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CAPÍTULO 3: ELPÍDIO DE ALMEIDA E SUA “HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE”

3.2 O fazer da Campina “grande”

3.2.2 Movimentos sociais na história de Campina Grande

Outro ponto que Almeida trata em seu livro e que entendemos como sendo parte da construção da ideia de grandeza de Campina Grande diz respeito aos movimentos sediciosos que ele aborda. O autor escolheu escrever sobre quatro movimentos sediciosos, que ele julgou serem importantes para entrar para a história da cidade. Esses movimentos são: a Revolução Pernambucana (1817), a Confederação do Equador (1824), a Revolta Praieira (1848) e o movimento dos Quebra-Quilos (1874)43.

Nesse ponto, Almeida mostra um discurso elitista e preconceituoso, na medida em que privilegia os movimentos de cunho republicano e elitista, os de 1817, 1824 e 1848 (movimentos pernambucanos) e menospreza o movimento popular dos Quebra-Quilos, de 1874, o único desses movimentos que de fato aconteceu em Campina Grande.

Está presente em vários capítulos de “História de Campina Grande” trechos que mostram a clara reprovação de Elpídio de Almeida em relação aos Quebra-Quilos. Mas é no capítulo que ele reserva para tratar desse movimento que a sua posição fica mais evidente. Logo no início, Elpídio de Almeida afirma que “escrevendo sobre coisas deste município, não podia eximir-se do reconto do fato, já relatado por vários historiadores” (ALMEIDA, 1993, p. 147).

Com essa frase, entendemos que o autor quis dizer que, por ele, os Quebra-Quilos não entrariam na sua história da cidade, mas, como outros autores já relataram esse acontecimento em seus livros sobre a história de Campina Grande, ele não pôde deixar de tratar do assunto em as obra. É um ponto que ele claramente escreve por obrigação. Se pudesse, Elpídio de Almeida não trataria desse movimento, uma vez que para ele o Quebra-Quilos não teve razões para acontecer.

Foi um movimento sedicioso sem idealismo, selvático, sem orientadores conhecidos, sem chefes descobertos e responsáveis. Grupos de camponeses ignaros, a que se iam agregando desajustados e criminosos, saíram a invadir povoações, vilas e cidades, soltando presos, perseguindo maçons, tomando dinheiro, ameaçando, destruindo pesos e medidas, incendiando os arquivos públicos. (ALMEIDA, 1993, p. 147).

43Aqui não vamos reescrever a história contada por Elpídio de Almeida sobre cada movimento social. Voltaremos

nosso olhar para como Elpídio de Almeida encontrou em cada movimento características para forjar a grandiosidade de Campina Grande.

Esse trecho é o primeiro parágrafo do capítulo “Quebra-Quilos” e nele está condensada toda a opinião de Elpídio de Almeida sobre o movimento. Para o autor, foi um movimento social desorganizado, que não possuía lideranças, nem ideais, pois foi feito pela camada mais pobre e analfabeta da sociedade. Em outras palavras, ou melhor, nas palavras do autor, era um grupo de ignorantes que não sabia o que estava fazendo.

Para Almeida, tudo que os Quebra-Quilos fizeram foi sem necessidade. Depredaram o patrimônio público e, o que Almeida mais lamenta, destruíram os registros da época, que estavam nos papeis queimados por alguns membros do movimento. Segundo o autor, “o maior prejuízo causado pelos sediciosos a Campina Grande, e a outros lugares, foi a destruição dos arquivos públicos, mal irreparável, ainda hoje lamentado (ALMEIDA, 1993, p. 148).

A queima dos arquivos públicos é a maior lástima de Elpídio de Almeida, sendo essa a maior crítica do autor ao movimento, ou, pelo menos, é a justificativa que ele utiliza para a sua desaprovação. Esse sentimento de repulsa pelo Quebra-Quilos é tão grande que Almeida, vez por outra, escreve sobre a dificuldade de encontrar documentos oficiais dos séculos XVIII e XIX, por conta da ação dos Quebra-Quilos, que destruíram esses papeis. Logo na apresentação do livro, por exemplo, Almeida afirma que alguns capítulos “representam a ressurreição de velhos papéis perdidos nos raros arquivos da cidade, os que escaparam da sanha destruidora dos insurgentes do Quebra-Quilos” (ALMEIDA, 1993, p. 11).

