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Ação do Movimento Universitário Espírita: revolucionar o movimento espírita através da crítica em favor do revolucionar o movimento espírita através da crítica em favor do

1.4 – Os anos 1960 e 1970: contexto político-cultural nacional e internacional

Capítulo 2 Ação do Movimento Universitário Espírita: revolucionar o movimento espírita através da crítica em favor do revolucionar o movimento espírita através da crítica em favor do

socialismo cristão

Qual a relação entre o caráter progressista do Espiritismo e a questão social? (...) A relação é íntima, pois que, em sendo progressista, a Doutrina Espírita deverá projetar luz sobre os problemas e as necessidades deste século. (A Fagulha, n° 9, set, 1969, p. 18; grifo no original)

Disso se pode concluir a importância para o espírita do estudo das doutrinas sociais que preconizam um sistema social mais justo, o qual não se fundamenta na propriedade individual dos bens de produção, mas faz de todos os homens, através de seu trabalho, os construtores da riqueza e os beneficiários desta. (A Fagulha, n° 7, mai, 1969, p. 9)

Outro não é o nosso desejo que não o de fomentar a constituição de autênticas comunidades espíritas, que guardem por molde inspirador a dos primeiros cristãos. Que nossos centros, nossas casas assistenciais, nossas mocidades, nossas instituições de cunho administrativo, ganhem novas estruturas e haja humanidade no trato dos semelhantes, objetivando a real promoção social do homem. (A Fagulha, n° 8, jul, 1969, p. I; grifos no original)

Reunindo-se para discutir textos socialistas, como os de Erich Fromm, e textos espíritas, como os de Herculano Pires e Humberto Mariotti, alguns jovens universitários espíritas foram aos poucos construindo parâmetros intelectuais compartilhados. Algumas ideias-chave proporcionaram-lhes uma pauta comum – bandeiras a serem empunhadas em periódicos e eventos que reuniam a juventude espírita. Estas ideias, em geral, revestem-se de uma função crítica ao movimento espírita. O que explica, em parte, a reação daqueles que estavam em postos de liderança nas principais instituições espíritas.

De início, vale destacarmos como determinados autores foram importantes para o MUE conseguir estabelecer mais facilmente a ponte entre Espiritismo e socialismo, ou entre Kardec e Marx63. Primeiramente, em Conceito marxista do homem, Erich Fromm

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Aqui, o mais seguro é restringirmo-nos ao MUE de Campinas, já que o MUE de São Paulo não parece ter compartilhado da leitura de obras marxistas. É o que afirma, por exemplo, Djalma Caselato ao definir o MUE de São Paulo, do qual participara ativamente: “Um centro de estudos espíritas, porém com um enfoque social. Acreditávamos que além de nos aperfeiçoarmos individualmente haveria necessidade de aperfeiçoar também

procura desfazer a generalizada impressão de que Karl Marx seria um “materialista vulgar”, um ferrenho opositor da religião, tida como “ópio do povo”, destacando o caráter fundamentalmente humanista do pensamento marxiano e “a conexão entre sua filosofia da história e do socialismo, com a esperança messiânica dos profetas do Antigo Testamento e as raízes espirituais do pensamento grego e romano” (FROMM, 1962, p. 69). Fromm afirma, por exemplo, que Marx, em sua juventude, escrevera como lema de uma dissertação: “Não são ateus os que desprezam os deuses das massas, porém aqueles que atribuem as opiniões das massas aos deuses”, e que o “ateísmo de Marx é a forma mais adiantada de misticismo racional, mais próximo de Meister Eckhart ou do budismo Zen do que o estão muitos dos defensores de Deus e da religião que o acusam de ‘impiedade’” (FROMM, 1962, p. 69). Com esta apresentação de Erich Fromm, que introduzia aos

Manuscritos econômico-filosóficos de Karl Marx, ficava mais fácil partir para a

aproximação do deísmo espírita com o materialismo histórico marxiano.

