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FUNDIÁRIA

4 O PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO EM TOUROS: A PARTICIPAÇÃO EM DEBATE

4.1 MOVIMENTOS SOCIAIS E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE

A formação da sociedade brasileira, como buscou-se mostrar no início do trabalho é resultante da necessidade da Coroa Portuguesa firma-se como poder econômico na Europa, a partir da mercantilização de minérios e produtos agrícolas. A invasão do território brasileiro somado a coerção pela violência utilizada para escravizar os povos indígenas e os povos trazidos do continente africano os submetendo-os “[...] ao seu modo de produção, às leis e à sua cultura” (STÉDILE, 2005, p.21), são fatos que evidenciam a inserção do Brasil como fornecedor de mercadoria, ainda enquanto Colônia, as leis do capitalismo mercantil que já dominava a Europa.

O modelo agroexportador que se caracteriza pela produção destinada a exportação foi possível a partir da organização da produção agrícola em vastas extensões de terras, em fazendas contínuas desenvolvendo atividade de monocultura com a força de trabalho dos povos escravizados. A Coroa Portuguesa detinha o monopólio da propriedade da terra, logo a propriedade da terra ainda não era capitalista. O desenvolvimento do sistema capitalista na Inglaterra impôs a Coroa Portuguesa por fim ao trabalho escravo e adotar o trabalho assalariado. Para impedir que os ex-escravos ocupassem a terra a Coroa Portuguesa promulga a Lei de Terras de 1850 e bloqueia o acesso a terra a todos aqueles que não podem pagar por ela. Esta lei é o registro civil do nascimento do latifúndio no Brasil.

Como afirmaram Marx e Engels (2008, p. 8): “A história de todas as sociedades até agora tem sido das lutas de classe”. No Brasil não tem sido diferente, pois todo o processo de formação e transformação da sociedade brasileira ocorreu com o enfrentamento dos povos negros e indígenas contra a prática escravagista da burguesia41 agrária que no país se instalou. Segundo Marx e Engels (2008), a burguesia passou por longo processo de desenvolvimento em diversas civilizações com segmentos, estruturas e hierarquias diferenciadas. A circunavegação na África, a exploração comercial na Índia, a colonização da América contribuíram para por fim a sociedade feudal. A necessidade crescente dos novos mercados foi enfraquecendo a manufatura de produtos que foi substituída pela indústria. Os

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De acordo com Marx( 2008) são burgueses os capitalistas proprietários dos meios de produção e exploram a força de trabalho. Denomina de proletários o conjunto de trabalhadores assalariados que não possuindo os meios de produção vendem sua força de trabalho para garantir a sobrevivência.

pequenos produtores da manufatura foram substituídos pelos ricos industriais, pela burguesia moderna, resultante da expansão comercial na América que cada vez mais impulsionou a expansão da indústria.

Ainda segundo Marx e Engels(2008), os estágios de desenvolvimento da burguesia se realizou concomitantemente ao progresso político correspondente a consolidação da grande indústria e do comércio mundial. Desse modo, criou as condições para que a burguesia passasse a ter pleno domínio político do Estado moderno e, para Marx e Engels(2008, p. 12), “O poder do Estado moderno não passa de um comitê de que administra negócios comuns da classe burguesa como um todo”.

O berço do desenvolvimento econômico da burguesia é a Inglaterra, já o seu desenvolvimento político se tem por referência a França. A história do desenvolvimento capitalista nos grandes centros econômicos do mundo foi determinante pelo papel desempenhado pela burguesia que pôs fim as relações feudais e patriarcais e desestabilizou monarquias. Acabou com as relações e os vínculos de superioridade natural própria da relação feudal que foi substituída pela relação impessoal de pagamento em dinheiro. O fanatismo religioso e as relações de troca, que davam dignidade pessoal, foram substituídas por liberdades regulamentada em lei para o livre comércio. Todas as atividades profissionais veneradas e carregadas de pudor como, padres, poetas, juristas, médicos, entre outros, foram transformados pela burguesia em trabalhadores assalariados (MARX; ENGELS, 2008).

