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Durante uma pesquisa existe, sempre, a necessidade da experimentação, da tentativa de combinações metodológicas, seus descartes, ajustes e construções. Neste

46 Penitenciária do Rio Grande do Norte vira campo de guerra em contagem regressiva. https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/17/politica/1484674591_155560.html. Acesso em 19/08/2017.

47http://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil. Acesso em 20/12/2017.

48 https://especiais.g1.globo.com/monitor-da-violencia/2018/raio-x-do-sistema-prisional/. Acesso em

percurso, bem como aponta Marin (2006), nos deparamos com hesitações, soluções, esclarecimentos e reestruturações.

Assim, durante todo o nosso percurso empreendemos a pesquisa bibliográfica, a fim de nos guiar e nos respaldar em respostas para a nossa problemática e objetivos. Paralelo às leituras, fichamentos e análises críticas realizadas e empreendidas no conteúdo consultado, iniciamos nossa pesquisa exploratória com o propósito de compreender e analisar como Tribuna do Norte e Novo utilizavam suas redes sociais como estratégias de coberturas noticiosas.

Nesse sentido, de forma sistemática, realizamos observações diárias das publicações divulgadas nos perfis do Twitter, Facebook e Instagram desses dois periódicos. A proposta era entender como se dava a prática jornalística naqueles espaços, reunindo e coletando dados que fossem “capazes de reproduzir os fenômenos em estudo no que eles têm de essencial” (LOPES, 2010, p. 142).

Nesse período, nos chamou a atenção a forma como a prática jornalística na rede social Facebook através de lives vinha sendo constante. O primeiro acontecimento que nos interessou foi em 29 de julho de 2016, quando começaram a ser espalhados boatos através do aplicativo Whatsapp de ameaças de criminosos contra o estado em retaliação às instalações de bloqueadores de celulares na Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), na cidade de Parnamirim, região Metropolitana de Natal. O fato acabou se concretizando e, não apenas dentro da prisão, como fora dela foram evidenciados atos de violência.

Veículos e prédios, naquele mesmo dia, foram incendiados. O caos tomou conta de boa parte da população potiguar que se amedrontou com notícias vindas de fontes confiáveis e de boatos. Voltando o olhar para nossa pesquisa, nos chamou a atenção a forma como os veículos de comunicação passaram a atuar para relatar os acontecimentos e esclarecer sobre notícias falsas que surgiam. Eles passaram a utilizar com ainda mais afinco o aplicativo Whatsapp para encaminhar boletins rápidos aos seus leitores sobre o que acontecia, atualizar o Instagram com fotos de onde estavam e, especialmente, passaram a utilizar ainda mais as transmissões ao vivo – isso, claro, paralelo, às atualizações constantes nos sites dos jornais.

No início de 2017, outro acontecimento paralisou a cidade de Natal e o estado e, novamente, exigiu um grande trabalho de cobertura dos veículos de comunicação potiguares. Tratava-se da maior rebelião que o estado já havia enfrentado. O conflito, que durou mais de uma semana, mobilizou as redações do Rio Grande do Norte e na Tribuna

do Norte e Novo não poderia ser diferente. O motim, bem como o primeiro que citamos, ultrapassou os portões da prisão e foi o estopim para uma outra onda de ataques e terror em diversas cidades do RN. Assim, optamos naquele momento estudar as estratégias adotadas para a cobertura dos dois acontecimentos. A escolha dos casos se deu por sua relevância. Traziam inerentes a eles notoriedade, proximidade, relevância e conflito, valores-notícia que atraiam ao público e, consequentemente, os jornais.

Mas, por entender que esse seria um corpus de grande quantitativo para analisar em tão curto período para realização da pesquisa, optamos por filtrar ainda mais nossas escolhas. Por ser mais recente e ter tido uma cobertura ainda maior (em quantitativo de publicações) da TN e Novo, optamos por analisar apenas a cobertura do último caso citado.

Com o objeto empírico escolhido, iniciamos a curadoria das publicações. Durante todo o mês de abril realizamos a coleta das informações que consideramos importantes para o delineamento da Análise da Cobertura Jornalística através das transmissões ao vivo, nesse sentido, passamos a seguir e estruturar essa análise de acordo com os níveis analíticos propostos pela ACJ. Construímos para cada jornal uma tabela no Excel na qual catalogamos todas as lives realizadas sobre a rebelião.