Paulo Freire, em Educação como prática da liberdade, era outro autor que acrescentava mediações úteis ao entendimento dos participantes do MUE de que o cristianismo teria uma perspectiva revolucionária para a humanidade, fundindo-se ao socialismo. O humanismo cristão, por exemplo, é de grande valia:

Ademais, é o homem, e somente ele, capaz de transcender. A sua transcendência, acrescente-se, não é um dado apenas de sua qualidade “espiritual” no sentido em que a estuda Erick Kahler. Não é o resultado exclusivo da transitividade de sua consciência, que o permite auto- objetivar-se e, a partir daí, reconhecer órbitas existenciais diferentes, distinguir um “eu” de um “não eu”. A sua transcendência está também, para nós, na raiz de sua finitude. Na consciência que tem desta finitude. Do ser inacabado que é e cuja plenitude se acha na ligação com seu Criador. Ligação que, pela própria essência, jamais será de dominação ou de domesticação, mas sempre de libertação. Daí que a Religião – religare – que encarna este sentido transcendental das relações do homem, jamais deva ser um instrumento de sua alienação. Exatamente porque, ser finito e indigente, tem o homem na transcendência, pelo amor, o seu retorno à sua Fonte, que o liberta. (FREIRE, 1969, p. 24)

Vemos também que as ideias de alienação, conscientização, diálogo etc., todas correntes no pensamento do MUE, são centrais na obra de Freire. Só para citar um

as instituições e as organizações sociais. Entretanto, ninguém citava ou falava de autores marxistas ou equivalentes” (depoimento recebido por e-mail dia 15/10/2011).

exemplo: “A opção, por isso, teria de ser também, entre uma ‘educação’ para a ‘domesticação’, para a alienação, e uma educação para a liberdade. ‘Educação’ para o homem-objeto ou educação para o homem-sujeito” (FREIRE, 1969, p. 22).

Finalmente, Herculano Pires e Humberto Mariotti representavam a tradição intelectual espírita de viés socialista que certamente infundiu maior confiança na empreitada intelectual do MUE de resgatar a bandeira do socialismo como uma causa espírita. Ao ler Herculano e Mariotti os universitários espíritas encontravam citações abonadoras de Marx e a crítica explícita ao capitalismo, o que os encorajava a fazer o mesmo. Buscar no marxismo a crítica social que desejavam ardentemente efetuar no interior do movimento espírita se tornava assim quase que uma exigência, já que a possibilidade de justificação bibliográfica ficava claramente delineada.

Já leituras do próprio Marx64 eram mais raras. Somente uma diminuta parcela dos jovens teve contato direto com a literatura marxiana. É o que nos revela Pedro Francisco de Abreu Filho, do MUE de Campinas:

O próprio Marx também a gente estudava, estudava o Marx. Claro que não concordamos com todas as posições do Marx. Mas principalmente na distribuição das riquezas era o ponto forte. No momento que ele criticava a religião e achava que, a frase famosa dele “a religião é o ópio do povo”. A Igreja hoje está desmoronando as suas bases, você ta vendo aí a situação, mas na época dele era pior, haja vista a Revolução Francesa, que baniu a Igreja de todas as posições que ocupava dentro dos órgãos do governo, haja visto o ceticismo do francês hoje.

Então nós, posso dizer pra você que não era a maioria dos jovens, era uma parcela menor, pequena. (depoimento oral concedido 7/4/2010)

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Karl Marx, como suporte teórico, é decisivo para o provocar de um “espírito de rebelião” revolucionário, pois imbrica teoricamente a política, a questão social e a revolução. Podemos depreender isso da reflexão de Hannah Arendt: “Se Marx ajudou a libertação dos pobres, não foi por lhes dizer que eles eram a encarnação viva de alguma necessidade histórica, mas por persuadi-los de que a própria pobreza é um fenômeno político, e não natural, uma consequência mais da violência e da violação do que da escassez. Pois se a condição de miséria – que, por definição, nunca pode produzir ‘gente de espírito livre’, porque é a condição de sujeição à necessidade – era para gerar revoluções, ao invés de levá-las à ruína, seria necessário traduzir condições econômicas em fatores políticos, e explicá-las em termos políticos” (ARENDT, 1988, p. 50). Quer dizer, a desnaturalização da pobreza (explicada como fruto da exploração e não da escassez) representa um estímulo fortíssimo à revolução como a instauração de uma nova ordem, na qual os explorados, os pobres, os oprimidos da terra, devem erguer-se como os novos e fundamentais atores políticos. Para o MUE, olhando criticamente para o conformismo religioso fatalista, de premissas teológicas justificadoras do status quo, Marx representava (mesmo que conhecido apenas indiretamente) um clamor por lucidez diante do fato da injustiça e da consequente exigência política da revolução como construção do socialismo.