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, e por conseguinte todas as relações sociais. [...] A transformação contínua da produção, o abalo incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento permanentes distinguem a época burguesa de todas as demais (MARX; ENGELS, 2008, p. 13)

Para evitar dúvidas vale salientar que o Brasil não constituiu relações feudais, embora haja autores que equivocadamente afirmam tal existência, o esforço empreendido no início do trabalho, ao tratar sobre formação social brasileira do Brasil desde a Colônia a República Federativa, objetivou pontuar as particularidades históricas do processo de formação socioeconômica, classificada como economia periférica, que são determinantes até os dias atuais. Assim, a inserção deste país nas relações capitalistas de produção ocorreu por meio da colonização e exploração, por tanto ausente de processos revolucionários burgueses, como ocorreu nos grandes centros nascedouros do sistema.

O processo de industrialização iniciado no governo Vargas e a modernização capitalista da década 1960 se restringiram ao papel determinante do Estado aliado as elites

agrárias. Ao contrário do que ocorreu nos países centrais do sistema capitalista onde a burguesia dirigiu o processo revolucionário de transformação da sociedade, das mudanças nas relações de exploração e de poder, aqui, o processo ocorre por cima com papel central do Estado em aliança com a burguesia. A classe trabalhadora brasileira é excluída das mudanças na sociedade. Não há rompimento das relações sociais de dominação.

A expectativa do PCB, desde a década de 1930, era para uma revolução burguesa, porém as iniciativas mais próximas ocorrem por setores da classe média, como um movimento tenentista. O processo de “revolução passiva” que, na realidade tem o Estado, como principal dirigente, ainda na Era Vargas, que incorporou ao Estado demandas da classe trabalhadora de seu tempo, como direitos trabalhistas. As elites agrárias se hibridaram e a grande propriedade fundiária se tornou a empresa do capital agrário. Os altos investimentos do Estado para urbanização o tornou reconhecidamente como um país industrial moderno (COUTINHO, 1989).

A modernização conservadora se realizou em meio ao Golpe de Estado, rompe com a democracia. Muito embora o Estado militar e a frações de classe da burguesia brasileira confundia a população com o jogo de palavras. O império da lei retirava o direito por meio da força militar. Confundir a população sobre a realidade vigente faz parte do Golpe e a confusão no jogo de palavras tinha por finalidade garantir dominação. O conjunto da classe trabalhadora precisava superar as relações de dominação que são naturalizadas na sociedade brasileira, para desempenharem o papel revolucionário da transformação das relações sociais vigentes (PRADO JUNIOR; FERNANDES, 2005).

A consolidação e expansão do capitalismo monopolista, a partir de 1960, se realizou conservando o latifúndio e modificando a estrutura agrária majoritariamente capitalista. A tecnocracia militar se apoderou do aparelho estatal sendo útil para a manutenção dos interesses do capital representados, tanto pela burguesia industrial e financeira em nível nacional e internacional (COUTINHO, 1989).

Para apreender a expressão “revolução”, considerando o processo histórico da realidade brasileira, Prado Junior e Fernandes (2005, p. 57) deram a seguinte contribuição “[...] A revolução constitui uma realidade histórica; a contra-revolução é sempre o seu contrário (não apenas a revolução pelo avesso: é aquilo que impede ou adultera a revolução)”. Como dito, a realização da modernização capitalista seria uma oportunidade para o país viver seu processo revolucionário, haja vista que o desenvolvimento capitalista requer mudanças econômicas, sociais, política, jurídicas, portanto transformações estruturais.

O Brasil é uma sociedade de capitalismo moderno que não promoveu nenhuma revolução, que não realizou a reforma agrária “[...] e na qual a revolução urbana se confunde ou com a inchação, ou com a metropolização segmentada, terá de estar em débito com a revolução demográfica, com a revolução nacional e com a revolução democrática” (PRADO JUNIOR; FERNANDES, 2005, p. 58). Se a burguesia não realiza a revolução esta tarefa fica para as classes subalternas ou classe trabalhadora. Os limites processo revolucionária que burguesia brasileira não ousou realizar estão ancorados em alguns fatores, como permanência de estrutura colônias e neocoloniais que contribuíram para a produção, a distribuição e consumo; as parcerias com a burguesia imperialista; o constante medo de deslocamento, tanto em relação a classe trabalhadora, como em relação aos países de economia centrais (idem).

