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Reforma agrária de mercado: uma análise da participação dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais no Programa Nacional de Crédito Fundiário em Touros/RN

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. LENILZE CRISTINA DA SILVA DIAS. REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO: UMA ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS RURAIS NO PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO EM TOUROS/RN. NATAL/RN 2017.

(2) Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA. Dias, Lenilze Cristina da Silva. Reforma agrária de mercado: uma análise da participação dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais no Programa Nacional de Crédito Fundiário em Touros/RN/ Lenilze Cristina da Silva Dias. - Natal, RN, 2017. 209f. Orientadora: Profa. Dra. Antoinette de Brito Madureira. Co-orientadora: Profa. Dra. Ilena Felipe Barros. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço Social. 1. Questão agrária - Mercado – Dissertação. 2. Programa Nacional de Crédito Fundiário – Dissertação. 3. Trabalhadores rurais - Participação - Dissertação. I. Madureira, Antoinette de Brito. . II. Barros, Dra. Ilena Felipe. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/BS/CCSA. CDU 332.021.8.

(3) LENILZE CRISTINA DA SILVA DIAS. REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO: UMA ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS RURAIS NO PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO EM TOUROS/RN. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Serviço Social, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para avaliação parcial a qualificação no Mestrado Acadêmico em Serviço Social da UFRN. Orientadora: Profa. Dra. Antoinette de Brito Madureira Co-orientadora: Profa. Dra. Ilena Felipe Barros Área de concentração: Sociabilidade, Serviço Social e Política Social. Linha de pesquisa: Serviço Social, Trabalho e Questão Social.. NATAL/RN 2017.

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(5) AGRADECIMENTOS Um sonho concretizado. A sua realização não ocorreu como sonhado. Por vezes pensei em adiar, desistir. Nem conto às vezes que pensei: “O que estou fazendo aqui?”. O sentimento era de não lugar, de não pertencimento, de incapacidade. Porém, por absoluta sorte, em todos esses momentos eu tive muito incentivo, carinho, apoio, acolhida e amor. Muito amor. A minha profunda gratidão a cada pessoa que acreditou em mim e colaborou das mais variadas maneiras, para que a conclusão desse curso fosse possível. Toda gratidão a minha família formada por homens e mulheres, negros e negras, que resistem cotidianamente as injustiças de uma sociedade desigual. A vida como moradores de fazendas na cidade de Acari/RN foi a única forma possível de ter terra para trabalhar por gerações de meus familiares. As privações materiais e suas consequências perpassam gerações de minha família até os dias atuais. Ainda assim, somos afortunados e afortunadas em honestidade, integridade, alegria, generosidade e determinação. O sonho dela tornou-se o meu sonho: Mãe “formei, de novo”! Toda gratidão a minha mãe do coração, Maria da Guia Silva Barbosa, minha mãe Pretinha, saiu do campo ainda na infância para trabalhar como empregada doméstica, profissão que exerceu por toda vida. Foi proibida de estudar por seus patrões e, por este motivo, nunca mediu esforços para investir nos estudos dos filhos e da filha que adotou. Sempre me motivou a ser “formada como as filhas da patroa”. Obrigada por me acolher como filha em sua família e me dar muito amor e os melhores irmãos do coração: José Orlando, José Osenir e José Barbosa (Doca) e os sobrinhos que enchem de orgulho o coração da tia: Augusto e Amanda; Samara e Sanderson; Luana e Lucas (in memoriam). A minha mãe Maria Pastora minha gratidão por todos os sacrifícios que enfrentou para me garantir a sobrevivência e hoje continua a cuidar de mim. Durante toda a vida me garantindo amor, carinho e cuidado. O desafio de conciliar os papéis de ser mulher, mãe, filha, arrimo da família e moradora de Passagem de Areia, em Parnamirim/RN foi dividido, além de mamis, pelo meu irmão Mateus. Ao meu maninho Mateus meu obrigada por seu abraço e seu olhar carinhoso comigo e por baixar o volume da música na melhor parte do funk ou do som de Grafith que você tanto gosta. A minha filhota Clara inspiração de meus dias e luz de minha vida. Exemplo para mim de foco, determinação e disciplina. A sua confiança em mim e a sua motivação diária foram determinantes para cada passo dado neste curso. Tanto orgulho e tanta satisfação em dividirmos, por vezes, o mesmo ambiente de estudo. Obrigada por me deixar entorpecida com.

(6) o maravilhoso cheiro de sua cabeça. Também agradeço a Marcelo, pai de Clara, antes de tudo e independente de qualquer situação, tenho a certeza de ter um grande amigo. Obrigada por sonhar com minhas conquistas! A minha Comunidade do Amor: Larisse, Amanda, Gabi, Deysinha e Mayra, se não fosse a confiança de vocês em mim, me estimulando a tentar, talvez, jamais eu tivesse ousado fazer este curso. Obrigada por estarem comigo em tantos momentos de minha vida desde os tempos de graduação: “na alegria, na tristeza, na saúde e na doença” e nas brigas também. As coleguinhas do BPL: Floriza, Samya, Micaela e Analice, melhores presentes ao retornar a vida acadêmica e ter a oportunidade de reforçar com muito afeto, solidariedade, generosidade, compreensão, paciência e sabedoria, os laços de amizade. Dos dias mais difíceis aos mais alto astrais, conseguimos manter uma atenção mútua diariamente. Com muito cuidado e muitas resenhas, afinal não somos obrigadas a levar a vida tão a sério! A Vivian minha amiga de infância sou grata por todo carinho e confiança a mim depositada, pela torcida constante e pela reafirmação do carinho nos momentos mais diversos. Assim, como sou grata a Mônica pelo partilhar das angústias em sermos mães, estudantes e profissionais sonhadoras de um mundo mais justo. As companheiras do Núcleo Amélias e as companheiras e companheiros do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular minha gratidão pela determinante contribuição para o fortalecimento de minha identidade e consciência de classe. É fato que “eu sozinha ando bem, mas com vocês ando melhor”. A turma de mestrado 2015: Gleyca; Lizete; Maureen; Emanoel; Micarla; Sheila; Taciana; Chrislayne; Izala; Maiara; Suiane; Analice; Micaela e Samya; foi maravilhoso ter com quem dividir os textos e as problematizações teóricas. Mas, principalmente, dividir as agonias para tentar cumprir os prazos, desabafar as aflições e as pressões acadêmicas. Agradecimento muito especial a minha orientadora Profa. Dra. Antoinette Madureira e a minha co-orientadora Profa. Dra. Ilena Felipe Barros, por terem me acolhido não apenas como acadêmica, mas como ser humano que sou dotada de contradições inerentes à classe social a qual pertenço. Novamente, a Profa. Dra. Ilena minha profunda e imensurável gratidão, que além da partilha do saber, por vezes absorveu as contradições de minha vida. Por inúmeras vezes, proporcionou as condições subjetivas e objetivas para eu finalizar este curso. Muito obrigada! Agradeço a todos do Grupo de Estudo e Pesquisa em Questão Social, Política Social e Serviço Social pelas valiosas contribuições ao projeto de pesquisa e reflexões nas atividades.