Iniciamos esse procedimento no dia 5 de abril e o finalizamos no dia 20 do mesmo mês. Mesmo a rebelião tendo se encerrado no dia 21 de janeiro, percebemos que o último vídeo sobre o acontecimento foi exibido no dia 24 daquele mês, com uma retrospectiva sobre o que havia se passado nos últimos dias. Constatou-se que durante a cobertura dos dois jornais, foram realizadas 69 transmissões ao vivo, 34 do Novo e 35 da TN.

Após a coleta, iniciamos uma análise primária dos dados. Resolvemos excluir da análise, aqueles vídeos com menos de um minuto que se encerravam do nada, eles não nos davam suporte suficiente para fazer as análises e constatamos durante as entrevistas realizadas que isso ocorria devido a fraca conexão com a internet. Assim, fizemos as observações, conforme já pontuado, através dos níveis analíticos que estruturam a ACJ e que estavam presentes na cobertura dos dois jornais.

Entretanto, por se tratar de um canal mais dinâmico e veloz que o impresso, rádio e também televisão, e para entender melhor como se estruturou a prática jornalística em torno da cobertura da rebelião em Alcaçuz, passamos a identificar e elencar novas características dentro de cada um dos níveis da ACJ.

Com o propósito de ampliar o entendimento de nossa análise, também nos apropriamos das entrevistas semiestruturadas com cinco profissionais dos jornais escolhidos. Sendo dois da Tribuna do Norte e três do Novo. A escolha desses profissionais se deu especialmente por eles terem uma atuação constante na cobertura da rebelião. Para não expor os jornalistas, aqui escolhemos chamá-los como TN1 e TN2 – para os que atuam na Tribuna, um deles ocupando cargo de chefia - e N1, N2 e N3, para aqueles que trabalhavam no Novo, um deles atuando enquanto conselheiro de conteúdo.

As entrevistas foram iniciadas em setembro de 2017, através primeiramente do próprio Facebook e Whatsapp, depois realizamos encontros com cada um dos profissionais – na redação da Tribuna; em outro jornal da cidade que os ex-jornalistas do Novo agora atuam; e em um café. As entrevistas presenciais foram realizadas entre 19 e 21 de dezembro de 2017. Nelas, além dos questionamentos que envolviam a apropriação das lives indagamos os jornalistas quanto a idade que possuíam a fim de compreender como cada um se relacionava e percebia as novas tecnologias dentro de suas rotinas, para que pudéssemos melhor compreender também como eles enxergam as tecnologias incorporadas as suas tarefas diárias. Assim, pontuamos: TN1 – idade 26; NJ1 – 26; NJ2 – 28; NJ3 – 35.

A entrevista trata de um modelo “que tem origem em uma matriz, um roteiro de questões-guia que dão cobertura ao interesse de pesquisa” (DUARTE, 2009, p. 66), desta forma cada pergunta realizada foi depurada ao máximo, permitindo que a pesquisadora conseguisse identificar como o sujeito, a partir de sua fala, entende suas ações.

Nesta etapa, assim como enfatiza Pereira e Neves (2013, p. 37), consideramos as entrevistas como uma forma de interação nas quais “se negociam pontos de vista, sentimentos e motivações, interpretações sobre o mundo, estatutos e identidades sociais”. Para os pesquisadores, o resultado de uma entrevista bem-sucedida consiste em “fazer o ator/entrevistado refletir sobre suas ações, sua prática, sua identidade em um contexto da interação com o pesquisador” (PEREIRA; NEVES, 2013, p. 38).

Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram as anotações e gravações de áudios. Após a estruturação completa dos dados recolhidos, iniciamos a etapa da análise. Neste processo foi imprescindível “fugir da tentação de considerar os depoimentos como dados neutros, ou se apropriar de trechos mais contundentes da entrevista – como se fossem as famosas ‘aspas’ das matérias jornalísticas” (PEREIRA; NEVES, 2013, p. 45). Buscamos, com as entrevistas, portanto, confrontar o que os

jornalistas disseram com aquilo que se mostrava visível nas transmissões ao vivo (SILVA; MAIA, 2011b).