A ausência das revoluções burguesas nas sociedades capitalistas da periferia revelam “[...] os processos estritamente estruturais, alimentados pela energia dos países capitalistas centrais e pelo egoísmo autodefensivo das burguesias periféricas” (PRADO JUNIOR; FERNANDES, 2005, p. 61). Como bem disseram Marx e Engels “a história das sociedades é a história das lutas de classes”, portanto embora no países de centro a burguesia cumpriu um papel revolucionário para implantação das relações capitalistas de produção em outras realidades o papel da revolução fica a cara da classe trabalhadora. Sendo realizada pela classe trabalhadora será essencialmente uma “[...] revolução anticapitalista e antiburguesa é uma revolução proletária e socialista” (idem, p. 63).

Os processos contra-revolucionários protagonizados pelo Estado brasileiro concretizando a revolução passiva se constituiu sempre de um mínimo de consenso. Se apenas a força e coerção fossem os recursos utilizados em dado momento tornaria inviável o seu funcionamento. Exemplo desta relação de consenso é a política nacional-desenvolvimentista que por via da industrialização o Estado incorporou, por meio do bloco político em defesa dos trabalhadores, os direitos sociais e vantagens econômicas de trabalhadores urbanos. Porém, foram excluídos os trabalhadores rurais assalariados e camponeses, que permaneceram a mercê das oligarquias latifundiárias (COUTINHO, 1989).

De acordo com a tradução de Coutinho (1989, p. 129) sobre as formulações de Gramsci, no que tange ao conceito de sociedade civil esta corresponde a espaço de “[...] mediação entre a infraestrutura econômica e o Estado em sentido restrito” e está situada na superestrutura. Ao passo que, para Marx, a sociedade civil localiza-se na base econômica, na estrutura. Com isso, a contribuição de Gramsci, conforme analisa Coutinho (idem), enriquece a formulação de Marx quanto ao caráter da sociedade de classes que fez constituir o Estado, resultante das relações de produção capitalista. No sistema capitalista o papel do Estado é

manter e reproduzir a divisão da sociedade em classes sociais garantindo que os interesses de uma determinada classe se imponham sobre a outra. No tempo histórico de Marx, como refere Coutinho (idem), este identificou como sendo parte da estrutura do Estado a repressão como sendo o monopólio legal e coercitivo, meio pelo qual o Estado reafirma sua natureza de classe. Portanto, o Estado é apreendido como “[...] o conjunto de seus aparelhos repressivos” (idem, p. 74, grifos do autor).

Diferentemente de Marx e Engels que vivenciaram uma escassa participação política da ação do proletariado, quando era possível atuar somente de forma clandestina, combativa e pouco numerosa, pois, imediatamente, pesava a repressão do Estado burguês. Ao passo que, o tempo histórico de Gramsci, segundo Coutinho (1989), presenciou a generalização de um complexo fenômeno estatal, sobretudo, nos países do ocidente, a partir do final do século XIX, com a intensificação dos processos de socialização da participação política através da constituição de grandes sindicatos e partidos resultante da conquista de sufrágio universal. Provocando o surgimento de “[...] uma esfera social nova, dotada de leis e de funções relativamente autônomas e específicas, tanto em face do mundo econômico quanto dos aparelhos repressivos do Estado” (idem, p. 75).

De acordo com Montaño e Duriguetto, a definição de Marx sobre a sociedade civil é “uma sociedade burguesa e que abrange a produção e reprodução da vida material”, portanto não há diferença entre sociedade civil e sociedade econômica. Ou seja, para Marx a sociedade civil é a infraestrutura econômica (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 35). Assim, o Estado é regido pela sociedade e não o contrário. O Estado reflete os ideais do grupo dominante. Isso porque em sua época, ainda não havia sido possível presenciar “[...] os grandes sindicatos englobando milhões de pessoas, os partidos políticos operários e populares legais e de massa, os parlamentos eleitos por sufrágio universal direto e secreto, os jornais proletários de imensa tiragem, etc.” (COUTINHO, 1989, p. 75). Já Gramsci, conforme o mesmo autor, observa esta trama de relações postas em seu tempo, o que possibilitou o enriquecimento do conceito de “sociedade civil”, que também será tratado por “aparelhos privados de hegemonia” e se refere a “[...] os organismos de participação política aos quais se adere voluntariamente (e, por isso “privados”) e que não se caracterizam pelo uso da repressão” (idem, p. 76).