(7) do Grupo que tive a oportunidade em participar. Em especial, minha gratidão a Profa. Dra. Íris de Maria de Oliveira, pelo olhar atencioso, acolhedor e o cuidado durante o mestrado. Ao corpo docente do Departamento de Serviço Social da UFRN, tanto em nível de graduação, como pós-graduação meu agradecimento. As/os funcionárias/os, bolsistas e estagiárias, em especial, a Lucinha sempre atenciosa, muito obrigada. Agradeço pela disponibilidade e generosa colaboração da Profa. Dra. Eliana Costa Guerra em contribuir para o meu crescimento intelectual e aprimoramento do meu trabalho, tanto no exame de qualificação, quanto na defesa do mestrado. A sua humildade é inspiradora. Muito obrigada. Também sou imensamente grata ao Prof. Dr. Paulo Afonso, da UFRPE, pela disponibilidade e generosidade em apreciar meu trabalho e colaborar para a conclusão do curso. Meu sincero agradecimento! Em tempos de golpe parlamentar-jurídico-midiático e contrarreforma do Estado, o corte no orçamento da política social, neste caso, das bolsas de pesquisas impede grande parte das/os estudantes de graduação e pós-graduação prosseguir com a pesquisa e com a qualificação profissional. Portanto, agradeço a CAPES, com a intencionalidade de reafirmar que o acesso a bolsa foi determinante para permanecer e concluir o curso de mestrado. A educação superior é tratada como “superior”, porque não é para toda classe trabalhadora. Ter acesso a ela, infelizmente, ainda nos diferencia de uma imensa maioria. Nós, pessoas negras, ainda lideramos os índices de baixa escolaridade, os índices de extermínio de morte por assassinato de nossa juventude, somos nós que lotamos o sistema penitenciário, somos nós que estamos nos subempregos, somos nós que temos os mais baixos salários, somos nós que lideramos os dados de violência contra a mulher, somos nós que estamos nas zonas periféricas, somos nós que todos os dias vivemos algum tipo de discriminação, somos nós que estamos à margem. A todo instante a sociabilidade do capital reitera que nosso lugar é na base da pirâmide da acumulação capitalista. E, por recebermos essas mensagens das mais variadas maneiras ao longo de toda vida, por vezes, passamos a acreditar nesta mentira cristalizada. Diariamente estou relutando ao eco dessa mensagem dentro de mim e hoje posso dizer: “Tá tendo mulher preta da periferia, mestra sim”!.

(8) RESUMO. Este trabalho analisa os determinantes da participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Programa Nacional de Crédito Fundiário no município de Touros/RN, no período de 2003 a 2014. Para tanto, considera como determinante os aspectos econômicos e políticos da formação social brasileira, destacando a inserção do país no sistema capitalista e o avanço do capital no campo. Em adição, destaca os rebatimentos do ajuste fiscal e da contrarreforma do Estado sobre a política fundiária que vem priorizando a reforma agrária de mercado em detrimento da desapropriação de terras e do combate ao latifúndio. A reestruturação do capital tem provocado a precarização da vida da classe trabalhadora, acentuando a situação de empobrecimento das pessoas do campo evidenciada pelo aumento da concentração fundiária e, consequentemente, do conflito de terras. O Programa Nacional de Crédito Fundiário enfatiza a participação e a autonomia para a escolha da terra sem conflitos, como benefícios. Para maior aproximação a essa realidade, a pesquisa em campo ocorreu com visita às áreas adquiridas pelo Programa no município de Touros. Nesta ocasião, foi utilizado como técnica de coleta de dados um questionário com perguntas abertas e fechadas, respondidas coletivamente pelas famílias associadas para a compra da terra. Posteriormente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dirigentes sindicais do município de Touros. O resultado da pesquisa evidenciou o esvaziamento político quanto à concepção de participação e autonomia adotadas pelo Programa e passividade em relação à concentração fundiária por parte do movimento sindical. Palavras-chave: Questão agrária. Programa Nacional de Crédito Fundiário. Participação dos/as trabalhadores/as rurais..

(9) ABSTRACT. This project analyzes the determinants of the participation of rural workers in the National Land Credit Program without the municipality of Bulls / RN, from 2003 to 2014. Therefore, it considers as determinant the economic and political aspects of the Brazilian social formation, highlighting the insertion of the country in the capitalist system and the advance of the capital in the field. In addition, it emphasizes the refutations of the fiscal adjustment and the counterreform of the State on the land policy that has prioritized the agrarian reform of the market to the detriment of the expropriation of lands and the fight against the latifundio. Capital restructuring provoked the precariousness of working-class life, accentuating the impoverishment of rural people, evidenced by the increased concentration of land and, consequently, by land conflict. The National Land Credit Program emphasizes participation and autonomy for the choice of land without conflicts, as benefits. To get closer to this reality, the field research took place with a visit to the areas acquired by the Program in the municipality of Touros. On this occasion, a questionnaire with open and closed questions, collectively answered by the families associated with the purchase of land, was used as data collection technique. Subsequently, semi-structured interviews were conducted with union leaders from the municipality of Touros. The result of the research evidenced the political emptying of the conception of participation and autonomy adopted by the Program and lack of criticality in relation to the landed concentration by the trade union movement. Keywords: Agrarian question. National Land Credit Program. Participation of rural workers..

(10) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 – Síntese do alcance dos programas de financiamento de terras orientados pela RAAM no Governo Fernando Henrique Cardoso..................................................................................................108 Tabela 2 Dados comparativos sobre conflitos por terra. Fonte: Comissão Pastoral da Terra..............113 Tabela 3 Dados do Relatório Anual de Avaliação do Plano Plurianual Exercício 2006 MDA...........123 Tabela 4 Dados da concentração de terras em três décadas de acordo com o IBGE............................125 Tabela 5 Dados da compra de terras, segundo o MDA .......................................................................127 Tabela 6 Dados da reforma agrária, segundo o MDA......................................................................... 137 Tabela 7 Dados comparativos entre a concentração fundiária e conflitos de terras. Fonte: IBGE e CPT.......................................................................................................................................................140 Tabela 8 Dados Banco da Terra total famíias atendidas e valores investidos Brasil.................................................................................................................................... 176. no.

(11) LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1 Índice de concentração de terras por região.........................................................................113 Gráfico 2 Grau de concentração fundiária no Brasil permanece elevado. Fonte: MDA/INCRA........125.

