmo tempo de interfaces na configuração identitária da MM que envolve as representações sócio-culturais e políticas. Ao participar de eventos e fóruns que possibilitam o diálogo social entre governos e sociedade civil, as representantes do MIQCB se diferenciam ao se afirmarem como quebradeiras de coco, uma nova categoria social. Ou seja, na MM os deslocamentos identitários são evidenciados nos discursos marcados pelas aproximações e diferenças permanentes.

Esse emaranhado de representações e de categorias presentes em um mesmo grupo social composto por mulheres, pode ser percebido em mulheres como Dona Nice,

60

A Lei do Babaçu é uma iniciativa das quebradeiras de coco babaçu de criar instrumento legais que garantam o direito de livre acesso e proteção dos babaçuais, inclusive consta no rótulo dos seus produtos; atualmente existem leis municipais no Estado do Maranhão e tramita no Congresso Nacional vários projetos de Lei, um deles é de autoria do deputado Domingos Dutra - PT/MA.

61 Entrevista com Sebastiana Ferreira C. Silva – D. Moça, Coordenadora do MIQCB, realizada em Brasília,

quebradeira de coco, atual vereadora pelo Município de Guimarães, na Baixada Maranhense. Reconhecida socialmente como quebradeira de coco, D. Nice que também faz parte do sindicato rural do seu município e do movimento quilombola, pode adotar uma ou as três categorias, opção que dependerá da ocasião em que foi escolhida ou indicada. Da mesma forma, algumas mulheres localizadas nos Estados do Pará e Tocantins, assumem identidades diversas: indígena, quilombola, quebradeiras de coco, coletadeira. Um dos espaços de organização das mulheres da região amazônica é o Conselho Nacional dos Seringeiros (CNS), como é o caso de Dona Raimunda Gomes da Silva, conhecida como Dona Raimunda dos Cocos, liderança da região do Bico do Papagaio em Tocantins.

Em relação à representação, o MIQCB possui uma estrutura organizativa composta por Diretoria Executiva, Conselho Fiscal e Comissões Temáticas. Vale mencionar que apesar do MIQCB abranger a maioria das quebradeiras, existem grupos mais localizados ou dissidentes, como o grupo de quebradeiras de coco da região do Vale do Itapecuru no Maranhão que não possuem relação com o MIQCB, mas são vinculadas a uma associação local e aos sindicatos rurais. Portanto, as quebradeiras estão envolvidas em redes de relações materiais e simbólicas que podem ser observadas nas representações sociais62,

sobre si e sobre a natureza.