A ideia de que esse foi um movimento feito por ignorantes está sempre permeando o texto. No penúltimo capítulo, intitulado “Fagundes”, Almeida vai tratar da história desse município e relata a época em que a cidade de Fagundes/PB sediou o movimento dos Quebra-Quilos. Após explicar o que foi o Ronco da Abelha e fazer uma pequena nota sobre o Quebra-Quilos, Almeida segue com a frase:

No louvável propósito de tirar a gente da serra de Bodopitá dêsse estado primário, dessa incapacidade para apreensão das providencias governamentais em benefício do povo, resolveu o presidente Henrique Beaurepaire Rohan levar à sua presença, não soldados para atemorizá-la, mas professores para clarear o entendimento (ALMEIDA, 1993, p. 402).

Após a leitura desse trecho, fica ainda mais claro que Almeida entendia que os participantes do Quebra-Quilos eram ignorantes. O autor reafirma ainda mais sua ideia com o argumento de que os populares que participaram dessas sedições não conseguiam entender as benesses que o

governo estava tentando implantar na sociedade por conta do grau de escolaridade dessas pessoas. Para Elpídio de Almeida, por não possuírem o estudo formal os populares estavam em um estado “primário” e, por isso, faziam revoltas que não tinham necessidades de acontecer.

Para entendermos melhor essa posição, precisamos saber o que foi esse movimento. O Quebra-Quilos foi uma sedição popular que aconteceu no ano de 1874 em diversas vilas e cidades das províncias da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte, por conta do grande número de desemprego gerado pela crise que assolou a então região Norte do país (hoje região Nordeste), devido à perda de espaço dos produtos da lavoura da região em concorrência com o mercado internacional. Além disso, houve a imposição do governo para a utilização do sistema métrico decimal com novos pesos e medidas e também a lei do recrutamento, que obrigava os pobres a se alistarem no exército. Todas essas imposições geraram medo e o descontentamento dos populares que se organizaram e começaram a se rebelar (SÁ, 2009).

A sedição começou em outubro de 1874 em Fagundes, na época distrito de Campina Grande, e logo se espalhou para as cidades e províncias vizinhas, o que gerou grande apreensão do governo e das elites locais, visto que esse movimento era composto por agricultores pobres, artesãos, feirantes, escravos e desocupados que entraram em confronto com as forças policiais e destruíram pesos e medidas do recém-implantado sistema métrico-decimal. Eles se recusavam a pagar impostos, atacaram as câmaras municipais, as cadeias, os cartórios e as coletorias (LIMA, 2006).

O movimento dos Quebra-Quilos causou um grande susto no governo e nas elites locais, por causa da rápida adesão tanto das camadas populares como também dos que estavam insatisfeitos com a administração imperial. Alguns integrantes das camadas mais abastadas da sociedade também se envolveram no movimento.

Manifestações e sedições populares sempre assustam as camadas dominantes, pois põem em xeque o lugar social desses grupos. A escrita é um veículo de propagação de ideais, visões de mundo, e por mais que Elpídio de Almeida pretendesse que sua escrita fosse imparcial ele não conseguiu conter sua opinião sobre esse assunto. Apesar de escrever o livro entre o final da década de 1950 e o início dos anos 60, em um contexto de abertura intelectual e de agitação política, social e cultural, tanto no Brasil como no mundo, Elpídio de Almeida não consegue se desvincular de seu lugar social e do conservadorismo.

Leandro Konder, em um artigo sobre os intelectuais na década de 1950, relata que essa foi uma época de muitas mudanças na sociedade brasileira e os historiadores do país tinham posições muito diversas sobre a história. Mesmo com a abertura do campo historiográfico, cada interpretação se dava pela diversidade de experiências particulares de histórias vividas em espaços geográficos específicos (KONDER, 2012, p. 358). Ou seja, cada historiador refletia sobre os problemas históricos à luz da teoria histórica que mais se adequasse à sua vida e ao seu lugar espacial e social.