(12) LISTA DE SIGLAS. ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness AID - Associação Internacional de Desenvolvimento AMGI - Agência Multilateral de Garantias de Investimentos BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento BM - Banco Mundial BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAF - Consolidação da Agricultura Familiar CEDRS - Conselhos Estaduais de desenvolvimento Rural Sustentável CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina CEPLAC - Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CETRIN - Centro do Trigo Nacional do Banco do Brasil CF - Constituição Federal. CFI - Corporação Financeira Internacional CFP - Comissão de Financiamento da Produção. CFPC - Crédito Fundiário de Combate à Pobreza Rural CICDI - Centro Internacional para Conciliação de Divergências em Investimentos CMDRS - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável CNA - Confederação Nacional da Agricultura CONDRAF - Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CPR - Combate à Pobreza Rural CPT - Comissão Pastoral da Terra DTRIG - Departamento do Trigo da SUNAB DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. EUA - Estados Unidos da América.

(13) FAAB - Frente Ampla da Agropecuária Brasileira FCO - Fundo Constitucional do Centro-Oeste FETRAF - Federação dos Trabalhadores e das Trabalhadoras na Agricultura Familiar FETARN – Federação do Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Norte FHC - Fernando Henrique Cardoso FMI - Fundo Monetário Internacional FTRA - Fundo de Terras e da Reforma Agrária GBM - Grupo Banco Mundial IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool. IBC - Instituto Brasileiro do Café IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBM - Instituto do Banco Mundial IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IED - Investimentos de Estrangeiros Diretos INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MCMV - Minha Casa, Minha Vida MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS - Ministério do Desenvolvimento Social. MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra NEAD - Núcleo de Estudos Agrário e Desenvolvimento Rural NPT - Nossa Primeira Terra ONGs - Organizações Não Governamentais PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PAEG - Plano de Ação Econômica do Governo PCB - Partido Comunista Brasileiro PGPM - Política de Garantia de Preço Mínimo.

(14) PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária PROAGRO - Programa de Garantia da Atividade Agripecuária PROCERA - Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária PROUNI - Programas Universidade para Todos PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT - Partido dos Trabalhadores RAAM - Reforma Agrária Assistida pelo Mercado SAT - Associação, Subprojeto de Aquisição de Terras SIB - Subprojeto de Infraestrutura Básica SIC - Subprojeto de Investimento Comunitário STR – Sindicato do Trabalhadores Rurais SINTRAF - Sindicato do Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural SRA - Secretaria de Reordenamento Agrário SRB - Sociedade Rural Brasileira STTR - Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais SUNAB - Superintendência Nacional de abastecimento. TDAs - Títulos da Dívida Agrária UDR - União Democrática Ruralista USP - Universidade de São Paulo UTE - Unidade Técnica Estadual.

(15) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14. 2 FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA E OS FUNDAMENTOS DA QUESTÃO AGRÁRIA ....................................................................................................................... 26 2.1 O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO SOBRE A QUESTÃO AGRÁRIA: REVISITANDO OS CLÁSSICOS ............................................................................... 28 2.2 QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL: CAPITAL E LATIFÚNDIO SE APROPRIAM HISTORICAMENTE DOS RECURSOS NATURAIS........................ 54 2.3 MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA: BASES DA ACUMULAÇÃO CONTEMPORÂNEA DO CAPITAL SOBRE A TERRA (1965 -1982) ...................... 65 2.4. ATUALIDADE DA QUESTÃO AGRÁRIA: O AGRONEGÓCIO EM PAUTA 77. 3 REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO: REBATIMENTOS NA POLÍTICA FUNDIÁRIA.................................................................................................................... 93 3.1. O BANCO MUNDIAL E A REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO ............. 94. 3.2 PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO: DEMOCRATIZAÇÃO DA TERRA OU MANUTENÇÃO DO LATIFÚNDIO? ..... 115 4 O PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO EM TOUROS: A PARTICIPAÇÃO EM DEBATE .................................................................................. 142 4.1 MOVIMENTOS SOCIAIS E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE ..................................................................................................................... 143 4.2 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE E DA REGIÃO DO MATO GRANDE NO ESTADO DO RIO GRANDE NORTE .............................................. 161 4.3 O PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO EM TOUROS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DAS FAMÍLIAS ....................... 177 4.3.1 Caracterização das Associações para compra dos imóveis rurais através do Programa Nacional de Crédito Fundiário no município de Touros/RN ................ 183 4.3.2 Participação das famílias no Programa Nacional de Crédito Fundiário: a que será que se destina?.......................................................................................... 193 5. CONSIDERAÇÃOES FINAIS ............................................................................... 197. REFERÊNCIAS………………………………………….……………………………….. 201.

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(17) 14. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho resultante do esforço em apreender os determinantes da questão. agrária brasileira e as especificidades que a constitui tão particular. As primeiras inquietações surgem ainda na graduação, sobretudo, na disciplina Questão Agrária e Urbana no Brasil. O conhecimento que foi sendo ampliado com a experiência do estágio curricular em áreas de assentamentos rurais, no cotidiano do exercício profissional, já como Assistente Social e, por último, nas atividades inerentes ao mestrado acadêmico: pesquisa bibliográfica, documental, em campo, como também, o estágio supervisionado em docência vivenciado no curso de Serviço Social, na mesma disciplina citada acima. Some-se ainda a atuação militante e a trajetória familiar no campo. São alguns dos elementos que motivam o estudo sobre o tema. Durante a graduação em Serviço Social, optou-se pela realização do estágio curricular obrigatório junto à Empresa Ápice Consultoria a Projetos Agropecuários1, possibilitando maior aproximação com a realidade dos assentamentos da reforma agrária sob a responsabilidade do INCRA e os desafios a serem superados para se ter “justiça social e vida digna no campo”. O estágio oportunizou aproximação ao trabalho e ao fazer profissional em equipe de assistência técnica, social e ambiental, como também, os desafios para organização da comunidade que se formava com as famílias ali assentadas. Enquanto estagiária chamou atenção a forma de organização do assentamento, os espaços coletivos de decisão, as atividades de trabalho, bem como, as dificuldades de acesso as políticas sociais. Naquela ocasião, despertou o interesse pela situação das mulheres assentadas, que constantemente eram confrontadas pelo patriarcado e o machismo limitando a participação das mesmas nos espaços coletivos e de decisão do assentamento. O interesse resultou em projeto de intervenção e buscou discutir sobre a construção social dos papéis de gênero, com ênfase na divisão social do trabalho, abordou-se também o ciclo de violência contra a mulher. Concomitantemente, era realizado, o estágio curricular não obrigatório na Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e Apoio A Reforma Agrária 2 (SEARA) oportunidade que 1. O estágio curricular obrigatório se realiza em dois momentos: primeiro a técnica de observação e, posteriormente, da realização de um projeto de intervenção. A Empresa ÁPICE – Consultoria a Projetos Agropecuários e Agroindustriais Ltda. foi à empresa que acolheu nosso estágio, uma vez que prestava serviço ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) executando o programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES) junto ao projeto de assentamento Nova Esperança II, no município de CearáMirim/RN. 2 A SEARA é a gestora do Programa Nacional de Crédito Fundiário, além de outras atribuições como o georreferenciamento, demarcação e titulação de terras do Estado. O estágio curricular não obrigatório é permitido por meio da Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. De acordo com a referida lei deverá está em.

