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3.1 REDES SOCIAIS E PRÁTICA JORNALÍSTICA: O ACONTECIMENTO

3.1.1 Redes sociais e apropriações jornalísticas

Longhi e Flores (2012) apresentam como os sites de redes sociais representam o novo (atualmente, não tão novo assim) movimento exercido pelos jornais em construir estratégias de atuação voltadas para esses espaços digitais. Para elas, são as redes sociais um dos principais elos entre o jornalismo e o público atualmente. Relação essa que exige dos jornais expansão em sua área de atuação.

Elas destacam: “Para atingir maior presença na internet, os jornais tornam-se, mais do que mídias de notícias, mídias sociais, ampliando o hábito de ler notícias para uma experiência social conectada” (LONGHI; FLORES, 2012, p. 4). Falamos então de uma prática permeada pela interação, desde sua apuração até a divulgação das informações.

Recuero elencou três relações entre as redes sociais e o jornalismo: “a) redes sociais como fontes produtoras de informação; b) redes sociais como filtros de informações ou, como c) redes sociais espaços de reverberação dessas informações” (RECUERO, 2009b, p. 7). A primeira seria a utilização da rede como fonte de informações, o segundo ponto sugere que por meios delas são coletadas e compartilhadas as notícias e, por fim, ao falar em redes sociais como espaço de reverberação a autora denota a ideia de discussão do assunto compartilhado (RECUERO, 2009b).

A cobertura do acontecimento rebelião em Alcaçuz, em janeiro de 2017, pode ser aproximada a essas relações. Tribuna do Norte e Novo não deixaram de lado as etapas de apuração, redação e divulgação tradicionais, mas se aproximaram ainda mais das redes sociais para amplificar suas atividades. Foi possível perceber a convergência no uso de redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e Whatsapp. Os jornais as utilizavam para colher informações de fontes, para publicar e compartilhar os conteúdos. Trazendo ainda mais próximo ao nosso recorte de pesquisa, destacamos como as transmissões ao vivo na rede social Facebook estreitaram-se às práticas jornalísticas. Elas foram utilizadas em entrevistas e boletins noticiosos e os vídeos construídos acabaram sendo compartilhados e discutidos entre os internautas.

Esses espaços, portanto, constituem-se em áreas de atuação para os comunicadores constituindo-se como elo na relação entre jornais e sujeitos. São espaços apropriados pelo jornalismo. Mas, afinal, em que consiste a apropriação que tanto pontuamos nesta pesquisa? Como podemos expressar essa ideia de apropriação de uma

rede social para fins jornalísticos? Exemplifiquemos o conceito e como o compreendemos.

Iniciamos essa explicação a partir de Martín-Barbero (2003). Para o autor, trata de uma resistência, uma forma de “ressignificação de práticas, tecnologias, estruturas dominantes” (MARTIN-BARBERO, 2004 apud LACERDA; MAZIVIEIRO, 2013, p. 163). O autor critica a noção dos usos e gratificações porque tal teoria preocupa-se com a emissão, preferindo pensar o uso como uma ação e que na lógica existente do uso é que se inscrevem as competências culturais. Thompson (1998) segue a mesma perspectiva e destaca que apropriar-se é ressignificar, é “assimilar a mensagem e incorporá-la à própria vida” (THOMPSON, 1998, p. 45).

Com esse entendimento de apropriação, que constrói ressignificações e torna próprio, damos mais um passo à discussão e aproximamos os usos e apropriações às redes sociais digitais. Quando determinado sistema é entregue e nos detemos a sua ordem de uso significa dizer que estamos cumprindo com o que é proposto, mas quando adaptamos o que está pré-determinado, entramos na ordem da apropriação (LACERDA; MAZIVIEIRO, 2013). Na cibercultura, portanto, as apropriações ocorrem quando adaptamos determinado sistema (ZAGO, 2009).

De acordo com André Lemos (2001):

A apropriação tem sempre uma dimensão tecnológica (o treinamento técnico, a destreza na utilização do objeto) e uma outra simbólica (uma descarga subjetiva, o imaginário). A apropriação é, assim, ao mesmo tempo forma de utilização, aprendizagem e domínio técnico, mas também forma de desvio (deviance) em relação às instruções de uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programa pelo produtor/inventor, ou mesmo pelas finalidades previstas inicialmente pelas instituições (LEMOS, 2001, p. 49).

A partir dessa noção é possível falar em apropriação das redes sociais não apenas por seus usuários, como também por jornais e jornalistas. No âmbito da cibercultura, a apropriação é uma constante.

Em concordância ao que afirma Lemos, aproximamos os apontamentos de Zago e Recuero (2011) que também destacam a apropriação dos espaços digitais à medida que os usuários passam a construir novos modos de utilização do que aqueles já determinados. O mesmo acontece com o jornalismo. As apropriações ocorrem quando veículos e profissionais ligados à comunicação passam a utilizar as redes de forma inventiva e ao seu favor (ZAGO; RECUERO, 2011).

Pesquisa que exemplifica bem a apropriação de rede social no jornalismo é realizada por Zago (2009) que discute a construção de mashups jornalísticos com dados do Twitter. De acordo com a autora, o termo mashup trazido para a internet se refere “à mistura de dados provenientes de mais de uma fonte” (2009, p. 69). À medida que a autora identificava a utilização de dados dessa rede social ela categorizava grupos de mashups jornalísticos, chegando a três principais: de visualização externa, colaborativos e mistos.

O primeiro constitui-se quando o jornal exibe as informações postadas no Twitter numa outra plataforma digital em tempo real. Um dos exemplos trazidos pela autora foi a cobertura de julgamento nos Estados Unidos. Ao passo que o repórter publicava nessa rede social informações sobre o caso, o conteúdo também era inserido na página do jornal. O mashup colaborativo para acontecer depende da interação dos usuários das redes, no caso do estudo o Twitter. Para isso, os internautas contribuem com informações que sejam de interesse relevante e que possa ser trazido à tona no jornalismo. O último tipo de conteúdo em rede a partir dos dados obtidos na rede citada é o misto.