Konder ainda chama a atenção para o fato de que, quando um historiador reage diante dos movimentos sociais e políticos, ele adota sempre, implícita ou explicitamente, normas e princípios que fundamentam a decisão a respeito do que deve ser alterado e o que deve ser conservado. Nesse cenário, os pressupostos ideológicos que sustentam o trabalho dos historiadores nem sempre são assumidos francamente, seja porque nem sempre são perceptíveis aos olhos daqueles que escrevem, seja porque não convém serem abertamente proclamados (2012, p. 358, 359).

Assim, entendemos que, da mesma forma que os Quebra-Quilos assustaram à sua época, durante os anos em que Almeida estava escrevendo o livro, década de 1950 e início de 1960, o “perigo” estava mais vivo do que nunca. As Ligas Camponesas44, também um movimento

popular, estava acontecendo no Nordeste e também assustava as elites da época. Essa forma radical de Elpídio de Almeida ver os Quebra-Quilos pode mostrar uma espécie de desabafo do autor acerca desse movimento popular, que ameaçava a ordem pública e, é claro, o lugar das elites em sua época.

Entendemos então que a visão de Elpídio de Almeida acerca dos Quebra-Quilos reflete o seu lugar social de elite intelectual, política e econômica. Os ideais aprendidos e compartilhados nesse lugar social coadunavam com a visão tradicional da história, a qual o autor aprendeu via

44 As Ligas Camponesas foram organizações de camponeses e trabalhadores rurais em associações civis, sob direção do Partido Comunista Brasileiro – PCB. Esse foi um movimento de luta pela reforma agrária e pela melhoria de vida dos que viviam no campo. As ligas começaram a ser organizadas em 1945. No entanto, em 1948, como o fechamento do PCB, as ligas se desorganizaram. Só em 1955, com a criação da Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco, no Engenho da Galileia em Vitória do Santo Antão, em Pernambuco, que as Ligas Camponesas ressurgiram. A partir do seu ressurgimento, as Ligas deixaram de ser organizações e passaram a ser um movimento agrário, que contagiou um grande contingente milhares de trabalhadores rurais, que viviam como parceiros ou arrendatários, e também urbanos, mobilizando muitos homens e mulheres pobres do campo e da cidade.Ademais, obtiveram também ajuda do movimento estudantil e do partido comunista. O lema do movimento era “Reforma Agrária na lei ou na marra”. Suas ideias reformistas, contudo, eram associadas ao temor socialista do qual os países opositores tinham na época. Com a instalação do regime militar em 1964, então, as principais lideranças do PCB e das Ligas foram assassinadas, fugiram ou foram presas e, assim, as Ligas Camponesas deixaram de existir.

Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. A ideia de que a história era feita pelos grandes homens culminou com essa opinião conservadora e preconceituosa de Almeida em relação ao movimento dos Quebra-Quilos. Apesar de utilizar o argumento de que sua reprovação ao movimento vinha da destruição dos documentos públicos, fica claro para nós que a reprovação do autor tem raízes bem mais complexas.

Dessa forma, vemos que o conservadorismo utilizado por Almeida em sua escrita provém de sua inclinação política, do seu lugar social e institucional. Assim, o fato de Almeida ser membro da elite paraibana, católico, político, letrado, influência diretamente nas suas opiniões e essas foram expressas principalmente na sua escrita, mostrando que ele possuía um projeto social e político em seu livro.

Um exemplo disso é o fato de Almeida ser filiado a UDN, partido conservador que predominou durante a ditadura civil-militar do país. As ligas Camponesas foi um dos motivos que levaram a instauração do regime ditatorial no Brasil, assim vemos que Almeida coadunava com a ideia de que o povo deveria se manter em “seu lugar” sem questionamentos, nem que para isso fosse preciso cercear a força a liberdade dos cidadãos.

Logo, a desaprovação de Almeida não aconteceu apenas pelo fato de os Quebra-Quilos terem destruído os documentos da cidade, mas também porque o movimento– que foi feito pelo povo de forma ousada – lembrava demais os movimentos sociais que estavam acontecendo no Brasil na época, que atingiam e ameaçavam diretamente o status quo das elites.