(18) 15. permitiu presenciar o sonho de grupos de trabalhadores/as rurais em busca de acesso à terra. O Programa Nacional de Crédito Fundiário já era considerado uma conquista pelos gestores, embora, alvo de densas críticas em pesquisas sobre o tema questão agrária. Contudo, naquele período, o Programa e seus determinantes sociais, econômicos e políticos não se destacou como objeto de estudo. Na pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso ensaiou-se um estudo sobre as particularidades do trabalho do/a Assistente Social no programa de Assessoria Técnica Social e Ambiental (ATES), estudado no estágio curricular obrigatório. A atuação profissional como Assistente Social (2010 a 2014), ocorreu na Política de Assistência Social, em âmbito municipal, por meio dos serviços de Proteção Básica e Proteção Especial de Média Complexidade. A atuação em cidades do interior do Rio Grande do Norte e do Ceará, possibilitaram a contínua aproximação com a questão agrária, a partir do público atendido e dos serviços ofertados a estes. As pessoas do campo requer do profissional um olhar apurado, inquieto, ou melhor, um olhar investigativo para prestar o atendimento adequado a demanda apresentada por aqueles que, em sua maioria, se comunicam de forma diferenciada, tem seus códigos, seus modos de oralidade diferenciados. Analisar a questão agrária brasileira implica em não dicotomizar a relação campo e cidade. O bloqueio do acesso à terra determina que um significativo números de trabalhadores sem terra, sem trabalho, sem moradia e sem condições dignas de vida no campo. Por outro lado, o não acesso a terra, repercute nas cidades provocando um inchaço populacional, especialmente, em áreas denominadas periféricas, com moradas de risco, sob morros, dunas, em alagadiços ou áreas de mangues. A superpopulação dos centros urbanos leva as pessoas a viverem em situação de rua, em palafitas, na condição de subempregos, em risco constante de violência (de gênero, étnico-racial, geracional, de origem social), sem acesso ao transporte, saneamento básico, água tratada, com serviço de saúde e de educação insuficiente ou inexistente para o número de usuários/as. A formação sociohistórica brasileira revela o quanto esta é tomada por arranjos sociais, econômico-político e ideológicos, o que a torna multifacetada. No campo, os interesses antagônicos em torno da terra distinguem, os latifundiários3 dos/as trabalhadores/as rurais, seja este com terra ou com pouca terra. Para o primeiro, a relação com à terra está consonância com as competências profissionais da área de graduação do/a estagiário/a, conter um plano de atividades, como também a supervisão de um profissional da área. Porém há uma fragilidade na fiscalização para efetivação desta lei, o que contribui para o não cumprimento da mesma. Por esta razão, enquanto estagiária, de fato não era dada as condições a serem cumprida conforme o plano de atividades e o convênio estabelecido entre a SEARA e a UFRN. 3 Trata-se daquele que possui o monopólio da terra, como também, expressa uma identidade caracterizada, através do poder econômico e político..

(19) 16. relacionada ao negócio, à renda, à grilagem, ao agronegócio, à monocultura, à especulação financeira, aos insumos químicos, ao agrotóxico, a transgenia, a mecanização, etc. Para o segundo, comumente estão relacionados a falta de moradia, a exploração do trabalho, a expropriação do produto do trabalho, o trabalho, a renda, a violência, a resistência, a insuficiência de políticas sociais, ao precário ou nulo acesso aos direitos humanos elementares, como saúde, educação, água, trabalho, entre outros. Sob as perspectivas em torno da terra, Medeiros (2014, p. 26), analisa que “[...] a mercantilização subjuga e tende a diluir outros significados dados à terra pelos que nela vivem”. Sabe-se que o Estado representa os interesses da classe dominante, porém, cabe questionar e cobrar a efetivação direitos sociais previstos na Constituição Federal (CF) 1988. A fim de que superem o marco legal de existência e atinjam concretude na vida das inúmeras famílias. Reivindicar o acesso à terra e à reforma agrária, por meio da desapropriação de terras improdutivas é fundamental, para oportunizar o trabalho e a terra para cultivo a quem apenas tem sua força de trabalho como propriedade. Certamente a contradição, da relação capital e trabalho, é a resposta para justificar que o Brasil seja um dos países de maior concentração terras do mundo. Na década de 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Estado promove a desregulamentação no âmbito da economia que, como forma de enfrentar a crise do capital adota-se a política neoliberal como medida fundamental. Resultante põe-se em curso a contrarreforma estatal, precarização do trabalho, a focalização e a mercantilização dos direitos sociais via terceirização. A política fundiária passa por profundas mudanças, sobretudo, pela incorporação do modelo de reforma agrária de mercado elaborado pelo Banco Mundial, ou seja, a mercantilização de terras por financiamento. Também, é neste cenário que os conflitos no campo se acirram, haja vista o crescente volume de trabalhadores rurais que não têm terra. Intensificam as contradições do capital e do trabalho. Aprofundando as desigualdades daqueles que vivem apenas de sua força de trabalho, tanto no campo, quanto na cidade. É comum encontrarmos em meio aos estudiosos da questão agrária, vinculados à classe burguesa, a negação dos conflitos de terras, justificando que não existe mais vida no campo. Tal afirmação se ancora na modernização conservadora que provocou um intenso processo de expropriação de terras e mecanização no campo, levando ao deslocamento de famílias para as cidades, denominando este movimento de êxodo rural. Porém, um significativo quantitativo de famílias permanece em suas terras, ora resistindo ao processo de expropriação, ora sendo integrada à dinâmica do capital como trabalhador/a assalariado/a..

(20) 17. No campo assiste-se à inserção desse capital financeiro, através do agronegócio que tem como prioridade a monocultura de grãos, cana-de-açúcar, fruticultura, pecuária, eucaliptos, soja, milho, laranja, algodão e etanol. Estes produtos estão relacionados com a nova inserção do Brasil na acumulação do capital globalizado (BARROS, 2014, p. 29).. Deste modo, a RAM promove a criação e dinamização do mercado de terras, como também a integração ao agronegócio, dos/as trabalhadores/as rurais. Com este programa, as terras passam a ser supervalorizadas. Ao invés de arcar com a penalidade prevista por lei, em razão de não atender a função social da propriedade, o proprietário de terras passa a receber um bônus do governo, por meio da comercialização desta. Conforme afirma Martins (2004, p. 62) “a reforma agrária pode ser mais bem definida como um processo contraditório de transformação das relações de produção e poder que depende, em sua formulação e realização, da correlação de forças políticas e do curso específico da luta de classes”. A RAM é expressão e reflexo da correlação de forças no âmbito do Estado. De um lado, o capital financeiro tencionando para sua expansão no campo e o enfraquecimento das políticas sociais. De outro, os/as trabalhadores rurais sem terra reivindicando o acesso a terra e condições dignas de trabalho. Porém, fica óbvio que a realização da reforma agrária é um obstáculo ao capital no campo. Em se tratando do Estado brasileiro e de sua relação econômica e política no cenário internacional, a adoção da RAM expressa também a condição de subalternidade e dependência do país, em relação ao capital internacional, uma vez que o Banco Mundial é financiador desta proposta. O capital internacionalizado produz concentração da riqueza, em um pólo social (que é também espacial) e, noutro a polarização da pobreza e da miséria, potencializando a Lei Geral da Acumulação Capitalista, em que se sustenta a questão social (IAMAMOTO, 2008). Resultante deste processo, tem-se, cada vez mais, o acirramento das desigualdades sociais, o desemprego, a precarização do trabalho, o aumento da violência (gênero, étnico-racial, geracional, de classe), a concentração fundiária, a exploração dos recursos naturais causando danos ambientais, o empobrecimento, a miséria, tanto no campo, quanto na cidade. As contradições, semelhanças e continuidades da questão agrária brasileira são reflexos da transição de dois projetos, que correspondem ao fim do modelo militar de modernização conservadora (1965 – 1985) e o desenvolvimento da economia do agronegócio (2000 até atualidade) (DELGADO, 2012). A partir de 2003, com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (LULA), merece-se destacar a criação do II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) que teve a ampla.