Antes de tratarmos da ação propriamente dita do MUE, cabe uma breve apresentação factual. Importa esclarecermos, inicialmente, que quando falamos em Movimento Universitário Espírita estamos nos referindo a determinados grupos num período histórico específico, excluindo da nossa análise outras experiências de universitários espíritas que também se intitulavam de MUE. Tal é o caso, por exemplo, de um MUE de Porto Alegre da década de 195065. Temos de levar em consideração ainda uma espécie de pré-história do MUE, na cidade de São Paulo, em que surgira em 17 de janeiro de 1961 como um grupo oficialmente reconhecido e apoiado pela USE66 (LEX, 1996, p. 66). Este grupo, de algum modo, acabou se desintegrando, restando apenas o nome “MUE” registrado. A única informação que temos a respeito do fim desta primeira experiência encontra-se num texto de Herculano Pires em que ele argumenta sobre o porquê de não termos um Movimento Universitário Espírita, já em dezembro de 1973. Teria sido em razão de um curso de filosofia dado por um “Quixote que veio do Norte”, inculcando o ceticismo frente ao Espiritismo, afirmando-o destituído de fundamento científico e filosófico, que os jovens espíritas universitários abandonaram a seara espírita:

O MUE de São Paulo esfacelou-se em pouco tempo, de triste maneira. Havia surgido carregado de esperanças mas não resistiu às primeiras investidas de um Quixote que veio do Norte montando o Roncinante da Filosofia, mas sem a companhia gorducha de Sancho. Quixote sem Sancho é cavaleiro sem pagem. Arremeteu-se El com sua lança contra os moinhos de vento de uma juventude despreparada e logo a esparramou em pedaços, soprando-lhe a poeira aos ventos. Bastou um curso duvidoso para que ele esmigalhasse a turminha do MUE. (Educação Espírita, Revista de Educação e Pedagogia, n° 5, jul-dez, 1973, p. 58)

Izao Carneiro confirma o episódio, relacionando-o à fundação do segundo MUE, do qual fora protagonista: “Foi assim que cheguei à presidência do MUE”. Afirma que o “Quixote que veio do Norte” foi Alfredo Fernandes, estudante de filosofia que trouxe o ceticismo. Como consequência, em 1966, “todos se afastaram e fiquei sozinho com o apoio

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Esta experiência nos foi relatada por Cícero Marcos Teixeira. Teria envolvido cerca de 20 acadêmicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por cerca de quatro anos, entre 1953 e 1957. Um dos participantes do grupo foi Zalmino Zimmermann, destacado magistrado espírita. A proposta era levar o Espiritismo ao meio acadêmico (depoimento oral concedido dia 20/4/2010).

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Izao Carneiro Soares, que participara do MUE de São Paulo, conta que o MUE “surgiu numa reunião solene na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, não lembro a data, mas foi quando o Jânio era governador, pois ele mandou mensagem de apoio” (depoimento recebido por e-mail dia 24/10/2011).

do Jonny Doin. Era novo ainda e comecei a freqüentar a casa dele, reformamos o estatuto e percorri as faculdades atrás de interessados para reiniciarmos o MUE” (informações obtidas por e-mail dia 9/11/2011).

Djalma Caselato, que integrara o MUE de São Paulo, também nos explica o que ocorreu após o findar do primeiro MUE paulistano:

Das reuniões que fazíamos congregando as pessoas que se interessavam por um aprofundamento dos estudos espíritas, me lembro perfeitamente do dia em que o Johnny Doin sugeriu para adotarmos o nome de MUE, uma vez que era um nome muito forte e estava disponível. Nessa ocasião foi somente conversar com os antigos dirigentes e foi aproveitado o registro existente. (depoimento recebido por e-mail dia 15/10/2011)

Ao que parece, a refundação do MUE dera-se na Mocidade Espírita 3 de Outubro. É o que se depreende do relato de Djalma Caselato:

meu primeiro contato com o pessoal do MUE se deu nas reuniões da Mocidade Espírita 3 de Outubro, aqui de São Paulo, que acredito eu, foi dessas reuniões que houve a reativação do MUE, pois o antigo já não existia mais. Na realidade houve uma apropriação do nome em concordância com os antigos dirigentes do primeiro MUE. (depoimento recebido por e-mail dia 15/10/2011)

Quer dizer, havia um MUE desativado que fora retomado por um grupo de jovens espíritas imbuídos de novas propostas e sob a liderança do dinâmico Jonny Doin, o mais velho de todos. Edson Silva Coelho67 registra ainda a importância da pré-história do MUE em função do pensamento filosófico de Herculano Pires, que, como veremos, foi subsídio importante para a formulação de um progressismo revolucionário no MUE que estamos analisando:

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Edson Coelho define sua relação com o MUE do seguinte modo: “Minha relação com o MUE foi a de um militante de base. Alinhei-me, ainda como dirigente da Mocidade Espírita 3 de Outubro, com as teses defendidas pelos MUEs de Campinas e de Sorocaba ao longo dos encontros preliminares de jovens da região Centro-Sul de São Paulo – que defendiam o envolvimento do movimento espírita nas chamadas questões sociais – e integrei o núcleo inicial do MUE da capital, organizado por Jonny Doin, Angela Belucci, Valter Scarpin, aos quais se somaram, em 1970, Djalma Caselatto e sua esposa, Eleonora Sampaio Caselatto, que já participavam do movimento dos MUEs a partir de Jundiaí e Americana, respectivamente. Nunca me vi como um dos dirigentes ou líderes do MUE de São Paulo. Era muito jovem e ainda pré-universitário em 1968 e 1969, ano em que concluí o Clássico. (...) Assim, posso dizer que minha experiência no MUE marcou meu in- gresso na vida adulta pelo melhor dos caminhos, o das ideias e dos ideais. Nesta condição, de militante de base do movimento, participei de suas reuniões, de seus debates e encontros, colaborei com a revista A

Fagulha e outras publicações, como o periódico Espírito Universitário, do MUE paulistano” (depoimento

O Movimento Universitário Espírita foi criado em 1961, na capital paulista com pleno apoio da União das Sociedades Espíritas (USE) e o incentivo de intelectuais espíritas como Herculano Pires e Eurípedes de Castro. Embora o MUE original tivesse um discurso assumidamente apolítico, voltado que estava para a divulgação do Espiritismo nas universidades, a preocupação destes intelectuais em correlacionar a Doutrina Espírita com as grandes vertentes filosóficas mundiais, em particular o marxismo, inspirou profundamente a etapa de desenvolvimento dos MUEs aberta no final da década, já caracterizada por uma forte oposição às injustiças sociais e à ditadura militar instalada no Brasil em 1964. (depoimento de Edson Silva Coelho recebido por e- mail dia 19/10/2011)

Dito isto, definamos nosso objeto de estudo. Tratamos do MUE do Estado de São Paulo surgido a partir de duas fontes: uma em Campinas, ainda não oficialmente, em torno de 1967, sob a liderança de Armando Oliveira Lima, e oficializado em 1969, tendo encerrado por volta de 1973; e outra em São Paulo, com a apropriação do termo MUE por parte do grupo liderado por Jonny Doin em torno de 1966, 1967, dissolvendo-se também em meados de 1973.

O Movimento Universitário Espírita era então composto por núcleos: o MUE de São Paulo, o MUE de Campinas e, mais tardiamente, o MUE de Sorocaba. Embora tivesse ocorrido uma tentativa de expansão para outros estados68, como Rio de Janeiro e Bahia (muitos fazem referência ao MUE de Salvador), a efetividade materializada em ações (publicações, palestras etc.) só foi confirmada para o caso dos núcleos de São Paulo. Ativemo-nos, portanto, a analisar os mencionados núcleos paulistas. Em especial, o MUE de Campinas, pela abundância de material e pelo impacto causado no movimento espírita brasileiro em função de sua radicalidade política, remetendo-nos ao tema central de nossa dissertação que é o encontro (potencial ou efetivamente) conflituoso da religião com a política.

Enquanto o primeiro MUE de São Paulo surgia em 1961, com o apoio de Herculano Pires, com a promessa de lutar pelo Espiritismo no meio universitário, nesse mesmo ano, Armando Oliveira Lima sai de Sorocaba e vai residir em Campinas, desenvolvendo

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Fato curioso: mesmo sem o conhecimento dos que participaram do MUE, de algum modo sua influência chegara até o Rio Grande do Sul. Sabemos dessa influência porque nossa própria descoberta da existência do MUE dera-se quando encontramos, fortuitamente, documentos confidenciais da Federação Espírita do Rio Grande do Sul tratando de “movimentos paralelos”. Estes documentos davam conta da ameaça de uma “infiltração subversiva”. Discorremos com mais atenção acerca desse episódio no terceiro capítulo.

gradativamente suas atividades “subversivas” no interior do movimento espírita campineiro. Será ele o primeiro líder do MUE de Campinas, que em 1967 estava em fase de gestação. A publicação da revista A Fagulha, nesse ano, representa o início da “guerra” deflagrada pelos jovens universitários espíritas ao misoneísmo dos espíritas. O grupo, formado por cerca de quinze jovens, reunia-se na Mocidade Espírita Allan Kardec (MEAK) – por sua vez composta por cerca de trinta jovens - no Centro Espírita Allan Kardec (CEAK) de Campinas69. Somente no dia 12 de abril de 1969, porém, é que surge oficialmente o MUE de Campinas70, com a seguinte composição para a diretoria executiva: Presidente: Shizuo Yoshida; 1° Secretário: Himar de Sousa Bueno; 2° Secretário: Pedro Francisco de Abreu Filho; Tesoureiro: Walter Sanches71 (Ata de Fundação do MUE de Campinas).