Para Elpídio de Almeida, o Quebra-Quilos foi um episódio da história de Campina Grande que não fez jus à grandiosidade que o autor pretendia mostrar da cidade, uma vez que essa grandiosidade, para o autor, só foi alcançada por conta da administração das elites locais. Então em contrapartida à sedição dos Quebra-Quilos, Almeida escreve sobre a Revolução Pernambucana (1817), a Confederação do Equador (1824) e a Revolta Praieira (1848), como exemplos de movimentos sociais. Essas eram revoltas que “mereciam” estar na história de Campina Grande. O mais interessante é que Almeida vai mostrar a grandiosidade da cidade em movimentos sociais que não aconteceram em solo campinense.

A primeira explicação que encontramos para o autor tratar sobre essas revoltas é o fato de utilizá-las como exemplo para mostrar aos seus leitores o que é uma sedição de “verdade”, que perseguia ideais, era organizado, tinha líderes etc. Além do fato de essas terem sido encabeçadas pelas elites de Pernambuco e Paraíba, mantendo seu projeto político e social de mostrar que a

história, assim como a vida, deve seguir um curso em que cada classe social se mantenha em seu lugar, nesse caso, uma minoria comandando e se beneficiando política e economicamente enquanto a maior parte da população devia ter o básico para sobreviver.

Outra justificativa vem da instituição de saber que Almeida fazia parte. Para o IHGP, o povo paraibano possuía uma inclinação para a paz, para a bravura e para o republicanismo. No caso da última característica dessa paraibanidade, o Instituto encontra na participação dos paraibanos na Revolução de 1817 e nos movimentos de 1824 e 1848 e na proclamação da República os marcos históricos que mostram como o povo paraibano aderiu cedo ao ideal republicano (DIAS, 1996, p. 57).

Além disso, essa paraibanidade buscava separar a história da Paraíba da de Pernambuco e mostrar a autonomia do estado, ressaltando a importância da Paraíba para a história do Brasil (DIAS, 1996). Na tentativa de mostrar que Campina Grande também teve grande relevância na história do estado, Almeida insere esses movimentos na história de Campina.

No capítulo dedicado à Revolução Pernambucana de 1817, Almeida conta a história da sedição e destaca a participação de padres. Toda a história contada por Elpídio de Almeida tem os padres como protagonistas. Para o autor, o fato de os sacerdotes terem participado de um movimento em prol do ideal republicano merece destaque.

Não é de se admirar essa predominância de padres numa insurreição política de tamanha responsabilidade, se reportarmos à época. Constituíam êles a elite intelectual do país, a classe verdadeiramente cultivada da sociedade, o elemento capaz de orientar e levantar a opinião pública (ALMEIDA, 1993, p. 69).

Para Almeida, a Revolução Pernambucana teve êxito por conta da liderança dos padres, uma vez que o seminário de Olinda foi a primeira instituição de Ensino Superior de Pernambuco e região. Além disso, o seminário foi um dos centros propagadores das ideias burguesas. Então, não por acaso, os padres encabeçariam uma revolução que reivindicava ideais tão caros à Elpídio de Almeida e ao IHGP como o republicanismo.

Também não era de se admirar o fato de os padres entrarem para esse levante, já que eles eram a elite intelectual da época. Como afirma Almeida, essa era “a classe verdadeiramente cultivada da sociedade”. Desse modo, para o autor, esse movimento revolucionário não era feito por “ignorantes” que não sabiam pelo que lutar. Foi a elite intelectual pernambucana que se uniu aos revolucionários em prol da causa republicana.

A Revolução de 1817 seria um componente perfeito para demonstrar a grandiosidade de Campina Grande. No entanto, Campina Grande não teve participação direta nesse levante, como aponta o próprio Elpídio de Almeida.

Campina Grande não ficou indiferente à revolução republicana. Se não se levantou em armas, se não engrossou as fileiras do exército, aceitou cedo as ideias revolucionárias, através das figuras mais representativas do lugar, as quais passaram a defendê-las publicamente, torcendo por sua vitória. Não ofereceu mártires à sanha sanguinária dos tribunais militares, mas assistiu compungida aos sofrimentos de seus dirigentes espirituais levados para as prisões da Bahia (ALMEIDA, 1993, p. 71-72).