(21) 18. participação dos movimentos sociais do campo, de trabalhadores/as das políticas públicas voltados para o campo, pesquisadores da universidade e dos poderes municipal, estadual e federal. O referido Plano reconheceu a diversidade de pessoas que vivem no campo e nas florestas, identificando comunidades tradicionais, ribeirinhas, quilombolas, bem como equalizam os gêneros, quanto ao acesso aos programas, projetos e benefícios. Apresentou medidas para a recuperação de assentamentos já existentes, criação de novos projetos de assentamentos, oferta de assistência técnica, social e ambiental, incentivos de créditos para projetos agrícolas, e intensificar o combate ao latifúndio por meio da desapropriação de terras. Porém, o Programa Nacional de Crédito Fundiário evidencia a contradição entre as perspectivas de reforma agrária. No governo Dilma Vana Roussef, a partir de 2011, a correlação de forças políticas se acirra e os interesses dos/as trabalhadores/as rurais perdem mais forças no âmbito do Estado. Esta gestão é marcada por exaustivas críticas dos movimentos sociais, pois os compromissos políticos que previam a ampliação de conquistas anteriores para a classe trabalhadora perderam força política. Os investimentos em políticas públicas para o campo previsto no II PNRA são negligenciados. A partir das Jornadas de Junhos, ocorrida em 2013, o Governo viveu constante desgaste midiático, crise política, além disso, a crise do capital também atingiu o governo. De modo que, por meio de um golpe político, jurídico e midiático, se abriu processo de impeachment. Com a quase paralisação da desapropriação de terras, os conflitos permanecem. Não por acaso, uma pesquisa realizada pela Comissão Pastoral da Terra4 (CPT) mostra que no ano de 2014 foram identificados 1.018 conflitos de terras. A pesquisa foi realizada em todas as regiões do país e registra várias áreas em conflito. Desde as ações de despejo que atingiram 12.188 famílias, resultante de ações de judicialização, como também a expulsão de 963 famílias. A pesquisa constatou ainda que 29.280 famílias estavam sofrendo ameaça de despejo e 23.061 famílias em condição de expulsão. A pesquisadora Medeiros (2014), explica que essas diferenças entre despejo e expulsão merecem atenção, uma vez que o expressivo número de ações de despejo reflete o caminho de judicialização que os conflitos de terras vêm assumindo.. 4. Em junho de 1975, período Estado ditatorial, durante o Encontro de Pastoral da Amazônia, que foi convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e realizado em Goiânia/GO. A CPT desenvolveu junto aos/as trabalhadores/as atividade de pastoral. A sua existência se dá em razão dos intensos conflitos de terras ocorridas na região da Amazônia, neste período, a igreja contribuiu para defender muitas vítimas do violento processo de expropriação na Amazônia. Maiores informações consultar o site da Comissão Pastoral da Terra..

(22) 19. Estes conflitos expressam o quanto a questão agrária está presente e atual, como também, revelam a capacidade de organização política que os/as trabalhadores/as vem acumulando, se fortalecendo e resistindo aos intensos processos de exploração e expropriação. De acordo com Barros (2014, p.71), a questão agrária é entendida “[...] como uma questão política e surge com a emergência e o desenvolvimento do capitalismo e sua necessidade de expansão de mercados; reprodução e acumulação”. Então, quanto maior a expansão do capital no campo, mais conflitos surgem, como já afirmaram os/as trabalhadores/as rurais, quando não tem sua força de trabalho incorporada ao negócio, passa a sofrer com a expulsão de suas terras. De acordo com o documento de Avaliação de Impacto do PNCF, número 2, Estudos da Secretaria de Reordenamento Agrário (SRA), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o principal objetivo do programa é o combate à pobreza rural, através da aquisição de terras, como também a consolidação da agricultura familiar, tanto para o próprio consumo, quanto para o mercado (BRASIL, 2007). O desenvolvimento do capital financeiro no campo ocorre por toda a América Latina e no Brasil apresenta particularidade, como esclarece Delgado: [...] no caso brasileiro, o mercado de terras e o sistema de crédito rural, ambos sob patrocínio fundamental do Estado, são peças essenciais para possibilitar a estratégia de capital financeiro na agricultura. [...] A história econômica brasileira do período militar revelou um processo concreto de articulação do grande capital agroindustrial, do sistema de crédito público à agricultura e à agroindústria e da propriedade fundiária, para estruturar uma estratégia econômica e política de modernização conservadora da agricultura (DELGADO, 2012, p. 90-91).. Este é o cenário conjuntural que possibilita o Estado em parceria com o Banco Mundial implementar, a partir da década de 1990, a RAM. Este projeto do Banco Mundial é uma base de sustentação da economia neoliberal (RESENDE, 2004). O Estado opta por manter a execução da RAM, como uma política complementar a reforma agrária, em detrimento do combate ao latifúndio por desapropriação de terras, por interesse social. O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) é o principal programa da RAM. Oferece três linhas de crédito denominadas de: Combate à Pobreza Rural (CPR); Consolidação da Agricultura Familiar (CAF) e; Nossa Primeira Terra (NPT). A concepção central do referido programa é a mercantilização da reforma agrária. Com o Estado se desobrigando de promover a desconcentração fundiária, através da desapropriação de terras, e são as grandes empresas que passam a assumir o controle territorial por meio da expansão do agronegócio, monocultura, de pastagens e da especulação.