Ao acrescentar elementos que enriquecem o conceito de sociedade civil, que por sua vez, se diferencia terminologicamente de como é tratado por Marx, Gramsci também amplia a teoria sobre o Estado. Se para Marx e Engels o Estado é o comitê da burguesia que por via da

repressão impõe os ideias e mantêm a sociedade dividida em classes. De acordo com Montaño e Duriguetto (2010, p. 36), o Estado é resultante das relações de produção, portanto expressa os ideais da classe detém o domínio dos meios produtivos. Desse modo, reitera-se que “[...] a burguesia ao ter o controle dos meios de produção e ao ter o controle sobre o trabalho no processo de produção, passa a constituir a classe dominante, estendendo seu poder ao Estado, que passa a expressar seus interesses, em normas e leis”.

Para Gramsci, conforme cita Coutinho (1989), o Estado é composto por duas esferas no interior da superestrutura e seu estudo amplia as determinações sobre o conceito de Estado. Assim, a sociedade política é comumente interpretada como grupo ditador ou aparelho coercitivo, que por finalidade adequar a grande massa da população a uma forma de produção e a um determinado modelo econômico. Não é vista como equilíbrio entre as sociedade política e sociedade civil, ou ainda, como hegemonia de um grupo social toda a sociedade, praticada através das organizações privadas como as igrejas, os sindicatos, as escolas (COUTINHO, 1989, p. 76).

Ao explicar sua teoria que amplia o conceito de Estado acrescido das duas novas esferas que considera como principais, ainda de acordo como Coutinho (1989), sobre a análise que Gramsci faz referência a sociedade política e a sociedade civil destaca-se que:

[...] o Estado em sentindo amplo, “com as novas determinações”, comporta duas esferas principais: a sociedade política (que Gramsci também chama de “Estado em sentido estrito” ou de “Estado-coerção”), que é formada pelo conjunto dos mecanismos através dos quais a classe dominante detém o monopólio legal da repressão e da violência, e que se identifica com os aparelhos de coerção sob controle das burocracias executiva e policial-militar; e a sociedade civil, formada precisamente pelo conjunto das organizações responsáveis pela elaboração e/ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar, as igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, as organizações profissionais, a organização material da cultura (revistas, jornais, editoras, meios de comunicação de massa) etc.

A análise desenvolvida por Montaño e Duriguetto (2010), reiteram o que já afirmou Coutinho (1989), quanto a formulação de Gramsci que enriquece as análises Marxiana sem perder sua ortodoxia, portanto as distinções não implicam em ruptura com análise e o método Marxista. A que se considerar que Marx e Engels analisaram as relações capitalistas e o modo de produção tendo como cenário a Inglaterra XIX, já o italiano Gramsci desenvolve sua teoria em análise ao desenvolvimento do capital no contexto da Itália e outras sociedades capitalistas no século XX. Os dois primeiros autores reforçam que a análise Gramsciana observa um tempo em que se constituiu novas relações culminando na socialização da política de alta complexidade constituindo relações de poder e interesses diferentes por meio de um conjunto

diverso de organizações fazendo emergir outra dimensão da vida social que passa a chamar de sociedade civil (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).

[...] para Gramsci, com a socialização da política, o Estado se amplia, incorporando novas funções, e incluindo no seio as lutas de classes; o Estado

ampliado de seu tempo e contexto, preservando a função de coerção (sociedade política) tal como descoberta por Marx e Engels, também incorpora a esfera da sociedade civil (cuja função é o consenso) (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p.

43).

Desse modo, se faz necessário demarcar as diferenças entre essas esferas que, para Gramsci, são relativamente autônomas. A primeira diferença se refere à função no âmbito da organização da vida social, como também, na articulação e reprodução das relações sociais. Segundo afirma Coutinho (1989, p. 77) sobre as reflexões Gramsciana, “[...] Ambas, em conjunto, formam “o Estado (no significado integral: ditadura + hegemonia)”; Estado que, em outro contexto, Gramsci define também como “sociedade política + sociedade civil, isto é, hegemonia revestida de coerção”. Sendo assim, ambas desempenham o papel de conservar ou promover a base econômica que interesse a determinada classe social. A forma e os caminhos que irão desenvolver para conservar ou promover variam nas duas situações. Ou seja, na sociedade civil as classes procuram exercer hegemonia e, para isso, precisam de aliados para defender e propagar suas posições, garantindo assim, a direção política e o consenso. Ao passo que, na sociedade política, não há consenso, há dominação. As classes exercem sempre uma ditadura por meio da coerção.