No Artigo 1° dos seus estatutos de fundação constam a seguinte definição e finalidades:

(...) é uma associação civil, de fins ideais, com personalidade jurídica e caráter cultural, apolítico, que tem por finalidade congregar os universitários espíritas de Campinas, para:

1°) – Cooperar na formação e desenvolvimento da consciência doutrinária.

2°) – Promover o estudo e a propagação da doutrina espírita, fundada nas obras de Allan Kardec e subsidiárias.

3°) Trabalhar pelo desenvolvimento intelecto-moral do Espírita inserindo o Espiritismo no contexto histórico e cultural da humanidade, relacionando-o com todos os ramos do conhecimento.

4°) – Propugnar pelo desenvolvimento da sociedade humana com base no princípio reencarnacionista, donde nasce a verdadeira compreensão dos direitos e deveres do homem, concorrendo assim, para o

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Houve um episódio em que o “grupo subversivo” fora destituído da direção da MEAK. Então, conforme relata Pedro Francisco, aproximadamente metade dos jovens que participavam dessa mocidade saíram do CEAK para reunir-se na casa de Armando Oliveira Lima. Com base nessa e em outras informações, pudemos deduzir os números indicados.

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Não obstante, trataremos as atividades dos jovens reunidos em torno da liderança de Armando de Oliveira Lima com a publicação d’A Fagulha, desde outubro de 1967, como sendo já o Movimento Universitário Espírita, pois o caráter do grupo é o mesmo; abril de 1969 constitui apenas um marco de formalização. 71

Estavam presentes na Assembléia Geral de fundação: Jonny Doin, Shizuo Yoshida, Izao Carneiro Soares, Himar de Sousa Bueno, Valter Scarpin, Irene Romeiro Doin, Vitor Lúcio de Rezende, Ivan Faria Ramos, Angela Bellucci, Claro Gomes da Silva, Walter Sanches, Adalberto de Paula Paranhos, Pedro Francisco de Abreu Filho e Armando Oliveira Lima (Ata da Assembléia Geral de fundação do MUE de Campinas).

aperfeiçoamento das suas condições de vida. (Estatutos do MUE de Campinas)

Chamamos a atenção para três elementos deste Artigo 1°, cuja reflexão a respeito será desenvolvida ao longo dessa dissertação. Primeiro, a definição apolítica não faz do MUE um movimento sem claros propósitos políticos, incluindo a busca da politização dos espíritas. Significa apenas a declaração de não envolvimento com o campo político- partidário. Segundo, o item 3° é crucial para a definição do intento do MUE, com a sua aproximação com o marxismo e o hastear da bandeira do socialismo cristão: inserir “o Espiritismo no contexto histórico e cultural da humanidade, relacionando-o com todos os ramos do conhecimento” significa abrir o flanco para a tentativa de inserção do Espiritismo na luta pelo socialismo (“contexto histórico e cultural da humanidade”) em diálogo com o marxismo (um dos principais “ramos do conhecimento”). E terceiro, o item 4° fala em aperfeiçoamento das “condições de vida” do homem, e não apenas em “progresso” genericamente expresso ou “evolução moral e intelectual”, fórmulas mais facilmente subsumíveis à ideia de reforma íntima ou de educação do Espírito. Com isso torna-se possível a ênfase na exigência de atenção aos “problemas materiais”, às questões sociais relacionadas às “necessidades físicas” do Espírito.

Adalberto Paranhos, Pedro Francisco de Abreu Filho, Eduardo Simões, Walter Sanches, Shizuo Yoshida72, Claro Gomes da Silva, Magali Lemos e Nilma Guimarães eram alguns dos jovens que mais se envolveram73, sob a forte influência de Armando Oliveira, o mais velho de todos. Adalberto Paranhos era presidente da MEAK em 1967 – quando ainda não havia se aproximado de Armando Oliveira – enquanto Pedro Francisco assumira a função em 1968. Sendo já lideranças no meio juvenil, com produção de jornais (como O