(23) 20. imobiliária. Estes são apenas alguns exemplos da dinamização do mercado de terras, que contribui para a manutenção do latifúndio. O acúmulo de capital se dá, unicamente, pela posse da propriedade da terra sem que necessariamente se realize qualquer atividade produtiva sobre ela. Com o PNCF aquele que não cumpre a função social da propriedade é favorecido com o pagamento à vista pela terra. Por vezes, os/as trabalhadores/as rurais adquirem terra com solo improdutivo (dificultando a atividade de trabalho); situação que complexifica a situação de endividamento, já que não conseguindo trabalhar, impede realizar o pagamento do financiamento; ademais, a descentralização Estatal na execução do programa transfere para o/a beneficiário/a responsabilidade de negociação do preço da terra. O que implica em pelo meno dois aspectos, tanto a supervalorização do imóvel, como também, a possível situação de submissão do trabalhador frente ao proprietário de terra, numa histórica reprodução da relação de poder e dominação. Os/as assentados/as pelo PNCF são trabalhadores/as rurais que, comumente, não estão organizados em movimentos sociais do campo em torno da luta pela terra. Este é um aspecto a se considerar uma vez que, a organização política propicia o fortalecimento político, individual e coletivo, como também possibilita a formação da consciência de classe. A participação é um exercício. É uma construção. Considerando a herança cultural brasileira marcada pelo colonialismo, militarismo, coronelismo e pelas relações de poder e dominação, não é de se estranhar aquele que está em situação de opressão reproduz o discurso e os valores de seu opressor. Não é de se estranhar que na relação de poder, o dominado defenda seu opressor. O Nordeste brasileiro é historicamente marcado pelas oligarquias, forjadas ainda nos tempos coloniais, quando do cultivo da cana e produção de açúcar para atender a Coroa Portuguesa e o mercado europeu. Com o mercado internacional demanda outro produto, o café e o algodão, instala-se uma crise intra-burguesa. O novo clã cresce na região Sul do país, ao passo, que a elite agrária do açúcar perde força no Nordeste e, concomitantemente, outra elite agrária se ergue em território semiárido com a exportação do algodão. As transformações atingem sobremaneira a diversidade de trabalhadores do campo: parceiros, meeiros, arrendatários, posseiros, assalariados, e foreiros. Todos estão sujeitos as arbitrariedades dos grandes proprietários de terras. Não obstante, o Rio Grande do Norte, salvo as especificidades dessas terras, reproduz a dinâmica do capital em suas mais variadas fases e que atingem os trabalhadores rurais. A monocultura, a expropriação, a exploração, a violência, a luta e a resistência sintetiza e dão.

(24) 21. unidade a demanda dos trabalhadores rurais que não tem terra e, por esta razão, perpetuam por gerações uma vida de pobreza e miséria. E se propondo a aliviar a pobreza é que o Programa Nacional de Crédito Fundiário é implantado no município de Touros/RN. A cidade de Touros integra extensa orla marítima do Rio Grande do Norte estando a 70 km capital do estado faz parte do roteiro turístico, tanto nacional, como internacional desde a década de 1980. Além de ter belas praias, a cidade também tem solos férteis e dispõe de considerável número de terras devolutas. Portanto, tem também conflitos de terras. De um lado, os empresários que, por meio da grilagem, expropriam terras dos posseiros. De outro, estão famílias de posseiros e seus descendentes que residem há décadas em tais terras e se tornam vítimas da violência e expropriação dos grileiros. Assim, entre ocupações e desapropriações de terras, muitas famílias passaram a ter acesso à terra no município. Para outras o sonho de ter acesso à terra foi possível por meio do financiamento, como ocorreu com 88 famílias que optaram pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário. O ato de pesquisar requer interpretar as respostas que objeto evidencia aos objetivos propostos inicialmente para pesquisa. O ato de pesquisar é um processo dialético e este movimento resulta ora em aproximação, ora em afastamento ao se seguir os objetivos estabelecido na pesquisa. Neste sentido, cabe ressaltar que a presente dissertação é resultado do redimensionamento realizado no projeto de pesquisa. Haja vista que, a medida que a pesquisa foi sendo realizada as respostas foram sendo delineadas. Sabe-se também que é muito incipiente o alcance das respostas buscadas por este trabalho, pois, considera-se que a aproximação com aos determinantes reais do objeto ocorre em sucessivas aproximações e, por esta mesma razão, tem-se ciência que não foram apreendidas todas as determinações sendo necessário a continuidade do estudo. Desse modo, o objeto de estudo desse trabalho é 1) Analisar os determinantes da participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assentados pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário, no município de Touros/RN, considerando o período de 2003 a 2014. São objetivos específicos: 1) Analisar os instrumentos e as formas de participação que os/as assentados/as dispõe na gestão e execução do PNCF; 2) Analisar a atuação das associações dos/as beneficiários/as nos Projetos de Assentamentos do PNCF, apreendendo sua relação com os órgãos gestores do programa; 3) Apreender a concepção de participação para o movimento sindical e para os/as assentados/as; 4) Analisar a atuação do movimento sindical rural na execução do PNCF; Tem-se como suposto desse trabalho que o Programa Nacional de Crédito Fundiário mais favorece os interesses do capital financeiro e a manutenção do latifúndio, que promove o.

(25) 22. “alívio da pobreza rural”. Ou seja, dentre outras resultantes, tem-se o atendimento imediato da demanda de acesso a terra por parte dos trabalhadores rurais, provocando o consentimento das entidades sindical da categoria, porém, mantendo os interesses do capital. O acesso ao crédito fundiário reposicionou segmento do movimento sindical rural frente à luta por reforma agrária. Sendo assim, recorreremos a autores brasileiros que são referência na análise quanto a formação social brasileira e que destacam aspectos sociais, econômicos e políticos que determinam a questão agrária brasileira como expressão da questão social. Assim, algumas elaborada Celso Furtado, Florestan Fernandes, Caio Prado Junior foram priorizadas neste trabalho. Também foi necessário se debruçar sobre análises que tratam especificamente da questão agrária brasileira considerando os aspectos como: a formação do latifúndio, os conflitos de terras, os movimentos sociais e as políticas de reforma agrária. Para isso, foram estudado algumas análises realizada por José de Souza Martins, Leonilde Sérvulo Medeiros, Carlos Nelson Coutinho, Ana Elizabete Mota, João Marcio Pereira Mendes, Mônica Dias Martins, Sérgio Sauer, Guilherme Costa Delgado.. Para contribuir na síntese das. determinações desse objeto situado no Nordeste, no Rio Grande do Norte, no município de Touros foi fundamental recorrer as análises de Francisco de Oliveira, Severina Garcia, Ilena Felipe Barros (tese), Nuara de Sousa Aguiar (dissertação). De que forma o Estado contribui para adesão do/as beneficiário/a ao PNCF? Por que os/as assentados/as aderiram ao PNCF? Que tipo de relação se estabelece entre os/as gestores/as do PNCF e os/as assentados/as? Qual a concepção de participação contida nos documentos do PNCF? Como os/as assentados/as entendem o PNCF? De que forma participam do PNCF? Qual o papel político que a associação, constituída para aquisição da terra, pode exercer para o fortalecimento da participação na lutas por terra dos/as trabalhadores/as rurais? . Percurso Metodológico:. A pesquisa científica se diferencia do senso comum, em razão da profundidade que se pode alcançar sobre um determinado tema estudado. Para isso, recorre-se ao uso de critérios, instrumentos e técnicas de pesquisa, como também a apropriação ao método adotado. Ao pesquisar, busca-se responder a questionamentos da realidade concreta e contribuir para mudanças (PRATES, 2003). Sobre o porquê pesquisa-se, Prates faz a seguinte reflexão:.