Demarcando as diferenciações entre as duas esferas para Gramsci, a razão da distinção reside por uma “materialidade (social-institucional) própria” (COUTINHO, 1989, p.77). O mesmo autor segue afirmando que:

“[...] Enquanto a sociedade política tem seus portadores materiais nos aparelhos repressivos de Estado (controlados pelas burocracias executiva e policial militar), os portadores materiais da sociedade civil são o que Gramsci chama de “aparelhos privados de hegemonia”, ou seja, organismos sociais coletivos voluntários e relativamente autônomos em face da sociedade política” (COUTINHO, 1989, p. 77).

Isso quer dizer que a socialização da política resultou na necessidade de conquistar o consenso ativo e organizado para fins de dominação. Portanto, “[...] criou e/ou renovou determinadas objetivações ou instituições sociais, que passaram a funcionar como portadores materiais específicos (com estrutura e legalidade próprias) das relações sociais de hegemonia” (COUTINHO, 1989, p. 77-78). A sociedade civil, com relativa autonomia é portadora da

hegemonia de determinada classe é a esfera da mediação entre a estrutura econômica e o Estado-coerção. Corroborando a análise de Coutinho(1989) Montaño e Duriguetto afirmam:

A (nova) função estatal, de direção social, de consenso, de hegemonia, é dada na (nova) esfera da sociedade civil, sendo o espaço onde se confrontam os diversos projetos de sociedade (o que lhe permite visualizar a ampliação do fenômeno estatal), percebendo a incorporação das lutas de classes na esfera estatal. [...] Porém, “não há isolamento da sociedade civil com relação ao mundo da produção. Este constitui o solo da sociabilidade a partir da qual se produzem interesses e antagonismos, se forjam as agregações de interesses e vontades, se produz a subordinação fundamental (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 45)

A síntese das análises Gramsciana sobre Estado e sociedade civil, se fez necessário até aqui, para contribuir com as modestas reflexões apontadas no capitulo anterior no que se refere ao PNCF e a máxima ênfase na participação da sociedade civil na execução do referido Programa. Porém, muito mais vem expressando as estratégias de dominação do núcleo de dominação do capital, neste caso, representado pelo Banco Mundial, a fim de obter legitimidade ancorada no apoio da CONTAG. Tendo por referência as formulações de Gramsci as novas relações e práticas burguesas no capitalismo monopolista que atingem sobremaneira o mundo da cultura, que corresponde ao modo de vida, de pensar, de sentir, de agir.

Nesta perspectiva, as relações que se estabelecem, a partir do capital monopolista, correspondem a “[...] o maior esforço coletivo realizado até agora para criar, com rapidez incrível e com uma consciência do fim jamais vista na Historia, um tipo novo de trabalhador e de homem” (GRAMSCI apud ABREU, 2011, p. 18). As novas formas de acumulação do capital, considerando como elementos dessa a internacionalização da economia, maior dependências economias nacionais do capital estrangeiro, a financeirização e a nova divisão internacional do trabalho demarcada no âmbito da economia de centro e periferia requer a passivização da classe que vive do trabalho (ABREU, 2011).

Desse modo, a mediações que buscou-se desenvolver é quanto ao papel desempenhado pela CONTAG no âmbito da execução do PNCF, que conforme afirmação da entidade atende a demanda de crédito fundiário para sua base social, mas o faz porque é possível manter o latifúndio que resulta em maior acumulação de renda do que é investido para aquisição das propriedades.

[...] engendram-se, sob o ponto de vista dos interesses do capital, as bases de uma sociabilidade forjada no quadro de uma crise estrutural do sistema capitalista, sociabilidade marcada pela fragmentação social, aumento da diferenciação entre as classes, ampliação das desigualdades legitimada por um novo sistema de regulação e

controle social que busca mascarar, a todo custo, essas diferenciações e desigualdades (ABREU, 2011, p. 175).

Por meio da difusão da ideologia do “[...] colaboracionismo e cooperação entre classes fundadas na retórica da superação dos antagonismos entre capital e trabalho – base do estabelecimento de novas relações sociais” (ABREU, 2011, p. 175). A aquisição de terras via PNCF reforça o papel do mercado como instância mediadora dos conflitos, enquanto reduz-se o papel do Estado. Se faz necessário novas formas de relações e reorganização da cultura com