Apesar de Almeida reconhecer que a cidade não teve participação na Revolução de 1817, o autor insiste em colocá-la em “História de Campina Grande” com o argumento de que as pessoas de Campina Grande aderiram à causa da revolução, o que mostrava o espírito dos campinenses de reconhecer uma “causa justa” e aderir à ela, provando assim a grandiosidade da cidade e de seu povo. Para nós, colocar essa revolta em seu livro é mais um sinal de que Almeida considera exemplares essas insurreições, em oposição ao Quebra-Quilos, que era um movimento social que não era merecedor de compor a história de Campina, pelo menos não em sua ótica de cidade grandiosa.

Ainda dentro do rol de movimentos sociais que para Elpídio de Almeida eram exemplos, o autor cita a Confederação do Equador (1824) e a Revolta Praieira (1848). Para relatar esses dois acontecimentos históricos, Almeida busca demonstrar como esses eventos foram importantes para a história do Brasil e tenta inserir Campina Grande nessas histórias, nem que seja forçadamente.

Ao tratar da Confederação do Equador, Almeida se preocupa em mostrar a importância da cidade para esse movimento. Mais uma vez, Campina Grande não teve uma participação ativa. A única ação foi servir como pouso para alguns revolucionários, como Frei Caneca, que estavam sendo escoltados pelas tropas do imperador. O autor conta a história dessa sedição e na parte em que relata a prisão dos revoltosos e ida deles para o Recife, dá destaque à passagem de Frei Caneca por Campina.

Para fazer esse destaque, Almeida utiliza do próprio depoimento feito por Frei Caneca durante sua vida de revolucionário e publicado no livro de sua autoria, “Obras Políticas e Literárias”. Almeida recorre a esse documento para relatar “a verdadeira história da passagem de

Frei Caneca pela então vila de Campina Grande, contada por ele mesmo” (ALMEIDA, 1993, p. 89).

O último dos movimentos sociais de grande relevância para a história tradicional e que Almeida fez menção em seu livro é a Revolta Praieira de 1848. Almeida já inicia o capítulo afirmando que essa “era uma insurreição de elevados propósitos, mas essencialmente pernambucana” (ALMEIDA, 1993, p. 97). Contudo, Campina Grande também não teve participação nesse movimento, como o próprio Almeida destaca: “não tomou parte Campina Grande na insurreição praieira, mas foi em seu território que os liberais, reconhecendo a inutilidade da prossecução da luta, resolveram separar-se” (ALMEIDA, 1993, p. 104).

Vemos então que, a partir da sua preocupação em mostrar a grandiosidade de Campina Grande, Almeida faz um esforço para colocar a cidade em movimentos sociais em que ela não participou efetivamente. A escolha das revoltas pernambucanas não ocorreu de forma aleatória, Almeida privilegia os movimentos sociais de 1817, 1824 e 1847 por serem movimentos encabeçados pelas elites do Estado de Pernambuco. Esse favoritismo se dá por conta do lugar social de Almeida, ou seja, o autor privilegia essas sedições por elas terem sido lideradas pela classe dominante dos estados que delas participaram, classe social em que ele está inserido.

Além disso, a ojeriza que o autor tem do Quebra-Quilos reflete o desconforto dessas elites (que Almeida tanto defende em seu livro) em relação as lutas populares que estavam ocorrendo entre as décadas de 1950 e 1960, como as Ligas Camponesas por exemplo, que estavam pondo em xeque a forma de governo e as relações sociais estabelecidas.

Dessa forma, entendemos que a interpretação de Elpídio de Almeida do Quebra-Quilos é de fundamental importância para entender a visão política do autor, a sua opinião sobre essa sedição é uma espécie de desabafo de como ele via os movimentos sociais que estavam acontecendo em seu tempo e de certa forma justifica a necessidade de uma intervenção mais firme por parte do estado para controlar as massas. Esse controle durante a década de 1960 foi estabelecido através do golpe civil-militar de 1964, logo entendemos que a escrita de Almeida era política na medida em que defende uma sociedade em que as elites se mantêm no poder a todo custo.

Dessa forma, entendemos que a conjuntura dos lugares sócio-político e intelectual de

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