(26) 23. [...] Investigamos para responder a indagações que nos são postas pela realidade. Logo, uma pesquisa deve responder sempre a um problema, seja teórico ou prático. Em se tratando do referencial dialético crítico, pelo qual nos orientamos, no entanto, sempre será teórico-prático porque tem a transformação do real como finalidade, o que só pode ser realizado a partir dessa unidade necessária (PRATES, 2003, p. 1).. A condição humana de transformar-se oportuniza a desconstrução e (re)construção de visões de mundo, de instituições, bem como novas relações entre o homem e a natureza. Segundo Demo, o “conhecimento é uma dinâmica questionadora, rebelde, desconstrutiva, que reconstrói para de novo desconstruir. É a habilidade de a criatura desafiar o criador” (DEMO, 2011, p. 12). Portanto, o desvelar da realidade em que está inserido o objeto de estudo ora citado, ocorrerá por aproximações sucessivas, considerando as particularidades que envolvem os sujeitos pesquisados, a pesquisadora, bem como a capacidade de mediação desta última, quanto à apreensão no uso de método de análise optado. Será a capacidade de apreensão teórica e a imersão na pesquisa que possibilitará imprimir movimento ao objeto. Uma vez que, a totalidade que envolve a luta pelo acesso à terra na sociedade capitalista é apenas uma das expressões da ausência de uma reforma agrária. Ou seja, “a realidade é concreta exatamente por isto, por ser a síntese de muitas determinações, a unidade do diverso que é própria de totalidade” (NETTO, 2009, p. 20 grifos do autor). Neste sentido, a pesquisa de campo foi realizada no município de Touros, oportunidade em que se visitou as 05 (cinco) associações constituídas para acesso ao financiamento do PNCF: Associação Nossa Senhora Aparecida, Associação Santo Antônio, Associação Fazenda Coelho, Associação Nova Redenção e Associação Boa Esperança. Para a coleta de dados adotou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas que foi respondido coletivamente pelas famílias. Tendo por objetivo apreender de que forma ocorre a participação das famílias no Programa. Para entender do que trata e como ocorre a participação do movimento sindical na gestão e execução do Programa foi realizada entrevista semiestruturada com dirigente do movimento sindical do município de Touros. Apreender o real e suas muitas determinações, relacionando aparência e essência, identificando o singular e o universal e suas interconexões para constituição da totalidade, requer o alcance da “reprodução ideal do movimento real” do objeto (NETTO, 2009, p. 25). Os determinantes da participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assentados pelo o Programa Nacional Crédito Fundiário observou-se que a referida participação está diretamente relacionado aos valores capitalistas que, por meio desse discurso da participação.

(27) 24. promove consideráveis influências ideológicas, resultando na reprodução acrítica de seus interesses pela classe subalterna. Foram categorias de análise: Estado; Programa Nacional de Crédito Fundiário; Participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. O resultado da pesquisa objetiva contribuir, ainda que de forma modesta, na produção de conhecimento sobre a trajetória das famílias pelo acesso a terra no município de Touros e o Programa Nacional de Credito Fundiário, além de somar na luta pelo acesso à terra por meio do combate ao latifúndio. Após todo o processo de constituição de dados pertinente ao objeto pesquisado, o desafio seguinte será a análise e interpretação de todo conhecimento acumulado. Este momento da pesquisa pressupõe a superação da verificação e apanhado de informações sobre o objeto, a fim de transformar dados brutos em material útil, que por meio da síntese das teorias estudadas subsidie a construção do conhecimento. Uma vez que, a [...] análise e interpretação não são imediatamente possíveis. Os dados que o pesquisador tem em mão são, de momento, apenas materiais brutos: respostas assinaladas em formulário, frases registradas no gravador, notas trazidas por uma observação participativa, fotocópias de artigos publicados por tal jornal [...] Esses dados precisam ser preparados para se tornarem utilizáveis na construção dos saberes. O pesquisador deve organizá-los, podendo descrevê-los, transcrevê-los, ordená-los, codifica-los, agrupá-los em categorias (LAVILLE, 1999, p. 197).. Salienta-se, que a defesa pela reforma agrária é um dos compromissos ético-político, assim como, o apoio à luta dos movimentos sociais. Uma vez que as/os Assistentes Sociais podem ter que contribuir também como espaço de intervenção profissional, as áreas de assentamentos que necessitam de assessoria para organização da comunidade em formação. Sobre a atuação do Serviço Social em áreas de assentamento Araújo (1999) sugere: [...] o trabalho do assistente social comparece atuando nos movimentos sociais, em conjunto com outros profissionais, atuando ora num processo de mobilização de trabalhadores e/ou de comunidades, em situação de litígio com as forças do capital que os ameaçam de expulsão; ou com populações já em processo de assentamento, mas necessitando, nesse momento, de empreender novas conquistas, de enfrentar novos desafios (ARAÚJO, 1999, p. 189).. O resultado desse trabalho visa contribuir na pesquisa sobre a questão agrária brasileira e se soma ao esforço que a categoria vem imprimindo em busca de superar as análises fragmentadas e dicotomizadas sobre o campo e cidade na realidade brasileira. A disposição de dados e análises que constituem essa dissertação, para isso foi dividida em quatro capítulos. De modo que, o capítulo 1 buscou-se delinear aspectos da.

(28) 25. formação social brasileira e sinalizando algumas determinações que fizeram constituir a questão agrária. Para isso, visitar clássicos do pensamento social brasileiro e as análises mais recentes, considerando o capitalismo monopolista e outras mais contemporâneas que abordam o avanço do capital contribuiu para apreender elementos da multifacetada questão agrária brasileira. O capítulo 2 apresenta considerações sobre a política agrária do Banco de Mundial, adotada pelo Estado brasileiro, por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário. Faz considerações quanto aos rebatimentos na política fundiária. Por fim, o capítulo 3 destina-se a analisar a participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assentadas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário, no município de Touros. Para isso, faz breves considerações sobre a participação, enquanto exercício político de enfrentamento ao Estado e a classe dominante, almejando a garantia de direitos sociais nos marcos do capital. No espaço destinado as considerações finais buscou-se registrar uma síntese das reflexões e apontamentos como síntese do resultado da pesquisa realizada para conclusão desse trabalho. Espera-se deixar questionamento abertos para dar continuidade e estimular outros pesquisadores do tema..

(29) 26. 2. FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA E OS FUNDAMENTOS DA QUESTÃO AGRÁRIA O presente capítulo apresenta elementos que tratam dos fundamentos da questão. agrária brasileira, a partir de pensadores como Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Octávio Ianni, José de Souza Martins e Florestan Fernandes, que formularam análises sobre o que determina a concentração fundiária, quais as consequências desta concentração, sugerem formas de enfrentamento, bem como analisam de que maneira se insere o Brasil no capitalismo e o papel desempenhado para os países de economia central. A situação da massa de trabalhadores do campo fez emergir as mobilizações camponesas e as reflexões do setor econômico sobre a situação agrária do país, a partir de 1950. Nesta década de 1950, especialmente, tivemos uma disputa política em torno da reforma agrária. São pelo menos quatro forças ideológicas que disputaram a perspectiva de reforma agrária adotada pelo Estado, quais foram: 1) o Partido Comunista Brasileiro (PCB); 2) setores reformista da igreja católica; 3) a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL); 4) um grupo de estudiosos da economia da Universidade de São Paulo (USP), tendo como liderança o economista Antonio Delfim Neto. As três primeiras forças defenderam a reforma agrária, porém prevaleceu a defesa dos economistas da USP. Para estes economistas, a questão agrária e as relações de trabalho que predominaram no campo não eram problemas econômicos e não detinham relevância (DELGADO, 2010, p. 84). No Brasil, em razão de sua origem histórica marcada pela colonização portuguesa, são três o fatores que determinam até os dias atuais a questão agrária brasileira. Trata-se da forma de povoamento, da condição da força de trabalho e da atividade produtiva para garantir a comercialização de produtos entre a Coroa Portuguesa para a Europa. Para a produção e exploração a medida adotada pela Coroa foi “desenvolver a colônia por grandes extensões de terras, utilização da mão de obra escrava e da monocultura” (BARROS, 2014, p. 54). A Coroa Portuguesa adota o escambo e o sistema agroexportador como modalidade comercial para a colônia brasileira. Por sua vez, a colônia brasileira fornece produto primário a Portugal inserindo este país no mercado mundial em formação. Tendo a necessidade de povoar e explorar os recursos naturais do Brasil a Coroa Portuguesa estabelece as Capitanias Hereditárias e o Regime Sesmaria, como forma de acesso a terra e que culminou na transformação desta em propriedade privada. Toda forma de organização social e econômica da colônia brasileira teve a mesma finalidade que as demais colônias de exploração para os países de economia central e de.

(30) 27. capital dependente que foi propiciar lucro e a acumulação primitiva de capitais (BARROS, 2014). O Brasil nasce sob a égide do capitalismo. As relações externas determinaram o ritmo do seu desenvolvimento. A acumulação baseada na dependência do latifúndio, da monocultura e da exploração da força de trabalho escravizada, formou uma grande massa de trabalhadores rurais despossuída da terra, de moradia própria e das condições dignas de vida e sobrevivência (BARROS, 2014, p. 56).. A análise de Barros(2014) explicita em que condições o Brasil se insere, ainda na condição de colônia, na economia capitalista em formação naquele período e aponta os aprofundamentos desta condição que reverberam até os dias atuais, sobretudo, para as pessoas do campo. São elementos que determinam o cenário de concentração fundiária no Brasil e, consequentemente, o expressivo número de famílias camponesas e trabalhadoras rurais sem terra. Não é nosso objetivo aprofundar sobre o processo histórico da questão agrária por considerarmos existir vasta literatura sobre o tema. São produções resultantes de pesquisas, análises e discussões realizadas por intelectuais, centros de estudos, por partidos políticos e pelos movimentos sociais. Nosso propósito é tão somente destacar alguns períodos que refletem início, continuidade, aprofundamentos e rupturas de situações que serão determinantes para a formação de uma grande massa de despossuídos como consequência da concentração fundiária que constitui base para a questão agrária na atualidade. Assim, nos debruçaremos no Brasil República, já emancipado de Portugal, considerando como ponto de partida a modernização conservadora. As consequências da concentração fundiária resultaram em um número expressivo de camponeses sem acesso á terra e estes tornaram visíveis para a sociedade a sua condição de despossuídos e, por sua vez, provocando o Estado5, posteriormente, a incorporar a reforma agrária como política necessária. Nesta oportunidade, o Estado, como campo de disputa dos interesses das classes burguesa e trabalhadora, passa a evidenciar as muitas concepções sobre a reforma agrária e interesses antagônicas das classes em torno da terra. O debate em torno do tema não é apenas conceitual, mas, sobretudo, econômico e político. O golpe militar de 1964 encerra, temporariamente, a disputa ao adotar a “Modernização Conservadora” como intervenção estatal para o país, resultando em aprofundamento das tensões no campo (BARROS, 2014). 5. De acordo com Barros (2014), a questão agrária se insere no debate político nacional em 1945 (pós-guerra) e durante a ocorrência da Assembleia Nacional Constituinte a concentração fundiária é discutida aponta-se para a defesa da função social da terra..

(31) 28. 2.1. O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO SOBRE A QUESTÃO AGRÁRIA: REVISITANDO OS CLÁSSICOS No processo de colonização, concebe a Portugal ocupar as novas terras e buscar. utilidade econômica para as terras americanas, que fosse além da extração de metais preciosos. E foi da necessidade de expansão comercial da Europa que as terras brasileiras passaram a ser a empresa agrícola de exploração. Como consequência disso, “a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu” (FURTADO, 2007, p. 29). Neste sentido, o Brasil tem significativa relevância para a expansão comercial da Europa elevando Portugal a grande imponência colonial americana com o empreendimento da empresa agrícola iniciada com a produção açucareira. O êxito da nova empresa agrícola portuguesa, se realizou em razão de um conjunto de fatores. Dentre eles a experiência na produção de açúcar nas ilhas do Atlântico, que fomentou a produção de equipamentos e técnicas constituindo êxito no setor para os portugueses que adotaram estes conhecimentos na colônia brasileira. A experiência comercial destina Portugal a comercializar o açúcar leva os portugueses a comercializar em áreas tradicionais de consumo do produto. Porém estas regiões já eram abastecidas e não absorvem todo o produto causando uma crise de superprodução. A inserção neste eixo comercial provoca o fim do monopólio veneziano, que também comercializava o açúcar, leva Portugal a conheceràs origens da produção veneziana (FURTADO, 2007). Devido à queda de preços resultante da superprodução, meados do século XV, o Estado português reduz a produção do açúcar e direciona para os portos flamengos. Os flamengos, em especial os Holandeses, tiveram papel determinante para a produção e comercialização portuguesa de açúcar, a partir do século XVI, praticamente se constitui uma sociedade empresarial. Além do processo de refinação do produto, realizavam a distribuição por toda a Europa. A experiência comercial holandesa e o financiamento de recursos financeiros viabilizou a instalação dos equipamentos necessários à produção na colônia (FURTADO, 2007). Outro desafio vivenciado pelos portugueses se refere à mão-de-obra. Trazer força de trabalho da Europa para a colônia brasileira não era viável devido ao alto custo salarial. Portugal já detinha larga experiência comercial por toda a Europa, na venda e escravização de povos africanos. Eis que a deficiência de mão-de-obra faz ampliar o mercado africano de.

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